Deus Pai, Gar 09, 4v |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
SEGUNDA VIA: A CAUSALIDADE EFICIENTE
Uma estátua, ou uma ponte, por exemplo não se fazem sozinhas. Alguém as fez: o escultor ou o engenheiro. Esses são a causa eficiente da estátua ou da ponte.Eficiente = que faz, como o pai é a causa eficiente do seu filho. Nada aparece por magia.
E quem fez ao escultor, o engenheiro ou o pai do exemplo acima?
Procurando logicamente achamos alguém ou algo que foi o primeiro a fazer algo ou alguns. Essa causa eficiente primeira é Deus.
Assim explica São Tomás de Aquino (“Suma Teológica”, I 2,3):
“Vemos que no mundo do sensível há uma determinada ordem entre as causas eficientes; mas não achamos e não é possível achar alguma coisa que seja sua própria causa, pois em tal caso teria que ser anterior a si mesma, e isto é impossível.
“Ora bem: também não se pode prolongar de modo indefinido a série das causas eficientes, porque, em todas as causas eficientes subordinadas, a primeira é causa da intermediária e esta é causa da última, sejam poucas ou muitas as intermediárias.“E já que, suprimida uma causa, se suprime o seu efeito, se não existisse entre as causas eficientes uma que seja a primeira, também não existiria a última nem a intermediária.
São Tomás de Aquino, priorato de São Domingos em Londres
“Logo, se se prolongasse indefinidamente a série de causas eficientes, não haveria causa eficiente primeira, e, portanto, nem efeito último nem causa eficiente intermediária, coisa inteiramente falsa.
“Por conseguinte, é necessário que exista uma Causa Eficiente Primeira, à qual chamamos Deus.”
TERCEIRA VIA: A CONTINGÊNCIA DOS SERES
Os seres que vemos são limitados ‒ contingentes ‒ inclusive no tempo e acabam morrendo e se desfazendo. Portanto todos os seres que vemos não existem desde sempre e um dia vão deixar de existir. E portanto houve um momento em que nada existiu.
Se nada existiu, alguém criou.
Esse alguém deve estar desprovido de toda contingência, vive desde sempre e nunca morrerá: é eterno. Esse ser necessário para que qualquer coisa exista, causa de todos os seres contingentes, é Deus.
Assim ensina São Tomás (“Suma Teológica”, I 2,3):
“A terceira via considera o ser possível ou contingente e o necessário, e pode formular-se assim:
“Encontramos na natureza coisas que podem existir ou não existir, pois vemos seres que se engendram ou produzem e seres que morrem ou se destroem, e, portanto, têm possibilidade de existir ou de não existir.“Ora bem: é impossível que os seres de tal condição tenham existido sempre, já que o que tem possibilidade de não ser houve um tempo em que de fato não existiu.
Santíssima Trindade, col. De Ricci
“Logo, se todas as coisas existentes tiveram a possibilidade de não ser, houve um tempo em que de fato nenhuma existiu.
“Mas, se isto fosse verdade, agora também não existiria coisa nenhuma, porque o que não existe não começa a existir a não ser em virtude do que já existe, e, portanto, se nada existia, foi impossível que começasse a existir alguma coisa, e, consequentemente, não existiria nada agora, coisa evidentemente falsa.
“Por conseguinte, nem todos os seres são meramente possíveis ou contingentes, mas forçosamente há de haver entre os seres algum que seja necessário.
“Mas de duas uma: este ser necessário ou tem a razão da sua necessidade em si mesmo ou não a tem.
“Se a sua necessidade depende de outro, como não é possível admitir uma série indefinida de coisas necessárias cuja necessidade depende de outras ‒ segundo vimos ao tratar das causas eficientes ‒ é forçoso chegar a um Ser que exista necessariamente por si mesmo, ou seja, que não tenha fora de si a causa de sua existência necessária, mas que seja causa da necessidade dos demais.
“E a este Ser absolutamente necessário chamamos Deus.”
Que o ser necessário se identifica com Deus é coisa clara e evidente, tendo em conta algumas das características que a simples razão natural pode descobrir com toda a certeza nele.