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Channel: Idade Média * Glória da Idade Média
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Cerimonial de uma ceia real na Inglaterra no início da Guerra dos Cem Anos

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No 25 de setembro de 1338, às cinco horas da tarde menos um quarto, o grande salão do Palácio de Westminster ainda não estava iluminado a não ser por quatro tochas mantidas por braços de ferro selados aos ângulos das paredes e das quais o luar incerto e trêmulo tinha grande dificuldade em dissipar a escuridão provocada pela diminuição dos dias, já tão sensível ao fim do verão e começo do outono.

Entretanto essa luz era suficiente para guiar nos preparativos da ceia a criadagem do castelo que se via, no meio do lusco-fusco, apressar-se em cobrir com iguarias e vinhos, os mais apreciados daquela época, uma longa mesa escalonada em três alturas diversas, a fim de que cada um dos convivas pudesse ai sentar-se no lugar que lhe designava seu nascimento ou seu rango.

Logo que os preparativos foram concluídos, o maître d’hotel entrou gravemente por uma porta lateral, fez com vagar o turno de inspeção dos serviços para certificar-se que cada coisa estava em seu lugar; depois, feita a revisão, parou diante de um lacaio que aguardava suas ordens cerca da grande porta, e disse-lhe com a dignidade de um homem que conhece a importância de suas funções: Tudo está bem; soai a água.

Denominava-se “soar a água” (corner l’eau) o ato de dar o sinal de inicio da ceia, porque os convivas lavavam as mãos antes de sentar-se à mesa.

O lacaio aproximou de seus lábios uma pequena trompa de marfim que levava suspensa a tiracolo, e tirou dela três toques prolongados; em seguida a porta se abriu, cinqüenta lacaios entraram uns detrás dos outros, levando tochas à mão, e, dividindo-se em duas fileiras que se estendiam por toda extensão do salão, dispuseram-se ao longo da parede; cinqüenta pajens os seguiram, levando jarras e bacias de prata e colocaram-se na mesma linha que os lacaios; por fim, detrás deles, dois arautos apareceram, abriram a tapeçaria bordada de brasões que servia como porta, e apostaram-se em cada lado da entrada bradando em alta voz: faça-se lugar ao Senhor nosso Rei e à Senhora nossa Rainha da Inglaterra!'

No mesmo instante, o Rei Eduardo III apareceu, dando a mão à Senhora Philippe de Hainaut, sua esposa.

Eles eram seguidos pelos cavaleiros e damas de maior renome na Corte da Inglaterra, que era naquela época uma das mais ricas do mundo em nobreza, valentia e beleza.

Sob o umbral do salão o Rei e a Rainha separaram-se, passando cada um para um lado da mesa e ganhando a extremidade mais elevada.

Foram seguidos nesta espécie de manobra por todos os convivas que, chegados ao lugar que lhes estava designado, voltaram-se cada um para o pajem a seu serviço; este vertia água da jarra na bacia e a apresentava para lavar as mãos dos cavaleiros e das damas.

Esta cerimônia preparatória concluída, os convivas passaram aos bancos que rodeavam a mesa; os pajens recolocaram a prataria sobre as magníficas credencias de onde haviam-na tomado e voltaram para esperar, de pé e imóveis, as ordens de seus senhores.

(Fonte : Alexandre Dumas, « La Comtesse de Salisbury », Calmann-Lévy, Editeur, Paris, 1878, T.I, pp. 1 ss.)



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