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Channel: Idade Média * Glória da Idade Média
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Descobertas grandes e surpreendentes

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No início do século VII, o monge Eilmer voou mais de 180 metros com uma espécie de asa delta.

Posteriormente o padre jesuíta Francesco Lana-Terzi estudou o vôo de modo sistemático e descreveu a geometria e a física de uma nave voadora.



Elmer, monge de Malmesbury
num vitral com sua asa delta
Os monges eram habilidosos relojoeiros.

O primeiro relógio mecânico de que se tem registro foi feito pelo futuro papa Silvestre II para a cidade de Magdeburg, na Alemanha por volta do ano 996.

No século XIV, Peter Lightfoot, monge de Glastonbury, construiu um dos mais antigos relógios ainda existentes.

Richard de Wallingfor, abade de Saint Albans, além de ser um dos iniciadores da trigonometria, desenhou um grande relógio astronômico para o mosteiro, que predizia com precisão os eclipses lunares.

Relógios comparáveis só apareceriam dois séculos depois.

Gerry McDonnell, arqueometalurgista da Universidade de Bradford, na Inglaterra, encontrou nas ruínas da abadia de Rievaulx, as provas de um grau de avanço tecnológico capaz de produzir as grandes máquinas do século XVIII.

Os religiosos medievais tinham conseguido fornos capazes de produzir aço de alta resistência.

Rievaulx foi fechada pelo heresiarca Henrique VIII em 1530, e por isso o aproveitamento dessas descobertas ficou atrasado de dois séculos e meio.

Abadia de Rievaulx: seu avanço tecnologico teria permitido construir
na Idade Média as grandes máquinas que só apareceram 250 anos depois
Em Arbroath (Escócia) os abades instalaram um sino flutuante num recife perigoso, que as ondas agitadas faziam soar para alertar os navegantes.

O recife ficou conhecido como "Bell Rock" (Recife do Sino). Hoje um farol e um museu lembram o fato.

Por toda parte os frades construíam ou reparavam pontes, estradas e outras obras indispensáveis para a infra-estrutura medieval.

E isto sem nenhuma despesa para o erário público.

Oh época feliz, em que os cidadãos não viviam esmagados por impostos para obras que acabam sendo mal feitas, quando são feitas!



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Suger, abade de Saint Denis: não poupar arte nem riqueza no culto sagrado

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O abade Suger aos pés de Jesus Cristo, vitral da abadia de Saint-Denis
O abade Suger aos pés de Jesus Cristo, vitral da abadia de Saint-Denis
Dom Suger (1081-1151) foi abade de Saint-Denis (França), desde 1122 até sua morte.

Hábil diplomata, foi conselheiro de Luís VI e de Luís VII e Regente durante a Segunda Cruzada.

Foi chamado de “pai da monarquia francesa”.

Suger formulou uma justificação filosófica para a vida e a arte, notadamente para suas realizações arquitetônicas. Compartilhando o sentir medieval, ele concebia os monumentos como obras de teologia.


Interior da abacial de Saint-Denis, Paris, França
O abade Suger foi grande teólogo, poeta, patrono das artes e organizador das funções litúrgicas.

Ele pregou a via da elevação da alma até a contemplação das coisas divinas a partir da beleza material retamente aproveitada.

A sua influencia na arquitetura gótica foi prodigiosa, especialmente pelas maravilhas introduzidas na Basílica abacial de Saint-Denis.

Esta basílica é a necrópole dos reis da França, e subsiste até hoje, não longe do centro de Paris.

Ele escreveu:

Cálice do abbé Suger
Cálice do abade Suger
“No que concerne à beleza dos vasos sagrados, nós acreditamos, que devemos esculpi-los primorosamente, com uma nobreza externa que corresponda à dignidade com a qual nós os manipulamos no Santo Sacrifício da Missa.

“Pois, em todas as coisas sem exceção ‒ seja pela matéria ou pelo espírito ‒ nós devemos servir o Redentor o mais perfeitamente possível.

“E é por isso que nada será suficientemente precioso, nem suficientemente belo, nem suficientemente esplêndido para conter as Sagradas Espécies.

“No Antigo Testamento, os judeus empregavam vasos e utensílios de ouro para recolher o sangue dos bodes, veados e vacas sacrificadas.

“Os cristãos no poderiam ornar com pedras preciosas os cálices de ouro que contêm o sangue de Cristo?

“A beleza da casa de Deus deve, com maior razão, dar aos fiéis como que um antegosto da beleza do Céu.

“A visão da beleza multicolor das pérolas, com freqüência, me liberou das preocupações da vida exterior elevando minha alma pelo deleite dos esplendores sensíveis até a consideração das virtudes diversas de que elas são o símbolo.

“Esta visão me deu a ilusão de me encontrar, por assim dizer, numa terra estrangeira que de maneira alguma era a terra de lama deste baixo mundo, mas ainda não era a pura região do Céu.

“Assim, parece-me que por meio do regozijo com a beleza material, nós podemos, com a ajuda de Deus, sentirmos transportados, por via anagógica (elevação da alma na contemplação das coisas divinas, êxtase, arrebatamento, enlevo), até a fruição espiritual da beleza suprema”.

(Fonte: apud Edgar de Bruyne, “Le conflit des esthétiques”, Albin Michel, Paris, 1998, p. 143).




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Melhores vinhos modernos: herança das abadias medievais

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Abbaye Sylva Plana, Le Songe de l'Abbé, faugères; Domaine de l'abbaye du Petit Quincy, chablis; Le Clos du Cellier aux Moines. Fundo: antiga abadia de Paray-le-Monial
Abbaye Sylva Plana, Le Songe de l'Abbé, faugères;
Domaine de l'abbaye du Petit Quincy, chablis;
Le Clos du Cellier aux Moines
Fundo: antiga abadia de Paray-le-Monial
Os vinhedos da Gália do tempo dos romanos – que inclui a França, mas partes de outros países europeus – foram plantados pelos legionários durante suas guerras de conquista no século I.

Eles tinham uma muito grande sofisticação na produção, escreveu o especialista em vinhos Marcel Larchiver em seu livro de referência “Vinhos, vinhas e vinhateiros”:

“Para os romanos, o vinho era ao mesmo tempo um objeto de comércio e de luxo, mas também um néctar divino do qual lhes parecia impossível renunciar. Por isso, o vinhedo era rodeado de todos os cuidados”.

Porém, o Império Romano veio abaixo no século V e a anarquia e os saques das hordas bárbaras destruiram a plantação.

Foi nessa época de caos, morte e destruição que se desenvolveu o apostolado da Igreja Católica.


Já desde o século IV a Igreja estimulava o desenvolvimento das vinhas. Em primeiro lugar porque o vinho era necessário para a consagração na Missa e para a Comunhão.

Os bispos fundaram importantes vinhedos, e esta obra contribuiu a fortalecer sua imagem ante o povo.

Mas vieram também os mosteiros. Na França medieval havia mais de um milhar de mosteiros masculinos entre os quais 250 abadias cistercienses e mais de 400 abadias beneditinas.

O vinho também era necessário para fortalecer os numerosos peregrinos que batiam nas portas das abadias para pedir hospedagem e alimentação gratuita após longas jornadas de caminhada.

O vinho que os medievais apreciavam também tinha efeitos benéficos para a saúde e era usado para tratar os doentes.

A abadia de Cîteaux foi fundada em 1098 e adquiriu em 1100 um terreno então desconhecido, mas onde hoje se faz o famosíssimo Vougeot. Ali, os monges plantaram uma vinha hoje universalmente cobiçada.

Abbaye de Valmagne, Coteaux du Languedoc; Domaine da abadia du Petit Quincy;  Corbières Deo Gratias, abadia de Corbières. Fundo: abadia na Aquitânia
Abbaye de Valmagne, Coteaux du Languedoc; Domaine da abadia du Petit Quincy;
Corbières Deo Gratias, abadia de Corbières. Fundo: abadia na Aquitânia
Eles coletaram, uma a uma, as pedras brancas que impediam a plantação e as usaram para fazer cercas de pedra que delimitavam a propriedade, afastavam os ladrões e concentravam o calor do sol.

Nasceu assim o Clos (fechado) de onde o nome Clos Vougeot.

Os leigos intercalavam as vinhas com árvores frutíferas para completar os lucros.

Mas, os monges interditaram absolutamente esse costume para não empobrecer a terra e evitar a sombra sobre as uvas.

Eles se empenharam em selecionar as melhores cepas, requintar o processo de vinificação e definir os melhores locais.

Nasceram assim mais de uma centena de “appellations” francesas que são de origem puramente monástico.

Os monges viajavam muito e trocavam informações sobre técnicas por via oral, por isso faltam registros sobre o assunto.

Eles ensinavam aos populares como fazer sem receber nada em troca, salva a gratidão que o povo foi manifestando a seus benfeitores.

O prestígio dos vinhedos monacais atravessou as fronteiras francesas. Um certo Dom Denise, monge italiano ingressou num mosteiro da Borgonha só para roubar o segredo do vinho.

O fruto de sua espionagem ficou registrado numa “Memória” que acabou sendo descoberta há uma década numa biblioteca de Florença.

O documento demostra que os eclesiásticos reclusos haviam desenvolvido a ponta da técnica e que seus métodos não perderam um milímetro de atualidade.

Le Clos du Cellier aux Moines; Abbaye de Valmagne, Coteaux du Languedoc;  Deo Gratias, abadia de Corbières; Abbaye Sylva Plana, Le Songe de l'Abbé.  Fundo: abadia de Royaumont, Ile de France.
Le Clos du Cellier aux Moines; Abbaye de Valmagne, Coteaux du Languedoc;
Deo Gratias, abadia de Corbières; Abbaye Sylva Plana, Le Songe de l'Abbé.
Fundo: abadia de Royaumont, Ile de France.
Acresce que as propriedades dos monges possuíam uma estabilidade de séculos, e os vinhos, portanto, herdavam séculos de requintes.

Porém, a torpeza da Revolução Francesa golpeou a própria base desta paciente construção: a propriedade.

As abadias de Cluny e Cîteaux foram arrasadas e todos os bens da Igreja foram confiscados, depredados e vendidos a vil preço.

Alguns desses vinhedos haviam sido vendidos a particulares em tempos anteriores em circunstâncias diversas.

Foi o caso de vinhedos que produzem vinhos cujo simples nome faz sonhar os entendido: por exemplo o de Romanée cedido em 1631, e o de Clos de Bèze em 1651.

Ainda hoje são produzidos vinhos abaciais na origem, graças ao empenho de sucessores dos compradores dos vinhedos monásticos durante os desmandos democráticos revolucionários.

Os dias atuais exigem objetivos de rentabilidade que nem passavam pela cabeça dos monges que aspiravam à eternidade, e esses vinhos passam airosos o teste.

Mas, o exemplo dos religiosos medievais ainda exerce boa influência.

Como diz um dos atuais proprietários, citado por “Le Figaro”: “num local como este não há opção: nós temos a obrigação de fazer o melhor”.




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O verdadeiro nome da arquitetura gótica é ‘arquitetura cristã

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Catedral de Reims, França
Catedral de Reims, França

Se houvesse uma qualificação para se dar ao estudo que daremos prosseguimento, poderíamos dizer que ela se relaciona à filosofia da arquitetura.

Daniel Ramée, Viollet-Leduc e alguns outros autores especialistas mostraram como se desanuvia o fim moral e o alcance intelectual dos procedimentos técnicos, que são os meios materiais mais importantes e úteis das artes.

Contudo, ao estudarmos as condições que constituem os méritos do estilo gótico, precisamos ir além da beleza estética.

As descrições entusiásticas de nossos antigos monumentos, das visões engenhosas ou poéticas, a justa admiração das obras-primas do espírito humano são de fundo comum, estão abertas a todos aqueles que pensam, e, mesmo àqueles que se contentam em sentir vagamente tais obras; esta distinção essencial é perfeitamente enunciada na obra de Eugène Loudun:



Catedral de Aachen, Alemanha
Catedral de Aachen, Alemanha
“Há duas admirações: aquela do grande público, e aquela do homem instruído. O homem instruído vê as qualidades de uma obra-prima e as explica.

“O grande público, o vulgar, também admira ... ele não saberia dizer por que ele admira, mas ele sente que o que ele tem diante dos olhos é admirável. Um camponês não exclamará: é belo!

Catedral Notre Dame de Paris

“Mas ele levará consigo uma imagem do que viu, e, em algum momento, lhe virá uma lembrança que lhe fará levantar a cabeça, como que para vê-la novamente [Eugène Loudun, L'Italie moderne, p.27 - Paris, Rétaux-Bray, 1886, in Revue du monde catholique, 1e novembre 1886].”

Capela de Assis, Itália
Capela de Assis, Itália
Esse sentimento de entusiasmo, quer ele seja mudo ou ruidoso, o estilo gótico inspira ao mais alto grau, e, mais do que em qualquer outro sistema da arquitetura.

Contudo, é preciso dizer que, entre a maior parte dos escritores, os motivos da admiração de tal estilo estão sempre do lado das causas reais: a ornamentação, os pequenos detalhes sobre os quais se insiste são, sobretudo, somente acessórios, cuja supressão não mudaria nada e nem destruiria o mérito essencial da obra.

Esse mérito, que trataremos em expor: é a fonte do sentimento religioso por trás de tal sistema, de onde, por seu alcance real, constataremos sua superioridade intelectual e moral, e, pelos quais, tal sistema é capaz de nos impressionar de uma forma tão intima, profunda e durável.

Catedral de Laon, França
Catedral de Laon, França
Não podemos nos deter nos louvores da ogiva ou nos méritos do arco duplo, nem muito menos nas maravilhosas rosáceas e nos vitrais, nas esculturas sobre a pedra e sobre a madeira, nem nos detalhes secundários, comuns aos diversos estilos, ou que qualquer outro estilo pode se apoderar.

É preciso demonstrar que o estilo góticoé independente de todas essas minúcias, e que ele encerra em si mesmo os princípios que lhe são próprios, a mais alta expressão da arte jamais atingida.


(Autor: Alphonse Castaing, “Le style gothique, ses origines, sa supériorité matérielle et morale”, Revue du monde catholique, 1er novembre 1886. Apud Annales Historiae)





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Erradicação do analfabetismo: fruto da devoção a Jesus Cristo

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Carlos II, o Calvo, rei dos francos

Os avanços culturais medievais brotaram de almas que aspiravam, sob o influxo da graça divina, ao triunfo do ideal católico no mundo, observou o professor americano Thomas E. Woods.

Alcuíno, abade de York que foi uma espécie de ministro da Educação de Carlos Magno, traduziu essa apetência coletiva numa carta ao imperador:

“Uma nova Atenas será criada na França por nós.

“Uma Atenas mais bela do que a antiga, enobrecida pelos ensinamentos de Cristo, superará a sabedoria da Academia.


“Os antigos só têm as disciplinas de Platão como mestre, e eles ainda resplandecem inspirados pelas sete artes liberais.

“Mas os nossos serão mais do que enriquecidos sete vezes com a plenitude do Espírito Santo e deixarão na sombra toda a dignidade da sabedoria mundana dos antigos”
.
Estátua de Carlos Magno, venerado como Beato na Catedral de Metz, França-


São João Crisóstomo narra que o povo de Antioquia enviava os filhos para serem educados pelos monges.

São Bento instruiu filhos da nobreza romana e ordenou que seus mosteiros abrigassem escolas, não só para ensinar a religião, mas as letras e as artes.

São Bonifácio e Santo Agostinho ordenaram a seus religiosos criar estabelecimentos de ensino por toda parte.

São Patrício desenvolveu a alfabetização na Irlanda.

Carlos Magno mandou abrir escolas gratuitas em todo império, que além da instrução deviam fornecer alimento e agasalho às crianças, não podendo receber nada em troca.

O imperador mandou vir da Grécia as grandes obras dos clássicos gregos e latinos, e transcrevé-las em livros novos que podiam ser recopiados indefinidamente.

São Beda, o Venerável: o maior historiador
dos primeiros séculos do cristianismo.
Os beneditinos foram grandes mestres que tiraram
os povos bárbaros da ignorância
E até criou as letras minúsculas, a chamada minúscula carolíngia, pois até então só se escrevia com maiúsculas e sem pontuação como era o costume deixado pelos romanos. Essa novidade favoreceu muito a leitura.

Concílios locais, como o sínodo de Baviera (798) e os de Châlons (813) e Aix (816), ordenaram que se fundassem casas de ensino.

Theodulfo, bispo de Orleans e abade de Fleury, exortava:  

“Em aldeias e cidades, os sacerdotes devem abrir escolas. [...] 

Que não peçam pagamento; e se recebem algo, que sejam somente pequenos presentes oferecidos pelos pais”.

Que diferença a com a nossa época, em que frequentemente a educação pública é calamitosa e a educação privada é cara para muitos!


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Templários: fé, prudência e bravura ensinadas por São Bernardo de Claraval

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São Bernardo de Claraval. Santuário de Lourdes
São Bernardo de Claraval. Santuário de Lourdes
O grande paladino de Nossa Senhora, São Bernardo abade de Claraval, falou sobre a vida que devem levar aqueles que combatem por Jesus Cristo, com estas palavras:

“Quando se aproxima a hora do combate, armam-se de fé os cavaleiros, abrem-se a Deus em sua alma e cobrem-se, por fora, de ferro, não de ouro, a fim de que assim sejam bem apercebidos de armas, não adornados com jóias, infundam medo e pavor aos seus inimigos, sem excitar sua cobiça.” 

Aqui a gente vê a prudência do santo. No tempo da guerra medieval muitos cavaleiros tomados por um certo mundanismo que invadia o ambiente da Cavalaria, gostavam de se apresentar com couraças de ouro ou prata, recamadas de pedras preciosas.

Agora, acontece que o ouro e a prata oferecem ao adversário um obstáculo muito menos forte do que o ferro.



Por outro lado, quando os maometanos viam uma couraça de ouro e de prata reluzente de pedras preciosas, o gênio comercial fazia com que houvesse o desejo de apreender aquilo que ingenuamente estava rutilando de objetos dignos de cobiça.

Então, São Bernardo entra argutamente no assunto e diz: para quem combate seriamente por Jesus Cristo, nada de mundanismo, nada de couraças que atraem o ódio do adversário, atraem a cobiça do adversário e não lhe metem medo.

Nós precisamos ter couraças que metam medo e não atraiam a cobiça. Quer dizer, é um modo de apresentar onde se apalpa a prudência do santo.

“É preciso ter cavalos fortes e velozes, não formosos e bem ajaezados”.

Oração antes de combate
Oração antes de combate
A outra ideia é lembrar exatamente que o cavalo bonito em batalha não serve; e é preciso ter cavalos fortes e velozes também.

Cavalo veloz serve para ir para a frente, mas para trás também.

Mas a questão é que quando é preciso recuar, na hora de recuar, é preciso recuar.

E se há um momento em que a virtude da prudência manda fugir, é preciso saber fugir.

O cavalo veloz é muito bom para o ataque, porque o impacto da lança do adversário está em razão da velocidade do cavalo.

Mas, por outro lado, o cavalo veloz é muito bom na hora da fuga e a gente vê que São Bernardo estima o cavalo para os dois efeitos. Então, ele dá essa recomendação absolutamente pertinente.

Ele continua:

“pois o verdadeiro cavaleiro pensa mais em vencer do que em fazer proezas”.

Como isto é bem achado!

A proeza não adianta de nada, o que adianta é vitória.

O que o cavaleiro quer é esmagar o inimigo e implantar o Reino de Maria.

Se um tal processo, ou tal outro processo dá mais resultado mais vistoso ou menos, pouco importa. O que é preciso é alcançar o resultado.

“e os cavaleiros mundanos precisamente o que desejam é causar admiração e pasmo e não causar medo”.

A defesa de Acre pelos cavaleiros de Malta
A defesa de Acre pelos cavaleiros de Malta
Ora, diz ele, o que é preciso para um cavaleiro católico é causar turbação e medo.

Depois ele continua:

“Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, que se adiantam ao combate pacífica e sossegadamente; mas apenas o clarim dá o sinal do ataque, deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com o salmista: Não temos odiado, Senhor, aos que te aborrecem? Não temos consumido de dor, ao ver a conduta de teus inimigos?”

Quer dizer, o exército católico marcha calmo e tranquilo em direção ao adversário. Quando chega perto, exclama: Senhor, não é verdade que odiamos o teu adversário? E começa então uma batalha que ninguém agüenta, que ninguém é capaz de deter, uma investida que ninguém é capaz de deter.

O contraste é magnífico: calma, fleuma, reflexão, e depois, em determinado momento, o ataque furioso. Esse ataque só o homem refletido faz; o homem irrefletido não faz.

É toda uma apologia da reflexão dirigindo todas as coisas, ou seja, da sabedoria dirigindo todas as coisas.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 3.12.66, sem revisão do autor).




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Bula “Universitas Parens Scientiarum” do Papa Gregório IX regulamentando a Universidade de Paris

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Gregório IX, autor da Bula “Universitas Parens Scientiarum”
Gregório IX, autor da Bula “Universitas Parens Scientiarum”

A Universidade é uma criação da Igreja Católica na Idade Média. Até as Universidades modernas usufruem de direitos e privilégios concedidos pelos Papas na era medieval.

Em diversos posts deste blog tratamos da importância capital do impulso dado pelos Papas às Universidades.

A seguir apresentamos um exemplo de como os Papas fizeram isso.

Trata-se da Bula “Universitas Parens Scientiarum” de 13 de abril de 1231, emitida pelo Papa Gregório IX (1227-1241), regulamentando as atividades da Universidade de Paris, mais conhecida como a Sorbonne.

Numa época como a nossa em que as Universidades Católicas se revoltam contra as legítimas autoridades eclesiásticas e até decapitam em esfinge ao Santo Padre, como aconteceu na PUC de São Paulo, o documento a seguir produz um efeito ordenativo restaurador:



Gregório bispo, servidor dos servidores de Deus, a seus amados filhos, a todos os mestres e estudantes de Paris, saudação e benção apostólica.

Paris, mãe das ciências, como uma outra Cariath Sepher, cidade das letras, brilha com um esplendor precioso, grande sem dúvida.

Ela faz ouvir de si as maiores coisas, graças àqueles que nela apreendem e ensinam (...)

Paris medieval, época em que nasceu e floresceu a atual Universidade da Sorbonne
Paris medieval, época em que nasceu e floresceu a atual Universidade da Sorbonne
Desta maneira, é fora de dúvida que aquele que em dita cidade se esforçar para perturbar uma graça tão resplandecente ou aquele que não se opuser claramente e com força àqueles que a perturbam, desagrada profundamente a Deus e aos homens.

É por isso que, tendo considerado atentamente os problemas que nos foram submetidos a propósito da discórdia que ali nasce por instigação do diabo e que perturba gravemente os estudos, Nós julgamos, após ouvir o conselho de nossos irmãos, que é preferível resolver os problemas de modo mais prudente com um regulamento do que por uma decisão judicial.

Reunião dos doutores da Universidade de Paris
Reunião dos doutores da Universidade de Paris
Assim, no que concerne ao estatuto dos estudantes e das escolas, Nós decidimos que se deverão aplicar as seguintes regras:

Aquele que será escolhido como Chanceler de Paris deverá, na hora de sua posse, jurar diante do bispo, ou por decisão dele, diante do capítulo de Paris, na presença de dois mestres convocados para isso em representação da Universidade dos estudantes de Teologia e de Direito, lealmente e segundo a sua consciência, que ele não concederá licença de ensinar senão a homens dignos em função do lugar e do momento, segundo o estatuto da cidade, a honra e o renome das Faculdades, e recusará a licença aos indignos, afastando toda acepção de pessoa ou de origem.

Antes de conceder a licença a quem quer que seja, nos três meses a contar desde a apresentação do pedido de licença, ele deverá fazer-se examinar com diligencia, pelos mestres em teologia presentes na cidade e também por outras pessoas honestas e cultivadas, para que por meio deles se possa conhecer o valor, as ambições e outras coisas que se examinam nessas ocasiões.

Tendo assim examinado tudo o que convém fazer e parecer oportuno, o Chanceler, de acordo com sua alma e consciência, concederá ou recusará ao candidato a licença solicitada.

Quanto aos mestres de teologia e direito, quando eles começarem a dar aulas, prestarão juramento público de dar fiel testemunho das coisas ditas. O Chanceler jurará também não revelar jamais as declarações dos mestres se for em detrimento deles, da sua liberdade e do direito dos cônegos de Paris, que continuam com todo seu vigor inicial.

Estudantes na Universidade de Paris
Estudantes na Universidade de Paris
No caso dos médicos, dos artistas e dos outros, o Chanceler prometera examinar lealmente os mestres e admitir pessoas dignas, excluindo as indignas.

Além do mais, sendo verdadeiro que o mal se infiltra facilmente onde reina a desordem, Nós vos concedemos o poder de estabelecer sábias constituições ou regulamentos sobre os métodos e os horários das lições, das discussões, sobre as vestimentas apropriadas e as cerimônias funerárias.

Sobre os bacharéis: quem deverá dar as aulas, a hora, o autor escolhido, as taxas dos aluguéis e a proibição de certas casas, bem como o poder de castigar devidamente aqueles que se rebelarão contra estas constituições ou regulamentos, expulsando-os se mister (...).

Aquele que cometer um crime que postula prisão será detido no cárcere do bispo, ficando o Chanceler absolutamente proibido de manter uma prisão privada.

Nós proibimos, além do mais, que qualquer estudante venha preso por causa de uma dívida, pois isso está proibido por decisões canônicas regulares.

Nem o bispo, nem seu vigário, nem o Chanceler poderá pronunciar uma pena pecuniária para levantar uma excomunhão ou qualquer outra censura.

O Chanceler não poderá exigir dos mestres aos quais concedeu licença, juramento algum, ou qualquer sinal de submissão, ou outra forma, e não exigirá em virtude deste documento soma alguma de dinheiro ou obrigação, mas se contentará com o juramento acima indicado.

Estatutos da Universidade de Paris
Estatutos da Universidade de Paris
Nós proibimos formalmente os estudantes de andarem armados e ordenamos que a Universidade interdite aqueles que perturbarem a paz e o estudo.

Aqueles que fingem serem estudantes sem frequentar as aulas nem terem mestres, jamais poderão gozar das franquias (libertas) dos estudantes (...).

Que ninguém infrinja esta decisão, constituição, concessão, proibição e interdição, ou ouse opor-se a ela com audácia temerária.

E se alguém ousar atentar, saiba que encontrará a indignação de Deus todo-poderoso e dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Latrão, nos idos de abril, do quinto ano de nosso pontificado.


(Fonte: Internet Medieval Sourcebook, http://www.fordham.edu/halsall/french/bul.htm, Gregório IX (1227-1241), Bula “Universitas Parens Scientiarum”, datada de 13 de abril de 1231. “Chartularium Universitatis Parisiensis”, éditions H. Denifle et E. Chatelain, Paris, Delalain, 1889, Tome 1, p. 136-139. Auteur: Kareen Healey kareenh@dsuper.net).




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Elogio dos Templários feito por São Bernardo de Claraval

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São Bernardo de Claraval. Francesco di Antonio del Chierico,
Biblioteca Apostolica Vaticana, ms urb lat 93 f 7v
De uma carta de São Bernardo a Hugo, templário. Estas palavras iniciam o famoso panegírico "Em louvor da Nova Milícia" (De Laude Novae Militiae) composto pelo santo:

Pediste-me uma, duas ou três vezes, se não me engano, Hugo caríssimo, que fizesse uma exortação para ti e teus cavaleiros.

E como não me era permitido servir-me da lança contra as agressões dos inimigos, desejaste que, pelo menos, empregasse minha língua e meu gênio contra eles, assegurando-me que eu te faria um favor se animasse com minha pena aqueles que não posso animar pelo exercício das armas.

Voa por todo o mundo a fama do novo gênero de milícia que se estabeleceu no país em que o Filho de Deus encarnou-se e expulsou pela força de seu braço os ministros da infidelidade.

Este é um gênero de milícia não conhecido nos séculos passados, no qual se dão ao mesmo tempo dois combates com um valor invencível: contra a carne e o sangue e contra os espíritos de malícia espalhados pelos ares.


Em verdade, acho que não é maravilhoso nem raro resistir generosamente a um inimigo corporal somente com as forças do corpo.

Tampouco é coisa muito extraordinária, se bem que seja louvável, fazer guerra aos vícios ou aos demônios com a virtude do espírito, pois se vê todo o mundo cheio de monges que estão continuamente neste exercício.

Mas quem não se pasmará por uma coisa tão admirável e tão pouco usada como é ver a um e outro homem poderosamente armado dessas duas espadas, e nobremente revestido do caráter militar?

Certamente esse soldado é intrépido e está garantido por todos os lados. Seu espírito se acha armado do elmo da fé, da mesma forma que seu corpo da couraça de ferro.

Estando fortalecido por essas duas espécies de armas, não teme nem aos homens nem aos demônios.

E digo mais: não teme a morte, posto que deseja morrer.

Com efeito, o que pode fazer temer, seja a morte ou a vida, quem encontra sua vida em Jesus Cristo e sua recompensa na morte?

É certo que ele combate com confiança e com ardor por Jesus Cristo, entretanto deseja mais morrer e estar com Jesus Cristo, porque este é seu fim supremo.

Eia, pois, valorosos cavaleiros, marchai com segurança, expulsai com uma coragem intrépida os inimigos da Cruz de Nosso Senhor, e estai certos de que nem a morte nem a vida poderão separar-vos da caridade de Deus, que está em Jesus Cristo.

Pensai com freqüência, durante o perigo, nestas palavras do Apóstolo: "Vivamos ou morramos, somos de Deus".

Oh! Com quanta glória voltam do combate esses vencedores!

Oh! Com quanta ventura morrem esses mártires na peleja!

Regozija-te, campeão valoroso, de viver no Senhor, mas regozija-te ainda mais de morrer e ser unido ao Senhor. Sem dúvida tua vida é frutuosa e tua vitória gloriosa, mas tua morte sagrada deve ser preferida com justa razão a uma e a outra.

Pois se os que morrem no Senhor são bem-aventurados, quanto mais não o serão aqueles que morrem pelo Senhor?

Em verdade, de qualquer maneira que se morra, seja no leito, seja na guerra, a morte dos santos será sempre preciosa diante de Deus. Mas a que ocorre na guerra é tanto mais preciosa, tanto maior é a glória que a acompanha.

Oh! Que segurança, repito, há na vida que espera a morte sem temor nenhum!

Oh! Deseja-a com ânsia e recebe-a com devoção!

Oh! Quão santa e segura é esta milícia, e quão livre e isenta está desse duplo perigo em que se acham ordinariamente as gentes de guerra, que não têm Jesus Cristo por fim de seus combates!

Porque tantas vezes como entras na peleja — tu, que não combates senão por um motivo temporal — deves ter temor de matar a teu inimigo quanto ao corpo, e a ti mesmo quanto à alma, ou talvez de ser morto por ele quanto ao corpo e quanto à alma juntamente.

Quartel geral do Templários, profanado e transformado
na atual mesquita de Al Aqsa, na Esplanada do Templo, Jerusalém
Pois o perigo ou a vitória do cristão se deve considerar, não pelo sucesso do combate, mas pelo afeto do coração. Se a causa daquele que peleja é justa, seu êxito não pode ser mau, assim como o fim não pode ser bom se é defeituoso o motivo e torta sua intenção.

Se, com a vontade de matar a teu inimigo, tu ficas estendido, morres fazendo-te homicida. E se ficas vencedor, e fazes perecer a teu contendor com o desígnio de triunfar dele e de vingar-te, vives homicida.

Pois quer morras, quer vivas, quer sejas vitorioso ou vencido, de nenhum modo te é vantajoso ser homicida.

Desgraçada vitória a que te faz sucumbir ao vício, ao mesmo tempo que triunfar de um homem. Em vão te glorias de ter triunfado de teu inimigo, quando a cólera e a soberba te reduzem à escravidão.

A milícia secular

Qual é o fim e o fruto, não digo desta milícia (o Templo), mas da milícia secular, quando aquele que mata peca mortalmente, e aquele que é morto perece por uma eternidade?

Servindo-me das palavras do Apóstolo: "Aquele que semeia o grão deve fazê-lo na esperança de gozar de seu fruto".

Mas dizei-me, valentes do século: que ilusão espantosa é esta e que insuportável furor é este, de combater com tantas fadigas e gastos, sem outro salário que o da morte e o do crime?

Cobris os cavalos de belos ornamentos de seda, forrais as couraças com ricas fazendas, pintais as lanças, os escudos e as selas, levais as rédeas dos cavalos e as esporas cobertas de ouro, de prata e de pedrarias, e com toda essa pompa brilhante vos precipitais na morte, com furor vergonhoso e com uma estupidez que não tem menor discernimento.

São equipagens de guerra ou são o adorno de mulheres? Pensais que a espada do inimigo terá respeito ao ouro que levais? Que preservará vossa pedraria, e que não será capaz de transpassar essas belas fazendas de seda?

Enfim eu julgo, e sem dúvida vós o experimentais com bastante frequência, que há três coisas que são inteiramente necessárias: é mister que o prudente e valoroso cavaleiro tenha muito domínio sobre si, para enganar os golpes do adversário; que tenha iniciativa e habilidade, para mover-se de qualquer lado; que esteja sempre preparado para carregar sobre o inimigo.

Mas vós fazeis tudo ao contrário: levais, como as damas, grandes cabeleiras, que vos atrapalham para atingir o que tendes em volta; embaraçais as pernas com vossas longas vestimentas; envolveis vossas fracas e delicadas mãos com grandes véus.

Mas acima de tudo isso, o que deve assustar mais a consciência dos combatentes é que ordinariamente se empreende uma guerra muito perigosa por motivos muito ligeiros e de nenhuma importância.

Efetivamente, o que suscita os combates e as querelas entre vós não é, o mais das vezes, outra coisa senão um movimento de cólera pouco razoável, um certo apetite de vanglória ou o avaro desejo de possuir um pedaço de terra.

Com semelhantes causas, não há nenhuma segurança em matar um homem ou em ser morto.

continua no próximo post



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São Bernardo: "muito mais justo é combatê-los agora do que sofrer sempre o jugo dos pecadores"

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São Bernardo de Claraval fez alto elogio  dos cavaleiros que empunham as armas por Cristo
São Bernardo de Claraval fez alto elogio
dos cavaleiros que empunham as armas por Cristo
continuação do post anterior

A milícia do Templo

Mas o mesmo não se dá com os Cavaleiros de Jesus Cristo, pois combatem somente pelos interesses de seu Senhor, sem temor de incorrer em algum pecado pela morte de seus inimigos e sem perigo nenhum pela sua própria, porque a morte que se dá ou recebe por amor de Jesus Cristo, muito longe de ser criminosa, é digna de muita glória.

Por um lado se adquire em ganho para Nosso Senhor, por outro é Jesus Cristo mesmo que o adquire; porque Ele recebe com gosto a morte de seu inimigo em seu desagravo, e se entrega com mais gosto ainda como consolo de seu soldado fiel.

Assim, o soldado de Jesus Cristo mata com segurança o seu inimigo e morre com maior segurança.


Se morre, faz o bem para consigo; se mata, o faz para Jesus Cristo; porque não é em vão que ele leva ao lado a espada, pois é ministro de Deus pata tirar vingança sobre os maus e defender pela virtude os bons.

Certamente, quando se mata um malfeitor, não se passa por homicida. Antes, se me é permitido falar assim, por malicida. Passa por ser o justo vingador de Jesus Cristo na pessoa dos pecadores, e por ser o legítimo defensor dos cristãos.

E quando ele perde a vida, é antes uma vantagem do que uma perda. Pois a morte que dá a seu inimigo é um ganho para Nosso Senhor, e a que recebe é sua ventura verdadeira.

 Um cristão se glorifica na morte de um pagão, porque Jesus Cristo é glorificado nela; e a liberalidade do Rei dos Reis se torna manifesta na morte de um soldado cristão, porque ele é levado da terra para o prêmio.

À vista do mau, o justo se regozijará vendo a vingança executada nele. Do bom, dirão os homens: "Ficará o justo sem recompensa? Não há Deus que é seu juiz sobre a terra?"

É certo que não se deveria exterminar os pagãos se houvesse algum outro meio de punir e evitar os maus tratos e opressões violentas que eles exercem contra os cristãos.

Mas é muito mais justo combatê-los agora do que sofrer sempre o jugo dos pecadores sobre os justos, assim os bons não cometerão iniqüidades com os pecadores.

Com efeito, se de nenhum modo fosse permitido a um cristão fazer guerra, por que teria o precursor do Salvador declarado no Evangelho que os soldados devem estar contentes com seu pagamento, e não proibiu toda sorte de guerra?

Se, como é certo, este é um emprego lícito para todos aqueles que Deus destinou a ele, e não estão empenhados em outra profissão mais perfeita, quem — vos pergunto — o pode servir com mais vantagens do que nossos valorosos cavaleiros, que pela força de seu braço e de sua coragem conservam generosamente a cidade de Sion como o baluarte mais forte de toda a Cristandade, a fim de que, expulsos dele os inimigos da lei de Deus, possam as nações fiéis, que guardam a verdade, entrar ali com toda segurança?

Dispersai, pois, e dissipai com firmeza os infiéis que buscam a guerra, e sejam exterminados aqueles que nos conturbam continuamente; lançai fora da cidade do Salvador todos os ímpios que cometem a iniqüidade, que desejam roubar os inestimáveis tesouros do povo cristão dos quais a cidade de Jerusalém é o sagrado depósito, os que desejam profanar as coisas santas e possuir o santuário de Deus, como se fosse herança sua.

Sejam vibradas as duas espadas dos fiéis contra as cervizes dos inimigos, a fim de destruir toda cultura que queira elevar-se contra a ciência de Deus, que é a fé dos cristãos, para que os gentios não digam um dia: onde está o Deus destas nações?

Então, expulsos os inimigos de sua casa, Nosso Senhor mesmo voltará à sua herança, da qual predisse em sua cólera: "Vede que vossa casa ficará desamparada como um deserto"; e à qual se refere, pela boca de seu profeta, nestas palavras: "Desejei minha casa e abandonei minha herança".

Será cumprida esta profecia de Jeremias: "O Senhor resgatou seu povo e o libertou; e eles virão e se regozijarão sobre a montanha de Sion, e gozarão com prazer dos bens do Senhor".

Alegra-te, ó Jerusalém, e reconhece o tempo de tua visita. Regozijai-vos e entoai cânticos de gratidão, desertos de Jerusalém, porque Deus consolou seu povo, livrou Jerusalém e mostrou a força de seu braço santo à vista de todos os gentios.

A vida dos cavaleiros templários

É mister agora que, para exemplo ou confusão de nossos soldados, digamos umas palavras da vida e dos costumes dos cavaleiros de Jesus Cristo, e de que maneira se portam na guerra e em sua vida particular, a fim de fazer conhecer melhor a diferença que há entre a milícia de Deus e a do século.

Primeiramente, quer na guerra, quer na paz, guarda-se perfeitamente a disciplina e a obediência exata, porque, segundo o testemunho da Escritura, "o menino que vive sem disciplina perecerá".

E também: "é um crime de magia resistir, e um pecado de idolatria não querer obedecer".

Vai-se e vem ao primeiro sinal daquele que manda, veste o que se dá e não ousa buscar em outra parte nem a vestimenta, contentando-se em satisfazer apenas as necessidades.

Todos vivem em comum, em uma sociedade agradável e modesta; sem mulheres e sem filhos, a fim de que nada falte à perfeição evangélica; moram todos juntos numa mesma casa, sem propriedade alguma particular, tendo um cuidado muito grande em conservar a unidade de espírito no laço da paz.

Dir-se-ia que toda essa multidão de pessoas não tem senão um coração e uma só alma. Cada um procura com cuidado não seguir sua própria vontade, mas sim obedecer pontualmente à ordem do superior.

Não estão jamais ociosos nem correm daqui para lá, desejando satisfazer sua curiosidade. Mas quando não estão em marcha, o que sucede raras vezes, estão sempre ocupados, para não comer ociosamente seu pão, em refazer o que estragou-se de suas armas e de seus hábitos, em reparar o que está demasiadamente velho ou em colocar em ordem o que está fora do lugar.

Enfim, em trabalhar em tudo aquilo que a vontade do Grão-Mestre ou a necessidade comum prescreve.

Entre eles não há acepção de pessoas. Tem-se consideração pela generosidade, e não pela maior nobreza. Apressam-se em honrar-se mutuamente e em carregar as cruzes do próximo, a fim de cumprir por este meio a lei de Jesus Cristo.

Hábito e armas de um templário
Hábito e armas de um templário
Uma palavra insolente, uma ação inútil, um risco imoderado, uma leve queixa ou a menor murmuração não ficam jamais sem castigo neste lugar.

Desprezam e têm horror aos cômicos e aos mágicos, aos contos de fantasias, às canções burlescas e a toda sorte de espetáculos e de comédias, como vaidades e loucuras falsas.

Levam seus cabelos curtos, sabendo que, segundo o Apóstolo, é vergonhoso a um homem cuidar de sua cabeleira.

Quando estão prestes a entrar em guerra, fortificam-se por dentro com a fé e por fora com as armas de aço não douradas, para, assim armados sem ornamentos preciosos, infundir terror aos inimigos, em vez de excitar sua avareza.

Cuidam muito de ter bons cavalos, fortes e ligeiros, e não reparam que sejam de pelagem bonita ou estejam ricamente ajaezados. Pensam mais em combater do que em apresentar-se com fausto e pompa.

Aspirando à vitória e não à vanglória, procuram fazer-se mais respeitar do que admirar por seus inimigos.

Jamais marcham em confusão e com impetuosidade, nem se precipitam às pressas nos perigos, pelo contrário estão sempre em seus postos com uma precaução e prudência inimagináveis.

Entram em batalha na mais bela ordem, segundo o que está escrito do povo de Deus: "Os verdadeiros israelitas marcham para a batalha com o espírito pacífico.

Mas chegados ao embate, põem de lado a mansidão costumeira, como se dissessem: ‘Não é certo que eu aborreço a todos que vos aborrecem, Senhor, e que me consumo de cólera contra vossos inimigos?’"

Lançam-se como leões sobre seus adversários, olhando as tropas inimigas como rebanhos de ovelhas.

Mesmo que muito poucos em número, não temem de maneira alguma a multidão de seus soldados nem sua crueldade bárbara.

Estão igualmente ensinados a não confiarem em suas próprias forças, mas a esperam do poder do Deus dos Exércitos, ao qual é fácil, segundo a sentença do generoso Macabeu, entregar as numerosas fileiras inimigas nas mãos de um punhado de pessoas, não fazendo, para Deus do céu, nenhuma diferença em livrar seu povo com muita ou pouca gente.

Video: Montgisard: um punhado de templários mas o rei Balduíno IV o leproso derrotam a Saladino




Porque a vitória da guerra não vem do grande número de soldados, mas de um favor do céu. Isto eles têm experimentado frequentemente, até ter visto muitas vezes um milhar de homens posto em fuga por um só, e dez mil por dois somente.

Enfim, vê-se todavia no dia de hoje, por uma graça singular e admirável, que eles são mais mansos que cordeiros e mais ferozes que leões.

De tal forma que, de boa fé, fico indeciso em dizer se deve-se qualificá-los com o nome de monges ou de cavaleiros, e me pergunto se não seria melhor chamá-los com um e outro nome, posto que têm a mansidão dos monges e a força dos soldados.

O que se pode dizer aqui, senão que é Deus mesmo o autor dessas maravilhas que vemos com pasmo diante de nossos olhos?

É Deus, volto a dizer, quem escolheu para si tais servos e os juntou de todas as extremidades da terra, dentre os mais valentes de Israel, para guardar animosamente o leito do verdadeiro Salomão, isto é, o Santo Sepulcro, com a força de suas armas e com sua destreza nos combates.

FIM




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Os cruzados e a cidade santa de Jerusalém

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Psalterio medieval: Jerusalém é representada no centro do mundo
Psalterio medieval: Jerusalém é representada no centro do mundo
Ó Jerusalém! o amor de minha alma, a alma de meus pensamentos e de meus desejos, os desejos de meu coração, o coração de minhas afeições e as afeições de minha vida, ai de mim! sois vós que eu procuro.
P. Boucher, peregrino nos lugares santos.

Jerusalém, a mais célebre e sem dúvida a mais misteriosa das cidades que brilharam sobre a terra, era, para os hebreus, o que Roma é para nós: o centro augusto de sua nacionalidade religiosa e o ponto rumo ao qual se voltavam seus corações para orar.

Todo filho de Israel deveria viajar para a cidade santa, e todos aqueles que podiam, iam lá celebrar todos os anos a festa da Páscoa. Eis aí, portanto, a mais ilustre e mais antiga peregrinação.

É neste local que nos dias de Abraão, o rei de Salém, no país dos Jebuseus, Melquisedeque, anunciava o mais adorável de nossos mistérios, oferecendo a Deus, por sacrifício, o pão e o vinho. É ali que o Senhor escolheria mais tarde seu santuário.


Ali todos os profetas anunciaram os acontecimentos futuros escritos nos santos Evangelhos.

Contudo, o povo de Deus, frequentemente infiel, ou mesmo ingrato, também mereceu constantemente os grandes reveses que testemunharam tão claramente o governo temporal da Providência. Mais de uma vez a cidade de Jerusalém, saqueada, expiou suas traições.

Ela estava no alto e radiante quando o Redentor, que queria salvá-la, chorou sobre ela.

Infelizmente! se fomos resgatados em seu seio pelo sacrifício infinito que regenera o mundo e nos abre os céus, foram seus filhos que cometeram o deicídio. Por isso, ela deveria expiar mais uma vez suas faltas.

Contudo, e apesar da espera do castigo que estava anunciado, os discípulos de Cristo sabiam que as vias de Jerusalém tinham conservado a marca dos passos do Homem-Deus, que Ele havia falado em seu templo e em suas sinagogas, que Ele havia feito, dentro de seus muros, milagres que os perversos podiam atribuir a Belzebu, mas que ninguém poderia negar.

Mapa medieval de Londres até Jerusalém
Mapa medieval de Londres até Jerusalém
É ali, portanto, que se dedicariam em multidão os primeiros peregrinos da Cruz; é ali que se reuniriam os apóstolos; e é em Jerusalém que ocorrerá o primeiro Concílio, no ano 51, 18 anos após a morte de Nosso Senhor.

18 anos mais tarde, a cidade culpada, investida pelos romanos, sofre as angústias que lhe haviam sido preditas. Tomada, saqueada, destruída de cima a baixo, ela desaparece da face da terra.

Talvez, cabe a propósito assinalar aqui que, diante desta imensa ruína, Tito, o príncipe pagão, escrevera: “Foi Deus que expulsou os judeus; não fui eu que venci; minhas mãos só foram o instrumento da vingança divina.”

Contudo, o Calvário permaneceria para os peregrinos; eles continuaram a vir de todas as partes procurar, nos escombros da Via dolorosa, o Cenáculo, aonde o Espírito Santo veio sobre os primeiros convivas da Eucaristia; a colina da Ascensão e todos os vestígios da passagem do Homem-Deus.

As perseguições, abertas por Nero, logo se espalharam. Contudo, uma maior dor estava reservada aos cristãos. O imperador Adriano, confundindo-os com os judeus, profanou os lugares santos, levantando uma estátua de Júpiter no lugar da ressurreição; uma estátua de Vênus no Calvário; uma estátua de Antínoo na gruta de Belém.

Essas infâmias só desapareceram inteiramente sob o reinado de Constantino. Esse príncipe, convertido ao cristianismo, purificou os lugares santos, construiu a igreja do Santo Sepulcro, estabeleceu santuários em Belém, Nazaré e Hebron; e quando Santa Helena, sua augusta mãe, encontrou a santa cruz, houve ali um concurso de peregrinos jamais visto antes. Ele deveria se suceder, apesar dos obstáculos que o inimigo ainda viria suscitar.

Todos sabem que Juliano, o Apóstata, ao mesmo tempo em que tentava re-estabelecer o paganismo, quis, 300 anos após a destruição de Jerusalém, contrariar a pregação de Jesus Cristo reerguendo esta cidade.

Sabe-se também como ele não obteve sucesso.

Uma multidão de testemunhas autênticas, entre as quais, Ammien Marcellin, célebre pagão, constataram que os judeus, que aplaudiram os projetos do apóstata, mal haviam cavado as fundações dela, quando chamas, emanadas do solo, devoraram os trabalhadores e seus materiais.

Várias vezes, e em diversos lugares, esse prodígio se renovou, e o pérfido imperador renunciou à sua luta.

Esses milagres marcaram de tal forma os povos, que o número de peregrinos cresceu ainda mais, e com maior zelo.

Toda alma ardente queria visitar o Calvário, o jardim das Oliveiras, a igreja do Santo Sepulcro. Ora, neste canto do mundo, o cristão via Deus presente por toda parte.

Mapa medieval de Jerusalém
Mapa medieval de Jerusalém
Desde o século IV, encontravam-se entre os peregrinos, Santo Eusébio, São Policarpo, São Jerônimo, São Paulo e Santo Eustáquio, que viveram juntos desde a infância; e rapidamente o número de cristãos que se impunham a viagem até Jerusalém se tornou tão grande, que se fez necessário um itinerário específico para esse uso, além de navios vindos de toda parte.

Assim, durante os séculos V e VI, casas eram construídas em torno dos lugares santos, e muitos cristãos, vindos de todas as partes do mundo, quiseram, como São Jerônimo, morrer na terra da salvação.

Contudo, em 614, Jerusalém, que respirava um pouco, foi assediada pelos Persas.

O abominável Cosroes II, seu rei, destruiria tudo a ferro e fogo, vendendo os cristãos feitos prisioneiros para os judeus, e lhes roubando a santa Cruz.

Inimigo furioso de Cristo, e vaidoso por seus triunfos, ele havia jurado fazer guerra aos romanos e de lhes conceder a paz somente na condição de que esses renunciassem a Jesus Cristo para adorar o sol, que era seu deus.

Algum tempo depois, ele seria vencido pelo imperador Heráclito e, vergonhosamente derrotado, encontraria odiosamente o fim de seu reino e de sua vida.

Heráclito, por sua vez, só concedeu a paz a Siroes, sucessor do monstro, após ele lhe entregar a santa Cruz.

Ele então a levou para Jerusalém, e atravessou, descalço, a Via dolorosa, carregando-a sobre seus ombros até o lugar venerado aonde os judeus a tinham plantado no dia do grande sacrifício.

A comemoração deste triunfo é uma das festas da Igreja [Exaltação da santa Cruz, 14 de setembro].

Infelizmente! esta nova paz dada à Jerusalém não seria longa.

Em 632, a Palestina foi conquistada por Omar, um dos primeiros sucessores de Maomé.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).

continua no próximo post




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Achado dos restos do rei Ricardo III suscita interesse mundial

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Ricardo III, último rei inglês da dinastia Plantageneta
Ricardo III, último rei inglês da dinastia Plantageneta
Em 1458, há quase seis séculos, Ricardo III, último rei da Inglaterra, pertencente à dinastia Plantageneta, morreu na batalha de Bosworth Field, que encerrou a Guerra das Duas Rosas.

Tratou-se de uma guerra civil entre as casas de York – i. é., a dinastia Plantageneta, de quem Ricardo III foi o último herdeiro – e a de Lencastre – i. é., da dinastia de Tudor, que levou a melhor.

Seu adversário Henrique VII foi coroado e iniciou a dinastia real dos Tudor.

Shakespeare põe na boca do rei derrotado, como tendo sido suas últimas palavras, a famosa expressão: “A horse! My kingdom for a horse!” – “Um cavalo! Meu reino por um cavalo”.

Ricardo III foi sepultado no convento franciscano de Leicester.

Porém, após Henrique VIII ter confiscado e depredado os mosteiros católicos e fundado a cismática Igreja de Inglaterra, o convento caiu em ruínas.

Perdeu-se então a lembrança do local onde jaziam os restos mortais do último rei Plantageneta.


Vista geral das excavações. O túmulo de Ricardo III é indicado pelo número 1
Vista geral das excavações. O túmulo de Ricardo III é indicado pelo número 1
Em fevereiro de 2012, responsáveis de escavações para construir um estacionamento em Leicester (centro da Inglaterra), anunciaram ter encontrado os fundamentos do antigo convento franciscano e o túmulo de Ricardo III.

Ossos quebrados e uma espada indicavam tratar-se de um cavaleiro importante morto em combate.

Exames de DNA permitiram confirmar que eram verdadeiramente os restos do rei. A Universidade de Leicester ratificou a autenticidade da descoberta.

Agora os restos do rei repousarão num mausoléu na catedral da cidade. Ele será construído com um custo total de £ 1 milhão (R$ 3,39 milhões).

Os planos para o funeral incluem um novo piso na catedral e um vitral, além de iluminação especial.

O enterro do último Plantageneta será o ponto alto de uma semana de eventos que comemorará a descoberta dos restos mortais de Ricardo III.

Ricardo III e a rainha Ana, vitral no castelo de Cardiff
Ricardo III e a rainha Ana, vitral no castelo de Cardiff
O fato foi largamente noticiado pela Internet e pela imprensa internacional, inclusive no Brasil.

Uma pergunta salta ao espírito. Por que a descoberta e o posterior re-enterro de um rei medieval suscita tanto interesse numa época – o III milênio – que sob numerosos pontos de vista se posiciona nas antípodas da ordem medieval?

O fato é que tudo quanto diz respeito à Idade Média – tempo profundamente católico, hierárquico e sacral – chega até nós carregado de refrigérios e de luminosos imponderáveis de sacralidade, de ordem e de paz.

O achado dos restos de um rei sem túmulo comove e suscita a veneração e o respeito, levando a lhe consagrar um mausoléu digno de um monarca que, embora contraditado, marcou o fim da era medieval.




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A cidade santa profanada inspira a Cruzada

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Califa Ali Ben Hamet, Theodore Chasseriau (1819 – 1856)
continuação do post anterior

Omar, sucessor do Profeta, imediatamente edificou uma mesquita no lugar aonde estava levantado o templo de Salomão. Não atormentando, contudo, os cristãos.

Somente após sua morte, em 644, que as ignomínias e as espoliações vieram experimentá-los; os peregrinos foram obrigados a pagar um tributo para ter o direito de se prosternar no Calvário.

O tributo que se exigia dos peregrinos na entrada da cidade santa, inicialmente leve, logo tornou-se pesado, e aqueles fiéis que guardavam os lugares santos caíram rapidamente sob uma tirania odiosa.

Carlos Magno se encontrava bastante ocupado, assim como foram Carlos Martel e Pepino, com suas guerras contras os frísios e os saxões, guerras que eram verdadeiras cruzadas, mesmo que esse nome não tivesse ainda sido cunhado.

Carlos Magno envia então ao califa Haroun-al-Raschid, o chefe supremo do islamismo em Bagdá, um embaixador encarregado de reclamar a liberdade dos cristãos.


Haroun, antipático aos heróis do Ocidente, como dizem os historiadores, pois ele admirava somente a si mesmo, contudo, temendo os exércitos do grande chefe dos francos, cujo renome já havia chegado até ele, lhe enviou, com pompa, entre presentes raros, as chaves do santo Sepulcro e da cidade de Jerusalém, prometendo-lhe solenemente guardar sob sua proteção todos os peregrinos da Palestina..

Silvestre II exorcizando o diabo.
Esse Papa pensava na Cruzada.
Cod Pal germ 137 f216v.
Vemos aí que o Papa Silvestre II foi o primeiro predicador da Cruzada, um século antes de Pedro, o Eremita.

Desde então, ao menos durante alguns anos, sob o reino dos califas de Bagdá e dos sultões do Cairo, os filhos de Cristo puderam entrar nos lugares santos.

Eles retomaram aí, enquanto desfrutavam de alguns dias de paz, um piedoso exercício que vários acreditaram ser novo, mas que remontava aos primeiros dias da Igreja: o caminho da Cruz.

Ao exemplo da Santíssima Virgem e dos primeiros discípulos, os fiéis praticaram ali esta devoção que se mantém até hoje.

Nas relações do século X, encontram-se detalhes que mencionam na Via Crucis mais estações do que aquelas que nós fazemos.

Assim, em Jerusalém há estações: no Cenáculo;

na casa da santa Virgem; na casa de Caifás;

na casa de Anás, o Pontífice;

no lugar aonde Nosso Senhor saudou as três Marias;

no pretório de Pilatos; na arcada do "Ecce Homo";

no lugar aonde Pilatos abandonou Nosso Senhor aos judeus;

na coluna da Flagelação; na coluna do Opróbrio, aonde Nosso Senhor foi coroado de espinhos, coberto com um retalho púrpura e golpeado com uma cana;

no lugar aonde Ele foi vigiado pelos soldados;

no lugar aonde Ele foi carregado de sua Cruz;

na capela do Espasmo, que é o lugar aonde a Santíssima Virgem viu seu divino Filho cair pela primeira vez;

no lugar aonde Ele falou às filhas de Jerusalém; no lugar aonde Ele foi ajudado por Simão de Cirineu;

no lugar aonde Ele caiu pela segunda vez; no lugar aonde a santa mulher enxuga seu rosto com um véu;

nos lugares aonde as vestes de Nosso Senhor foram jogadas e compartilhadas;

aonde Ele foi pregado sobre a Cruz; no lugar aonde Ele foi levantado na Cruz;

no lugar aonde estava o soldado que lhe fere o lado com um golpe de lança;

na pedra sobre a qual Ele foi depositado morto;

no santo Sepulcro;

no lugar aonde, após a ressurreição, Ele aparece à sua santa Mãe, depois à Maria Madalena.

O caminho da Via dolorosa tem 730 passos

Há, ainda, para os peregrinos da terra santa, somente em Jerusalém, estações:

na montanha da Ascensão;

no lugar aonde Nosso Senhor fez sua oração após a Cena;

no lugar aonde dormiram os três discípulos que o acompanhavam;

no vilarejo de Getsemani, aonde Ele tinha deixado os outros;

no lugar aonde Ele foi preso;

na torrente de Cédron aonde Ele deixou quatro marcas de seus pés;

na gruta aonde São Pedro chorou seu pecado;

na igreja de São Marcos, edificada no lugar aonde os fiéis oravam por São Pedro;

no lugar aonde Santo Estevão foi apedrejado;

no sepulcro vazio da Santíssima Virgem; no lugar vizinho aonde ela apareceu para São Tomé;

enfim, na capela aonde Santa Helena se retirava para rezar, durante sua estadia em Jerusalém.

Uma outra devoção, que nós cremos também nova, embora fosse praticada por Santa Gertrudes, por São Bernardo, por São Boaventura e por uma multidão de outros santos, é o culto do Sagrado Coração de Jesus.

Os fiéis que adoravam a cabeça coroada de espinhos, os pés e as mãos furados com os pregos, adoravam, também, o coração adorável, especialmente na estação do golpe de lança.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).
continua no próximo post



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Muçulmanos iniciaram violências e morticínioscontra os peregrinos

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continuação do post anterior

De todas as partes, então, entre os cristãos, aqueles que buscavam obter grandes favores, ou expiar grandes quedas, se colocam em peregrinação aos lugares santos juntamente com os fiéis piedosos que para lá se dirigiam possuídos somente pelo amor ao Redentor.

Entre os peregrinos ilustres destes primeiros tempos, citamos São Silvino, bispo regional cujo nome conta na lista dos bispos de Toulouse e na lista dos bispos de Thérouenne. Ele assistiu ao batismo de Carlos Martel;

Santo Arculfo, prelado nas Gálias, que escreveu em seu retorno uma descrição dos lugares santos [Mabillon a conservou nas Acta Benedictorum];

Santo Willibald, bispo de Aichstaldt, na Francônia, e um dos apóstolos da Alemanha. Uma santa religiosa de sua família narrou sua viagem.


Muitos partiram para expiar crimes. Em 868, um senhor da Bretanha francesa, chamado Frotmond, assassino de seu tio e mais jovem de seus irmãos, recebeu absolvição após ter feito três vezes a peregrinação de Jerusalém.

Os rigores contra os cristãos reapareceram sob os fracos sucessores de Carlos Magno.

No século X, eles se tornaram mais violentos; o que não detinha, ainda, o zelo dos peregrinos para a santa viagem.

Eles partiam com o cajado e as escrituras; a suserania de quem eles dependiam, lhes concediam uma carta;

seus parentes e o clero de suas paróquias lhes conduziam em procissão, orando e abençoando, até os limites do território;

e eles iam, recebidos nos castelos e nos monastérios, honrados como servos de Jesus Cristo, respeitados como seres consagrados a Deus, protegidos pelos cavaleiros, livres de todos os pedágios.

Eles atravessavam sem perigo os exércitos e os campos de batalha. Contudo, chegando à Palestina, eles só podiam, muito raramente, atingir o fim de seus votos ardentes.

Em 986, o sábio Gerbert, que se tornaria papa 17 anos mais tarde, sob o nome de Silvestre II, fez, por devoção, a viagem da terra santa, e em uma carta preciosa em seu retorno, ele expôs à Europa cristã as misérias assustadoras dos cristãos na Palestina, e a necessidade, já entendida por Carlos Magno, de uma cruzada contra os bárbaros.

Em 1048, Santo Popón, abade de Stavelot, morria em paz, escapando dos perigos da grande peregrinação e voltando para entre os seus.

Em 1054, Liébert, o santo bispo de Cambrai, partira com três mil peregrinos de sua vasta diocese; quase todos pereceram, e ele mesmo voltou triste por não ter conseguido molhar com suas lágrimas a tumba de Jesus Cristo.

Lê-se em sua Vida que, retornando a Cambrai, ele percorreu com os pés nus, todas as noites, as igrejas e os cemitérios, orando por seus companheiros mortos na viagem santa.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).

continua no próximo post



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Cristãos resistem assalto maometano em Ramla

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continuação do post anterior


Dez anos depois (no ano 1064), 7 mil cristãos franceses e alemães partiram juntos para Jerusalém.

Guilherme, bispo de Utrecht; Sigefroi, bispo de Mayence; Gunther, bispo de Bamberg; Otton, bispo de Ratisbona e muitos outros senhores das duas nações fizeram parte desta tropa. J. Voigt citou um episódio curioso desta grande peregrinação [Histoire du pape Grégoire VII e de son siècle, c.III e VIII]:


“Esses peregrinos, diz ele, tiveram a imprudência de revelar suas riquezas no caminho.

“Por toda parte, nos campos e nas cidades que eles atravessavam, corriam-se para admirar seus esplendores.

“Chegando às terras dos sarracenos, eles estavam a um dia de Ramla, quando, na véspera da Páscoa, às três horas da tarde, eles se viram cercados por bandas árabes que, com o barulho de sua chegada, se armaram para pilhá-los.

“A luta começou no campo, e, no primeiro choque, muitos cristãos caíram mortos e despojados de tudo o que eles possuíam.

“Ganhou-se pouco a pouco um vilarejo que alguns tomavam por Cafarnaum.

“Ali, os peregrinos se refugiaram em um pátio, cercado por uma muralha muito baixa e quase em ruínas.

“Ela rodeava uma casa do qual o apartamento superior era felizmente disposto para a defesa.

“O arcebispo de Mayence, o bispo de Bamberg e seus eclesiásticos se colocaram ali; os outros prelados permaneceram embaixo.

“Os leigos se colocaram na muralha a fim de sustentar o ataque do inimigo.

Embora cercados de todos os lados por uma multidão, eles saíram, se precipitando sobre os árabes, desarmando um grande número e os combatendo corpo a corpo.

“A noite veio; os ladrões, vendo que eles estavam lidando com homens intrépidos, investiram contra a casa, a fim de reduzir, pela fome e o cansaço, aqueles que eles não podiam consumir.

“Eles estavam, diz-se, no número de 12 mil homens. No dia seguinte, dia de Páscoa, atacados ao amanhecer do dia, os peregrinos combateram até três horas da tarde, sem ter podido tomar nem descanso nem alimento.

“No dia seguinte, pressionados pela fome e a fadiga, eles seguiram o conselho de um padre, que lhes disse que Deus jamais tinha abandonado aqueles que se devotaram a Ele.

“Eles enviaram aos árabes um interprete encarregado de pedir a capitulação.

“O chefe dessas bandas veio com o interprete, acompanhado de 17 dos seus, os mais distintos de sua tropa. Ele deixou seu filho na porta com guardas, a fim de impedir qualquer outro de entrar.

“Ele subiu, seguido de alguns de seus companheiros, no cômodo onde estavam o bispo de Mayence e o bispo de Bamberg.

“Este último pediu passagem livre, oferecendo entregar-lhe, para isso, tudo o que ele tinha.

“Contudo, o árabe, exasperado por uma resistência que o tinha detido por três dias, replicou que era para ele prescrever as condições, e não os cristãos, e que ele queria comer suas carnes e beber de seu sangue.

“Pronunciando essas ameaças, ele desenrolou a faixa de tecido que formava seu turbante; e a lançou em torno do pescoço do prelado para estrangulá-lo.

“Este, calmo e tranquilo, deu um soco tão forte no rosto do árabe que ele caiu aos seus pés.

“Os outros peregrinos, testemunhas desta cena, agarraram seus companheiros e amarraram suas mãos nas costas.

“Com seus gritos assustadores, os cristãos, que estavam sobre a muralha, se encorajaram e atacaram as posições árabes que os bloqueavam, matando uns e colocando em fuga os outros.

“Então, aqueles do estágio superior desceram, levando diante deles os chefes amarrados, expondo-os nos lugares aonde os lanceiros caíram, tendo sobre suas cabeças a espada suspensa e ameaçando matá-los se o combate não cessasse imediatamente.

“Sob as súplicas desses prisioneiros, o filho do chefe inimigo ordenou à sua tropa furiosa para baixar as armas.

“Nesse mesmo momento chegou um mensageiro enviado por aqueles peregrinos que tinham conseguido chegar a Ramla, após terem sido completamente despojados.

“Ele anunciava que o governador de Ramla, em troca de uma soma acordada, vinha ao socorro dos cristãos com grandes tropas. A esta notícia, os árabes fugiram.

“O socorro chegou, com efeito: os cristãos entregaram ao governador seus cativos e a soma estipulada; e eles entraram sem outra dificuldade em Ramla.

“Uma escolta lhes foi dada em seguida para colocá-los a salvo dos ataques; eles chegaram em Jerusalém.

“Contudo, o número de peregrinos já estava reduzido pela metade; e aqueles que sobreviveram, despojados de tudo, não poderiam entrar em Jerusalém, o fim de todos seus suspiros, se eles não tivessem uma peça de ouro nas mãos para pagar na porta; aqueles que não puderam obtê-la, só puderam andar miseravelmente em torno das muralhas da cidade santa aonde repousava a tumba de seu Salvador”.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).

continua no próximo post




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Os Papas percebem a necessidade da Cruzada,mas os príncipes não ouvem bem

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Bem-aventurado Papa Urbano II convocou a Cruzada contra o Islã
continuação do post anterior

Em 1075, o grande papa Gregório VII já pressionava avidamente os príncipes cristãos à guerra santa, prevista por Carlos Magno, implorada por Silvestre II.

Ele impôs, neste mesmo ano, a peregrinação de Jerusalém ao abominável Cencius, que tinha odiosamente atentado contra sua liberdade e sua vida.

50 mil cristãos se levantaram, contudo, faltavam-lhes chefes, pois os príncipes cristãos se mantinham surdos.

Em 1085, Roberto, o Frísio, tendo se associado ao governo dos Estados de Flandres, seu filho primogênito, Roberto II, partiu para a santa viagem, mais ou menos ao mesmo tempo em que Berenguer II, conde de Barcelona; Fréderic, conde de Verdun, e Conrado, conde de Luxemburgo, a quem a santa peregrinação estava prescrita em expiação, assim como havia sido para Roberto da Normandia, a Fulque d'Anjou, a Frotmond e a outros personagens culpados por assassinatos ou rebelião. Sobre FoulqueS de Anjou e sua vida veja: MONTREUIL BELLAY: EQUILIBRIO DE BELICOSIDADE BELEZA E PENITENCIA

Depois de longas vicissitudes, Roberto, o Frísio, e seus companheiros puderam, pela força do dinheiro, adorar seu Deus sobre o Calvário.

Eles voltaram somente em 1091, e Roberto passou a se ocupar somente de sua salvação.

Contudo, ele enviará tão logo seu filho para a Cruzada. Ele tinha visto, na Palestina, reinos à conquistar.

Como ele era somente o segundo filho do conde de Flandres, Balduíno de Lille, e não podendo esperar uma parte dos feudos de sua casa, disse a seu pai:

“Dei-me homens e navios, eu irei bem rápido conquistar um reino entre os sarracenos da Espanha”.

Em seu retorno, ele julgou que uma conquista era ainda mais fácil na Palestina.

(Autor: J. Collin de Plancy. “Légendes des Croisades depuis les premiers temps jusqu'a nos jours”, Henri Plon, Paris).

FIM da série




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Governantes e súbditos: relacionamento com protocolo, cerimônia e grande respeito mútuo

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Como os governantes – senhor feudal, bispo, autoridades municipais – comunicavam ao povo as informações e decisões de interesse geral?

Hoje confia-se tudo aos meios de comunicação social que, muitas vezes deixam o que desejar.

Na Idade Média – e até em épocas posteriores, inclusive no Brasil imperial – exerciam essa função proclamadores oficiais.

Seu ofício era dar a conhecer, lendo ou recitando, as normas ou informações a viva voz, a pé ou a cavalo, pelas ruas e praças, por vezes acompanhados de trompetes, ou outros instrumentos sonoros.

E, para caracterizar bem a dignidade e importância de sua missão, iam revestidos de símbolos que indicavam a autoridade que os tinha enviado.

O espírito humano sente a necessidade de que as coisas importantes sejam rodeadas de cerimônia e protocolo. De ali os métodos dos proclamadores, suas roupagens, símbolos e aparato proporcionado.

Recentemente, o nascimento do príncipe George em Londres teve um pitoresco e muito difundido momento que nos remonta a essas épocas.

Acontece que na Grã-Bretanha e em alguns países da área cultural anglo-saxã ainda se conserva a tradição dos proclamadores oficiais, por exemplo na Austrália.

Foi assim que, com um tricórnio de plumas, grande uniforme de veludo vermelho, brasões e franjas douradas, um sino numa mão, um manuscrito desenrolado na outra e voz sonora, Tony Appleton, proclamador oficial da cidade de Romford (50 km de Londres) anunciou o gaudioso nascimento do mais novo principezinho inglês.

O curioso é que segundo o jornal francês “Le Figaro”, embora Tony Appleton seja de fato um proclamador oficial, no entanto não tinha licença para exercer essa função em Londres, tendo agido por iniciativa própria.

Este pormenor importante só veio a ser conhecido depois. Na hora todo o mundo achou normal que um acontecimento como o advento do bebê real fosse anunciado com pompa condigna.

E os que o ouviram se sentiram dignificados pois a autoridade enviava um representante pomposamente ataviado para informa-los.

Numa entrevista à agência Associated Press, o arauto oficial explicou: “Eu não fui convidado, eu me convidei para a festa. Eu saí do táxi, fiquei ao pé da escada do hospital e desempenhei meu papel.”

Como incontáveis ingleses, Tony Appleton gosta da família real. Ele achou inadequado que a cidade de Londres não enviasse um arauto – como é seu caso em Romford e o de muitos outros em diferentes cidades inglesas – para desempenhar esse papel de pomposo anunciador da feliz boa nova.

Mas jornalistas e redações de jornal, como também milhões de leitores de jornais, público de TV e Internet, acharam inteiramente coerente que o nascimento de um príncipe fosse anunciado por um cerimoniário que evoca os tempos medievais.

Este quiproquo pôs em evidencia da necessidade do protocolo e da pompa, estão impregnados na alma humana, sobre tudo quando tem uma conotação medieval

O fundo da natureza dos homens pede cerimônias e cerimoniários como o “arauto oficial” Tony Appleton – não de Londres ou da família real, mas de Romford.

A “façanha” individualista de Tony Appleton ficou rodeada de simpatia. Ele conta que muitas futuras mães já ficaram de contratá-lo para anunciar o nascimento de seus bebês. Como na Idade Média...



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São Pio X: a verdadeira liberdade da Igreja num Estado católico. Absurdo do Estado laico

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São Pio X recebe honras militares subindo à carruagem pontifícia de gala
São Pio X recebe honras militares subindo à carruagem pontifícia de gala

Para comemorar o 16º centenário do Edito de 313, através do qual o Imperador Constantino o Grande reconheceu oficialmente o Cristianismo em todo o Império Romano, o Papa São Pio X decretou um Jubileu universal e concedeu uma generosa Indulgência Plenária.

Na Carta Apostólica Magni Faustique (O grande e portentoso evento), aquele grande santo, Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro ensina a razão de ser altamente desejável e benéfica do reconhecimento oficial do Catolicismo pelo Estado.

E mostra indiretamente a falsidade dos que postulam um Estado laico como sendo o ideal para a Igreja.

Eis o texto:


Carta Apostólica Magni Faustique (O grande e portentoso evento)

O Papa Pio X. A todos os fiéis cristãos que lerão esta Nossa Carta, saúde e bênção Apostólica.

A celebração do grande e portentoso evento por cuja virtude há mil e seiscentos anos foi concedida finalmente a paz à Igreja, enquanto enche de alegria o coração de todos os católicos e convida-os a realizar obras de piedade, Nos move a abrir o tesouro dos dons celestes, para que se possam tirar dessa solenidade ricos e precioso frutos no Senhor.

O Papa São Silvestre I  mostra a Constantino as cabeças de São Pedro e São Paulo
O Papa São Silvestre I mostra a Constantino
as cabeças de São Pedro e São Paulo
De fato, Nos parece justo e assaz oportuno festejar o edito, promulgado em Milão pelo Imperador Constantino o Grande pouco depois da vitória contra Magêncio propiciada pelo glorioso estandarte da Cruz.

Esse edito, pondo fim às cruéis perseguições contra os Cristãos, os deixou na posse daquela liberdade cujo preço foi o sangue do Divino Redentor e dos mártires.

Nesse momento, finalmente, a Igreja militante obteve o primeiro daqueles triunfos que lhe foram dados sempre depois de perseguições de todo tipo em todas as épocas, e desde aquele dia garantiu sempre maiores benefícios à sociedade humana.

Os homens, de fato, abandonaram pouco a pouco o supersticioso culto dos ídolos, abraçaram sempre mais a regra da vida cristã, nos costumes e nas instituições, e com isso aconteceu que sobre a terra se difundiram juntamente a justiça e a caridade.

Julgamos, portanto conveniente, nesta feliz circunstância em que de novo se evoca um fato de tal importância, suplicar insistentemente a Deus, à Virgem Sua Mãe e a todos os Beatos, especialmente aos Apóstolos, a fim de que todos os povos, restabelecendo a majestade e a honra devidas à Igreja, se reúnam no seio desta Mãe e engajem-se com todas suas forças para expulsar os erros com os quais os irreverentes inimigos da Fé procuram conduzi-los da luz às trevas; tributem honra e respeito ao Pontífice Romano; e finalmente olhem com ânimo confiante à religião católica como sustento e defesa de todas as coisas.

Então, quando os homens tiverem de novo fixado o olhar na Cruz, será lícito esperar que sob este signo de salvação os inimigos do nome cristão e as paixões desenfreadas do coração poderão ser completamente vencidos.

A fim de que as humildes orações que nesta solenidade plurissecular se elevarão em todo o mundo católico atraiam o maior bem espiritual aos fiéis, Nós estabelecemos que sejam enriquecidas com uma Indulgência Plenária na forma de Jubileu, exortando vivamente a todos os filhos da Igreja a unirem suas obras de piedade a nossas súplicas, de modo que deste grande benefício do Jubileu, que lhes é oferecido, possa fluir a maior vantagem possível para suas almas e para a religião.

Constantino doa Roma aos Papas
Constantino doa Roma aos Papas
Por isto, confiando na misericórdia de Deus Onipotente e na autoridade dos Beatos Apóstolos Pedro e Paulo, pelo poder de ligar e desligar que a Nós, embora sem méritos, foi concedido pela vontade divina, e ouvidos também os Veneráveis Irmãos de Nossa Igreja Romana, os Cardeais Inquisidores Gerais, com a presente Carta, concedemos e outorgamos a Indulgência Plenária de todos os pecados, na forma de Jubileu geral, a todos os fiéis de Cristo individualmente e dos dois sexos, seja que habitem em nossa amada Cidade, seja que venham até ela, durante o ano em curso, desde a Dominica in Albis (a partir da qual iniciar-se-ão as solenidades em memória da paz da Igreja) até a festa da Imaculada Conceição de Maria Virgem, Mãe de Deus incluída, visitem duas vezes cada uma das Basílicas de São João de Latrão, de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e de São Paulo fora dos Muros, e que se detenham durante algum tempo a rezar a Deus, em união com as nossas intenções, pela Igreja Católica, pela prosperidade e pela glória desta Sé Apostólica, pela extirpação das heresias e pela conversão de todos os pecadores, pela concórdia entre os príncipes cristãos e pela paz e unidade de todo o povo dos fiéis, e que durante este período de tempo, após o rito da penitência, se aproximem da Santa Comunhão, e além do mais deem uma esmola, cada um segundo suas possibilidades, ou aos indigentes, ou, se preferem, às obras pias.

Àqueles que não poderão vir a Roma, concedemos e outorgamos a mesma Indulgência Plenária, com a condição de que no mesmo período de tempo eles visitem seis vezes a Igreja ou as igrejas de seu país que serão designadas definitivamente pelo Bispo ordinário, e que cumpram escrupulosamente as demais obras de piedade acima indicadas.

Concedemos além do mais o privilégio de poder aplicar esta Indulgência Plenária em sufrágio das almas daqueles que deixaram esta vida na graça de Deus.

Concedemos também que os navegantes e viajantes possam conseguir legitimamente a mesma Indulgência uma vez retornados a seus respectivos domicílios e tendo chegado a um lugar de parada, e tenham realizado as obras acima citadas e visitado seis vezes a igreja catedral, ou a igreja mor, ou a igreja paroquial do próprio domicílio, ou do local no qual se tenham instalado.

Igualmente concedemos e consentimos que os religiosos regulares de ambos os sexos, inclusive os que vivem em clausura perpétua, e a todos os outros, sejam leigos, sejam eclesiásticos seculares ou regulares que estejam no cárcere ou em prisão, ou impedidos por alguma doença do corpo ou outra força maior e que não possam cumprir as ditas prescrições ou algumas delas, possam tê-las comutadas pelo confessor em outras obras de piedade, ou remetidas a outro momento próximo. O confessor prescreverá as obras que esses penitentes poderão cumprir, com a faculdade de dispensar da comunhão as crianças que a Ela ainda não foram admitidas.

O Imperador Constantino conduz o Papa São Silvestre I a Roma
O Imperador Constantino conduz o Papa São Silvestre I a Roma
Além disso, damos a faculdade a todos e a cada um dos fiéis de Cristo, leigos ou eclesiásticos, seculares ou regulares, de qualquer Ordem e Instituto, de escolher para esta finalidade um sacerdote confessor, secular ou regular, entre os aprovados, e que tal faculdade seja estendida também aos monges, noviços, monjas de clausura, desde que o confessor seja aprovado pelos monges.

Tal Confessor, no referido período de tempo, poderá absolver aqueles que recorrem à confissão com o propósito de obter o presente Jubileu e de cumprir todas as outras obras necessárias para lucrar dele; só por esta vez, e no foro da consciência, ele poderá absolvê-los de excomunhões, suspensões e de outras sentenças eclesiásticas e censuras por qualquer causa dispostas ou infringidas legitimamente pelo homem, inclusive aquelas reservadas aos Bispos locais e a Nós, ou à Sé Apostólica, ainda nos casos speciali licet modo riservati; poderá absolver também aqueles que não se julgam concernidos em outra concessão, por ampla que seja, e poderá absolvê-los de todos os pecados e de todos os excessos embora graves e enormes como foi dito acima, reservados aos Bispos ordinários, a Nós, e à Sé Apostólica, prévia à imposição de uma penitência salutar, ou de outras penas que se possam impor segundo a lei, e, no caso de heresia, prévia à abjuração e retratação dos erros. (...)

Por fim, para que esta Nossa Carta, que não pode se restringir a uma única localidade, possa chegar mais facilmente ao conhecimento de todos, queremos que exemplares dela, inclusive impressos, mas reconhecidos por tabelião e com o selo da pessoa investida de dignidade eclesiástica, sejam reconhecidos em qualquer lugar e por qualquer população com a mesma autoridade que teria se esta Carta fosse exibida ou tornada pública.

Dado em Roma, junto ao túmulo de São Pedro, sob o anel do Pescador, em 8 de março de 1913, ano décimo de Nosso Pontificado.

(Fonte: “Tutte le encicliche e i principali documenti pontifici emanati dal 1740 – 250 anni di storia visti dalla Santa Sede” a cura di Ugo Bellocchi – vol. VII, Pio X (1903-1914) – © Copyright 1999 Libreria Editrice Vaticana, pp. 503-506 – 00120 Città del Vaticano. Apud Luci sull’Est).




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Felicitacões de São Bernardo a Hugo, filho do conde de Champagne, que se fez cavaleiro templário

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São Bernardo de Claraval. Juan Correa de Vivar (1510-1566)
Em 1125, São Bernardo escreveu a Hugo, filho de Thibaut III e conde de Champagne, para felicitá-lo por ter ingressado na Ordem de Cavalaria do Templo e assegurar-lhe sua eterna gratidão.

“Se for por Deus que de conde vos tornastes um simples soldado; e em pobre de rico que fostes, eu vos felicito do mais fundo de meu coração, e dou glória a Deus, porque eu estou convencido de que essa mudança foi obra da destra do Altíssimo.

“Entretanto, sinto-me obrigado a vos confessar que não posso facilmente renunciar, por uma ordem secreta de Deus, a vossa amável presença, e de nunca mais voltar a vos ver, a vós junto a quem eu teria desejado ter passado minha vida inteira, se isso tivesse sido possível.


“Poderia eu, com efeito, esquecer vossa antiga amizade, e os benefícios com que tendes cumulado nossa Casa?

“Eu rogo a Deus, cujo amor vos inspirou tanta munificência por nós, de vos ter em conta de um verdadeiro fiel.

“Da minha parte, conservarei uma gratidão eterna, da qual quereria poder vos dar as provas.

“Ah! Se me tivesse sido dado viver convosco, com quanta sofreguidão eu teria querido atender às necessidades de vosso corpo e de vossa alma.

“Mas posto que isso me é impossível, só me fica vos garantir que, apesar da distância, vós não cessareis de estar presente em meu espírito durante minhas orações.”

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)




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São Bernardo aos barões da Bretanha: “Quem não tem espada, compre-a!”

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São Bernardo consola Jesus Crucificado. Bamberg, Alemanha
São Bernardo consola Jesus Crucificado. Bamberg, Alemanha
Em 1146, o Doutor Melífluo – assim denominado pela unção que emanam de seus escritos, especialmente os dedicados a Nossa Senhora – escreveu uma carta aos barões da Bretanha.

Naquele tempo o ducado de Bretanha constituía um Estado independente.

“1. A terra inteira treme e está abalada porque o Rei do Céu perdeu sua pátria aqui embaixo, os locais que seus pés pisaram.

Os inimigos de sua Cruz conjuraram-se contra Ele e exibindo-se cheios de audácia e orgulho, bradaram todos juntos: “Apoderar-nos-emos de seu santuário”.

Eles querem se apoderar dos Santos Lugares onde se efetivou nossa salvação, e ameaçam emporcalhar com sua presença os locais regados com o sangue de nosso Salvador.

Mas o que eles querem no mais fundo de seu coração é destruir o tesouro insigne da religião cristã, esse Sepulcro onde o corpo do Salvador foi depositado e sua Face divina recoberta com um Sudário.


Eles apontam com mão ameaçadora a montanha de Sião, e se o próprio Senhor não fosse seu guardião, eles não demorariam em cair sobre a cidade santa de Jerusalém, a cidade onde o nome de Deus vivo foi outrora invocado.

Os cristãos são jogados nos cárceres ou cruelmente massacrados como ovelhas sem defesa.

O olho da Providência parece fechado sobre estas desgraças, mas só para melhor ver se encontrará alguém que compreenda a vontade de Deus e queira efetivá-la, que sofre a afronta com a qual Ele é ameaçado e esforce-se em devolver-lhe sua herança.

Embora Ele possa tudo quanto quer, só deseja que os cristãos tenham o mérito da vitória, reservando para Si o poder de esmagar seus inimigos.

Cruzados, altar em Gante, Bélgica
Cruzados, altar em Gante, Bélgica
2. Eis por que, atendendo ao premente apelo do rei nosso senhor, e obedecendo às ordens da Santa Sé, nós marchamos em multidão, no dia de Páscoa, até Vézelay, onde o rei nosso senhor e sua corte tinham se reunido.

Após ter exposto aos olhos de todos o triste estado das coisas, foi lida uma carta do Papa, da qual eu vos envio uma cópia.

O Espírito Santo tocou os corações e o rei pegou a cruz junto com uma multidão de homens e grande número de senhores, e de todas as partes se viu acudir pessoas ansiosas de colocar sobre seu peito o sinal da salvação.

Como vosso país está cheio de valentes guerreiros e de uma juventude plena de bravura, incumbe-vos alistar entre os primeiros, junto com aqueles que já deram seu nome para a expedição santa, e de espada em mão partir para defender a causa do Deus vivo.

Coragem, pois, generosos guerreiros! Revesti-vos de vossas armas e aquele que não tiver espada que se apresse a comprar uma!

Não deixeis sozinho o rei da França, vosso rei; isso seria abandonar o próprio Rei dos Céus, pelo qual nosso rei empreende uma guerra tão longe e tão penosa.

Vós não demorareis em receber a visita de um verdadeiro homem de Deus, o senhor bispo de Chartres.

Ele vos informará com mais detalhes de tudo quanto aconteceu aqui, e ao mesmo tempo vos mostrará as indulgências consideráveis que o Papa concede por meio de sua carta àqueles que tomarem a Cruz.

Em nome d’Aquele que quis morrer por vossa salvação, voai em defesa dos lugares onde Ele foi morto e consumou a nossa Redenção, se não desejais que os pagãos digam logo: “Onde, pois, está vosso Deus?”

Que Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho de Maria, o esposo da Igreja, vos conceda a vitória na Terra e a coroa da glória nos Céus.”

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)



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São Bernardo exorta Manuel Comneno, Imperador de Constantinopla a apoiar a Cruzada

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São Bernardo de Claraval
São Bernardo de Claraval
Ao grande e glorioso Manuel, Imperador de Constantinopla, o irmão Bernardo, abade de Claraval, saudação e orações.

1. Se eu me permito escrever a uma Majestade como a vossa, não me acuseis nem de temeridade nem de audácia. Agindo assim eu só cedo diante de uma inspiração da Caridade que não duvida de nada.

Pois, da minha parte, quem sou eu e que posição ocupa minha família em meu país para que eu ouse escrever a um tão grande imperador?


Eu sou pobre e obscuro, distâncias imensas e vastos mares me separam de vossa sublime pessoa. O que há, pois, que possa aproximar minha inferioridade de vossa grandeza, se eu não contasse para isso com a própria humildade de Jesus Cristo, de quem os reis e os povos da terra, os príncipes e os juízes se glorificam?

O renome trouxe até nós o eco de vossa magnificência e a glória de vosso nome que hoje enchem a terra inteira.

Eis por que eu me prosterno aos pés do Pai dos espíritos, d’Aquele de quem provém toda paternidade no Céu e na terra, implorando-lhe não vos fazer deixar o império da terra senão para vos dar o Reino dos Céus, cuja duração é eterna (Psalm. CXLIV).

2. Eu não tenho, portanto, nenhum título para apresentar aos pés do trono de vossa glória a pessoa encarregada de vos entregar esta carta; trata-se de um jovem da maior nobreza a quem eu vos imploro armar cavaleiro e conceder uma espada contra os inimigos da Cruz de Jesus Cristo e de todos aqueles que contra Ele se levantam com a cabeça orgulhosa e ameaçadora.

Este jovem podia aspirar às maiores honrarias, mas seguindo meu conselho, preferiu o brilho de vosso império e a gloriosa lembrança que ele conservará até o túmulo da mão que o terá feito cavaleiro.

Eu não teria ousado vos rogar e interessar-vos por este jovem se não estivesse concernido Jesus, por quem ele empreende uma expedição tão longa e trabalhosa.

Dignai-vos persuadir de que tudo quanto vós fizerdes por ele, eu o terei em conta como se a mim o tivésseis feito.

Manuel I Comneno, imperador de Constantinopla
Manuel I Comneno, imperador de Constantinopla
3. Agora vos cabe, gloriosíssimo imperador, mostrar toda vossa bondade e multiplicar vossos atos; a terra inteira está abalada e agitada porque o Rei do Céu perdeu a pátria que tinha aqui embaixo, o país que seus pés pisaram.

Os inimigos do Senhor se apressam para cair sobre a Cidade Santa e destruir o Sepulcro glorioso, quer dizer, onde a flor virginal saída de Maria foi depositada, envolta em panos e bálsamos, e de onde logo ela saiu maior e mais plena de vida para brilhar sobre nossa pobre Terra.

Eis por que, por ordem do soberano Pontífice e de nossas próprias autoridades partiu o rei da França, e com ele uma multidão de senhores, cavaleiros e pessoas que se puseram em marcha rumo à Terra Santa, planejando atravessar terras de vosso império para ir em socorro da cidade do Deus vivo.

Cabe-vos recebê-los com honra e, desde já, tomar todas as medidas que de Vós se podem esperar em virtude da posição que ocupais, do poder que tendes em vossas mãos, da dignidade imperial de que justamente vos ufanais e dos tesouros que possuís.

Não podeis, aliás, agir de outro modo, pois o exige a dignidade do império, a honra de vossa pessoa e a salvação eterna de vossa alma.

Eu vos recomendo, entre todos e acima de todos, o jovem filho do ilustre conde Thibaut. Tratai-o bem, não somente como merece um príncipe de seu sangue, mas tende por ele uma atenção especial.

Ele é muito jovem, mas de ilustre família, de excelente índole e quer fazer suas primeiras armas pela causa da justiça, e não da injustiça.

Ele é também o filho de um pai cuja equidade e suavidade o colocam na primeira posição na estima e no afeto dos homens.

Em recompensa pelo que fizerdes por este jovem príncipe, eu vos ofereço uma parte dos méritos e de todas as boas obras que se praticam e se praticarão em nossa Casa, a fim de que Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho de Maria, o esposo da Igreja, vos conceda a vitória na Terra e a coroa de glória nos Céus!

(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)



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