Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um medieval está copiando certo livro. Deveria ser desses copistas profissionais, dos quais alguns eram artistas verdadeiros.
Sentado numa mesa junto à janela, ele está vestido com uma roupa que podemos imaginar de cor entre marrom e preto, ampla, na qual se percebe que ele se movia completamente à vontade, e que o agasalhava bem.
À sua direita, uma janela com vidros de fundo de garrafa, tal vez de cor verde, um pouco dado ao claro, fechada de tal maneira que a luz penetrava da direita para a esquerda, portanto iluminando o trabalho como deveria fazê-lo.
Ele, sentado com rosto plácido, escreve com uma pena de pato grande.
E o copista faz tranquilamente seu trabalho; um trabalho belo, para o qual — percebe-se — ele tem habilidade.
Sem pressa, sem angústia, sem cansaço. Vê-se que está ali sumamente entretido. Ganhando a vida e entretido.
Mas entretido com o quê? Com aquele ambiente que exprimia determinados valores morais.
Por exemplo, o seguinte valor: placidez operosa. A placidez em si é uma qualidade moral.
Uma placidez operativa reúne duas perfeições opostas — porque aparentemente a placidez é o contrário da ação — mas harmônicas.
Não tem noção de que o dia se passou extraordinariamente bem. Para ele foi um dia normal.
Essa normalidade não foi deliciosa, foi apenas deleitável.
A diversão e o prazer são uma exceção na vida. O normal é essa deleitabilidade de cada dia.
É o verdadeiro entretenimento da normalidade, da tranquilidade, da placidez.
(Fonte: “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008, p. 50.)