São Mayeul, abade de Cluny. |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Santo Odon e as origens do mosteiro de Cluny
A fim de evitar confusões, é conveniente explicar desde já que a palavra cluny tem, em geral, dois significados. Um deles diz respeito à Abadia de Cluny, fundada em 910 pelo Bem aventurado Bernon, e que desapareceu na Revolução Francesa, quando seus últimos monges pereceram nas mãos dos revolucionários.
Sua igreja, a célebre Igreja de São Pedro de Cluny, foi a maior do mundo até a construção da Basílica de São Pedro do Vaticano, edificada propositadamente com alguns metros a mais do que a abacial de Cluny.
Adornado de riquezas artísticas sem número, esse monumento de arte e resumo de um glorioso passado de vários séculos foi dinamitado pela prefeitura da pequena cidade de Cluny, no tempo de Napoleão.
Esse crime tão patente forçou a Revolução a inventar uma lenda que pelo menos excluísse Bonaparte desse vergonhoso episódio.
Reza essa lenda que certo dia, em que dava audiência às prefeituras de várias cidades, ao ser anunciada a delegação de Cluny, o Imperador voltou lhe as costas, dizendo que não recebia bárbaros.
O outro significado de Cluny corresponde ao que poderíamos chamar de Congregação de Cluny, embora esse nome não seja completamente adaptável à realidade histórica.
Ele designa o conjunto de mosteiros governados pelo abade de Cluny, e que seguiam o mesmo “Ordo”, ou seja, tinham os mesmos usos e costumes.
Esse conjunto constituía como que uma única abadia beneditina, e tinha por cabeça o mosteiro fundado pelo Beato Bernon. Será neste último sentido que usaremos a palavra Cluny. Quando tivermos que nos referir à abadia propriamente dita, declará-lo-emos explicitamente.
São Hugo falando com seus monges, manuscrito século XIII, Bibliothèque National de France Mss.ms.latin 17716, fol 25, |
Neles é que a grande Abadia foi a luz do mundo, a segunda Roma, procurada pelos peregrinos de toda a Cristandade quando as guerras e epidemias não lhes permitiam ir à Cidade Eterna.
Atingindo um alto grau de sabedoria e santidade, Cluny foi então não só o modelo do monacato e de toda a Cristandade, como também o modelador da alma da Idade Média. Nesse período, os seus monges e abades eram venerados pelo povo fiel, que neles via o exemplo que deveria imitar.
Estavam eles por toda parte. Nos mosteiros, cantavam os louvores de Deus em horas determinadas, na medida do possível as mesmas para todos, para que todos juntos, até os que estivessem viajando, pudessem participar das mesmas orações, de modo que todo o imenso império de Cluny se prosternava ao mesmo tempo, para adorar o Criador de todas as coisas.
E todo o mundo sabia que naquelas horas podia contar com as preces dos cluniacenses e tomar parte nestas, a elas se associando na adoração e nas súplicas a Deus.
Era também nos mosteiros que esses filhos de São Bento se preparavam para formar a sociedade medieval, sacralizando todas as instituições e atividades humanas, procurando a perfeição em tudo, para que tudo fosse perfeito e belo, pois não compreendiam nada do que faziam sem a beleza, porque Deus é belo em tudo o que fez.
(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”)