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O incêndio de Notre Dame de Paris e o futuro da Cristandade: ocaso ou restauração?

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Notre Dame de Paris antes do incêndio de 15 de abril 2019
Notre Dame de Paris antes do incêndio de 15 de abril 2019
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






No best-seller Ugly as Sin — Feias como o pecado — Michael S. Rose, jovem arquiteto americano, doutor em Belas Artes pela Brown University (EUA) apresentou a catedral Notre Dame de Paris como a jóia-da-coroa da Cidade Luz, o verdadeiro epicentro, a alma da capital francesa.

Solene e maternal, ela irradia sua influência a partir da Île de la Cité, como uma grande dama a partir do palácio, no centro do seu feudo.

Ela é a representação do Cristianismo na sua totalidade: desde o império universal de Nosso Senhor Jesus Cristo até os sofrimentos dos precitos no inferno.

Nela, o peregrino percebe a luta entre o bem e o mal, entre o sagrado e o profano, entre o eterno e o passageiro.

Notre Dame, insiste Michel Rose, é arte no sentido mais nobre do termo, é arquitetura da mais alta classe, um “lugar sagrado” que espelha as realidades eternas.

Ela é, antes de tudo, a casa onde Deus habita na Terra. Assim a Idade Média via Deus.

Compreende-se à luz destas considerações, e de muitas mais que podem se fazer e foram feitas, o impacto mundial que provocou o incêndio do telhado de Notre Dame e da queda simbólica de sua agulha em chamas.

Incêndios dessa magnitude e simbolismo aconteceram na história medieval.

Lembremos daquele que devorou a catedral de Chartres (a sétima) anterior à atual, em 1194. A causa foi um raio que atingiu o telhado. A catedral ardeu durante três dias.

Não havia ainda tecnologia para apagá-lo. Mas havia Fé!

Detalhe de: Incêndio da catedral de Chartres. No século XII. François Alexandre Pernot (1793-1865). Musée des Beaux-Arts de Chartres
Detalhe de: Incêndio da catedral de Chartres. No século XII.
François Alexandre Pernot (1793-1865).
Musée des Beaux-Arts de Chartres
A grande preocupação do povo foi com a sorte de uma relíquia: o véu de Nossa Senhora que se venera ainda hoje na nova catedral maior e mais imponente erigida sobre os restos da antiga incendiada.

Acreditou-se que a relíquia fora tragada pelas chamas.

Mas eis que três dias depois, os populares tomados de entusiasmo indescritível viram sair das cinzas fumegantes uma procissão de cônegos da catedral carregando em andor a preciosíssima relíquia.

Percebendo a gravidade do desastre, os bons e velhos sacerdotes acorreram para salvá-la. E ficaram presos entre as labaredas!

Então desceram pelas ruínas das seis antigas igrejas sobre que repousava a velha catedral em fogo e ficaram aguardando na incerteza e na escuridão algum momento para sair.

Vendo o heroísmo, o entusiasmo foi tão grande que a construção da nova -- e oitava! -- catedral começou logo.

Ela foi completada num tempo recorde com o trabalho manual voluntário de todas as classes sociais, dois reis incluídos.

Confira: O entusiasmo religioso na construção da catedral de Chartres

Também a abadia do Monte Saint-Michel foi consumida em circunstâncias análogas.

E voltou a ser reconstruída, até mais de uma vez.

A catedral de Chartres hoje
A catedral de Chartres hoje

Poderíamos ainda citar inúmeros outros exemplos em que a Providência fez da catástrofe um fator de reafervoramento colossal.

Não houve só fatores materiais no calvário dos grandes monumentos medievais.

Houve também o fogo ateado pelo ódio revolucionário. Fogo, aliás, infernal.

Ainda mais uma vez, uma das vítimas foi a catedral consagrada a Nossa Senhora em Paris.

A Comuna de Paris, primeiro governo comunista que conseguiu se estabelecer - ainda que efemeramente - num país ou grande cidade mandou queimar igrejas, palácios da monarquia e da nobreza, e quantos prédios significassem a glória da Civilização Cristã.

Os communards, nome dos revoltosos comunistas que tinham entre seus chefes a Karl Marx, invadiram a catedral, a depredaram, empilharam móveis, altares, obras de arte e quanto puderam encontrar, instalaram pipas cheias de combustíveis embaixo e atearam o fogo que deveria consumir tudo.

E fugiram para não sucumbir sob o desabamento que viria fatalmente.

Mas, os populares parisienses acorreram, formaram correntes humanas que puxavam água do Sena com baldes e recipientes caseiros e evitaram a perda da catedral.

Santinho evoca a fabulosa ofensa ao Sagrado Coração de Jesus
feita pelos 'communards', comunistas de 1871,
E o pranto de Nossa Senhora, que em La Salette
falou que Paris desapareceria incendiada. Cfr.:
A destruição de grandes cidades pecadoras como Paris
Porém, a influência das tóxicas ideologias democráticas igualitárias da Revolução Francesa havia apagado o entusiasmo religioso típico da era medieval.

Notre Dame ficou em pé mas em estado deplorável.

Porém, no fundo das almas, o remorso pelo abandono do imenso símbolo medieval, levou governos sucessivos a encomendar uma restauração que não acabava nunca e se fazia com uma precariedade e imprevidência, se não é má vontade, que acabou tendo parte no desastre recente.

Entretanto, de cá e lá brotou como um brado de consciências tal vez não puras, mas que ante o calvário da catedral-mãe manifestaram seu inconformidade.

Em questão de horas, as promessas para pagar a restauração superavam o bilhão de euros, se não é mais.

No fundo de cada homem, até dos que estão no topo da modernidade e do anti-medievalismo, dorme um medieval.

E essa verdade que tantas vezes constatamos nos comentários a este blog, tomou contornos muito definidos no momento atual.

É essa realidade tal vez o maior motor daquilo que explica o nome do nosso blog: A GLORIA DA IDADE MÉDIA.


Vídeo: Como foi construída a catedral de Notre Dame







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A Cristandade: filha legítima e abençoada da família

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Brunwart von Augheim e esposa, Codex Manesse
Brunwart von Augheim e esposa, Codex Manesse
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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“Por toda parte a civilização começou pela família.

“Aqui e ali nascem homens nos quais se desenvolvem e atuam mais poderosamente o amor paterno e o desejo de se perpetuar nos seus descendentes.

“Eles se dedicam ao trabalho com mais ardor, impõem aos seus apetites um freio mais contínuo e mais sólido, governam sua família com mais autoridade, inspiram-lhe costumes mais severos, que eles imprimem nos hábitos que a fazem contrair.

“Esses hábitos se transmitem pela educação, e se tornam tradições que mantêm as novas gerações na via aberta pelos ancestrais.

“A marcha nessa via conduz a família a uma situação cada vez mais alta.

Frederico de Sonneburg e filhos. Codex Manesse, fol. 407r
“Ao mesmo tempo, a união que conservam entre si todos os ramos do tronco primitivo lhes dá uma pujança que cresce dia a dia, com o número que se multiplica e as riquezas que se acumulam pelo trabalho de todos.

“Nessa situação eminente, esta família torna-se o centro de atenção daquelas que a circundam.

“Estas lhe pedem abrigo e proteção, e em contrapartida prometem assistência.

"Entre eles há os que se sentem estimulados pela prosperidade que presenciam, e a ambicionam para si mesmos, deixando-se governar e instruir, esforçando-se por praticar as virtudes cujos exemplos e resultados eles têm diante dos olhos....

“No caso da França, em meio às ruínas acumuladas pelas invasões dos bárbaros [principalmente dos normandos e magiares a partir do século X], não havia mais ordem, porque não havia mais autoridade.

“Sob a ação dos santos, várias famílias se ergueram, animadas pelos sentimentos que o cristianismo começava a difundir no mundo: sentimentos de devotamento pelos pequenos e os fracos, sentimentos de concórdia e amor entre todos, sentimentos de reconhecimento e de fidelidade para com os protegidos.

O imperador Carlos IV recebe a rainha e esposa de Carlos V
O imperador Carlos IV recebe a rainha e esposa de Carlos V
“A hagiografia dessa época nos faz assistir por todo lado a esse espetáculo de famílias que se erguem desse modo acima das outras, pela força das suas virtudes.

“Acima de todas se ergueu, no século X, a família de Hugo Capeto, que edificou a França pela paciência do seu espírito, pela perseverança do seu devotamento, pela continuidade dos seus serviços.

“É necessário acrescentar: `E pela vontade e a graça de Deus'.

“Quando o Conde de Maistre ressaltou a frase da Sagrada Escritura `Sou Eu que faço os reis', ele não deixou de acrescentar:

`Isto não é uma metáfora, mas uma lei do mundo político.

`Ao pé da letra, Deus faz os reis.

`Ele prepara as raças reais, e as amadurece em meio a uma nuvem que esconde as suas origens. Assim elas aparecem coroadas de glória e honra'”.




(Autor: Mons. Henri Delassus, L'Esprit Familial dans la Maison, dans la Cité et dans l'État, Société Saint-Augustin, Desclée, De Brouwer, Lille, 1910, pp. 11-21).




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O imposto do sangue era o mais duro, e só era pago pela nobreza

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Luis Dufaur
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Das obrigações militares da nobreza decorre a maior parte dos seus costumes.

O direito de primogenitura vem, em parte, da necessidade de confiar ao mais forte a herança que ele deve garantir, muitas vezes pela espada.

A lei sálica se explica também por isso, pois só um homem pode assegurar a defesa de um castelo (donjon).

Assim pois, quando uma mulher se torna a única herdeira de um feudo, o suserano tem o dever de casá-la.

Eis por que a mulher apenas sucederá após seus filhos mais jovens, e estes após o primogênito.

Estes só receberão apanágios, e ainda assim muitos desastres ocorridos pelo fim da Idade Média tiveram por origem os demasiados apanágios deixados a seus filhos por João, o Bom.

O poder foi para eles uma tentação perpétua, e para todos uma fonte de desordem durante a minoridade de Carlos VI.

Os nobres têm igualmente o dever de fazer justiça a seus vassalos de todas as condições e de administrar o feudo.



Trata-se precisamente do exercício de um dever, e não de um direito, implicando em responsabilidades bastante pesadas, pois cada senhor deve dar contas de seu domínio, não somente à sua linhagem, mas também a seu suserano.

Etienne de Fougères descreve a vida do senhor de um grande domínio como cheia de preocupações e de cansaços:

Cá e lá vai, muitas vezes volta,
Não repousa nem descansa.
Perto dos castelos ou longe deles,
Às vezes alegre, quase sempre triste.
Cá e lá vai, não dorme,
Para que seu caminho não se interrompa.

Longe de ser ilimitado, como geralmente se acreditou, seu poder é bem menor do que o de um industrial ou qualquer proprietário de nossos dias, porque ele jamais tinha a propriedade absoluta de seu domínio.

Dependia sempre de um suserano, e os suseranos, mesmo os mais poderosos, dependiam do rei.

Em nossos dias, segundo a concepção romana, o pagamento de uma terra dá pleno direito sobre ela.

Na Idade Média não era assim. No caso de má administração, o senhor incorria em penas que podiam chegar ao confisco de seus bens.

Assim, ninguém governa com autoridade completa e não escapa ao controle direto daquele de quem ele depende.

Essa repartição da propriedade e da autoridade é um dos traços mais característicos da sociedade medieval.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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Feudalismo: reciprocidade de fidelidade e serviço

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Homenagem de Eduardo I a Felipe o Belo da França
Luis Dufaur
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As obrigações que ligam o vassalo a seu senhor levam à reciprocidade: “O senhor deve tanta fidelidade e lealdade a seu homem como o homem a seu senhor” — diz Beaumanoir.

Esta noção de dever recíproco, de serviço mútuo, se encontra muitas vezes em textos, tanto literários como jurídicos.

“O senhor deve mais reconhecimento a seu vassalo do que este a seu senhor” — observa Etienne de Fougères no seu “Livre des Manières”.

Philippe de Novare comenta em apoio dessa constatação: 

“Aqueles que recebem serviços e jamais o recompensam bebendo de seus servos o suor, que lhes é veneno mortal ao corpo e à alma”.

De onde vem a máxima: “Ao bem servir convém recompensar”.

Exige-se da nobreza mais compostura e retidão moral que dos outros membros da sociedade.

Por uma mesma falta, a pena aplicada a um nobre será muito superior à de um plebeu.



Carlos de Orleans recebe homenagem de um vasalo
Beaumanoir cita um delito pelo qual a pena de um camponês é de 60 soldos, e a de um nobre de 60 libras, numa desproporção de 1 para 20.

Segundo os Établissements de Saint Louis, a falta pela qual um homem costumeiro — isto é, um plebeu — pagava 50 soldos de multa acarretava para um nobre o confisco de todos os seus bens móveis.

Isto se encontra também nos estatutos de diversas cidades.

Os de Pamier fixam assim a tarifa de multas em caso de roubos: vinte libras para o barão, dez para o cavaleiro, cem soldos para o burguês, vinte soldos para o vilão.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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Relações sociais marcadas pela paternalidade e pela bondade

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Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso ao Rei
Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso ao Rei
Luis Dufaur
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Na Idade Média, as relações das pessoas entre si e entre as diversas classes sociais eram muito orgânicas e naturais.

Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso aos nobres e até mesmo ao Rei.

Este costumava receber os plebeus em audiência, para ouvir os pedidos que lhe faziam.

Assim, São Fernando III, Rei de Castela, quando estava de viagem e se hospedava em determinada cidade, sentava-se perto de uma janela que dava para a rua, podendo ser visto pelo povo e ao alcance de qualquer plebeu que desejasse falar com ele.

E São Luís IX, Rei de França, tinha por hábito sentar-se sob um enorme carvalho, em Vincennes, e ali atender o povo, ouvindo seus pedidos, suas queixas, julgando casos e pendências entre plebeus.

Até bem depois da Idade Média, na época de Luís XIV e seus sucessores, o povo, na França tinha livre acesso aos jardins do Palácio de Versailles, onde podia entrar em contato pessoal com os nobres e mesmo com os soberanos.

Quando terminava a cerimônia de coroação de um Rei de França, do lado de fora da Catedral de Reims, em cujo recinto realiza-se o ato, ficavam muitos escrofulosos, portadores de uma doença de pele repugnante.

Pois dizia-se que o Rei de França tinha o carisma de curar as escrófulas pelo toque.

Ao sair da Catedral, dirigia-se ele a cada escrofuloso e tocava a chaga dizendo: "O Rei te toca. Deus te cure". E muitos realmente ficavam curados.

Tal era a monarquia cristã, na sua paternalidade, na sua bondade. E este tratamento que o Rei mantinha com os plebeus repetia-se entre os diversos níveis da escala social.


Fonte: CATOLICISMO



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Os mosteiros levaram a agricultura a patamar nunca visto

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Luis Dufaur
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Para Henry Goddell, presidente do Massachusetts Agricultural College, os monges salvaram a agricultura durante 1.500 anos.

Eles procuravam locais longínquos e inacessíveis para viver na solidão. 

Lá, secavam brejos e limpavam florestas, de maneira que a área ficava apta a ser habitada.
Novas cidades nasciam em volta dos conventos.

O terreno em torno da abadia de Thorney, na Inglaterra, era um labirinto de córregos escuros, charcos largos, pântanos que transbordavam periodicamente, árvores caídas, áreas vegetais podres, infestados de animais perigosos e nuvens de insetos.

Abadia de Thorney
A natureza abandonada a si própria, sem a mão ordenadora e protetora do homem, encontrava-se no caos.

Cinco séculos depois, William de Malmesbury (1096-1143) descreveu assim o mesmo local:

“É uma figura do Paraíso, onde o requinte e a pureza do Céu parecem já se refletir. [...]

“Nenhuma polegada de terra, até onde o olho alcança, permanece inculta.

“A terra é ocultada pelas árvores frutíferas; as vinhas se
estendem sobre a terra ou se apóiam em treliças.

“A natureza e a arte rivalizam uma com a outra, uma fornecendo tudo o que a outra não produz.

“Oh profunda e prazenteira solidão! Foste dada por Deus aos monges para que sua vida mortal possa levá-los diariamente mais perto do Céu!”

Mais tarde o protestantismo reduziu Thorney a ruínas, mas estas ainda emocionam os turistas.

Aonde chegavam, os monges introduziam grãos, indústrias, métodos de produção que o povo nunca tinha visto.

Selecionavam raças de animais e sementes, criavam bebidas alcoólicas e não, xaropes, remédios, colhiam mel e frutos, requintavam os produtos da natureza local.

Na Suécia, criaram o comércio de milho; em Parma, o fabrico de queijo; na Irlanda, criações de salmão; por toda parte plantavam os melhores vinhedos.

Até inventaram a cerveja como a conhecemos hoje e a champagne!

Abadia de Beauport
Represavam a água para os dias de seca. Os mosteiros de Saint-Laurent e Saint-Martin canalizavam água destinada a Paris.

Na Lombardia, ensinaram aos camponeses a irrigação que os fez tão ricos.

Cada mosteiro foi uma escola para explorar os recursos da região.

Seria muito difícil encontrar um grupo, em qualquer parte do mundo, cujas contribuições tivessem sido tão variadas, tão significativas e tão indispensáveis como a dos monges do Ocidente na época de miséria e desespero que se seguiu à queda do Império Romano, defende o historiador Thomas Woods. (veja as aulas deste professor americano legendadas em português. CLIQUE AQUI)

Quem mais na História pode ostentar semelhante feito? –– pergunta Woods.

Realmente, por mais que se procure, não se encontra.



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Povos bárbaros: um dos componentes que a Igreja civilizou na Idade Média

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Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Luis Dufaur
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Os povos bárbaros invadiram o Império Romano não como numa simples incursão militar, mas com o intuito de fixarem ali a sua residência.

Eles tinham procedências muito diversas seja geográficas, étnicas, religiosas ou culturais.

O termo “bárbaro” foi cunhado pelos gregos para significar “que não é grego”.

Foi adotado pelos romanos em sentido análogo, indicando os povos que não tinham um Direito ou uma escrita como Roma.

Assumindo pela força a direção da sociedade, provocaram um tal embrutecimento que a Idade Média se iniciou com o mais pavoroso colapso de civilização que a História registrou.

Bárbaro ou selvagem

Para que a extensão desse colapso possa ser medida, é necessário ter-se em conta aquilo que diferencia o selvagem do homem civilizado.

A total ignorância de tudo ou quase tudo o que constituiu a civilização cria no selvagem uma inadaptabilidade quase completa para a vida civilizada.

Por isso muitos selvagens, como ainda em nossos dias se observa nas missões que levam a cabo a catequese dos nossos índios, não podem resistir à brusca transplantação de toda a sua existência para um ambiente plenamente civilizado.

Muitos sofrem com essa transplantação um dano irreparável em sua saúde. Os poucos dentre eles que sobrevivem ao choque, depois de viverem longos anos em uma vida civilizada fogem bruscamente.

E o mesmo fato se dá, se bem que mais raramente, com os filhos de selvagens já catequizados, quando transplantados para um ambiente de grandes cidades.

Elmo anglo-saxão
Essa inadaptabilidade resulta, em última análise, da oposição profunda existente entre os hábitos de um povo civilizado e os de um povo selvagem.

Hábitos dos povos bárbaros

Os bárbaros, singularmente parecidos sob alguns pontos de vista com os nossos índios, tinham hábitos que facilmente explicam o que acima ficou dito.

Em tempo de guerra, pintavam o corpo de modo a amedrontar o adversário. Com o mesmo objetivo, os homens de certas tribos atavam à cabeça crânios de animais selvagens.

Uivando e silvando como animais, costumavam atacar os inimigos em hordas compactas, cujos componentes semi-embriagados executavam saltos ferozes. A certa distância, as mulheres cantavam melodias guerreiras, em que incitavam os combatentes a sacrificar suas vidas em defesa de sua nação.

Um dos hábitos dessas tribos era o chamado juízo de deus. Partindo do princípio verdadeiro de que Deus prefere o inocente ao culpado, concluíam eles erroneamente que em uma luta o vencedor tinha sempre a razão, porque sem a proteção divina ele não poderia ter vencido.

O processo para provar a inocência dos indivíduos, quanto a crimes de que eram acusados, também se inspirava na mesma ordem de idéias.

Daí o fato de serem submetidos os acusados a certas provas, como por exemplo de caminhar, com os pés descalços, sobre metal incandescente, ou a de carregar durante certo tempo barras de metal incandescente. O direito penal consagrava também a obrigação de certas mutilações por certos crimes.

Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Freqüentemente, a pena consistia no pagamento de certa quantia, existindo a esse respeito curiosas tabelas em certos povos bárbaros do norte da Europa, que especificavam o preço de um olho, de uma orelha ou de um braço, ou computavam o preço da vida de um rei, de um príncipe ou de um nobre, servindo como padrão o valor das vacas.

Certas tribos eram tão selvagens que, quando invadiram o Império Romano, não pousavam nas cidades, por se sentirem asfixiadas. Tinham grande cavalheirismo, grande respeito à mulher e irrepreensível hospitalidade.

De todos esses costumes bárbaros — como o duelo judiciário, torturas e penas corporais — se ressentiu durante muitos séculos a civilização.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira. Excerto do curso de “História da Civilização”, 1936, Colégio Universitário, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo)





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Farmácias: invenção dos monges medievais para progresso da saúde

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No coração de Florença prossegue aberta uma das farmácias mais antigas do mundo: a Officina Profumo – Farmaceutica di Santa Maria Novella, segundo noticiou o site “Panorama farmacêutico”.

A farmácia foi fundada pelos frades dominicanos por volta de 1.221, ano de sua chegada na região italiana. A Ordem dos Pregadores é o nome oficial dos dominicanos.

Ela foi fundada pelo nobre espanhol Santo Domingo de Gusmão e se distinguiu na luta contra as heresias e sua participação na Inquisição contra a Perfídia dos Hereges.

As farmácias monacais medievais eram gratuitas e abertas para qualquer um que se apresentasse com algum mal-estar. Hoje a Officina Profumoé privada e paga.

As primeiras preparações farmacêuticas usavam ervas medicinais cultivadas nos jardins do mosteiro.

Com essas e a sabedoria monacal eram feitos remédios, pomadas, licores, perfumes, pastilhas e bálsamos, entre outros.

De início, visavam atender os frades doentes, mas logo as multidões de todas as classes sociais acorriam a elas, confiando mais nos monges que nos médicos da época. E eram gratuitas.

A tendência para a medicina natural foi menosprezada como artifício de uma época de ignorância e atraso. Hoje a tendência mudou.

Após séculos de industrialismo exacerbado na farmacêutica, hoje se reconhece que a medicina natural típica da Idade Média também traz valiosos ensinamentos e fórmulas eficazes para tratar determinadas patologias.

A Officina Profumoé considerada uma das melhores e mais tradicionais marcas de Florença, ainda fiel aos seus métodos artesanais e tradicionais, oferecendo produtos de alta qualidade.

Depois de 407 anos atendendo no mesmo prédio no número 16 da Via della Scala, a marca decidiu abrir uma segunda loja, uma miniboutique dentro do Hotel Savoy, da Rocco Forte Hotels.

Os hóspedes que reservam uma suíte no Hotel Savoy terão direito a uma visita à casa histórica da Officina, que passou por um restauro completo em 2012, preservando as características históricas das obras de arte e detalhes arquitetônicos.

O local foi o favorito da rainha da França Catarina de Médici, nascida ela própria em Florença.

A rainha Catarina ajudou a fazer a fama da farmácia por usar a Acqua di Colonia Santa Maria Novella, que até hoje é o produto mais vendido.

Pois a sábia medicina medieval não procurava só o útil (o bonum na linguagem teológica) mas o belo e deleitável (o pulchrum também na linguagem da teologia aristotélico-tomista).




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Das abadias medievais: criação e impulso aos licores espirituosos

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Abadia de Hautvilliers, onde nasceu o champagne
Luis Dufaur
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Pouco se fala do impulso decisivo dado pelos monges medievais para a criação e/ou requinte de aguardentes, licores, vinhos, cerveja, sidra e outras bebidas alcoólicas hoje muito apreciadas.

A tradição continuou introduzindo nos mosteiros após a Idade Média sucessivos aperfeiçoamentos e novos requintes, como o champanhe.

Os inventos dos monges passaram rapidamente aos leigos, que seguindo o impulso primeiro das abadias adquiriram voo próprio na elaboração de refinadas bebidas.

Dom Perignon, abade a quem se atribui o champagne
O colunista Reinaldo Paes Barreto, especialista em vinhos, escreveu interessante matéria da qual reproduzimos alguns excertos.

Na Idade Média, o clero atuou em todos os campos da atividade política, social e pessoal dos seus contemporâneos.

Inclusive, que é o que nos interessa aqui, na produção de vinhos, cervejas, “eau-de-vies” e licores.

Foi no silêncio dos monastérios, ou nas experiências dos laboratórios improvisados, que os monges, com a participação de “alquimistas” (químicos), procuraram obstinadamente soluções medicinais que prolongassem a vida.

Como colocar ‘espírito’ nas bebidas para que elas transmitissem vigor, alegria e energia vital.

Mas só por volta do século XIV, na França, eles começaram a macerar plantas e frutas para fabricar os primeiros licores.

E só quatro séculos depois, com a chegada à Europa do açúcar de cana, vindo das Antilhas, é que os produtores de licor definiram a fórmula – no mais das vezes secreta – com a qual produzem, até hoje, os emblemáticos digestivos que são servidos mundo afora.

Chartreuse: um dos licores mais premiados do mundo
Essas bebidas “espirituosas” devem ser apreciadas em pequenas quantidades junto com o café ou após a refeição.

E além de se dirigirem “ao espírito” elas também falam ao coração.

Existem dois processos para a fabricação de licores de qualidade:

Destilação – as frutas, ervas e outros ingredientes são macerados em álcool e a mistura então é destilada.

Este processo é mais usado para especiarias voláteis (hortelã, laranja, tomilho);

Infusão – é o processo de adição de frutas e outras especiarias ao álcool, cujo produto é filtrado e, depois, adocicado.

Os licores mais conhecidos são:

Amaretto (licor com sabor de amêndoas, produzido originalmente na Itália com caroços de abricó.

O amaretto Disaronno vem sendo produzido desde 1525).

Tia Maria (licor de café, à base de rum aromatizado com especiarias típicas da Jamaica).

Cointreau (licor incolor produzido com a casca de pequenas laranjas verdes originárias da ilha de Curaçau, Antilhas Holandesas).

Destilaria dos monges cartuxos faz Chartreuse
Chartreuse (o verde é produzido pelos monges cartuxos, perto de Grenoble, na França.

Chamado de “liqueur de santé” (licor da saúde), quase teve a sua fórmula destruída pela Revolução Francesa.

Mas ela foi salva, ainda uma vez, por um monge.

Composto por álcool, açúcar e 130 plantas, não contém nenhum produto químico e é o único licor verde no mundo, de cor natural).

Quarenta e três (43 ingredientes entram nesse licor espanhol, feito à base de brandy com ligeiro sabor de baunilha).

Drambuie (antigo e famoso licor de uísque, produzido com “highland malt whisky e mel de urze).

Grand Marnier (licor de laranja do tipo curaçau macerada no conhaque).

Beirão (licor português com base em diversas plantas – entre as quais o eucalipto, a canela, o alecrim e a alfazema – e sementes aromáticas).




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Quando os licores medievais recuperam a vida

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Um dos livros de onde a Tattersall Distilling tirou fórmulas medievais
Um dos livros de onde a Tattersall Distilling tirou fórmulas medievais
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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sócio do IPCO,
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No centro da moderna cidade de Minneapolis, EUA, a destilaria Tattersall Distilling ganhou reputação por suas genebras, bitters e licores premiados.

Mas dentro de pouco poderá ser conhecida pelos seus produtos medievais, alguns dos quais vêm com nomes assustadores para os espíritos modernos como a “água contra a peste”, noticiou o “The New York Times”.

Se anuncia como uma mistura alcoólica na base de angélica, genciana e mais uma dúzia de ervas.

A “água contra a peste” foi famosa entre os boticários medievais como tónico para prevenir as doenças.

No milênio seguinte – o nosso – é um dos oito licores que a Tattersall ressuscitou em cooperação com a Universidade de Minnesota e o Instituto de Arte de Minneapolis.

A empresa apresentou as “novas” bebidas num evento em inícios de março.

A gastronomia medieval era natural. O oposto da comida industrializada sem sabor
A gastronomia medieval era natural. O oposto da comida industrializada sem sabor
O fato é que a destilação artesanal, como é fato no Brasil com a cerveja, se expande entre um público farto de produtos industrializados, massificados e sem graça.

Simultaneamente um crescente número de historiadores indaga o que bebiam e comiam os medievais na vida quotidiana.

As iniciativas como a de Tattersall não são ingênuas nem românticas, elas pressupõem que há um público que as procura e retornará lucro.

Tattersall foi procurar as fórmulas nos enormes acervos da Biblioteca Histórica Wangensteen de Biologia e Medicina na Universidade de Minnesota.

Entre seus 72 mil volumes, alguns de 1430, há centenas de livros que descrevem com luxo de detalhes as propriedades curativas de raízes, ervas, sementes, metais e órgãos de animais.

Essas gigantescas acumulações de saber, geradas em mosteiros beneditinos ficaram ali ignoradas em tempos passados quando se dizia que a Idade Média foi a “era das Trevas”.

Monge faz misturas: modelo para alimentos originais, saudáveis, medicinais e saborosos
Monge faz misturas: modelo para alimentos originais, saudáveis, medicinais e saborosos
Hoje cientistas e até empresários correm ávidos atrás delas.

A medicina medieval era natural.

Sabia como discernir, misturar e combinar os ingredientes em função das propriedades curativas, explicou Amy Stewart, autora de “The Drunken Botanist: The Plants That Create the World’s Great Drinks” (O botânico bêbado: As plantas que criam as grandes bebidas do mundo).

Os licores foram combinados com açúcar e outros ingredientes para gerar fórmulas famosas até hoje.

Com a industrialização “muitos licores incríveis caíram no esquecimento”, sublinhou Jon Kreidler, um dos fundadores da Tattersall.

Mas, agora “acreditamos que seria interessante não só falar dessas fórmulas nos salões históricos, mas também os oferecer para degustação”, disse Nicole LaBouff, curadora no instituto de arte.

O Chartreuse é ponto de referência
O Chartreuse é ponto de referência
Mas, “percebemos que precisávamos contactar verdadeiros profissionais”, acrescentou ela.

E Tattersall está especializada em licores complicados e pouco conhecidos. Nasceu então a sociedade perfeita.

Vasculhando os velhos pergaminhos escolheram algumas dúzias de receitas para lhes dar nova vida.

Algumas eram simples como o ponche de leite, que já desfruta de um interessado renascimento nas cantinas.

Mas outros como a “água contra a peste” exigiram substitutos engenhosos, porque alguns ingredientes não estão mais disponíveis.

O moderno e anti-medieval “The New York Times” confessa que “surpreendentemente, os licores não estão mal”.

E dá como exemplo, o licor de nome mais espantoso: a própria “água contra a peste” que segundo o jornal “tem um sabor a ervas agradavelmente terroso”.

“Pensei, ‘água contra a peste’, como é que uma coisa dessas poderia ter bom sabor?”, disse Kreidler.

“Mas de fato tem o sabor de base para o chartreuse”, o delicioso licor que segundo alguns entendidos é o melhor do mundo concebido há séculos pelos monges de vida absolutamente isolada ao pé dos Alpes.




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O papel da mulher na Idade Média

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Ana de Bretanha
Luis Dufaur
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Há quem pense que na Idade Média o papel da mulher era o de submissão total e completo ostracismo.

Há quem cogite que se pensava que a alma da mulher não era imortal ‒ afirmação gratuitamente preconceituosa e contraditória (se a alma é espiritual e imortal, como a alma feminina não seria? Seria uma alma mortal?).

Como a Igreja seria hostil a esses seres sem alma, mas durante séculos batizou, confessou e ministrou a Eucaristia a essas criaturas?

Branca de Castela dá ordens
Não é estranho que os primeiros mártires cristãos tenham sido mulheres (Santas Agnes, Cecília, Ágata etc)?

Como venerar a Virgem Maria como cheia de graça e considerá-la desalmada?

A historiografia contemporânea simplesmente apagou a mulher medieval.

Cristine de Pisan lêe para burgueses
Por exemplo, no plano social.

Dentro dessa perspectiva desapareceram da história personagens como Hilda de Whitby, que no século VII fundou sete mosteiros e conventos, ou quem sabe a religiosa alemã Hroswitha de Gandersheim, autora de dezenas de peças de teatro.

Em Bizâncio, numerosas eram as mulheres na universidade.

Anna Comnena fundou em 1083 uma nova escola de medicina onde lecionou por vários anos.

Eleonora da Aquitânia, enquanto rainha, desempenhou um importante papel político na Inglaterra e fundou instituições religiosas e educadoras.

Nos tempos feudais a rainha era coroada como o rei, geralmente em Rheims ou, por vezes, em outras catedrais.

A coroação da rainha era tão prestigiada quanto a do Rei.

A última rainha a ser coroada foi Maria de Medicis em 1610, na cidade de Paris.

Algumas rainhas medievais desempenharam amplas funções, dominando a sua época.

Tais foram Eleonora de Aquitânia (+1204) e Branca de Castela (+1252); no caso de ausência, da doença ou da morte do rei, exerciam poder incontestado, tendo a sua chancelaria, as suas armas e o seu campo de atividade pessoal.

Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte.

Todavia observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte, homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime.

(Autor: Régine Pernoud, “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”).





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A mulher na Igreja medieval

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Profissão Solene de uma religiosa
Luis Dufaur
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Precisamente por causa da valorização prestada pela Igreja à mulher, várias figuras femininas desempenharam notável papel na Igreja medieval.

Certas abadessas, por exemplo, eram autênticos senhores feudais, cujas funções eram respeitadas como as dos outros senhores.

Administravam vastos territórios como aldeias, paróquias; algumas usavam báculo, como o bispo...

Seja mencionada, entre outras, a abadessa Heloisa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século XII: recebia o dízimo de uma vinha, tinha direito a foros sobre feno ou trigo, explorava uma granja...

Ela mesma ensinava grego e hebraico às monjas, o que vem mostrar o nível de instrução das religiosas deste tempo, que às vezes rivalizavam com os monges mais letrados.

Pena faltar estudos mais sérios sobre o tema..

.É surpreendente ainda notar que a enciclopédia mais conhecida no século XII se deve a uma mulher, ou seja, à abadessa Herrade de Landsberg.

Santa Hildegarda de Bingen
Tem o título "Hortus Deliciarum" (Jardim das Delícias) e fornece as informações mais seguras sobre as técnicas do seu tempo.

Algo de semelhante se encontra nas obras de Santa Hildegarda de Bingen.

Gertrude de Helfta, no século XIII conta-nos como se sentiu feliz ao passar do estado de "romancista" ao de "teóloga".

Conforme Pedro, o Venerável, ela, em sua juventude, não sendo freira e não querendo entrar num convento, procurava, todavia, estudos muito áridos, ao invés de se contentar com a vida mais frívola de uma jovem.

Ao percorrer o ciclo de estudos preparatórios ela galgara o ciclo superior, como se fazia na Universidade.

Veio da abadia feminina de Gandersheim um manuscrito do século X contendo seis comédias, em prosa rimada, imitação de Terêncio, e que são atribuídas à famosa abadessa Hrotsvitha, da qual, há muito tempo, conhecemos a influência sobre o desenvolvimento literário nos países germânicos.

Estas comédias, provavelmente representadas pelas religiosas, são, do ponto de vista da história dramática, consideradas como prova de uma tradição escolar que terá contribuído para o teatro da Idade Média.

(Autor: Régine Pernoud, “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”).




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Mulheres líderes da sociedade medieval

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Mosteiro de Santa María la Real de las Huelgas, Burgos
Luis Dufaur
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Algo inédito e que nos dias de hoje ‒ tão democráticos ‒ jamais aconteceria:

No século XII, Robert d'Arbrissel, um dos maiores pregadores de todos os tempos resolveu fixar a multidão de seguidores seus na região de Fontevrault.

Para isso ele criou um convento feminino, um masculino e entre os dois uma Igreja que seria o único local aonde os monges e as monjas poderiam se encontrar.

Ora, este mosteiro duplo foi colocado sob a autoridade, não de um abade, mas de uma abadessa.

Esta, por vontade do fundador, devia ser viúva, tendo tido a experiência do casamento.

Mosteiro de Santa María la Real de las Huelgas, Burgos
Para completar, a primeira abadessa que presidiu os destinos da Ordem de Fontevrault, Petronila de Chemillé, tinha 22 anos.

(Um parêntesis: nos dias de hoje alguém imaginaria um acontecimento destes sequer ser considerado?

Pois ele aconteceu na época em que os ignorantes costumam taxar como “Idade das trevas”).

No período feudal o lugar da mulher na Igreja apresentou algumas diferenças daquele ocupado pelo homem.

Mas este foi um lugar iminente, que simboliza, por outro lado, perfeitamente o culto, insigne também, prestado à Virgem Maria entre os santos.

E não é curioso como a época termine por uma figura de mulher ‒ Joana D'Arc, que seja dito de passagem, não poderia, jamais, nos séculos seguintes obter a audiência do rei, sendo ela mulher, plebéia e ignorante, conseguindo mesmo assim suscitar a confiança que conseguiu, afinal.

Pobre Joana D'Arc!

Luc Besson fez um filme de Santa Joana D'Arc digna dos melhores hospícios, completamente esquizofrênica e que confundia sua vingança pessoal com o que seria a voz de Deus. Sem comentários.


(Autor: Régine Pernoud, “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”).




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A mulher comum na Idade Média

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Faltaria falar das mulheres comuns, camponesas ou citadinas, mães de família ou trabalhadoras.

A questão é muito extensa, e os exemplos podem chegar através de diversas fontes como documentos ou mil outros detalhes colhidos ao acaso e que mostram homens e mulheres através dos menores atos de suas existências.

Através de documentos, pôde-se constatar a existência de cabeleireiras, salineiras (comércio do sal), moleiras, castelãs, mulheres de cruzados, viúvas de agricultores, etc.

É por documentos deste gênero que se pode, peça por peça, reconstituir, como em um mosaico, a história real ‒ muito diferente dos romances de cavalaria ou de fontes literárias que apresentam a mulher como um ser frágil, ideal e quase angélico ou diabólico ‒ mas que não tinha voz nem vez.

Mondsee Folk Festival, Tirol
Existem documentos demonstrando como em muitos locais, mulheres e homens votavam em assembleias urbanas ou comunas rurais.

Ouve um caso curioso: Gaillardine de Fréchou foi uma mulher e a única pessoa que, diante da proposta de um arrendamento aos habitantes de Cauterets, nos Pirineus, pela Abadia de Saint Savin, votou pelo Não, quando a cidade inteira votou pelo Sim.

Museu da Idade Média, Dinamarca
Nas atas dos notários é muito frequente ver uma mulher casada agir por si mesma.

Abrir, por exemplo, uma loja ou uma venda, e isto sem ser obrigada a apresentar uma autorização do marido.

Enfim, os registros de impostos, desde que foram conservados, como é o caso de Paris, no fim do século XIII, mostram multidão de mulheres exercendo funções: professora, médica, boticária, estucadora, tintureira, copista, miniaturista, encadernadora, etc.



(Autor: Régine Pernoud, “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”).




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O cavaleiro medieval

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Combate de Roland contra o gigante Ferragut
Combate de Roland contra o gigante Ferragut
Luis Dufaur
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Na Idade Média, os conceitos de cavalaria e de nobreza em certo sentido se confundiam.

Assim, nem sempre o cavaleiro era nobre, mas muitos deles participavam dessa condição; nem todos os nobres eram cavaleiros, embora muitos o fossem.

Que característica do cavaleiro medieval o tornou célebre na História?

O traço marcante foi a Fé.

Daí a coragem que o cavaleiro revelava nas mais terríveis das lutas, as cruzadas, visando libertar o Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tais empreendimentos almejavam esse objetivo no Oriente, e, na Península Ibérica, aspiravam livrar, do jugo maometano, as populações espanhola e portuguesa.

Batalha de Pharsalos vista com olhos medievais
Batalha de Pharsalos vista com olhos medievais
A grande capacidade de combate desse guerreiro era explicável: tratava-se de defender a Religião, ao que ele se entregava inteiramente, arriscando mesmo a própria vida.

Tal característica existiu no cavaleiro medieval em harmonia com outras notas, aparentemente contraditórias.

O cavaleiro era homem de Fé.

Contudo, dotado também de espírito prático, chegou a edificar grandes fortificações, esplêndidos castelos e, em alguns casos, imponentes catedrais, levando mais longe do que ninguém a arte de construir maravilhas.

Ele, corajoso na luta, requintou, pouco a pouco, as regras de boa educação e do convívio amável.

Altivo perante seus iguais, mas benevolente no trato com o sexo frágil, os velhos, os doentes e os feridos na guerra.

Então, parecia ele, por assim dizer, feito de açúcar.

Entretanto, era só o inimigo ousar qualquer coisa contra os interesses da Igreja que aquele homem tão doce transformava-se num leão.

Ele, um batalhador, não obstante favoreceu enormemente a cultura, revelando-se um propulsor das artes e elevando o tom de vida a um nível menos rústico do que o vigente no início da Idade Média.

Donde se explicam os bonitos móveis, as belas alfaias, a gastronomia refinada, os vinhos excelentes e os sinos harmoniosos surgidos naquela época histórica.

Foram traços estes que o cavaleiro, antes tão rude, paulatinamente imprimiu na vida de então, tornando-a cheia de afabilidade e beleza.

Em suma, colaborando para ser implantada a civilização católica.

Esse era o perfil do cavaleiro medieval.


(Autor: comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 18.12.1992, não revistos pelo autor.)



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Vínculo feudal é pessoal e familiar, afetivo e protetor

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Luis Dufaur
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Durante a maior parte da Idade Média, a principal característica do vínculo feudal é ser pessoal.

Um vassalo preciso e determinado recomenda-se a um senhor igualmente preciso e determinado, decide vincular-se a ele, jura-lhe fidelidade e espera em troca subsistência material e proteção moral.

Quando Roland morre, evoca “Carlos, meu senhor que me alimentou”, e esta simples evocação diz bastante da natureza do vínculo que os une.

Somente a partir do século XIV o vínculo se tornará mais real que pessoal.

Ligar-se-á à posse de uma propriedade e decorrerá das obrigações fundiárias que existem entre o senhor e os seus vassalos, cujas relações se assemelharão desde então muito mais às de um proprietário com os seus locatários.

É a condição da terra que fixa a condição da pessoa.

Mas, para todo o período medieval propriamente dito, os vínculos criam-se de indivíduo para indivíduo: Nihil est preter individuum (nada existe fora do indivíduo).

O gosto de tudo o que é pessoal e preciso, o horror da abstração e do anonimato são características da época.

Este vínculo pessoal que liga o vassalo ao suserano é proclamado no decorrer de uma cerimônia em que se afirma o formalismo, caro à Idade Média, porque qualquer obrigação, transação ou acordo deve traduzir-se por um gesto simbólico, forma visível e indispensável do assentimento interior.

Quando se vende um terreno, por exemplo, o que constitui o ato de venda é a entrega pelo vendedor ao novo proprietário de um pouco de palha ou um torrão de terra proveniente do seu campo.

Se a seguir se faz uma escritura — o que nem sempre ocorre —, servirá apenas para memória.

O ato essencial é a traditio, como nos nossos dias é o aperto de mão em alguns mercados.

Diz o Ménagier de Paris:
“Como sinal deste grande acontecimento (por exemplo, uma transação importante), entregar-lhe-ei um pouco de palha, ou um prego velho, ou uma pedra que me foram entregues”.


(Autor: Regine Pernoud, “Luz da Idade Média”. Ed. original: “Lumière du Moyen Âge”, Grasset, Paris, 1944)




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Feudalismo: fidelidade mútua, homenagem ao senhor, proteção ao vassalo

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A Idade Média é uma época em que triunfa o rito, em que tudo o que se realiza na consciência deve passar obrigatoriamente a ato.

Isto satisfaz uma necessidade profundamente humana: a do sinal corporal, à falta do qual a realidade fica imperfeita, inacabada, fraca.

O vassalo presta “fidelidade e homenagem” ao seu senhor.

Fica na sua frente de joelhos, com o cinturão desfeito, e coloca a mão na dele — gestos que significam o abandono, a confiança, a fidelidade.

Declara-se seu vassalo e confirma-lhe a dedicação da sua pessoa. Em troca, e para selar o pacto que doravante os liga, o suserano beija o vassalo na boca.

Este gesto implica mais e melhor que uma proteção geral, é um laço de afeição pessoal que deve reger as relações entre os dois homens. Segue-se a cerimônia do juramento, cuja importância não é demais sublinhar.

É preciso entender juramento no seu sentido etimológico de sacramentum, coisa sagrada. Jura-se sobre os Evangelhos, realizando assim um ato sagrado que compromete não só a honra, mas a fé, a pessoa inteira.

O valor do juramento é tão grande, e o perjúrio tão monstruoso, que não se hesita em manter a palavra dada em circunstâncias extremamente graves — por exemplo, para atestar as últimas vontades de um moribundo com o testemunho de uma ou duas pessoa.

Renegar um juramento representa na mentalidade medieval a pior das desonras.

Uma passagem de Joinville manifesta de maneira muito significativa que se trata de um excesso, porque um cavaleiro não pode decidir-se, mesmo que a sua vida esteja em jogo.

Quando do seu cativeiro, os drogomanos do sultão do Egito vieram oferecer a libertação a ele e aos companheiros, e perguntaram-lhe se daria para a sua libertação algum dos castelos que pertencem aos barões de além-mar.

O conde respondeu que não tinha poder, porque eles pertenciam ao imperador da Alemanha, ainda vivo.

Perguntaram se entregaríamos algum dos castelos do Templo ou do Hospital, para a nossa libertação.

E o conde respondeu que não podia ser, pois quando aí se nomeava um castelão, faziam-no jurar pelos santos que não entregaria castelo algum para libertação de corpo de homem.

E eles manifestaram que parecia não termos talento para nos libertarmos, e que se iriam embora e nos enviariam aqueles que nos lançariam espadas, como tinham feito aos outros (isto é, que os massacrariam como aos outros).

A cerimônia completa-se com a investidura solene do feudo, feita pelo senhor ao vassalo.

Confirma-lhe a posse desse feudo por um gesto de traditio, entregando-lhe geralmente uma vara ou um bastonete, símbolo do poder que deve exercer no domínio desse senhor.

É a investidura cum baculo vel virga, para empregar os termos jurídicos em uso na época.

Desse cerimonial, das tradições que ele supõe, decorre a elevada concepção que a Idade Média fazia da dignidade pessoal.


(Autor: Regine Pernoud, “Luz da Idade Média”. Ed. original: “Lumière du Moyen Âge”, Grasset, Paris, 1944)




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Feudalismo e dignidade pessoal

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Nenhuma época esteve mais pronta do que a Idade Média para afastar as abstrações, os princípios, para se entregar unicamente às convenções de homem para homem; e também nenhuma fez apelo a mais elevados sentimentos como base dessas convenções.

Era prestar uma magnífica homenagem à pessoa humana.

Conceber uma sociedade fundada sobre a fidelidade recíproca, era indubitavelmente audacioso.

Como se pode esperar, houve abusos, faltas, e as lutas dos reis contra os vassalos recalcitrantes são a prova disso.

Resta dizer que durante mais de cinco séculos a fé e a honra permanecem a base essencial, a armadura das relações sociais.

Quando estas foram substituídas pelo princípio de autoridade, no século XVI e sobretudo no século XVII, não se pode pretender que a sociedade tenha ganho com isso.

Em qualquer dos casos, a nobreza, já enfraquecida por outras razões, perdeu a sua força moral essencial.


(Autor: Regine Pernoud, “Luz da Idade Média”. Ed. original: “Lumière du Moyen Âge”, Grasset, Paris, 1944)




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No feudalismo o poder era largamente participado

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Reunião dos Estados Gerais (Assembleia dos representantes de todas as classes sociais) na França
Reunião dos Estados Gerais (Assembleia dos representantes
de todas as classes sociais) na França
Luis Dufaur
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No feudalismo, não havia uma concentração do poder numa pessoa ou num parlamento.

Pelo contrário, o rei estava em relação ao senhor feudal como um original está para a sua miniatura, mas uma miniatura viva, dotada de verdadeira iniciativa e poder efetivo próprio.

Um príncipe de Condé, por exemplo, era uma miniatura de rei da França.

Quer dizer, as autoridades locais eram, em ponto pequeno, reis locais com larguíssima dose de autonomia.

Como se fez isso?

Na França, por exemplo, o rei desmembrava o seu reino em feudos, e dava a cada senhor feudal uma parcela do poder real.

Desse modo o senhor feudal não era apenas uma miniatura do rei, mas participante do poder do rei.

Carlos Magno é beijado pelo seu filho Luis, o Piedoso
Carlos Magno é beijado pelo seu filho Luis, o Piedoso
Ele tinha parte no poder real.

Ela era, por assim dizer, uma extensão do rei. É miniatura no sentido de que é uma parcela, e não porque possua tamanho

menor e se lhe pareça.

Essa ligação que o senhor feudal tem com o rei faz dele uma espécie de desdobramento do próprio rei.

Os senhores feudais de categoria secundária têm um desdobramento do poder do primeiro senhor feudal. Assim, de participação em participação, chegamos às últimas escalas da hierarquia feudal.

Partimos de uma grande fonte de poder, que é o rei, e encontramos nas várias escalas da hierarquia feudal participações sucessivas, que se assemelham aos galhos de uma árvore.

O rei seria o tronco, e as várias categorias de nobreza seriam os galhos, sucessivamente menores e sucessivamente mais delgados, até constituir o cimo da copa da árvore.

E a árvore toda é alimentada por uma mesma seiva, que é o poder real, do qual tudo emana e para o qual tudo tende.

Entretanto não é absorvente. Pelo contrário, deita seus inúmeros galhos em todas as direções.

Eis aí configurada a ideia da participação do poder feudal, um dos aspectos originalíssimos do feudalismo.

Custa-nos compreender isso no nosso século onde tudo é planificado por governos que pairam sobre os cidadãos a anos-luz de distanciamento psicológico.

E onde parlamentos e organizações mundiais decidem sobre o destino do simples cidadão, sem interpretar bem o que ele quer, e sem que ele saiba o que se passa de fato nesses cenáculos, como também não entende o que acontece dentro de um OVNI, se é que existe.




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Deveres da classe nobre no feudalismo e participação no poder real

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A classe nobre formou-se como uma participação subordinada no poder real.

Estava a cargo dela o bem comum de ordem privada, que era a conservação e o incremento da agricultura e da pecuária, das quais viviam tanto nobres quanto plebeus.

E também estava a cargo dela o bem comum de ordem pública – decorrente da representação do rei na zona – mais elevado, de natureza mais universal, e por isso intrinsecamente nobre.

Por fim, tinha a nobreza alguma participação no exercício do próprio poder central do monarca, pois os nobres de categoria mais elevada eram, em mais de um caso, conselheiros normais dos reis.

E nobres eram, na maior parte, os ministros de Estado, os embaixadores e os generais, cargos indispensáveis para o exercício do governo supremo do País.

Ou seja, o nexo entre as altas funções públicas e a condição nobiliárquica era tal que, mesmo quando ao bem comum convinha que pessoas da plebe fossem elevadas a essas funções, geralmente acabavam por receber do rei títulos nobiliárquicos que as alçavam, e muitas vezes também aos seus descendentes, à condição de nobres.

O proprietário, colocado pela força das circunstâncias em missão mais elevada do que a da mera produção fundiária, isto é, a de certa tutela da salus publica na guerra como na paz, assim se achava investido de poderes normalmente governamentais, de extensão local.

Desse modo, ascendia ele ipso facto a uma condição mais alta, na qual lhe cabia ser como que uma miniatura do rei.

A sua missão era, pois, intrinsecamente participativa da nobreza da própria missão régia.

A figura do proprietário-senhor nobre nascia assim da espontânea realidade dos factos.

Essa missão, a um tempo privada e nobre, comportou uma ampliação paulatina quando as circunstâncias – mais desafogadas de apreensões e perigos externos – iam permitindo à Europa cristã conhecer mais longos períodos de paz.

E por muito tempo não cessou de ampliar-se.




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