Degradação de um cavaleiro |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Se um cavaleiro violasse as leis da Cavalaria, manchasse a sua honra ou faltasse ao seu juramento, era então degradado.
A cerimônia da degradação era terrível. O cavaleiro indigno era conduzido à praça principal da cidade por um cortejo de cavaleiros vestidos de luto.
De vez em quando o cortejo parava, e um arauto proclamava em alta voz o crime cometido. No local da cerimônia o cavaleiro era posto sobre um cavalo de madeira, e eram retiradas então todas as peças de sua armadura, uma por uma. Isto era feito sob o escárnio e desprezo dos assistentes.
O cavaleiro estava armado como para o combate. Num estrado, o condenado primeiro era despojado da espada, escudo, elmo e cota de malha.
Atiradas à sua frente, essas armas eram marteladas com um ferro até estarem completamente inutilizadas. Ninguém poderia jamais servir-se de armas que tivessem sido de um mau cavaleiro.
Ao homem desarmado, o oficiante, que na maior parte das vezes era o suserano a quem pertencia o condenado, tinha deixado apenas as esporas. Estas eram-lhe então cortadas, com um machado, rente aos saltos. Depois eram esmagadas com a acha de armas.
De então em diante o cavaleiro destituído não era mais nada, nem mesmo um servo: um homem sem nome, sem parentes e sem amigos. Um morto vivo no campo civil.
O rito da exautoração da Cavalaria evoluiu também para o simbolismo dos seus gestos.
Antes de qualquer cerimônia, o clero recitava, diante do cavaleiro condenado à perda dos seus direitos, as vigílias dos mortos, como se aquele homem não fosse mais do que um cadáver vivo.
Cantavam em seguida o salmo “Deus laudem meam”, que pede para os traidores a maldição de Deus. Vinha a seguir o destroçar das armas e o cortar das esporas, ao qual se juntava por vezes o corte da cauda do cavalo do bandido.
Depois disso, de certa maneira correspondendo ao banho da investidura, se procedia o lavar da cabeça. O celebrante deitava sobre a cabeça do condenado a água morna de uma bacia. Estava assim lavada a unção.
O excluído era destituído com este gesto. Deitado numa padiola, coberto com um lençol e uma mortalha, era levado para uma igreja, onde se procedia às mesmas cerimônias.
Quanto ao escudo de exautorado, estavam-lhe reservadas as piores infâmias. Primeiro, era arrastado na lama, que simultaneamente o manchava moralmente e apagava os sinais que se encontravam pintados.
Assistia à desonra aquele de quem tinha trazido o brasão, mas com a ponta aguda do escudo voltada para cima, outro sinal tradicional de desonra. Depois disso o escudo era por sua vez martelado e ia juntar-se ao amontoado de ferros das outras armas.
Um cavaleiro degradado ficava em tal situação, que geralmente mudava-se de cidade, pois não tinha mais ambiente para continuar vivendo nela.