Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Onde e quando nasceu a Cristandade medieval? Quem foi o fundador?
A resposta é paradoxal. Foi numa gruta. E o fundador foi um ermitão isolado.
Um jovem nobre romano que fugiu da imoralidade e da decadência de Roma.
Sim, da Roma que em poucos anos haveria de ser afogada no sangue e no fogo.
Foi o grande São Bento, o Patriarca de Ocidente, a grande alma que deu o ponto de partida da imensa ordem medieval, justa e sacral.
São Bento acabou fundando a Ordem Beneditina, que subsiste até hoje nos seus vários ramos e famílias espirituais. Em torno dos mosteiros beneditinos foram se aglutinando os restos do naufrágio do Império Romano e, também, bandos de bárbaros apenas aculturados.
Subiaco hoje. |
Mas como é o local onde tudo começou? A gruta erma onde São Bento sozinho iniciou sua epopeia espiritual?
O local existe. Chama-se Subiaco. Fica não longe de Roma. A gruta está preservada.
Na gruta de Belém, o Salvador veio ao mundo. Na Gruta de Subiaco, a Cristandade deu seus primeiros vagidos na alma do grande Bento de Núrsia.
A alma de São Bento foi como um incêndio de zelo pela causa de Deus.
Carlos Magno e tantos outros heróis e santos medievais foram como que faíscas desse grande incêndio.
Vejamos como é Subiaco, e prescindindo um pouco das belíssimas construções, imaginemos o grande santo rezando sozinho, ouvindo o uivo das feras e comendo o pão que um corvo todo dia lhe trazia.
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As fotos apresentam-nos uma visão atual do lugar da famosa gruta na qual viveu São Bento durante anos na solidão.
Esse local tão abençoado foi o ponto de partida da Civilização Cristã, enquanto esta floresceu na Europa Ocidental.
No século V, a Europa encontrava-se na seguinte situação mista: como os bárbaros tinham ocupado o Império Romano do Ocidente, restos de civilização coexistiam com bárbaros em grande quantidade, resultando disso um caos, o qual era preciso extinguir.
A Igreja trabalhava empenhadamente nesse sentido e agindo em função da graça.
E a graça soprando por todos os lados, produzindo flores de cá, de lá e de acolá, algo estava por acontecer de imensamente grande e belo, como desfecho dessa semeadura parcialmente bem recebida por toda parte.
E o desfecho de tal conjunto de fatores consistiu no aparecimento de um jovem de família senatorial romana, família nobre do patriciado. Bento, suscitado para realizar uma obra especial, entregou-se totalmente a essa grandiosa vocação.
Mas, para realizar sua missão, ele não poderia permanecer naquele misto de barbárie e de cultura romana decadente em que se encontrava a Europa.
Retirou-se então à solidão.
E para quê? Para santificar-se.
Escolheu para isso um lugar completamente ermo, onde não houvesse nada que perturbasse sua entrega total a Nosso Senhor.
E ali entregou-se à devoção, à meditação, à penitência, a fim de que a graça se assenhoreasse cada vez mais de sua alma.
Podemos imaginá-lo ainda jovem, não pensando nos seus dotes, não pensando como seria comovedor considerar o isolamento desse moço com tantos antecedentes, naquela gruta ou naquele castelo de grutas, naquele silvestre palácio de grutas em que ele se embrenhou.
São Bento recebe a conversão do rei pagão Totila |
Nesse ambiente ele jamais pensava em si, mas somente em seu Criador.
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Subiaco é o nome dessa abençoada gruta. Imaginemos São Bento sozinho naquele local.
Dizer que ele se encerrou na gruta, é muito bonito.
Entretanto, imaginemo-lo convivendo com essas ásperas pedras, ríspidas em todo o sentido da palavra, sem nenhuma beleza física.
Tudo é solidão. Mas evoca de algum modo o Céu.
Figuremo-nos São Bento sentado naquele lugar ermo, lendo um livro e pensando.
Ele não sabia, mas, através das graças que recebia, a Cristandade europeia estava nascendo.
Muito melhor que a Europa, a Cristandade europeia estava nascendo!
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 18/11/1988. Sem revisão do autor.)