O povo de Gante rende homenagem a Luis de Male |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Após a queda do Império Romano, os bárbaros e os maometanos invadiram sucessivamente a Europa.
Eles matavam os trabalhadores manuais ou os reduziam a escravos.
Então, os camponeses pediam aos patrões para recebê-los na casa deles. E os patrões de pena deles e achando que era justo protegê-los, pois eram católicos, começaram a construir em torno de suas casas recintos muito grandes com muralhas de pedra.
Em cima das muralhas, instalaram um passadiço por onde os guerreiros podiam ver de longe. Se viam chegar os invasores, eles batiam um sino e todos os homens vinham guarnecer a parte alta da muralha.
De cima, eles atiravam flechas ou esperavam que os atacantes subissem em escadas. Quando a escada estava cheia de atacantes, eles pegavam a ponta da escada apoiada na muralha e jogavam no chão. Eles jogavam também água fervendo.
Os patrões, aos poucos, construíram torres e portas fortificadas. A porta era especialmente preparada com toras de madeira ligadas por placas de metal.
No teto da porta eles punham frestas e em cima tachos com fogueiras que eles acendiam óleo ardente.
Quando os invasores entravam, dessas frestas caía óleo em ebulição, e com isso eles continham a invasão.
Eles fizeram também grades que desciam por máquinas. Limar as grades com óleo caindo o tempo inteiro junto era impraticável. Em última análise a casa do senhor ficava fortificada.
A casa do patrão deixou de ser exclusivamente dele para ser um enorme braço paterno segurando em torno de si toda a população local.
Para construir tudo isso era preciso ter cabeça. Os patrões naturalmente tinham, os empregados não tinham.
Quem dirigia a defesa era o patrão. Depois, o patrão era homem de combate, porque em época de paz quem matava as feras que haviam no mato para os camponeses trabalharem livremente eram os patrões.
Em época de paz, os patrões viviam em luta contra javalis e animais selvagens de toda ordem das florestas profundas da Europa. Os empregados não eram homens de guerra, eles eram homens de trabalho.
Os patrões no tempo de guerra comandavam porque sabiam como dirigir uma guerra e eles não sabiam. Então as relações entre patrões e empregados acabaram sendo relações de pais e filhos inteiramente.
Capela do castelo de Lourdes. A entrada é pela porta lateral |
Durante o ataque, os capelães não podiam combater, porque era missão deles não usar as armas, mas eles estavam junto aos defensores incitando: "Coragem, Deus o quer!"
Mostravam um crucifixo e iam para frente. "Vamos salvar a cruz"! Os homens do povo iam todos. O senhor feudal ia à frente, com espada, couraça, elmo, montando a cavalo.
Ele era o chefe e o pai daquele povo.
Como é que isso nasceu? Alguém fez um bonito plano? Não!
O castelo era a segunda casa dos populares, sua segurança e sede da igrejinha. Castelo de Hirschhorn |
Castelos com altas torres e muralhas, lindas portas.
No centro do castelo a torre de menagem, mais alta do que todas, e de onde eles podiam soltar pombos correio para avisar aos aliados: "Nós estamos sitiados venha nos ajudar."
Dessa torre partiam subterrâneos para lugares onde os donos e os empregados podiam fugir, caso estivessem perdendo a batalha em cima, porque os subterrâneos percorriam uma zona grande e iam abrir lá longe onde o adversário nem imaginava que abrisse. Essa defesa os empregados deviam aos patrões.
Isso criou uma mudança radical nas relações dos patrões com os empregados.
Antes das invasões havia apenas o patrão e o empregado.
Depois, o empregado ficou dependendo da direção do patrão para fazer uma guerra de defesa eficaz.
E o patrão ficou chefe militar, não apenas o chefe econômico.
Era portanto, muito mais admirado e respeitado do que um simples chefe civil.
Ele passou a ser uma espécie de reizinho do lugar: o senhor feudal do lugar.
É natural que o senhor feudal do lugar se traje melhor, tome uma melhor educação, coma melhor, enfim, se esplendorize e enriqueça.
Por essa razão eles passaram a ser os chefes respeitados, os nobres.
Enquanto o operário, o camponês e o trabalhador manual ficaram plebeus.
Não tinham os sinais externos esplendorosos, mas tampouco tinham as obrigações complicadas e dolorosas dos nobres.
A diferença entre as duas classes se fez normalmente.
O nobre foi produto de uma germinação local e que deu na linda nobreza europeia.
No Brasil, coisa análoga se deu nos tempos da evangelização e conquista do país para a civilização em torno das primeiras fazendas e engenhos.
Plinio Correa de Oliveira, sem revisão do autor.