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A Idade Média: era histórica mal conhecida por erros metodológicos básicos

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Canterbury
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Continuação do post anterior: A Idade Média: era histórica mal conhecida por causa de preconceitos

4. Outra fonte de equívocos é a tendência, muitas vezes inconsciente, de interpretar os fatos do passado utilizando critérios ditados pela cultura de nosso tempo, sem cuidar que eles talvez não se apliquem ao período estudado.

Qualquer dado histórico manifesta plena e adequadamente seu significado apenas se é observado no contexto do qual faz parte; por isso, é necessário inteirar-se dos valores culturais e sociais da época que o gerou para avaliá-lo com propriedade.

Ora, uma das principais características da Idade Média é sua intensa religiosidade — e a dificuldade de compreensão deste fator fundamental tem sido uma importante fonte de mal-entendidos.

Se hoje o fator religioso é percebido como algo estranho à vida, para o homem medieval, ao contrário, a esfera do sagrado era reconhecida presente e encarnada nas contingências da vida quotidiana(6).

Congregados pelo irresistível apelo da religião, homens e mulheres de todas as regiões da Europa adquiriram, a partir do século X, a consciência de formar um povo único, uma entidade que pretendia espelhar e prefigurar a ordem celeste: a Cristandade.

“Cada um”, observa Daniel-Rops, ”trabalhando ao longo de sua existência, tinha a certeza de colaborar numa grande obra que o ultrapassava”(7), contribuindo com sua pequena pedra para levantar a catedral, segundo a imagem utilizada por Paul Claudel(8).

Paris, Conciergerie, Salle des Gardes
A “extraordinária capacidade que os homens da Idade Média tinham de pensar e agir em conjunto” deve-se, portanto, ao fato de que “o sentido da transcendência arrancava o indivíduo da sua condição particular (...) para impulsioná-lo rumo a um ideal absoluto, tal como uma terra santa a ser libertada, uma igreja a ser construída, ou então, com obstinada candura, um herege a ser queimado vivo”(9).

Quem negligenciar esse dado prejudicará gravemente sua capacidade de compreensão histórica: como descrever as Cruzadas ou a Inquisição sem levar em conta o fato de que a religião era o cimento da sociedade medieval?


 
 

(Fonte: “Reflexões sobre o Estudo da Idade Média”, Raúl Cesar Gouveia Fernandes, M. Sc. Letras FFLCHUSP - Prof. Filosofia FEI).




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