Carlos Magno implora a Deus a vitória na batalha. Vitral de Carlos Magno. Catedral de Chartres, França. |
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O Império romano cristianizado havia sido derrubado pela avalanche dos bárbaros. Os bárbaros eram todos eles ou arianos ou pagãos.
O arianismo era uma heresia que pode ser vagamente comparada ao protestantismo.
O ariano era tão anticatólico quanto o é o protestante, quer dizer, cortado da Igreja, herege, excomungado, inimigo.
Um bispo ariano chamado Úlfilas tinha pervertido os pagãos bárbaros para a religião ariana.
De maneira que grande parte dos bárbaros que invadiram o Império Romano, que era católico, vinham com a intenção de impor a religião ariana.
Outros eram pagãos, e a intenção deles era impor o paganismo.
Uns e outros eram bárbaros. E como bárbaros, eram incompatíveis por hábito, por psicologia, por tendência natural, à civilização.
Eles se estabeleceram no Império Romano do Ocidente, e foram espandongando, querendo ou não querendo, a civilização.
Basta dizer que em geral os bárbaros dormiam nas praças públicas das cidades, porque eles sentiam falta de ar de dormir dentro das casas. Não compreendiam que se pudesse dormir dentro de casa.
Mas havia uma tribo bárbara que sentia falta de ar em dormir na cidade. Quando chegava a noite, eles abriam a porta da cidade e iam dormir no mato, porque na praça da cidade eles não sentiam respiração.
Os bárbaros viam que os romanos eram alfabetizados, mas muito decadentes, corruptos e maus soldados. E eles achavam que a razão disso era a alfabetização.
E então, eles tinham o maior desprezo ao homem que se alfabetizasse. O alfabetizado era mais ou menos o efeminado.
Carlos Magno deteve os fluxos invasores pagãos e islâmicos na Europa. Vitral de Carlos Magno. Catedral de Chartres, França. |
A Igreja, com suas dioceses, com seus conventos, etc., continuou de pé.
Então o ponto de salvação para sair do abismo era fortalecer a Igreja. Aí vem nova catástrofe: a Península Ibérica é invadida por maometanos, por causa da moleza dos visigodos que habitavam a Espanha.
A onda árabe começou a invadir a Europa semi-romana e semi-bárbara a partir dos Pirineus.
Sem falar que muitos maometanos tomavam barcos, desembarcavam na Itália, no sul da França, e começavam as invasões também.
De maneira que esta chaga viva, que era a Europa daquele tempo, ainda começou a sofrer a pancadaria maometana.
Foi nesse momento, em que tudo parecia perdido, que Deus suscitou esse homem extraordinário que foi Carlos Magno.
Um homem que, a meu ver, foi um verdadeiro profeta. Quer dizer, um homem que realizou o Reino de Deus, porque tinha o dom de compreender no que ele consistia e o dom de levar os outros a unirem as suas vontades para essa realização.
Tinha o dom, além do mais, de vencer, de derrubar os obstáculos que se opusessem a essa realização.
Carlos Magno era de uma família que já há duas gerações tinha o reino dos francos.
A sabedoria de Carlos Magno nos conselhos do Império. Vitral de Carlos Magno. Catedral de Chartres, França. |
Carlos Magno, dirigindo os francos, fez cinquenta e tantas expedições militares em que ele espandongou os bárbaros completamente. Depois também conteve o poderio maometano.
E com isto ele recuou as portas da História. Quer dizer, a História parecia condenar irremissivelmente o povo latino a desaparecer sob a pressão germânica e a pressão maometana. Carlos Magno salvou a latinidade e a catolicidade.
Esse homem era hercúleo. De alta estatura, de traços muito regulares e muito bem feitos, tendo conservado até ancianidade alguma coisa de moço.
Mas ao mesmo tempo, no seu tempo de moço com qualquer coisa da maturidade da ancianidade, ele incutia respeito no tempo de moço, como se ele fosse um velho. E sabia infundir entusiasmo no tempo de velho, como se ele fosse moço.
Ele era um homem tão amável, tão gentil, que a legenda popular dizia que ao longo de sua barba branca, quando ele sorria nasciam flores, e que a sua barba era toda florida.
Ele era chamado rei da barba florida.
Por aí os senhores podem imaginar a riqueza dessa personalidade: terrível no combate mas ao mesmo tempo tão amável, tão gentil, que os outros julgavam ver flores nascerem de sua barba.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência pronunciada em 30/10/72.
Sem revisão do autor)
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