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A revolução industrial da Idade Média: os surpreendentes planos de Villard d’Honnecourt

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Apaixonado pelas novidades e técnicas mecânicas Villard de Honnecourt, arquétipo de engenheiro da revolução industrial da Idade Média, dá provas de maior modéstia.

Em seu Carnet de Notes, ele apresenta-se e à sua obra nos seguintes termos:

“Villard de Honnecourt vos saúda e roga a todos os que trabalham nos diversos gêneros de obras contidas neste livro que orem por sua alma e se lembrem dele; pois neste livro podem-se encontrar grandes ajudas para que os interessados se instruam nos princípios da construção em pedra e da construção de estruturas em madeira.

“Também se encontrará o método do retrato e do traço, tal como a geometria ordena e ensina”. (Álbum de Villard de Honnecourt, manuscrito publicado em fac-símile e anotado por L.-B.Lassus, Paris, 1858, p. 59).

Nascido no começo do século XIII em Honnecourt perto de Cambrai, na Picardia, a sua atividade profissional situa-se entre 1225 e 1250.

A extensão de sua obra é-nos conhecida graças ao seu Carnet de Notes, do mesmo modo que a fama do arquiteto romano Vitrúvio chegou até nós graças aos seus Dez Livros de Arquitetura.

O Carnet, conservado na Biblioteca Nacional de Parisé constituído por 33 folhas de pergaminho, manuscritas em ambas as faces. Na origem, o álbum tinha outras folhas, infelizmente perdidas.

Em sua juventude, Villard de Honnecourt trabalhou no canteiro de obras da abadia cisterciense de Vaucelles a duas horas de marcha de sua aldeia natal.

Aí desenhou o plano do coro da igreja, excepcional para uma igreja da Ordem de Cister; mudou-se em seguida para Cambrai, que era então uma das cidades mais importantes da indústria têxtil do Norte da França.

Ali traçou num pergaminho “o plano da cabeceira de Notre-Dame de Cambrai, tal como sai da terra” e “as elevações interiores, o plano da capela, as paredes e os arcobotantes” (Álbum de Villard de Honnecourt, p. 118).

Essas elevações foram obra de Jean d'Orbais, de quem Villard nunca viu o retrato, gravado somente no final do século XIII nas lajes do labirinto.

Entretanto, é possível que se tenha entrevistado com Jean le Loup, que dirigia os trabalhos do canteiro de Reims quando Villard aí esteve.

Sob os esboços de uma igreja de duplo deambulatório, Villard anotou que discutiu o projeto com um arquiteto chamado Pierre de Corbie. Nessa época, os arquitetos trocavam de bom grado suas ideias.

Quando estava em Reims, Villard desenhou uma fila dupla de arcobotantes.

Estes arcobotantes, uma das grandes invenções da arquitetura gótica, permitiam escorar o empuxo das abóbodas.

Esse método revolucionário possibilitou as construções altas ao mesmo tempo que se aligeiravam as paredes laterais. As igrejas góticas estavam repletas de invenções técnicas desse gênero.

Não se pode deixar de citar entre as mais notáveis o conjunto frequentemente complexo, de passagens ou corredores de serviço, incorporados vertical e horizontalmente às paredes para assegurar a manutenção e fiscalização dos trabalhos em grandes edifícios.

Esses corredores não existiam nas primeiras igrejas românicas. Em Beauvais construiu-se em cinco níveis diferentes e em Chartres havia nove poços de escada de caracol.

O esquema mostra o corte de uma grande igreja equipada de corredores em três níveis, ligados entre eles por escadas em caracol.

Essas passagens, situadas no interior ou exterior das paredes, permitiam, em caso de incêndio, chegar rapidamente ao local do sinistro.

Facilitavam igualmente a vigilância e a conservação do teto e dos vitrais. Construídas à medida que as paredes eram levantadas, permitiam não só que os pedreiros transportassem seus materiais sem estorvo, mas também a realização de economias em andaimes e escoras durante as obras.

“Elas [as passagens] deixavam livre o espaço importante ao nível do solo, oferecendo, sem escadas de mão que estorvam a circulação nem estruturas temporárias, uma via de acesso interna e segura às partes elevadas do edifício, lá onde justa- mente se impunha a armação de andaimes localizados”. (J. Fitchen, The Construction of Gothic Cathedrals, Clarendon Press, Oxford, 1964, p. 23)

Arcobotantes
Arcobotantes
Villard compreendeu a importância dessas passagens de serviço. Em seu Carnet, sob o desenho de duas elevações de Reims, explica em pormenor onde se encontram os corredores.

“Diante da cobertura das naves laterais, deve existir um caminho sobre o entabulamento e um outro sobre a cume eira dessas naves, diante dos janelões destinados aos vitrais, com parapeitos baixos, como vereis no desenho que está sob os vossos olhos.

“No coroamento dos contrafortes deverá haver florões de anjos e, por diante, arcobotantes. Diante da grande cumeeira do alto deverá haver caminhos e parapeitos sobre o entabulamento para circular quando há perigo de fogo. Também deverá haver no entabulamento calhas para escoar a água” (Álbum de Villard de Honnecourt, p. 211).

Além do interesse técnico que para ele essas construções apresentam, essas observações provam a preocupação que Villard tinha com os problemas de segurança.

(Autor: Jean Gimpel, “A revolução Industrial da Idade Média”, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1977, 222 páginas).

continua no próximo post:



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