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A guerra santa em Carlos Magno e seus Pares

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Carlos Magno batalha contra os saxões, British Library
Leia o post anterior sobre Carlos Magno: A minúscula carolíngia mudou o rumo da cultura e da alfabetização

Vamos imaginar Carlos Magno no momento de se jogar contra os sarracenos que invadiram o sul da Espanha.

Então, ele está com a tenda dele armada, mas é uma tenda bonita, guerreira, militar, com pendões etc., etc.

Uma tenda medieval com guerreiros andando de um lado para o outro com uma compenetração que é de homem que está andando para a guerra sagrada.

Entram cinco, oito, dez homens. São os pares de Carlos Magno que se aproximam. Carlos Magno está majestoso, num repouso fecundo, desses repousos dos quais homens prontos para a batalha.

Urna de Carlos Magno, Aix-la-Chapelle
Urna com os restos de Carlos Magno, Aachen, Alemanha
Nós o podemos imaginar como o pintou o Dürer: com uma imensa barba, um homem de cinquenta para sessenta anos, com olhos grandes, traços regulares, todo feito de harmonias, mas de uma força de Hércules.

Todos se aproximam, quando os pares vão passando pelo acampamento, todo mundo tem um frisson: “Olhe Roland, olhe Olivier, olhe aquele!” Todo mundo se extasia.

À medida que eles vão chegando perto da tenda de Carlos Magno, no exército vai havendo um silêncio, porque se compreende que um fenômeno enorme de alma vai se passar: Carlos Magno vai se encontrar com os seus pares, e vai dar as ordens de batalha.

Quando eles entram, eles se extasiam também diante da pessoa de Carlos Magno!

Carlos Magno, digno, grave, mas ao mesmo tempo afável, pergunta a eles que informações eles têm. Eles:

Estátua na fonte de Roland, Bremen, Alemanha
Fonte de Roland, Bremen, Alemanha
— Sire, o inimigo levou a sua audácia a tal ponto que queimou tal convento assim etc., e ocupa tal posição fortificada em tal lugar, etc., etc. Nós perdemos tantos homens na luta contra eles e não conseguimos rechaçá-los.

— O que conta o meu valente Olivier, que fez tais coisas e tais coisas?

— Sire, a audácia do Crescente chegou até mais outro ponto, mas nós conseguimos estraçalhá-los etc., e apareceu Sant'Ana, Mãe da Bem-Aventurada Virgem Maria, nesta hora, quando o guerreiro tal gritou: “Sant'Ana, socorrei-nos!” E, com uma falange de Anjos, ela mandou que esses homens fossem embora.

Depois tal coisa e tal. Todos rezam e Carlos Magno depois dá o plano de batalha.

— “Vós, que vencestes na Espanha, que dobrastes os infiéis na Catalunha, e não sei mais o quê, vós ireis para tal lugar etc., etc...” repetindo um pouco os feitos de glória de cada um, para entusiasmar.

Oração comum, saem todos, reina o silêncio na tenda de Carlos Magno. A cena acabou. A batalha vai começar.

É muito superior!


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência pronunciada em 15/10/75. Sem revisão do autor)



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Via Sacra: acompanhando a Jesus pela Via da Paixão em Jerusalém

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A Via Sacra‒ também conhecida como Via Crucis, Estações da Cruz ou Via Dolorosa ‒ é uma devoção que consiste numa peregrinação espiritual ajudada por uma série de quadros ou imagens que representam cenas da Paixão de Cristo.

A Via Sacra mais conhecida hoje é a rezada no Coliseu de Roma, na Sexta-Feira santa, com a participação do próprio Papa.

As imagens representando as cenas da Paixão podem ser de pedra, madeira ou metal, pinturas ou gravuras. Elas estão dispostas a intervalos nas paredes ou nas colunas da igreja.

Mas, às vezes podem se encontrar ao ar livre, especialmente nas estradas que conduzem a uma igreja ou santuário. Uma Via Sacra muito conhecida é a do santuário de Lourdes, França.

Nos mosteiros as imagens são muitas vezes colocadas nos claustros.

O exercício da Via Sacra consiste em que os fiéis percorram espiritualmente o percurso de Jesus carregando a Cruz desde o Pretório de Pilatos até o monte Calvário, meditando à Paixão de Cristo.


Dados históricos da devoção

A tradição afirma que a Virgem Santíssima costumava visitar diariamente os locais da Paixão de Cristo.

A Via Dolorosa de Jerusalém foi reverentemente sinalizada desde os primeiros tempos e foi uma meta dos piedosos peregrinos desde os dias do imperador Constantino.

São Jerônimo fala das multidões de peregrinos de todos os países que costumavam visitar os lugares santos e percorriam piedosamente a Via da Paixão de Cristo.

O desejo de reproduzir os lugares sagrados em outras terras, a fim de satisfazer a devoção daqueles que estavam impedidos de fazer a verdadeira peregrinação, apareceu muito cedo.

No século V, São Petrônio, bispo de Bolonha erigiu no mosteiro de São Estévão (Santo Stefano em italiano) um conjunto de capelas com as estações. O mosteiro ficou familiarmente conhecido como “Hierusalem”.

Tal exercício, muito usual no tempo da Quaresma, teve forte expansão na época das Cruzadas (do século XI ao século XIII).

O romeiro inglês William Wey que visitou a Terra Santa em 1458, em 1462 descreveu a maneira usual para seguir as pegadas de Cristo em Sua jornada de dores redentores.


As 14 Estações

A Via Sacra se tornou uma das mais populares devoções católicas.

O exercício da Via Sacra tem sido muito recomendado pelos Sumos Pontífices, pois ocasiona frutuosa meditação da Paixão do Senhor Jesus.

O número de estações, passos ou etapas, da dolorosa procissão do Bom Jesus, nosso Redentor, foi definido paulatinamente chegando à forma atual, de quatorze estações, ou passos, no século XVI.

As 14 estações são as seguintes: (CLIQUE PARA VER)



1ª Estação: Jesus é condenado à morte


2ª Estação: Jesus carrega a cruz às costas


3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez


4ª Estação: Jesus encontra a sua Mãe


5ª Estação: Simão Cirineu ajuda a Jesus


6ª Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus


7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez


8ª Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém


9ª Estação: Terceira queda de Jesus


10ª Estação: Jesus é despojado de suas vestes


11ª Estação: Jesus é pregado na cruz


12ª Estação: Jesus morre na cruz


13ª Estação: Jesus morto nos braços de sua Mãe


14ª Estação: Jesus é enterrado


Em cada estação é feita uma meditação sobre o passo e o costume é rezar também um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Padre.

O percurso da Via Sacra não deve ter interrupções. Mas é permitido assistir a uma Missa, confessar e comungar em meio ao piedoso exercício.



A indulgência plenária

Não existe uma devoção mais ricamente dotada de indulgências do que a Via Sacra.

As indulgências estão ligadas à cruz posta sobre as imagens que devem ser canonicamente erigidas.

Condições para ganhar a indulgência

Concede-se indulgência plenária a quem pratique o exercício da Via Sacra. Para que este se possa realizar, requerem-se quatorze cruzes postas em série (com alguma imagem ou inscrição, se possível) e devidamente bentas. O cristão deve percorrer essas cruzes, meditando a Paixão e a Morte do Senhor (não é necessário que siga as cenas das quatorze clássicas estações; pode utilizar algum livro de meditação). Caso o exercício da Via Sacra se faça na igreja, com grande afluência de fiéis, de modo a impossibilitar a locomoção de todos, basta que o dirigente do sagrado exercício se locomova de estação a estação.

Quem não possa realizar a Via Sacra nas condições acima, lucra indulgência plenária lendo e meditando a Paixão do Senhor pelo espaço de meia-hora ao menos.

(cfr. d. Estevão Bettencourt, Catálogo das Indulgências)

Ver também: O que é uma Indulgência, e as condições para ganhar a Indulgência Plenária.





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Convite aos fiéis a aprofundar racionalmente as verdades da fé

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Castelo de Chaumont


O historiador Rodney Stark colocou o problema: na História houve apenas uma civilização que saiu do nada, para acabar sendo hegemônica: a ocidental. 

Existiram, sem dúvida, outras grandes civilizações: chinesa, egípcia, caldéia, indiana, etc. 

Elas todas se iniciaram num alto nível, ficaram porém estagnadas e decaíram lenta mas irreversivelmente ao longo dos milênios. 

Por que não cresceram como a ocidental e cristã?

Stark indica como causa dessa diferença capital entre a civilização cristã e as outras o papel desempenhado pela Igreja Católica. 

As religiões pagãs, diz ele, originaram-se de lendas fantásticas impostas sem explicação. 

Só a Religião católica convida os fiéis a aprofundar racionalmente as verdades da fé. 

Já no século II Tertuliano ensinava que “Deus, o Criador de todas as coisas, nada fez que não fosse pensado, disposto e ordenado pela razão”.  

Clemente de Alexandria, no século III, insistia: “Não julgueis que o que nós dissemos deve ser aceito só pela fé, mas deve ser acreditado pela razão”. Santo Agostinho consagrou tal ensinamento, e Santo Tomás, com suas Summas, levou-o a um píncaro.


Índia: pagãos despejam leite, especiarias e moedas sobre ídolo

Além do mais, os mitos abstrusos do paganismo degradam seus próprios seguidores.

Basta olhar para os pagãos da Índia, que despejam sobre um ídolo leite, especiarias e moedas de ouro de que podem ter necessidade, como se vê na foto.

 Os monges medievais aplicaram a lógica racional à vida quotidiana e criaram uma regra de vida. 

Surgiram então prédios de uma beleza até então desconhecida; o trabalho foi dignificado e organizado; surgiram escolas de todo tipo; códigos civis e comerciais, leis internacionais, hospitais, fábricas, invenções, remédios eficazes; vinhos e licores, etc. 

A vassalagem do monge em relação ao abade e as relações das abadias entre si inspiraram a organização política feudal. 

Uma força de elevação e requinte foi transmitida pela Igreja à sociedade no transcurso de gerações, e ergueu-se assim o mais formidável e esplendoroso edifício civilizador da História.



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Ciência, invenções, Universidades, hospitais, educação, descobertas, culinária, nomes: a lista interminável do progresso medieval

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Muitas vezes os leitores do blog desejam conhecer mais sobre a ciência e as invenções medieval, os grandes nomes e realizações.

Essas matéria foram sendo tratadas em "Glória da Idade Média" em diversos posts.

Eis aqui uma seleção dos links, dentre os muitos do blog, que podem ser de interesse para aqueles que se aprofundam nesse estudo:


Na Idade Média nasceu a ciência logicamente sistematizada

Sem a Igreja Católica não teria havido ciência e progresso autênticos

Descobertas grandes e surpreendentes

Ordenadas pela lógica floresceram ciências como a mecânica, as matemáticas, a física e a astronomia


Monges inventores de tecnologias logo comunicadas a todos

Alguns grandes nomes da ciência medieval


Sob o Catolicismo as ciências progrediram mais que em qualquer outra civilização

Na Idade Média, a Europa encheu-se de escritores, artistas, monumentos e invenções

Historiadores recusam os mitos anti-católicos e anti-medievais

Idade Média: ingenuidade ou entendimento superior das coisas?

Idade das Trevas? Ou Idade da Luz da Fé e da razão irmanadas?


Nascimento e triunfo dos altos estudos

O sistema universitário medieval: o oposto do conhecimento fragmentário hodierno

Universidades e catedrais francesas: farois da cultura medieval


Importância de Carlos Magno na promoção da educação e da cultura

A minúscula carolíngia mudou o rumo da cultura e da alfabetização


Melhores vinhos modernos: herança das abadias medievais

Monges trapistas fazem a melhor cerveja do mundo

Castelos, abadias e aldeias medievais integradas com a natureza. Exemplo dos queijos e cervejas de Chimay

Os mosteiros levaram a agricultura a patamar nunca visto


Cluny: 'alma da Idade Média'‒ III. Contribuições para o progresso temporal: celeiro, moinho e outras invenções

Os hospitais: frutos da caridade desconhecidos antes da Idade Média

O monasticismo católico e a restauração da fé, da cultura e das ciências


"Caso Galileu": manipulação para abalar a hierarquia medieval das ciências

Idade Média: era de grandes descobertas geográficas

A Idade Média achava que a Terra era plana?

Do fundo da Idade Média vem uma esperança de decifrar as mudanças climáticas

Invenção “sui generis” de um monge e Papa: o zero



A Igreja não só contribuiu mas fez a civilização ocidental

Sexto mito errado: Na Idade Média a ciência ficou estagnada, e não houve progresso técnico.

Cavalaria e conhecimento a serviço da Fé





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O mais admirável em Carlos Magno: sua altíssima sacralidade

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Carlos Magno busto relicario.
Fundo: cúpula da catedral de Aachen

Leia o post anterior: A guerra santa em Carlos Magno e seus Pares

O mais admirável da magnífica obra de Carlos Magno foi a criação de um estado de espírito de altíssima sacralidade.

Esse espírito provinha de uma comunicação da graça que abençoava tudo quanto ele fazia.

Por isso sua imensa obra teve uma clave transcendente que está fora de comparação com outras coisas que ele ou outros fizeram.

Esta clave sobrenatural lhe dava uma visão das coisas temporais com uma altura que nem o gênio dá.

Da altura em que ele concebia o poder e a unção de Deus ele via todos os problemas, mesmo naturais do mundo.

Essa participação de Deus formou propriamente o caráter imperial do governo dele.

É uma vastidão de horizontes fenomenal sobre o universo, sobre a vida humana, sobre a terra, as possibilidades do homem, etc., etc., enquanto reflexos de um Deus transcendente.

Ele é um homem que levou uma vida sacrificada terrível, mas tinha a alegria estável da finalidade obtida.

Ele deixou a matriz do feudalismo, suscitando uma grande admiração por um tipo de alma que todos os homens a partir de então e até a Revolução, não deixaram de tender. Essa admiração foi tão grande que até hoje, exceto historiadores preconceituosos, ninguém fala mal dele.

A Igreja, Corpo Místico de Cristo, foi a fonte do espírito que o grande Carlos difundiu.

O mundo só não ficou muito mais carolíngio ainda porque não foi tão católico quanto devia ser. Porque a Igreja é carolingeogênica por definição.

As gente só compreende toda a dimensão da beleza das virtudes pessoais que Carlos Magno teve ou não teve, imaginando-as em Calos Magno.

Carlos Magno teve um problema de casamentos. Isso para um católico é um problema perturbador?

Se você imagina Carlos Magno, você vê a castidade com uma beleza que não é fácil imaginar de outra maneira. Não me interessa, para efeito do que estou falando, este efeito circunscrito, limitado da realidade histórica.

Carlos Magno probo, cultural, fazendo aquele renascimento da cultura, foi completamente diferente de um príncipe Médicis do tempo da Renascença. Quer dizer, ele é um pano de fundo sobre o qual tudo quanto é bonito fica lindo.

Agora o que que é o unum do pano de fundo de Carlos Magno? É o próprio espírito da Igreja, é a Igreja.

São Gregório VII foi para o Papado o que Carlos Magno foi para a ordem temporal.

Vocês, provavelmente não ouviram um elogio tão insistente de Carlos Magno, mas vocês todos não tomam como novidade o que estou dizendo, porque uma graça flutua em torno de nome dele e todos intuem.

Agora, o que que é isto em Carlos Magno? É uma quintessência do espírito da Igreja dado ao laicato. Carlos Magno é o exemplo por excelência do leigo católico.

Não adianta dizer que Carlos Magno não está canonizado. Eu não discuto nada disto.

Eu digo só, que é notório que existe em torno dele esta graça e que sua figura reluzente é uma das poucas coisas que a Revolução não conseguiu destruir. Ela conseguiu pôr em silêncio, mas não conseguiu destruir.

Este fundo revela um predicado na alma dele de onde tudo isto se irradia e o próprio foco deste unum é a Igreja.

Se não fosse a Igreja Carlos Magno não teria nada disto. E o fogo da Igreja se irradia a partir do clero. Esse ponto é preciso não esquecer.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência pronunciada em 22/2/86. Sem revisão do autor)



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Governantes e súbditos: relacionamento com protocolo, cerimônia e grande respeito mútuo

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Como os governantes – senhor feudal, bispo, autoridades municipais – comunicavam ao povo as informações e decisões de interesse geral?

Hoje confia-se tudo aos meios de comunicação social que, muitas vezes deixam o que desejar.

Na Idade Média – e até em épocas posteriores, inclusive no Brasil imperial – exerciam essa função proclamadores oficiais.

Seu ofício era dar a conhecer, lendo ou recitando, as normas ou informações a viva voz, a pé ou a cavalo, pelas ruas e praças, por vezes acompanhados de trompetes, ou outros instrumentos sonoros.

E, para caracterizar bem a dignidade e importância de sua missão, iam revestidos de símbolos que indicavam a autoridade que os tinha enviado.

O espírito humano sente a necessidade de que as coisas importantes sejam rodeadas de cerimônia e protocolo. De ali os métodos dos proclamadores, suas roupagens, símbolos e aparato proporcionado.

Recentemente, o nascimento do príncipe George em Londres teve um pitoresco e muito difundido momento que nos remonta a essas épocas.

Acontece que na Grã-Bretanha e em alguns países da área cultural anglo-saxã ainda se conserva a tradição dos proclamadores oficiais, por exemplo na Austrália.

Foi assim que, com um tricórnio de plumas, grande uniforme de veludo vermelho, brasões e franjas douradas, um sino numa mão, um manuscrito desenrolado na outra e voz sonora, Tony Appleton, proclamador oficial da cidade de Romford (50 km de Londres) anunciou o gaudioso nascimento do mais novo principezinho inglês.

O curioso é que segundo o jornal francês “Le Figaro”, embora Tony Appleton seja de fato um proclamador oficial, no entanto não tinha licença para exercer essa função em Londres, tendo agido por iniciativa própria.

Este pormenor importante só veio a ser conhecido depois. Na hora todo o mundo achou normal que um acontecimento como o advento do bebê real fosse anunciado com pompa condigna.

E os que o ouviram se sentiram dignificados pois a autoridade enviava um representante pomposamente ataviado para informa-los.

Numa entrevista à agência Associated Press, o arauto oficial explicou: “Eu não fui convidado, eu me convidei para a festa. Eu saí do táxi, fiquei ao pé da escada do hospital e desempenhei meu papel.”

Como incontáveis ingleses, Tony Appleton gosta da família real. Ele achou inadequado que a cidade de Londres não enviasse um arauto – como é seu caso em Romford e o de muitos outros em diferentes cidades inglesas – para desempenhar esse papel de pomposo anunciador da feliz boa nova.

Mas jornalistas e redações de jornal, como também milhões de leitores de jornais, público de TV e Internet, acharam inteiramente coerente que o nascimento de um príncipe fosse anunciado por um cerimoniário que evoca os tempos medievais.

Este quiproquo pôs em evidencia da necessidade do protocolo e da pompa, estão impregnados na alma humana, sobre tudo quando tem uma conotação medieval

O fundo da natureza dos homens pede cerimônias e cerimoniários como o “arauto oficial” Tony Appleton – não de Londres ou da família real, mas de Romford.

A “façanha” individualista de Tony Appleton ficou rodeada de simpatia. Ele conta que muitas futuras mães já ficaram de contratá-lo para anunciar o nascimento de seus bebês. Como na Idade Média...



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São Pio X: a verdadeira liberdade da Igreja num Estado católico. Absurdo do Estado laico

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São Pio X recebe honras militares subindo à carruagem pontifícia de gala
São Pio X recebe honras militares subindo à carruagem pontifícia de gala

Para comemorar o 16º centenário do Edito de 313, através do qual o Imperador Constantino o Grande reconheceu oficialmente o Cristianismo em todo o Império Romano, o Papa São Pio X decretou um Jubileu universal e concedeu uma generosa Indulgência Plenária.

Na Carta Apostólica Magni Faustique (O grande e portentoso evento), aquele grande santo, Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro ensina a razão de ser altamente desejável e benéfica do reconhecimento oficial do Catolicismo pelo Estado.

E mostra indiretamente a falsidade dos que postulam um Estado laico como sendo o ideal para a Igreja.

Eis o texto:


Carta Apostólica Magni Faustique (O grande e portentoso evento)

O Papa Pio X. A todos os fiéis cristãos que lerão esta Nossa Carta, saúde e bênção Apostólica.

A celebração do grande e portentoso evento por cuja virtude há mil e seiscentos anos foi concedida finalmente a paz à Igreja, enquanto enche de alegria o coração de todos os católicos e convida-os a realizar obras de piedade, Nos move a abrir o tesouro dos dons celestes, para que se possam tirar dessa solenidade ricos e precioso frutos no Senhor.

O Papa São Silvestre I  mostra a Constantino as cabeças de São Pedro e São Paulo
O Papa São Silvestre I mostra a Constantino
as cabeças de São Pedro e São Paulo
De fato, Nos parece justo e assaz oportuno festejar o edito, promulgado em Milão pelo Imperador Constantino o Grande pouco depois da vitória contra Magêncio propiciada pelo glorioso estandarte da Cruz.

Esse edito, pondo fim às cruéis perseguições contra os Cristãos, os deixou na posse daquela liberdade cujo preço foi o sangue do Divino Redentor e dos mártires.

Nesse momento, finalmente, a Igreja militante obteve o primeiro daqueles triunfos que lhe foram dados sempre depois de perseguições de todo tipo em todas as épocas, e desde aquele dia garantiu sempre maiores benefícios à sociedade humana.

Os homens, de fato, abandonaram pouco a pouco o supersticioso culto dos ídolos, abraçaram sempre mais a regra da vida cristã, nos costumes e nas instituições, e com isso aconteceu que sobre a terra se difundiram juntamente a justiça e a caridade.

Julgamos, portanto conveniente, nesta feliz circunstância em que de novo se evoca um fato de tal importância, suplicar insistentemente a Deus, à Virgem Sua Mãe e a todos os Beatos, especialmente aos Apóstolos, a fim de que todos os povos, restabelecendo a majestade e a honra devidas à Igreja, se reúnam no seio desta Mãe e engajem-se com todas suas forças para expulsar os erros com os quais os irreverentes inimigos da Fé procuram conduzi-los da luz às trevas; tributem honra e respeito ao Pontífice Romano; e finalmente olhem com ânimo confiante à religião católica como sustento e defesa de todas as coisas.

Então, quando os homens tiverem de novo fixado o olhar na Cruz, será lícito esperar que sob este signo de salvação os inimigos do nome cristão e as paixões desenfreadas do coração poderão ser completamente vencidos.

A fim de que as humildes orações que nesta solenidade plurissecular se elevarão em todo o mundo católico atraiam o maior bem espiritual aos fiéis, Nós estabelecemos que sejam enriquecidas com uma Indulgência Plenária na forma de Jubileu, exortando vivamente a todos os filhos da Igreja a unirem suas obras de piedade a nossas súplicas, de modo que deste grande benefício do Jubileu, que lhes é oferecido, possa fluir a maior vantagem possível para suas almas e para a religião.

Constantino doa Roma aos Papas
Constantino doa Roma aos Papas
Por isto, confiando na misericórdia de Deus Onipotente e na autoridade dos Beatos Apóstolos Pedro e Paulo, pelo poder de ligar e desligar que a Nós, embora sem méritos, foi concedido pela vontade divina, e ouvidos também os Veneráveis Irmãos de Nossa Igreja Romana, os Cardeais Inquisidores Gerais, com a presente Carta, concedemos e outorgamos a Indulgência Plenária de todos os pecados, na forma de Jubileu geral, a todos os fiéis de Cristo individualmente e dos dois sexos, seja que habitem em nossa amada Cidade, seja que venham até ela, durante o ano em curso, desde a Dominica in Albis (a partir da qual iniciar-se-ão as solenidades em memória da paz da Igreja) até a festa da Imaculada Conceição de Maria Virgem, Mãe de Deus incluída, visitem duas vezes cada uma das Basílicas de São João de Latrão, de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e de São Paulo fora dos Muros, e que se detenham durante algum tempo a rezar a Deus, em união com as nossas intenções, pela Igreja Católica, pela prosperidade e pela glória desta Sé Apostólica, pela extirpação das heresias e pela conversão de todos os pecadores, pela concórdia entre os príncipes cristãos e pela paz e unidade de todo o povo dos fiéis, e que durante este período de tempo, após o rito da penitência, se aproximem da Santa Comunhão, e além do mais deem uma esmola, cada um segundo suas possibilidades, ou aos indigentes, ou, se preferem, às obras pias.

Àqueles que não poderão vir a Roma, concedemos e outorgamos a mesma Indulgência Plenária, com a condição de que no mesmo período de tempo eles visitem seis vezes a Igreja ou as igrejas de seu país que serão designadas definitivamente pelo Bispo ordinário, e que cumpram escrupulosamente as demais obras de piedade acima indicadas.

Concedemos além do mais o privilégio de poder aplicar esta Indulgência Plenária em sufrágio das almas daqueles que deixaram esta vida na graça de Deus.

Concedemos também que os navegantes e viajantes possam conseguir legitimamente a mesma Indulgência uma vez retornados a seus respectivos domicílios e tendo chegado a um lugar de parada, e tenham realizado as obras acima citadas e visitado seis vezes a igreja catedral, ou a igreja mor, ou a igreja paroquial do próprio domicílio, ou do local no qual se tenham instalado.

Igualmente concedemos e consentimos que os religiosos regulares de ambos os sexos, inclusive os que vivem em clausura perpétua, e a todos os outros, sejam leigos, sejam eclesiásticos seculares ou regulares que estejam no cárcere ou em prisão, ou impedidos por alguma doença do corpo ou outra força maior e que não possam cumprir as ditas prescrições ou algumas delas, possam tê-las comutadas pelo confessor em outras obras de piedade, ou remetidas a outro momento próximo. O confessor prescreverá as obras que esses penitentes poderão cumprir, com a faculdade de dispensar da comunhão as crianças que a Ela ainda não foram admitidas.

O Imperador Constantino conduz o Papa São Silvestre I a Roma
O Imperador Constantino conduz o Papa São Silvestre I a Roma
Além disso, damos a faculdade a todos e a cada um dos fiéis de Cristo, leigos ou eclesiásticos, seculares ou regulares, de qualquer Ordem e Instituto, de escolher para esta finalidade um sacerdote confessor, secular ou regular, entre os aprovados, e que tal faculdade seja estendida também aos monges, noviços, monjas de clausura, desde que o confessor seja aprovado pelos monges.

Tal Confessor, no referido período de tempo, poderá absolver aqueles que recorrem à confissão com o propósito de obter o presente Jubileu e de cumprir todas as outras obras necessárias para lucrar dele; só por esta vez, e no foro da consciência, ele poderá absolvê-los de excomunhões, suspensões e de outras sentenças eclesiásticas e censuras por qualquer causa dispostas ou infringidas legitimamente pelo homem, inclusive aquelas reservadas aos Bispos locais e a Nós, ou à Sé Apostólica, ainda nos casos speciali licet modo riservati; poderá absolver também aqueles que não se julgam concernidos em outra concessão, por ampla que seja, e poderá absolvê-los de todos os pecados e de todos os excessos embora graves e enormes como foi dito acima, reservados aos Bispos ordinários, a Nós, e à Sé Apostólica, prévia à imposição de uma penitência salutar, ou de outras penas que se possam impor segundo a lei, e, no caso de heresia, prévia à abjuração e retratação dos erros. (...)

Por fim, para que esta Nossa Carta, que não pode se restringir a uma única localidade, possa chegar mais facilmente ao conhecimento de todos, queremos que exemplares dela, inclusive impressos, mas reconhecidos por tabelião e com o selo da pessoa investida de dignidade eclesiástica, sejam reconhecidos em qualquer lugar e por qualquer população com a mesma autoridade que teria se esta Carta fosse exibida ou tornada pública.

Dado em Roma, junto ao túmulo de São Pedro, sob o anel do Pescador, em 8 de março de 1913, ano décimo de Nosso Pontificado.

(Fonte: “Tutte le encicliche e i principali documenti pontifici emanati dal 1740 – 250 anni di storia visti dalla Santa Sede” a cura di Ugo Bellocchi – vol. VII, Pio X (1903-1914) – © Copyright 1999 Libreria Editrice Vaticana, pp. 503-506 – 00120 Città del Vaticano. Apud Luci sull’Est).




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Felicitacões de São Bernardo a Hugo, filho do conde de Champagne, que se fez cavaleiro templário

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São Bernardo de Claraval. Juan Correa de Vivar (1510-1566)
Em 1125, São Bernardo escreveu a Hugo, filho de Thibaut III e conde de Champagne, para felicitá-lo por ter ingressado na Ordem de Cavalaria do Templo e assegurar-lhe sua eterna gratidão.

“Se for por Deus que de conde vos tornastes um simples soldado; e em pobre de rico que fostes, eu vos felicito do mais fundo de meu coração, e dou glória a Deus, porque eu estou convencido de que essa mudança foi obra da destra do Altíssimo.

“Entretanto, sinto-me obrigado a vos confessar que não posso facilmente renunciar, por uma ordem secreta de Deus, a vossa amável presença, e de nunca mais voltar a vos ver, a vós junto a quem eu teria desejado ter passado minha vida inteira, se isso tivesse sido possível.


“Poderia eu, com efeito, esquecer vossa antiga amizade, e os benefícios com que tendes cumulado nossa Casa?

“Eu rogo a Deus, cujo amor vos inspirou tanta munificência por nós, de vos ter em conta de um verdadeiro fiel.

“Da minha parte, conservarei uma gratidão eterna, da qual quereria poder vos dar as provas.

“Ah! Se me tivesse sido dado viver convosco, com quanta sofreguidão eu teria querido atender às necessidades de vosso corpo e de vossa alma.

“Mas posto que isso me é impossível, só me fica vos garantir que, apesar da distância, vós não cessareis de estar presente em meu espírito durante minhas orações.”

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)




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Carlos Magno segundo o pintor Albrecht Dürer

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No famoso quadro do pintor alemão Albrecht Dürer (1471 – 1528), o artista imaginou em 1512 – portanto muitos séculos depois – a Carlos Magno entre a idade madura e a orla da velhice.

O seu bigode ainda é, em parte, castanho louro, mas uma parte é já branca e completamente alva.

O seu olhar é de um homem experimentado, que está prevenido para ver o adversário vir de qualquer lado e a qualquer momento.

Ele é seguro de si como um Himalaia. Todo seu olhar revela a contínua vigilância, mas todo o modo de ser, seu rosto, seu corpo, tudo o mais indica a contínua estabilidade, a contínua distância psíquica: “se for, veremos. Por enquanto estou tranquilo. E na hora do combate não deixarei de estar tranquilo, porque confio em Deus, meu Senhor”.

Uma coroa magnífica, feita de joias ainda não lapidadas – não se lapidavam as pedras nesse tempo – que se guarda, aliás, na Schatz Kammer, câmara do tesouro imperial, no palácio imperial de Viena hoje em dia.

E um manto maravilhoso de brocado, com a águia imperial servindo de ornato em alguns pontos. Dir-se-ia que a águia é ele, e ele é entre os homens o que a águia é entre os pássaros.

A coroa é encimada pela Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como a Cruz esteve no alto do Calvário, no alto dessa glória toda ela reluz também.

Essa Cruz é, ao mesmo tempo, a lembrança adorante de nosso Redentor e Criador.

Mas, de outro lado, é também a glorificação, quase um ato de reparação: fizeram para ele uma cruz, preta, dura, um instrumento de suplício, de infamação, quiseram difamá-Lo.

Agora está no alto da coroa imperial em ouro e pedras preciosas, pronto! Para glorificá-Lo! Como quem diz: “algozes miseráveis que fizestes o que fizestes, aqui está o Sacro Império Romano inteiro, do alto da minha fronte, oferecendo um ato de reparação”!

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência pronunciada em 22/2/86. Sem revisão do autor)




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A família: a chave para compreender a sociedade medieval – 1

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Bitetto, Itália, grupo de familias na catedral, roupas do século XIV
Bitetto, Itália, grupo de familias na catedral, roupas do século XIV
É frequente na Europa, a população de certas cidades vestir roupas medievais, ou históricas, para rememorar fatos do passado, ou simplesmente reviver a alegria da era medieval. Fotos de encenações dessas na Itália, ilustram este post.

Para compreender bem a sociedade medieval, é necessário estudar a sua organização familiar.

Aí se encontra a “chave” da Idade Média, e também a sua originalidade.

Todas as relações nessa época — tanto as de senhor-vassalo como as de mestre-aprendiz — se estabelecem sobre a estrutura familiar.

A vida rural, a história do nosso solo, só se explicam pelo regime das famílias que aí viveram.

Quando se queria avaliar a importância de uma aldeia, contava-se o número de “fogos”, e não o número de indivíduos que a compunham.

Na legislação, nos costumes, todas as disposições tomadas dizem respeito aos bens de família, ao interesse da linhagem, ou então estendendo esta noção familiar a um círculo mais importante — ao interesse do grupo, do corpo de ofício, que não é senão uma vasta família fundada sobre o mesmo modelo que a célula familiar propriamente dita.

Gessate, Itália, grupo de famílias
Gessate, Itália, grupo de famílias
Os altos barões são antes de tudo pais de família, agrupando à sua volta todos os seres que, pelo seu nascimento, fazem parte do domínio patrimonial.

As suas lutas são querelas de família, nas quais toma parte toda essa corte, a qual têm o cargo de defender e de administrar.

A história da feudalidade não é outra senão a das principais linhagens.

E que será, no fim de contas, a história do poder real do século X ao século XIV?

A de uma linhagem, que se estabelece graças à sua fama de coragem, ao valor de que os seus antepassados tinham feito prova. Muito mais que um homem, é uma família que os barões colocaram na sua liderança.

Na pessoa de Hugo Capeto viam o descendente de Roberto, o Forte, que tinha defendido a região contra os invasores normandos; ou de Hugo, o Grande, que tinha já usado a coroa.

De fato, é o que transparece no famoso discurso de Adalbéron de Reims:

“Tomai por chefe o duque dos francos, glorioso pelas suas ações, pela sua família e pelos seus homens, o duque em quem encontrareis um tutor não só dos negócios públicos, mas dos vossos negócios privados”.

Esta linhagem manteve-se no trono por hereditariedade, de pai para filho, e viu os seus domínios crescerem por heranças e por casamentos, muito mais que por conquistas.

Porta del Castello, Itália, família camponesa
Porta del Castello, Itália, família camponesa
É uma história que se repete milhares de vezes na nossa terra, em diversos níveis, e que decidiu uma vez por todas os destinos da França, fixando na sua terra linhagens de camponeses e de artesãos, cuja persistência através dos reveses dos tempos criou realmente a nossa nação.

Na base da “energia francesa” há a família, tal como a Idade Média a compreendeu e conheceu.

Não poderíamos apreender melhor a importância desta base familiar do que, por exemplo, comparando a sociedade medieval, composta de famílias, com a sociedade antiga, composta de indivíduos.

Nesta, o varão detém a primazia em tudo: na vida pública ele é o civis, o cidadão que vota, que faz as leis e toma parte nos negócios de Estado; na vida privada, é o pater familias, o proprietário de um bem que lhe pertence pessoalmente, do qual é o único responsável, e sobre o qual as suas atribuições são quase ilimitadas.

Em parte alguma se vê a sua família ou a sua linhagem participando na sua atividade. A mulher e os filhos estão inteiramente submetidos a ele, em relação a quem permanecem em estado de menoridade perpétua.

Sobre eles, como sobre os escravos ou sobre as propriedades, tem o jus utendi et abutendi, o poder de usar e consumir.

Sant'Amatore, Itália, casal nobre
Sant'Amatore, Itália, casal nobre
A família parece existir apenas em estado latente, não vive senão pela personalidade do pai, que é simultaneamente chefe militar e grande sacerdote, com todas as conseqüências morais que daí decorrem, entre as quais é preciso colocar o infanticídio legal.

A criança, na Antiguidade, era a grande sacrificada, um objeto cuja vida dependia do juízo ou do capricho paterno.

Estava submetida a todas as eventualidades da troca ou da adoção, e quando o direito de vida lhe era concedido, permanecia sob a autoridade do pater familias até à morte deste.

Mesmo então não adquiria de pleno direito a herança paterna, já que o pai podia dispor à vontade dos seus bens por testamento.

Quando o Estado se ocupava dessa criança, não era de todo para intervir a favor de um ser frágil, mas para realizar a educação do futuro soldado e do futuro cidadão.

Poderíamos estudar a Antiguidade — e estudamo-la de fato — sob a forma de biografias individuais: a história de Roma é a de Sila, Pompeu, Augusto; a conquista dos gauleses é a história de Júlio César.

Nada subsiste desta concepção na nossa Idade Média. O que importa então já não é o homem, mas a linhagem.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)

continua no próximo post: A família: a chave para compreender a sociedade medieval – 2



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A família: a chave para compreender a sociedade medieval – 2

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Conceito medieval da família: árvore genealógica
Conceito medieval da família: árvore genealógica

continuação do post anterior: A família: a chave para compreender a sociedade medieval – 1 

Ao se abordar a Idade Média, uma mudança de método impõe-se: a história da unidade francesa é a da linhagem capetiana; a conquista da Sicília é a história dos descendentes de uma família normanda, demasiado numerosa para o seu patrimônio.

Para compreender bem a Idade Média, é preciso vê-la na sua continuidade, no seu conjunto. Talvez por isso ela é muito menos conhecida e muito mais difícil de estudar do que o período antigo, porque é necessário apreendê-la na sua complexidade, segui-la na continuidade do tempo, através dessas cortes que são a sua trama.

E é preciso fazê-lo não apenas em relação às que deixaram um nome pelo brilho dos seus feitos ou pela importância do seu domínio, mas também nas gentes mais humildes das cidades e dos campos, que é preciso conhecer na sua vida familiar se quisermos dar conta do que foi a sociedade medieval.

Isto se explica, pois durante esse período de perturbações e de decomposição total, que foi a Alta Idade Média, a única fonte de unidade, a única força que permaneceu viva foi precisamente o núcleo familiar, a partir do qual se constituiu pouco a pouco a unidade francesa.

A família e a sua base fundiária foram assim, devido às circunstâncias, o ponto de partida da nossa nação.

Esta importância dada à família traduz-se por uma preponderância, muito marcada na Idade Média, da vida privada sobre a vida pública.

Em Roma, um homem só tem valor enquanto exerce os seus direitos de cidadão, enquanto vota, delibera e participa nos negócios do Estado.

Casamento na igreja na Idade Média
Casamento na igreja na Idade Média
As lutas da plebe para obter o direito de ser representada por um tribuno são, a este nível, bastante significativas.

Na Idade Média, raramente se trata de negócios públicos. Ou melhor, estes tomam logo o aspecto de uma administração familiar, são contas de domínio, regulamentos de rendeiros e de proprietários.

Mesmo quando os burgueses reclamam direitos políticos, no momento da formação das comunas, é para poderem exercer livremente o seu ofício e não serem mais incomodados pelas portagens e pelos direitos de alfândega.

A atividade política, em si, não apresenta interesse para eles. De resto, a vida rural é então infinitamente mais ativa que a vida urbana, e tanto numa como noutra é a família, não o indivíduo, que prevalece como unidade social.

Tal como se apresenta no século X, a sociedade assim compreendida tem como traço essencial a noção de solidariedade familiar saída dos costumes bárbaros, germânicos ou nórdicos.

A família é considerada como um corpo em cujos membros circula um mesmo sangue, ou como um mundo reduzido, desempenhando cada ser o seu papel com a consciência de fazer parte de um todo.

A união não repousa, como na antiguidade romana, sobre a concepção estatista da autoridade do seu chefe.

Repousa sim sobre esse fato de ordem biológica e moral, de acordo com o qual todos os indivíduos que compõem uma mesma família estão unidos pela carne e pelo sangue, por interesses solidários, e nada é mais respeitável do que a afeição que naturalmente anima uns para com os outros.

Tem-se muito vivo o sentido desse caráter comum dos seres de uma mesma família.

Aqueles que vivem sob um mesmo teto, que cultivam o mesmo campo e se aquecem no mesmo fogo — ou, para usar a linguagem do tempo, os que participam do mesmo “pão e pote”, ou que “comer da mesma gamela”, “que cortam a mesma côdea” — sabem que podem contar uns com os outros, que o apoio da sua corte não lhes faltará.

Michiel van der Dussen com sua família. Hendrick Cornelisz Van Vliet (1611/1612 - 1675) Gemeente Musea Delft.
Michiel van der Dussen com sua família.
Hendrick Cornelisz Van Vliet (1611/1612 - 1675) Gemeente Musea Delft.
O espírito de grupo é, com efeito, mais potente aqui do que poderia ser em qualquer outro agrupamento, já que se funda sobre os laços inegáveis do parentesco pelo sangue e se apóia sobre uma comunidade de interesses não menos visível e evidente.

Étienne de Fougères protesta no seu Livre des manières [Livro de boas maneiras] contra o nepotismo dos bispos. Todavia, reconhece que estes fariam bem em rodear-se dos seus parentes, “se estão de boas relações”, pois nunca podemos ter certeza da fidelidade dos estranhos, diz ele, enquanto pelo menos os nossos não nos faltarão.

Partilham-se portanto as alegrias e os sofrimentos. Recolhem-se em casa os filhos daqueles que morreram ou estão em dificuldades, e todas as pessoas de uma mesma casa se agitam para desagravar a injúria feita a um dos seus membros.

O direito de guerra privada, reconhecido durante grande parte da Idade Média, é apenas a expressão da solidariedade familiar, e correspondia inicialmente a uma necessidade.

Quando da fraqueza do poder central, para o defender-se o indivíduo só podia contar com a ajuda da sua corte, e sem ela ficaria sozinho, entregue durante toda a época das invasões a perigos e misérias de toda espécie.

Para viver, era preciso enfrentar, agrupar-se. E que grupo valeria mais que uma família resolutamente unida?

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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O pai de família medieval: guardião, protetor, mestre, chefe, imagem de Deus e custódio da tradição

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Frederico de Sonneburg com seus filhos. Codex Manesse, fol 407r
Frederico de Sonneburg com seus filhos. Codex Manesse, fol 407r
A solidariedade familiar, exprimindo-se se necessário pelo recurso às armas, resolvia então o difícil problema da segurança pessoal e a do domínio.

Em certas províncias, particularmente no norte da França, a habitação traduz esse sentimento da solidariedade.

O principal compartimento da casa é a sala, que congrega diante da sua vasta lareira a família. Nela se juntam para comer, para festejar os casamentos e os aniversários e para velar os mortos.

Corresponde ao hall dos costumes anglo-saxões, pois a Inglaterra teve na Idade Média costumes semelhantes aos nossos, aos quais permaneceu fiel em muitos pontos.

A esta comunidade de bens e de afeição é necessário um administrador, e naturalmente o pai de família desempenha este papel.

Mas a autoridade que ele desfruta é antes a de um gerente, em lugar de ser a de um chefe, absoluta e pessoal como no direito romano.

Trata-se de um gerente responsável, diretamente interessado na prosperidade da casa, mas que cumpre um dever mais do que exerce um direito.

Proteger os seres fracos — mulheres, crianças, servos — que vivem debaixo do seu teto, assegurar a gestão do patrimônio, tal é o seu encargo, mas não é considerado o chefe definitivo da casa familiar nem o proprietário do domínio.

Casal, século XV
Casal, século XV
Embora desfrute os seus bens patrimoniais, tem apenas o seu usufruto.

Tal como os recebeu dos antepassados, deve transmiti-los àqueles cujo nascimento designará para lhe sucederem.

O verdadeiro proprietário é a família, não o indivíduo.

Do mesmo modo, embora possua toda a autoridade necessária para as suas funções, o pai de família está longe de ter, sobre a mulher e os filhos, esse poder sem limites que lhe concedia o direito romano.

A mulher colabora na mainbournie, quer dizer, na administração da comunidade e na educação dos filhos.

Ele gere os bens próprios, porque o consideram mais apto do que ela para os fazer prosperar, coisa que não se consegue sem esforço e sem trabalho.

Mas quando ele tem de se ausentar, por uma razão qualquer, a mulher retoma essa gestão sem o mínimo obstáculo e sem autorização prévia.

Guarda-se tão viva a recordação da origem da sua fortuna, que no caso de a mulher morrer sem filhos os seus bens próprios voltam integralmente para a sua família.

Nenhum contrato pode opor-se a isto, as coisas passam-se naturalmente assim.

Em relação aos filhos, o pai é o guardião, o protetor e o mestre. A sua autoridade paterna cessa na maioridade, que adquirem muito jovens, quase sempre aos quatorze anos entre os plebeus.

Entre os nobres, a idade varia de quatorze a vinte anos, porque têm de fornecer para a defesa do feudo um serviço mais ativo, que exige forças e experiência.

Os reis da França eram considerados maiores com quatorze ou quinze anos, e sabe-se que foi com esta idade que Filipe Augusto atacou à frente de suas tropas.

Cena de vida familiar medieval,.The British Library
Cena de vida familiar medieval,.The British Library
Uma vez maior, o jovem continua a gozar da proteção dos seus e da solidariedade familiar.

 Porém, diferentemente do que se passava em Roma, e conseqüentemente nos países de direito escrito, adquire plena liberdade de iniciativa e pode afastar-se, fundar uma família, administrar os seus próprios bens como entender.

Logo que é capaz de agir por si mesmo, nada entrava a sua atividade e ele torna-se senhor de si próprio, mantendo no entanto o apoio da família de que saiu.

É uma cena clássica dos romances de cavalaria ver os filhos da casa, logo que estão em idade de usar armas e de receber a investidura, deixar a residência paterna para correr o mundo ou ir servir o seu suserano.

A noção da família assim compreendida repousa sobre uma base material — a herança de família, bem fundiário em geral — porque desde os começos da Idade Média a terra constitui a única fonte de riqueza, e permanece conseqüentemente o bem estável por excelência.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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Privilégios e dignidades em todas as classes sociais medievais

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Catedral de York: imponderáveis que as palavras não conseguem definir
Catedral de York: imponderáveis que as palavras não conseguem definir
Muitas vezes, tratando da sociedade medieval, os fatos e as coisas dão uma impressão maior do que está dito nas palavras que os descrevem.

Tudo quanto é instituição, situação, escolas de arte, etc., da Idade Média está envolto numa atmosfera de imponderáveis extremamente difícil de tornar explícita.

Nas sociedades da Antiguidade, como nas sociedades “post-medievais”, todas as relações têm um ar mecânico.

E a única sociedade verdadeiramente orgânica – quer dizer que tem uma vida própria que resulta da boa harmonia de seus órgãos – que houve na História foi a sociedade medieval.

É muito mais fácil entender um mecanismo como o motor de um carro, do que entender a complexidade de um organismo vivo, com seu DNA, por exemplo.

Porque o organismo vivo tem essa coisa imponderável, mas absolutamente essencial, que é a vida.

De onde acontece que num organismo vivo há manifestações da vida que escapam a toda definição.

Por exemplo, na sociedade medieval não havia uma classe privilegiada como na Antiguidade. Nem mesmo duas.

Não é de um conto de fadas: é um moinho onde trabalhava um popular medieval
Não é de um conto de fadas: é um moinho que pertencia a um popular medieval
Pelo contrário, todas as classes eram privilegiadas. ‘Privilégio’ vem de expressão latina “privata lex”, ou seja uma lei especial que concede direitos ou favores a um particular.

Pois bem, na Idade Média havia privilégios para o clero, para a nobreza e para o povo. Só levar em linha de conta os privilégios da nobreza e do clero equivale a ter uma noção absolutamente errada da ordem social medieval.

A demagogia revolucionária gosta apresentar o clero muito bem instalado na vida social comendo até arrebentar; o nobre logo abaixo do clero também se locupletando até mais não poder; e, embaixo a plebe que não possui nada, que não tem dignidade nenhuma e trabalha para os superiores até definhar.

Em muitos posts temos apresentado documentação mostrando quanto essa concepção é artificial e falsa.

O Papa Pio XII, numa de suas alocuções à nobreza romana, disse que a aristocracia é tão conforme à natureza das coisas que ela deve impregnar a sociedade toda com um ar aristocrático.

Os valores aristocráticos eram participados pelo povo.  Figuras de cera representando a nobreza,  no castelo de Vaux-le-Vicomte, França.
Os valores aristocráticos eram participados pelo povo.
Figuras de cera representando a nobreza,
no castelo de Vaux-le-Vicomte, França.
Mas acrescenta que a própria plebe deve comunicar o elemento democrático à sociedade monárquica e aristocrática para fazer uma feliz junção de todos esses elementos.

Um exemplo: a altivez do povo espanhol inclusive em suas categorias mais populares é um resto da Idade Média.

Essa altivez é fruto de uma nota do verdadeiro aristocratismo que beneficia ao homem do povo e é inteiramente diferente da arrogância do líder sindicalista moderno.

A altivez do povo miúdo espanhol é uma manifestação admirável da dignidade de um filho de Deus. Esse foi batizado, foi remido por Jesus Cristo, e tem um destino eterno na outra vida.

Mas aqui na Terra está obedecendo a Deus e à ordem social com muita disciplina e distinção.

Em decorrência da substancial igualdade entre todas as criaturas humanas, e da dignidade especial de filho de Deus, ele tem um santo orgulho de ser e de viver sua condição de plebeu que se encaixa muito bem na organização social, que por sua vez lhe reconhece legítimos e originais privilégios.

Pode ser que esse homem tenha na sociedade funções bem modestas, mas ele sabe que essas funções são acidentais. O grande fato que domina sua vida é que ele é um filho de Deus e que tem um grande destino, pois foi criado para ser um príncipe no Céu.

Ele será lixeiro, engraxate ou qualquer outra coisa na Espanha medieval, mas ele sabe que houve, antes da revolta dos Anjos, um trono onde se sentava um anjo.

A altivez do povo resplandecia até no vestuário feminino.  "Vestido ansoetano", Espanha.
A altivez do povo resplandecia até no vestuário feminino.
"Vestido ansoetano", Espanha.
Ele sabe que esse anjo infiel precipitou-se daquele trono por sua própria infâmia. E ele sabe que foi criado para substituir um anjo naquele trono para reinar eternamente na presença de Deus.

Resultado: na Terra ele é obediente, humilde, e ele vive num estado de espírito inteiramente diferente do estado de espírito do homem do povo corrompido pelo falso espírito democrático de nossos dias, arrogante e revoltado.

Ele não é a pobre besta de carga da civilização contemporânea. Ele não é um desses homens vazios, sem alma, que se veem às centenas apertados em ônibus, metrôs e trens, indo e voltando para as fábricas ou empregos diversos.

Se o medieval fosse porteiro serviria com um garbo e um cavalheirismo de plebeu, que não era o cavalheirismo do nobre.

Esse cavalheirismo penetrava todas as classes sociais da Espanha medieval, comunicado pelos fidalgos que eram verdadeiramente fidalgos, e todo o povo espanhol borbulhava de altivez e distinção.

E, hélas, custa entende-lo na crise hodierna da Igreja, até os eclesiásticos – que podiam provir do povo ou da nobreza – subiam os degraus dos altares irradiando de maneira solar esse espírito de fidalguia e cavalheirismo.




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O caráter familiar da sociedade e da estrutura da Igreja medievais

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Casimiro III, o Grande, rei da Polônia.  Uniu o país e amou seu povo como um pai ama seu filho.
Casimiro III, o Grande, rei da Polônia.
Uniu o país e amou seu povo como um pai ama seu filho.
Todas as relações que constituem a vida da nação – sociais, políticas, culturais, profissionais, trabalhistas, etc. – na Idade Média estavam impregnadas de caráter familiar.

As relações do senhor com o vassalo, ou as relações entre o mestre (patrão) e o aprendiz nas corporações de ofícios, por exemplo, uma nota característica da sociedade medieval foi a existência dos imponderáveis próprios da vida familiar.

Compreendendo o caráter familiar da sociedade medieval é fácil o mais rico da vida de toda aquela época.

O mais pobre, primeiro e elementar dos observadores ou dos sociólogos reconhece que as relações familiares se compõem de relações entre esposo e esposa, de pais com filhos, de irmãos e irmãos. Não há outro conteúdo nas relações familiares.

Ora, na vida medieval, essas relações de esposo e esposa, pai e filho, irmão e irmão, na Idade Média eram também usadas correntemente para descrever o modo de viver de todas as relações medievais.

Isto é completamente diferente do modo que acontecia nas sociedades pagãs, anteriores, e do que acontece nas sociedades modernas.

Por exemplo, o bispo se dizia e agia como esposo de sua diocese, e a diocese era a esposa mística do bispo.

De onde muitos bispos antigos tinham a ideia de que não podiam ser transferidos de sua diocese.

O motivo era que uma vez que o esposo casa com a esposa, deve ser um marido fiel e não se compreende o divórcio.

Os medievais não compreendiam que ele abandonasse sua diocese e fosse transferido para outra.

Por causa dessa noção de desponsório místico do bispo com sua diocese, não vivia apenas como gerente de um patrimônio espiritual, que devia cuidar de fazer render, mas ele era verdadeiramente esposo até a morte.

Dom Jean Tissendier, bispo de Rieux.  Musée des Augustins, Toulouse, França.
Dom Jean Tissendier, bispo de Rieux.
Musée des Augustins, Toulouse, França.
Quer dizer, o bispo passava a ser um mesmo corpo com a diocese. Portanto, tinha uma integração muito maior com ela do que a simples integração de um gerente com aquilo que ele dirige. Isto ia tão longe que chegava em certos casos a um exagero.

Também encontramos muito frequentemente nos tratadistas medievais a noção de que o rei é o esposo do reino e que ele está para o reino como o esposo está para a esposa.

Isto tinha uma expressão simbólica numa das cerimônias mais tocantes da Idade Média – cerimônia que durou até a Revolução Francesa – que era o famoso desponsório do doge de Veneza com o mar.

Veneza era a rainha do Adriático e todos os anos o doge de Veneza celebrava essas núpcias com o mar por esta forma: constituía-se um cortejo brilhante de gôndolas, todas elas enfeitadas e floridas, no esplendor e colorido do mar de Veneza e iam até a entrada da laguna.

Aí o doge, com seus trajes luxuosíssimos, no meio do fausto da aristocracia veneziana, jogava no mar um anel finamente trabalhado que era para ser devorado pelas entranhas do mar.

O gesto simbolizava o casamento de Veneza com o mar, e o casamento do doge com Veneza. Tal vez com alguma reminiscência pagã, mas um gesto muito bonito e muito artístico.

O que há de diferente com um político ou um gerente de um país ou de uma grande empresa.

O gerente da grande empresa se é muito bom, cumpre seu contrato. Ele foi contratado para trabalhar tantas horas por dia, quando acaba, ele fecha seu escritório, toma a chave e vai embora. A ninguém lhe ocorre dizer que ele é esposo da empresa.

Fora das horas de trabalho, ele não pensa nela, não vive para ela, não é dela.

Por que um doge era esposo de Veneza?

É porque ele estava ligado inteiro: Veneza era para ele, ele era para Veneza, não era um funcionário, mas o esposo que dava tudo: a vida, o repouso, a saúde, por ela.

O contrário desse espírito de família é o de mercenário.

Réplica hodierna do 'Bucentauro', nave usada pelos doges de Veneza para o 'desposório' com o mar.
Réplica hodierna do 'Bucentauro', nave usada pelos doges de Veneza para o 'desposório' com o mar.
O bom rei no estilo pagão era, por exemplo, um imperador romano bom que corresponde à boa ordem do direito natural, e de quem os romanos tinham uma boa noção.

Ele dirigia a coisa pública com dedicação e competência. No mais, ele tinha a sua vida particular, que era diferente e onde ele fazia o que bem entendia.

Não era esta a situação de um rei, ou de um nobre, medieval em relação ao seu povo.

Ele se considerava o pai de seus súditos, ele não era um mero funcionário para gerir os negócios dos súditos, mas era um homem que tinha feito a imolação de sua vida a favor deles, como um bom pai se imola pelos filhos.

Seu dever consistia em ser o homem que dirige para fazer bem, para se dedicar, para se sacrificar, não num certo limite, mas num limite que transpõe os limites comuns e chega até o ponto do pai. Não podemos imaginar um pai que não seja assim.

Uma boa empregada, por exemplo, pode chegar até a patroa e dizer:

– “Senhora, acabei meu serviço. O dia hoje é meu”.

A patroa pode dizer:

– “Mas a coitadinha está com dor de garganta”.

– “Isto é com a senhora, meu contrato está pronto”.

Ninguém a teria em conta de empregada infame, mas de mulher sagaz que sabe defender seus direitos.

Porém, uma mãe nunca diria: “meu filho está doente e sozinho em casa, já cumpri minha tabela de horas e eu não tenho por que ficar cuidando dele”.

Seria absurdo, porque a mãe é toda do filho. Não pertence a si mesma. Assim também o rei em relação ao seu reino. Um rei católico tem de ir até o fim, até a dedicação mais completa.

E o súbdito em relação ao rei tinha uma atitude filial, que é a recíproca da imolação paterna. Ele sendo filho, tem dedicação e confiança.

Na França, todo súdito francês estava certo da existência, em Paris, centro de gravidade do reino, de um homem que era pai de todo o mundo e que era o rei. O exemplo de São Luís IX é muito citado nesse sentido

O rei Carlos V da França abraça o imperador Carlos IV  como se fossem irmãos
O rei Carlos V da França abraça o imperador Carlos IV
como se fossem irmãos. Grandes Chroniques de France.
E assim como uma criança está tranquila em casa porque o pai cuida da casa, embora ela não o veja, assim também os franceses de todas as regiões se sentiam seguros porque o rei estava em Paris.

Quando a Revolução Francesa suprimiu a autoridade do rei o francês passou a se sentir como alguém sem pai. Tudo ficou abalado, nada teve mais estabilidade.

O resultado foi uma sensação de orfandade.

Alguns políticos e escritores atuais descreveram a França como um corpo que não tem cabeça, porque a Revolução cortou na guilhotina, e por isso os governos e as formas de República não se estabilizam e caem.

Uma coisa é positiva: nenhum homem moderno pode pensar no seu chefe de Estado e dizer: “Meu pai como ele é bom!”

Um funcionário pode ser ótimo funcionário, mas é um mercenário. O pai é qualquer coisa de completamente diferente.

Aqui está a índole familiar do governo. De onde, aquele adágio tantas vezes mencionado pelos historiadores da França:

“O pai é o rei de seus filhos e o rei é o pai de todos os pais”.

Isso era um resultado da instituição familiar penetrando todas as fibras de uma nação.

Os monarcas do tempo da Cristandade se tratavam de “irmãos”. Os reis de Portugal até tratavam de “meu primo” aos régulos africanos apenas conhecidos pelos navegadores.

Uma carta entre reis católicos começava: “Senhor meu irmão”, e depois o resto. Qual a razão disto?

Exatamente a atmosfera fraterna proveniente das relações de família e impregnando as relações de Estado a Estado.

Cada rei era um pai, todos os povos cristãos eram povos irmãos, os reis eram irmãos entre si.




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Sob a doce luz de Cristo, a Idade Média foi uma explosão de liberdade, criatividade e progresso, diz catedrático de Lisboa

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Catedral de Strasbourg, França
Catedral de Strasbourg, França

A Idade Média, impropriamente chamada "Idade das Trevas", foi uma das épocas de maior desenvolvimento e criatividade técnica, artística e institucional da História, escreveu o Prof. João Luís César das Neves, Professor Catedrático e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, noDiário de Notícias de Lisboa.

A Cristandade, explicou ele, gerou um surto de criatividade prática. Assim as realizações da Idade Média resultaram em melhorias da vida das aldeias, não em monumentos que os renascentistas poderiam admirar.

Relógio na catedral de Strasbourg
Relógio na catedral de Strasbourg
Os avanços conseguidos na chamada Idade das Trevas são impressionantes, todos dirigidos a melhorar a vida concreta: ferraduras, arado, óculos, aquacultura, afolhamento trienal, chaminé, relógio, carrinho de mão, etc.

A notação musical, arquitectura gótica, tintas a óleo, soneto, universidade, além das bases da ciência, a separação Igreja-Estado e a liberdade dos escravos são também criações medievais.

Ponte na cidade de Strasbourg
Ponte na cidade de Strasbourg
Em todos estes avanços, e muitos outros, têm papel decisivo mosteiros, conventos e escolas da catedral, bem como a confiança da teologia cristã no progresso, contrária à de outras culturas.

Depois a peste negra, a guerra e os déspotas iluminados, retornando à pilhagem clássica, destruíram esse florescimento e levaram os filósofos tardios a pensar ter descoberto o que os antepassados praticavam.

Nessa reconstrução perderam-se alguns elementos centrais da versão católica inicial.

Fac-símile da "Bíblia de São Luís" rei da França
Fac-símile da "Bíblia de São Luís" rei da França
Por exemplo, no século XII,

"cada vez que faziam ou reviam um orçamento era criado, com algum capital da empresa, um fundo para os pobres.

"Estes fundos aparecem registados em nome 'do nosso bom Senhor Deus' (...) quando uma empresa era liquidada, os pobres eram sempre incluídos entre os credores".



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O busto e a estatueta de Carlos Magno: o mito e a realidade do imperador

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Busto relicario de Carlos Magno.
Fundo catedral de Aachen (Aquisgrão), Alemanha.

A urna-relicário conservada em Aachen (Aquisgrão), Alemanha, representa o busto de Carlos Magno e contém como relíquia um pedaço da calota craneana do grande imperador.

O busto relicário remonta a 1349 e apresenta, mais do que o Carlos Magno histórico, a imagem mítica do  imperador que os povos do Sacro Império foram elaborando ao longo dos séculos.

A importância desse relicário se pode medir num costume medieval das cerimônias prévias às coroações imperiais.

Quando o príncipe escolhido pelos Kurfürsten (Príncipes Eleitores) em Frankfurt chegava a Aachen para a coroação, o busto-relicário era levado até as portas da cidade para que alí recebesse seu sucessor.

A urna apresenta Carlos Magno com uma coroa muito bonita, feita de florões e de um arco que tem uma cruz no alto. A coroa foi usada pelo imperador Carlos IV na sua primeira coroação em 1346.

No alto, a coroa é fechada por um arco que tem no alto uma esplêndida Cruz, símbolo que o poder vem do Santíssimo Redentor Jesus Cristo.

Carlos Magno é representado sereno, digno, belo, mas não tem nada de enfeitado. Antes, pelo contrário, ele tem a força de um caipirão unida à majestade nesse monarca tão grande, e que se sente bem no seu papel, e quer ser assim.

Notem os adornos no peito dele. São águias que formam pequenos corpos bordados em todo busto.

Na metade inferior há flores de lis sobre um fundo azul. Trata-se da união das duas maiores potências da Europa medieval: o reino da França e o universo alemão.

Carlos Magno, estatueta equestre no Museu do Louvre. Fundo catedral de Metz, França.
Carlos Magno, estatueta equestre no Museu do Louvre.
Fundo catedral de Metz, França.
Por sua vez, a estátua equestre de Carlos Magno que se exibe no Museu do Louvre em Paris, tal vez seja a única figura historicamente fidedigna de Carlos Magno.

Na estatueta vemos o Carlos Magno segundo a história, e não Carlos Magno da ficção, como nós vimos acima.

Ele é muito rico? Ele é um rei de um país ainda pobre, mas que está cavalgando rumo a riqueza.

Alguém poderia achar que ele foi um miserabilista.

Vendo a estatueta percebe-se bem que ele tem qualquer coisa de bárbaro ainda.

Ele é forte, dominador. Ele cavalga sem muita filustria de andar protegendo direitos de bicho, direitos de planta, essas loucuras que ele, aliás, nem compreenderia se quisessem explicar para ele.

Ele era um homem deveras, e como um homem deve ser para merecer ser homem.

Carlos Magno foi tão rico de predicados que nele se pode reconhecer um enviado do Céu.

Quando Deus dá predicados extraordinários, por exemplo, a um grande músico, a um grande pintor, a um grande poeta, frequentemente, talvez seja sempre, Deus tem para aquele um desígnio especial.

De maneira que um grande homem ou é uma benção, ou é um flagelo. Então se compreende que vendo um grande homem se diga: “Deus teve sobre ele desígnios especiais”.

Carlos Magno é afigurado como um homem de corpo robusto, que tem cabelos formosos que formavam uma moldura para o rosto dele, não dando um ar efeminado, mas emoldurando sua fisionomia altiva.

Estatueta de Carlos Magno no Museu do Louvre (detalhe) Fundo: abóboda da catedral de Aachen.
Estatueta de Carlos Magno no Museu do Louvre (detalhe)
Fundo: abóboda da catedral de Aachen.
Portanto, os formosos cabelos de que a Providência o tinha dotado, eram para tornar aprazível olhar para um homem que entretanto era terrível.

O aprazível junto ao terrível formam uma combinação que se chama equilíbrio.

Ele é um homem extremamente equilibrado e que exerce um efeito equilibrador sobre os outros, ele mete medo, mas atrai.

A fisionomia dele é uma fisionomia alegre.

Se abusa muito da palavra alegre. A palavra alegre quer dizer uma fisionomia de pessoa feliz, que tem a consciência tranquila e que vive alegre porque sabe que se cumprir os Mandamentos vai para o Céu.

É a alegria católica, não é a alegria dos infelizes que andam bancando uma felicidade feita de exterioridades para disfarçar a frustração interior.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência pronunciada em 23/6/89. Sem revisão do autor)




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O Clero, primeira classe da sociedade medieval

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A via da Verdade. Via Veritatis, Andrea da Firenze.
A via da Verdade. Via Veritatis, Andrea da Firenze.
Na Idade Média a sociedade compunha-se de três classes sociais: o Clero, a nobreza e o povo. O Clero era a primeira classe.

Basicamente, o Clero divide-se em Clero secular e Clero regular. O Clero secular depende diretamente do Bispo e vive em paróquias.

O Clero regular é constituído pelos religiosos que moram em conventos e pertencem às várias ordens e congregações.

Santos Gregório Magno (Papa, com tiara), Ambrósio (cardeal com capelo vermelho), Agostinho e Jerônimo (bispos com mitra)
Santos Gregório Magno (Papa, com tiara), Ambrósio (cardeal com capelo vermelho),
Agostinho e Jerônimo (bispos com mitra)
A hierarquia eclesiástica compõe-se, em sentido estrito, de apenas três graus: o Papa, os Bispos e os párocos.

Eles têm o poder de jurisdição na Igreja.

Porém, a Igreja elaborou outros graus, que concedem um primado honorífico.

Tal é o caso de Patriarcas e Cardeais, Arcebispos, monsenhores e cônegos.

Tais matizes honoríficos são vistos pelo povo como parte da hierarquia eclesiástica.

Os Patriarcas geralmente são Arcebispos de sedes muito antigas, que durante algum tempo tiveram liderança sobre determinadas regiões ou países, especialmente nas Igrejas Orientais. Na Igreja Latina isto ocorreu durante a Idade Média.

Mitra (privativa dos bispos) e paramentos para a Missa
Primaz é o titular da sede mais antiga de um país.

No Brasil o primaz é o Arcebispo de Salvador, na Bahia, a primeira cidade brasileira a ter bispos.

Os cônegos constituem uma espécie de senado do Bispo, para o governo da diocese.

O Clero regular, e as organizações das ordens religiosas, em geral obedecem a princípios comuns.

Tiara (coroa tríplice do Papa), usada pelo Beato Pio IX
Há o Superior Geral da ordem, que é a autoridade máxima, abrangendo todos os países.

Abaixo dele estão os Provinciais, com jurisdição sobre as casas da ordem num país, ou em algumas regiões de um país.

Finalmente, os Superiores das diversas casas da ordem, individualmente consideradas.

Além disso, em casa religiosa há os sacerdotes e os simples irmãos leigos.

Esta organização obedece à natureza da Igreja e do sacerdócio como foi instituido por Nosso Senhor Jesus Cristo, e teve seu desenvolvimento pleno na Idade Média. E assim perdura até hoje.

A hierarquia clerical também estava repleta de símbolos.

A coroa papal, a tiara, é uma superposição de três coroas sobre uma armação completamente fechada.

Do mesmo modo variavam, em cores e adornos, os chapéus dos Cardeais, as mitras de Arcebispos e Bispos e o barrete dos padres.

Havia outros símbolos, como o báculo do Abade, com a volta para dentro, representando sua autoridade dentro da abadia.

São Patrício, bispo, apóstolo da Irlanda, com báculo.
O báculo do Bispo tinha a volta para fora, indicando sua autoridade externa.

A volta na ponta do báculo é sinal de submissão ao Papa.

Mas o báculo do Papa não tem volta alguma.

Na realidade ele usa a férula, cajado que não tem volta, como símbolo de sua autoridade suprema e universal.

(Fonte: CATOLICISMO, março de 1998)



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Dez datas chaves da História da Igreja e da civilização

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"Dez datas que todo católico deveria conhecer"
"Dez datas que todo católico deveria conhecer"

A jornalista Julia Duin publicou no diário Washington Times, uma resenha sobre as datas essenciais da história da civilização ocidental selecionadas por Diane Moczar, especialista em história medieval do Northern Virginia Community College (EUA).

A lista está exposta no livro "Ten Dates Every Catholic should know" (foto) da professora Moczar.

Ela deplora que os católicos estejam esquecidos de sua história e da importância do catolicismo na História Universal.

“A história católica é a história da civilização ocidental”, diz Moczar .

“Os católicos não apreciam a herança de sua fé e não tem noção do que está sendo perdido. Ainda mais, sabem pouco das heresias e do Islã”.

Por isso ela propõe as “Dez datas que todo católico deve conhecer”. Eis elas:

Catedral de Winchester, Inglaterra
Catedral de Winchester, Inglaterra
1) 313: Edito de Milão acaba com as perseguições aos cristãos;

2) 452: S. Leão Papa salva Roma dos hunos;

3) 496: batismo de Clovis, rei da França;

4) 800: sagração de Carlos Magno imperador da Cristandade;

5) 910: fundação do mosteiro de Cluny;

6) 1000: novo impulso do cristianismo na Europa;

7) 1517: Lutero inicia a revolta em Wittenberg;

8) 1571: católicos derrotam muçulmanos em Lepanto;

9) 1789: Revolução Francesa ataca a Igreja Católica;

10) 1917: revolução comunista e aparição de Fátima.

Para a professora o auge do catolicismo deu-se na civilização medieval.

O período preferido dela é o século XIII porque foi “o maior de todos os séculos” e porque foi a época em que a Igreja Católica estava no seu melhor nível.

“A civilização medieval foi grande porque estava centrada em Deus, era Cristocentrica”, explicou, “a Igreja modelava todas as instituições. Ela era a campeã dos direitos dos servos e dos pobres”.

“Foi o século mais criativo, o período de criatividade mais concentrado desde o século V a. C. [N.R.: século de grandes filósofos gregos como Sócrates e Platão].

“Nesse século, São Tomás de Aquino ensinava a Filosofia, aproveitando as recentes traduções de Aristóteles para o latim. O alto estilo gótico florescia e era o mais recente estilo arquitetônico criado em 700 anos”.

Santos como São Francisco, São Boaventura, Santa Isabel de Hungria, São Luis rei da França iluminavam os horizontes.

Para a professora Moczar, o século XIV trouxe uma série de desastres que começaram com a peste negra por volta de 1340 e que fez morrer um terço da população européia.

Outras desgraças foram a Guerra dos Cem Anos iniciada em 1337, e o Grande Cisma de Ocidente que instalou anti-papas em Avignon, França.

“Hoje, concluiu, os estudantes não tem senso do tempo nem das datas. Os rapazes se perguntam se Napoleão veio antes ou depois de Colombo. Não podemos cair tão baixo, se queremos ter estudantes brilhantes a nível colegial”.



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Símbolos dos Papas tomaram forma final na Idade Média

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Tiara do Beato Pio IX, doada pela Bélgica
A tiara, também conhecida como “triregno” (literalmente tríplice reinado) é a coroa própria dos Papas.

Ela está composta de três coroas e leva no topo um globo com a cruz.

É uma coroa única no mundo. E tomou sua forma praticamente definitiva durante a Idade Média.

Coroas semelhantes à tiara já foram usadas na Antiguidade, inclusive por egípcios, partos, armênios e frigios.

A origem mais remota dela está no Antigo Testamento. Deus disse a Moisés:

“Farás também uma lâmina do mais puro ouro, na qual farás abrir por mão de gravador: ‘Santidade ao Senhor’. E atá-la-ás com uma fita de jacinto e estará sobre a tiara, iminente à testa do pontífice. E Arão levará sobre si. E sempre esta lâmina estará sobre a sua testa para que o Senhor lhe seja propício” (Ex, 28, 36-37).

Aarão, irmão de Moisés é o arquétipo de Sumo Sacerdote e prefigura os Papas instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa de São Pedro, e continuado por seus sucessores de Roma.

O Papa Sérgio III (904-911) fez cunhar moedas com a imagem de São Pedro com tiara.

Na basílica inferior de São Clemente, em Roma, um fresco do fim do século XI apresenta o Papa Adriano II (867-872) com a tiara.

A primeira coroa da tiara reúne simbolicamente a jurisdição eclesiástica do Papa e a coroa do governo temporal sobre os feudos pontifícios.

Tiara de Pio VII
Tiara de Pio VII.
Bonifacio VIII (1294-1303), que sofria execrável revolta do rei da França Filipe o Belo, acrescentou a segunda coroa, para sublinhar que a autoridade espiritual do Papa está por cima da autoridade temporal dos reis.

Bento XII (1334-1342) acrescentou a terceira coroa para simbolizar a autoridade efetiva do Papa sobre todos os soberanos, o que inclui o poder de instituí-los (como fez São Leão III com Carlos Magno imperador) ou destituí-los (como São Gregório VII com o imperador Henrique IV).

As três coroas representam também a potestade máxima na Ordem do Sacerdócio, na Jurisdição (ou poder de mando) Universal e no Magistério Supremo, exclusivos do Sumo Pontífice.

No século XIII foram acrescentadas as fitas posteriores. Elas evocam as fitas que na Antiguidade cingiam a cabeça dos sacerdotes.

A tiara era imposta ao novo Papa pelo Cardeal protodiacono pronunciando a seguinte fórmula:

“Recebe a tiara ornada com três coroas e sabe que és o pai dos príncipes e dos reis, o reitor do mundo, o vigário na terra do Salvador nosso Jesus Cristo, ao qual se deve todo honor e toda glória pelos séculos dos séculos”.

Em virtude destes significados, a tiara foi particularmente odiada pelos inimigos da Igreja e de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tiara de Gregorio XVI, 1834
Mas, em sentido contrário, ela foi amada até a efusão do sangue pelos santos e pelos fiéis especialmente devotados ao sucessor de Cristo.

Nações e dioceses fizeram questão de doar mais ricas e esplendorosas tiaras ao Pai comum da Cristandade.

Por isso há várias tiaras. Elas competem em arte, beleza e riqueza. Alguns Pontífices sobremaneira amados ganharam mais de uma, como o bem-aventurado Pio IX. Várias se conservam no Vaticano.

A tiara não era usada no dia-a-dia, mas nas solenidades. Na hora da Missa, o Papa usava a mitra.

O último a usar a tiara de público foi S.S. Paulo VI na basílica de São Pedro no dia 30 de junho de 1963.

Em 13 de novembro de 1964, na terceira sessão do Concílio Vaticano II, o secretário do mesmo, Mons. Pericle Felici, anunciou que o Papa Paulo VI doava sua tiara aos pobres.

Então Paulo VI desceu do trono e depôs a tiara sobre a mesa do altar em meio às aclamações dos padres conciliares.

Aquela tiara lhe fora presenteada pela arquidiocese de Milão, da qual ele foi arcebispo, com o contributo dos fiéis até dos mais humildes e sacrificados. Desde então, nem ele nem seus sucessores, nunca mais a usaram. Hoje está num museu nos EUA.

Desde a eleição de S.S. João Paulo I, em agosto de 1978, a cerimônia da coroação foi substituída pela simples imposição do pálio.

O Estado da Cidade do Vaticano tem um brasão. Ele se compõe com duas chaves cruzadas, a tiara pontifícia sobre fundo vermelho e a inscrição “Estado da Cidade do Vaticano” e uma estrela de oito pontas.

Brasão do Estado da Cidade do Vaticano
A mais antiga representação das chaves cruzadas tendo sobre si a tiara é também medieval.

Mais precisamente, do tempo do pontificado de Martinho V (1417-1431). O sucessor, Eugenio IV (1431-1447), cunhou esse emblema numa moeda de prata, conhecida como o “grosso papale”.

As chaves simbolizam os poderes dados ao Papa por Nosso Senhor Jesus Cristo Evangelho (Mat, 16-19).

Uma chave é dourada e significa que o Papa tem o poder supremo na ordem espiritual.

A chave de prata indica que o Poder supremo do Papa sobre a ordem temporal é circunscrito a tudo aquilo que se refere à Fé e à Moral, conservando a ordem temporal sua autonomia naquilo que excede esses campos superiores. A chave dourada passa por cima da chave de prata.

As duas chaves, as Chaves de Pedro, condensam todos os poderes do Papa.

(Fonte: L'Osservatore Romano, 10 agosto 2008)



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A grandeza do sacerdote, do juiz e do professor na Idade da Luz

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A grandeza convém mais ao clero do que qualquer classe ‒ é evidente, porque sua missão diz respeito mais de perto a Deus.

Mas, a grandeza convém também àquilo que é da ordem temporal.

Por causa disso, na Idade Média, todas as coisas da ordem temporal tinham uma proporcionada grandeza.

Por exemplo, um edifício onde tem juízes que estão resolvendo casos.

A função de juiz entendida não como ela é entendia em alguns países hodiernos, mas como ela é entendida segundo a ordem divina, essa função é muito alta, nobre e elevada.

O juiz julga, mas Deus assiste o juiz no seu julgamento.

Sobre tudo se ele é um varão católico e pede a Nossa Senhora para ser iluminado e lançar sentenças justas.

O juiz não ganha muito dinheiro, ele não é um alto potentado, mas ele exerce uma alta função.

Por causa disso, o prédio de um tribunal ainda que seja num feudozinho pequeno, com pouco dinheiro para construir um grande prédio, é muito respeitável.

A gente entra lá e encontra as janelas com forma de ogivas presentes em toda espécie de edifícios temporais, espirituais, os vitrais.

Tribunal penal na Idade Média
Tribunal penal na Idade Média
A cadeira do juiz era colocada sobre um estrado elevado.

A distância com que as partes falam com ele, o modo pelo qual os huissiers falam com o juiz, falam com o povo, etc., etc.

O silêncio que todo o mundo deve manter na sala onde trabalha o juiz.

Até o pequeno juiz de aldeia era cercado de uma respeitabilidade grave, séria.

Isso se aplicava também ao professor por manifestas razões. O professor deve ser respeitado.

Ele entra na sala, todos devem se levantar, não podem se sentar antes dele sentar.

Mas, ele também deve respeitar sua própria função, e, portanto, ao iniciar a aula, o início da aula tem que ter o aspecto de um pórtico respeitável...

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 2/6/91. Sem revisão do autor)



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