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Channel: Idade Média * Glória da Idade Média
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O senhor feudal no aparecimento das regiões

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Hirschhorn, Alemanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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Nas novas circunstâncias criadas pelo ordenamento feudal, os homens puderam ir estendendo as suas vistas, as suas cogitações e as suas atividades a campos gradualmente mais vastos.

Constituíram-se então regiões modeladas frequentemente por fatores locais diversos
como:

● as características geográficas,

●  as necessidades militares,

● os intercâmbios de interesse,

● o afluxo de multidões de peregrinos a santuários com muita atração, até em zonas distantes;


o afluxo de estudantes a universidades de grande renome

● e de comerciantes a feiras mais reputadas.

Contribuíram também para caracterizar tais regiões afinidades psicológicas peculiares, decorrentes dos mais variados fatores: a tradição de lutas conduzidas em comum, às vezes por muito tempo, contra um adversário externo; as semelhanças de linguagem, de costumes, de expressões artísticas, etc.

O bem comum regional abarcava assim os diversos bens comuns mais estritamente locais. Era, por isso mesmo, mais alto e mais nobre.

Berna, Suíça
As rédeas do mando desse bem comum regional iam ter normalmente às mãos de algum senhor de mais amplos domínios, mais poderoso, mais representativo da região inteira, e assim mais capaz de lhe aglutinar as várias partes, reunindo-as num só todo sem prejuízo das respectivas autonomias: tudo isto para efeitos de guerra como para as atividades inerentes à paz.

A esse senhor regional – ele próprio miniatura do rei na região, como o simples senhor-proprietário o era na localidade mais restrita – tocava assim uma situação, com um conjunto de direitos e deveres intrinsecamente mais nobres.

Tomar, Portugal
Assim, o senhor feudal – o proprietário-senhor nobre de cujo direito de propriedade participava um grande número de trabalhadores manuais através de um liame um tanto parecido com as acuais enfiteuses – ficava devendo ao seu respectivo senhor uma vassalagem análoga, se bem que não idêntica, à que esse senhor, por sua vez, prestava ao rei.

No topo da hierarquia social ia-se formando desse modo uma hierarquia nobiliárquica.




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Nobreza feudal pagava um imposto de sangue: tinha que fazer a guerra

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Luis Dufaur
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Durante toda a Idade Média a nobreza, sem esquecer a sua origem fundiária, dominial, teve um modo de viver sobretudo militar.

Efetivamente o seu dever de proteção comportava em primeiro lugar a função guerreira de defender o seu domínio contra as possíveis usurpações.

Embora se esforçassem por reduzir o direito de guerra privada, ele subsistia e a solidariedade familiar podia implicar a obrigação de vingar pelas armas as injúrias feitas a um dos seus.

Uma questão de ordem material se lhe acrescentava, pois detendo com exclusividade a posse da terra, que era a principal fonte de riqueza, senão a única, os senhores eram os únicos com a possibilidade de equipar um cavalo de guerra, armar escudeiros e sargentos.



E o serviço militar será portanto inseparável do serviço do feudo. 

A fé prestada pelo vassalo nobre supõe o contributo das suas armas, sempre que “disso for mester”.

É o primeiro encargo da nobreza, e um dos mais onerosos, é essa obrigação de defender o domínio e os seus habitantes.

Assim se vê num poema de Carité, de Reclus de Molliens:

L'épée dit: C'est ma justice
Garder les clercs de Saint Église
Et ceux par qui viandes est guise.

A espada disse: é meu dever
Manter os clérigos da Santa Igreja
E aqueles por quem os alimentos são obtidos.

As praças-fortes mais antigas, que foram construídas nas épocas de perturbação e de invasões, mostram a marca visível dessa necessidade.

A aldeia, as casas dos servos e dos camponeses, estão ligadas às encostas da fortaleza, onde toda a população irá refugiar-se em caso de perigo, e onde encontrará ajuda e abastecimento em caso de cerco.


(Autor: Regine Pernoud, “Luz da Idade Média”. Ed. original: “Lumière du Moyen Âge”, Grasset, Paris, 1944)




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A Idade Média achava que a Terra era plana?

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Deus Criador, geometra, Codex Vindobonensis 2554
Luis Dufaur
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Na revista de número 01 da coleção sobre História da ciência da Scientific American, Rudolf Simek desmonta, com muitos documentos, de que na Idade Média, com base na Bíblia, se acreditava que a Terra era plana.

Essa ideia foi principalmente de muitos ateus de séculos passados mas é hoje repetida por alguns desatualizados:

“A ideia de que antes da Renascença a Terra era considerada plana, ainda persiste, explicou o prof. Rudolf Simek.

“No entanto, a esfericidade do Planeta já era admitida na época medieval”

“[...] Em 1492, quando Martin Behaim fabricou o primeiro globo terrestre e o chamou de Erdapfel (“maçã terrestre”), ele se remeteu à tradição medieval. [...]

“O manual de astronomia mais conhecido nas universidades medievais era o Liber de Sphaera (“Tratado sobre a esfera”), escrito pelo inglês Jean de Sacrobosco, na primeira metade do século XIII.

“O autor tratava das bases da geometria e da astronomia, apresentando provas evidentes da esfericidade da Terra e de outros corpos celestes. [...]


A esfericidade da Terra era um dado banalmente comum na Idade Média.

De tal maneira que Santo Tomás de Aquino no início de sua magna obra “Suma Teológica”, recorre a essa posição aceita por todos.

E parte dela para fundamentar sobre um pressuposto inconteste a necessidade da ciência teológica, dizendo:

“a diversidade das ciências procede da diversidade de nossos meios de conhecimento.

Assim o astrônomo e o físico demonstram a mesma proposição por exemplo, que a terra é redonda.

Mas o astrônomo o prova por meio das matemáticas, quer dizer, com cálculos abstratos, enquanto que o físico se apoia em provas concretas, em fatos experimentais”.

(Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, I, q. 1 a. 1 ad 2)

O próprio Doutor Angélico comentou muito extensamente dezenas de livros de Aristóteles.

Nesses, o grande filósofo grego tratou, entre muitas outras coisas, da esfericidade da Terra e da ordem dos astros.

O Filósofo se deteve muito nas opiniões adversas, correntes entre outros filósofos da Grécia antiga, e pagãos em geral.

E as desfez meticulosamente uma por uma. E até com dados primários da observação.

Como é o caso do navio que se aproxima pelo mar: quando está longe se vê a ponta do mastro e quando se aproxima começa a se ver o mastro todo e por fim o casco da nau.



Bíblia, Toledo
“Se a esfericidade da Terra ‒ e todas as suas consequências ‒ era uma ideia tão corrente na Idade Média, como foi possível chegar ao mito, que ainda persiste, que pretende que o homem medieval acreditava numa Terra plana? [...]

“A partir do século XVII, essas ideias foram consideradas ‒ por engano ‒ como típicas do pensamento monástico medieval.

“As correntes anticlericais da época das Luzes contribuíram para a propagação dessas interpretações errôneas, que visavam desmerecer uma Idade Média influenciada pela Igreja, pouco afeita às questões das ciências naturais e com uma visão de mundo limitada. [...]”


(Fonte: A ciência na Idade Média, Scientific American História, p. 30 à 33)




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O morgadio. Pesados deveres dos nobres

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Luis Dufaur
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Das obrigações militares da nobreza decorre a maior parte dos seus hábitos.

O direito de morgadio vem em parte da necessidade de confiar ao mais forte a herança que ele deve garantir, muitas vezes pela espada.

A lei de herança por masculinidade explica-se também dessa forma, pois só o homem pode assegurar a defesa de um torreão.

Por isso também, quando um feudo “cai em roca” (quando uma mulher é a única herdeira), o suserano sobre o qual recai a responsabilidade desse feudo, que ficou assim em estado de inferioridade, sente-se no dever de casá-la.

Por isso a mulher não sucederá senão após os filhos mais novos, e estes após o mais velho.

Eles só receberão apanágios, daí os desastres que ocorreram no fim da Idade Média terem tido como origem os apanágios excessivamente importantes deixados aos filhos por João, o Bom.

O poder que receberam tornou-se para eles uma tentação perpétua, e para todos uma fonte de desordens durante a menoridade de Carlos VI.

Os nobres têm o dever de proporcionar a justiça aos seus vassalos de qualquer condição, e igualmente o de administrar o feudo.

Trata-se do exercício de um dever, e não de um direito.

Implica responsabilidades muito pesadas, já que cada senhor deve dar conta do seu domínio não só à sua linhagem, mas também ao seu suserano.

Étienne de Fougères descreve a vida do senhor de um grande domínio como cheia de preocupações e de fadigas:

Cà et là va, souvent se tourne,
Ne repose ni ne séjourne:
Château abord, château aourne,
Souvent haitié, plus souvent mourne.
Cà et là va, pas ne repose
Que sa marche ne soit déclose.

Anda de cá para lá, muitas vezes muda de direção,
Não repousa nem se detém:
Castelo dentro, castelo fora,
Muitas vezes alegre, mais vezes triste.
Anda de cá para lá, não repousa
Senão quando o seu caminho está aberto.

O seu poder, longe de ser ilimitado como de maneira geral se julgou, é bem menor que o de um chefe de indústria ou de qualquer proprietário nos nossos dias.

Nunca tem a propriedade absoluta dos seus domínios, depende sempre de um suserano, e no fim das contas os suseranos mais poderosos dependem do rei.

Nos nossos dias, de acordo com a concepção romana, o pagamento de uma terra confere pleno direito sobre ela.

Na Idade Média não é assim.

Em caso de má administração, o senhor sofre penalidades que podem ir até à confiscação dos seus bens.

Deste modo, ninguém governa com autoridade total nem escapa ao controle direto daquele de quem depende.

Esta repartição da propriedade e da autoridade é um dos traços mais característicos da sociedade medieval.

As obrigações que ligam o vassalo ao seu senhor implicam reciprocidade:
“Tanto o senhor deve fé e lealdade ao seu homem como o homem ao seu senhor”, diz Beaumanoir.

Esta noção de dever recíproco, de serviço mútuo, encontra-se muitas vezes, tanto nos textos literários como jurídicos.

Étienne de Fougères observa, no Livre des manières:
Graigneur fait a sire à son homme
Que l'homme à son seigneur et dome.

O senhor deve mais reconhecimento ao seu vassalo
Do que ele próprio deve ao senhor.

Apoiando esta constatação, Philippe de Novare nota:
“Aqueles que recebem serviço e nunca o recompensam bebem o suor dos seus servos, que é veneno mortal para o corpo e para a alma”.

Donde também a máxima: A bien servir convient eür avoir (Para bem servir, convém bom ter).


(Autor: Regine Pernoud, “Luz da Idade Média”. Ed. original: “Lumière du Moyen Âge”, Grasset, Paris, 1944)




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O povo, terceira classe social medieval, ficava com a economia

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Casa de rico burguês, Reims, França
Casa de rico burguês, Reims, França
Luis Dufaur
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Na época medieval, as funções mais lucrativas não eram as do nobre, nem do eclesiástico. Mas sim as do comerciante e do industrial.

Frequentemente encontravam-se burgueses e comerciantes cuja fortuna era tal, que emprestavam dinheiro aos Reis.

Sem eles os monarcas não podiam fazer guerra.

Eram mais ricos que muitíssimos nobres.

O comerciante não ia para a guerra, não era ferido ou mutilado, levava uma vida calma.

A esta classe de produção econômica era cobrado imposto.

Casas de comerciantes, Obernai, Alsácia
Casas de comerciantes, Obernai, Alsácia
Atualmente a primeira classe social é a dos mais ricos.

Naquele tempo, a primeira classe era a dos mais virtuosos,.

Isto é, o Clero, que se entregava ao serviço de Deus.

O plebeu mais rico tinha que se inclinar diante do clérigo mais pobre, o que é muito digno, muito razoável.

Se o Clero e a nobreza desfrutavam privilégios, isso decorria de suas funções mais elevadas e mais sacrificadas.

O que é natural, orgânico, justo.

Porta da cidade de Nancy
Porta da cidade de Nancy




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Castelos, abadias e aldeias medievais integradas com a natureza. Exemplo dos queijos e cervejas de Chimay

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Mosteiro de Scourmont
Luis Dufaur
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Uma equipe da Globo Rural foi até a Bélgica para contar a história de um queijo delicioso, produzido por monges de uma abadia gótica que também fabrica cervejas.

O mosteiro de Scourmont fica em Chimay, no sul do país, uma cidadezinha tranquila com ruas estreitas e fachadas antigas.

E um imponente castelo: o dos Príncipes de Chimay, uma das mais nobres famílias belgas.

A princesa de Chimay
No Castelo dos Príncipes, no centro da cidade, mora a simpática princesa Elisabeth de Chimay.

Ela contou que alguns aposentos do castelo têm quase 800 anos de idade.

Sua capela abrigou em 1449 o famoso Santo Sudário hoje em Turim. O Teatro dos Príncipes ainda hoje acolhe concertos de música clássica.
“Naquela época, o dono do castelo era conhecido como o Grande Príncipe. Pois bem, esse príncipe, que era antepassado do meu marido, resolveu convidar alguns monges do norte da Bélgica para fundar uma abadia.

Para isso, doou algumas terras aos religiosos, que começaram a levantar o novo mosteiro. Uma vez instalados, os monges passaram a fazer os seus produtos caseiros, que há séculos garantem a prosperidade da região” – explicou a princesa.

Castelo de Chimay
Com o estímulo e a proteção da nobreza começou a história da abadia trapista de Notre-Dame de Scourmont, em Chimay.

“Os monges tinham alimentação fraca e trabalhavam muito. Então, era preciso reforçar as refeições com produtos mais nutritivos.
Foi aí que surgiu a ideia de fabricar queijos e cervejas. Tudo era feito para o nosso próprio consumo, para compensar o esforço físico e fortalecer os músculos”, respondeu o Père Omère (Padre Homero).
O castelo de Chimay numa iluminura
Os monges antigos levavam a sério a Regra, que incluía muito jejum e abstinência de carne. No inverno e nas épocas como as da colheita – os monges viviam de seu trabalho – a observância era exemplar. Era preciso reforçar a alimentação com alimentos que não violassem a Regra.

Veja vídeo
Video de Chimay
(Globo Rural)

Os queijos e as cervejas dos monges eram tão saborosos que logo atraíram a atenção de pessoas de fora. Aos poucos, a fabricação artesanal foi dando lugar a uma atividade comercial. Mas não perdeu a identidade trapista.

Hoje em dia, os monges contam com equipamentos modernos e funcionários treinados.

A abadia fabrica três cervejas com cores e sabores diferentes. Todas são encorpadas, cremosas, levemente amargas e com teor alcoólico que varia de 7% a 9%.

A fabricação de queijos da abadia atravessou os séculos e permanece viva, como um dos símbolos da região, diz a reportagem da Globo Rural.

Na base desse trabalho estão centenas de sítios e de famílias do campo. Gente que mora no entorno de abadia e que ganha a vida produzindo leite.

Os monges trapistas fazem cervejas diversas
No começo dos anos 80, os monges de Scourmont resolveram construir um novo laticínio da abadia. O objetivo era melhorar o controle sanitário, adotar métodos mais modernos e aumentar o volume de produção. Tudo isso respeitando a história e a tradição do queijo local.

Um dos cinco queijos fabricados no laticínio é reforçado com um ingrediente especial: a cerveja de Chimay.

Na etapa final, os queijos são levados para as caves. São salas que têm temperatura e umidade controladas. Os produtos ficam em prateleiras de quatro semanas a oito meses, segundo o tipo.

O laticínio da abadia vende cerca de mil toneladas de queijo por ano. Metade fica na Bélgica e metade é exportada, principalmente para a França, o Japão e os Estados Unidos.

Alain Hotelet, responsável comercial, explicou o sabor do queijo: “Este é o queijo clássico, que foi o primeiro a ser fabricado pelos monges. Ele é muito suave e, por isso, apreciado por um público amplo. Já o segundo tipo, o grand cru, leva mais tempo na maturação. É um queijo com aroma mais marcante e um gosto mais forte”.

O queijo Chimay é muito procurado
Mais alto e alaranjado, o vieux chimay chega a ficar oito meses nas caves. É um queijo seco e ótimo para ser consumido em cubos, como aperitivo.

É um produto para quem gosta de queijos com personalidade. Bronzeado e mais robusto, o queijo na cerveja é o mais famoso e o mais vendido pelo laticínio. Os preços são moderados.

A reportagem acaba apresentando um modelo de integração harmônica do castelo, da abadia e da produção agrícola com a natureza. Essa foi uma das notas características da sociedade orgânica medieval.

Sem dúvida, o modelo medieval está nas antípodas das planificações escrúxulas do ambientalismo dirigista hodierno, que manifesta entender pouco ou nada da natureza e muito do utopismo comuno-tribalista.

Video: Chimay: castelo, abadia e aldeia bem harmonizadas com a natureza






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Idade Media: o ponto mais alto de influência da Igreja sobre a vida pública, as leis e a cultura.

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Pio XII, na sedia gestatoria, basílica do Vaticano
Luis Dufaur
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“A Igreja é um fato histórico que, como uma possante cadeia de montanhas, percorre a história dos dois últimos milênios”.

Esta formosa comparação, contida no discurso do Santo Padre Pio XII aos membros do X Congresso Internacional de Ciências Históricas (7 de setembro de 1955), nos vem naturalmente ao espírito.

Referindo-se às condições hodiernas do Ocidente, Pio XII, em seu discurso aos historiadores, notou que sua situação é de funda crise religiosa:

“O que se chama Ocidente ou mundo ocidental sofreu profundas modificações desde a Idade Media: a cisão religiosa do século XVI, o racionalismo e o liberalismo conduziram o Estado do século XIX à sua política de força e à sua civilização secularizada.

“Tornava-se pois inevitável que as relações da Igreja Católica com o Ocidente sofressem um deslocamento”.
Estas palavras lembram sensivelmente as condições históricas de Leão XIII, esparsas em seus diversos atos de magistério, e enunciadas num corpo harmônico na Encíclica “Parvenu à la vingt-cinquième année”:

Luis VI, rei da França, diante do Papa Calixto II
Luis VI, rei da França, diante do Papa Calixto II
a Idade Media representara na história do Ocidente cristão o ponto mais alto, em matéria de influência da Igreja sobre a vida pública, as leis e a cultura.

Veio depois o protestantismo, explosão de liberalismo religioso, que conduziu à Revolução Francesa, explosão de liberalismo político, a qual teve por fruto a sociedade secularizada do século passado.

Acerca do luminoso ponto de partida desse triste processo, a Idade Media, Leão XIII, em sua Encíclica “Immortale Dei”, tem estas palavras cheias de admiração e ternura:

“Tempo houve, em que a filosofia do Evangelho governava os Estados.

“Naquela época, a influência da sabedoria cristã e sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e relações da sociedade civil.

“Então, a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, florescia por toda a parte, graças ao favor dos príncipes e à proteção legitima dos magistrados.

“O Sacerdócio e o Império estavam então ligados entre si por uma feliz concórdia e uma amistosa permuta de bons ofícios.

“Assim organizada, a sociedade civil produziu frutos superiores a qualquer expectativa”.

Mas, lendo-se com atenção os documentos do ilustre Papa, vê-se que ele considera que nem todos os fatos ocorridos da Idade Media para cá, constituíram decadência.

Profundamente golpeado, o Ocidente cristão continuou entretanto a progredir.

Mais ou menos como um adolescente contaminado de tuberculose — a comparação é nossa — em que ao mesmo tempo pode crescer o organismo e progredir a moléstia.



(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, “Fidelidade ao passado e liberdade de ação para o futuro”, Catolicismo nº 61, janeiro de 1956)




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Nobres e vassalos num relacionamento de pai para filho

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Homenagem dos ganteses a Luis de Male
O povo de Gante rende homenagem a Luis de Male
Luis Dufaur
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Após a queda do Império Romano, os bárbaros e os maometanos invadiram sucessivamente a Europa.

Eles matavam os trabalhadores manuais ou os reduziam a escravos.

Então, os camponeses pediam aos patrões para recebê-los na casa deles. E os patrões de pena deles e achando que era justo protegê-los, pois eram católicos, começaram a construir em torno de suas casas recintos muito grandes com muralhas de pedra.

Em cima das muralhas, instalaram um passadiço por onde os guerreiros podiam ver de longe. Se viam chegar os invasores, eles batiam um sino e todos os homens vinham guarnecer a parte alta da muralha.

De cima, eles atiravam flechas ou esperavam que os atacantes subissem em escadas. Quando a escada estava cheia de atacantes, eles pegavam a ponta da escada apoiada na muralha e jogavam no chão. Eles jogavam também água fervendo.



muralhas de CarcassonneOs patrões, aos poucos, construíram torres e portas fortificadas. A porta era especialmente preparada com toras de madeira ligadas por placas de metal.

No teto da porta eles punham frestas e em cima tachos com fogueiras que eles acendiam óleo ardente.

Quando os invasores entravam, dessas frestas caía óleo em ebulição, e com isso eles continham a invasão.

Eles fizeram também grades que desciam por máquinas. Limar as grades com óleo caindo o tempo inteiro junto era impraticável. Em última análise a casa do senhor ficava fortificada.

A casa do patrão deixou de ser exclusivamente dele para ser um enorme braço paterno segurando em torno de si toda a população local.

Para construir tudo isso era preciso ter cabeça. Os patrões naturalmente tinham, os empregados não tinham.

Quem dirigia a defesa era o patrão. Depois, o patrão era homem de combate, porque em época de paz quem matava as feras que haviam no mato para os camponeses trabalharem livremente eram os patrões.

Em época de paz, os patrões viviam em luta contra javalis e animais selvagens de toda ordem das florestas profundas da Europa. Os empregados não eram homens de guerra, eles eram homens de trabalho.

Os patrões no tempo de guerra comandavam porque sabiam como dirigir uma guerra e eles não sabiam. Então as relações entre patrões e empregados acabaram sendo relações de pais e filhos inteiramente.

Capela do castelo de Lourdes, Idade Media
Capela do castelo de Lourdes. A entrada é pela porta lateral
No centro dos castelos havia a jóia e o tesouro: a capela. Um padre, ou, às vezes, dois ou três, celebravam missa todos os dias e davam comunhão.

Durante o ataque, os capelães não podiam combater, porque era missão deles não usar as armas, mas eles estavam junto aos defensores incitando: "Coragem, Deus o quer!"

Mostravam um crucifixo e iam para frente. "Vamos salvar a cruz"! Os homens do povo iam todos. O senhor feudal ia à frente, com espada, couraça, elmo, montando a cavalo.

Ele era o chefe e o pai daquele povo.

Como é que isso nasceu? Alguém fez um bonito plano? Não!

O castelo era a segunda casa dos populares, sua segurança e sede da igrejinha
O castelo era a segunda casa dos populares, sua segurança
e sede da igrejinha. Castelo de Hirschhorn
Foi espontaneamente, as circunstâncias obrigaram a que isso fosse assim. Assim nasceu na era medieval a maior parte dos castelos da Europa.

Castelos com altas torres e muralhas, lindas portas.

No centro do castelo a torre de menagem, mais alta do que todas, e de onde eles podiam soltar pombos correio para avisar aos aliados: "Nós estamos sitiados venha nos ajudar."

Dessa torre partiam subterrâneos para lugares onde os donos e os empregados podiam fugir, caso estivessem perdendo a batalha em cima, porque os subterrâneos percorriam uma zona grande e iam abrir lá longe onde o adversário nem imaginava que abrisse. Essa defesa os empregados deviam aos patrões.

Isso criou uma mudança radical nas relações dos patrões com os empregados.
Antes das invasões havia apenas o patrão e o empregado.

Depois, o empregado ficou dependendo da direção do patrão para fazer uma guerra de defesa eficaz.

E o patrão ficou chefe militar, não apenas o chefe econômico.

Era portanto, muito mais admirado e respeitado do que um simples chefe civil.

Ele passou a ser uma espécie de reizinho do lugar: o senhor feudal do lugar.

Roupas e costumes da Normandia medievalÉ natural que o senhor feudal do lugar se traje melhor, tome uma melhor educação, coma melhor, enfim, se esplendorize e enriqueça.

Por essa razão eles passaram a ser os chefes respeitados, os nobres.

Enquanto o operário, o camponês e o trabalhador manual ficaram plebeus.

Não tinham os sinais externos esplendorosos, mas tampouco tinham as obrigações complicadas e dolorosas dos nobres.

A diferença entre as duas classes se fez normalmente.

O nobre foi produto de uma germinação local e que deu na linda nobreza europeia.

No Brasil, coisa análoga se deu nos tempos da evangelização e conquista do país para a civilização em torno das primeiras fazendas e engenhos.



Plinio Correa de Oliveira, sem revisão do autor.




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Os escolásticos medievais fundaram a economia científica

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Um dado muito pouco conhecido é que a Igreja inspirou o pensamento econômico na Idade Média.

Até então os homens não tinham racionalizado os sistemas econômicos.

Alguns grandes pensadores como Aristóteles trataram de alguns problemas muito básicos da atividade econômica.

Porém, a imensa maioria dos homens e as civilizações antigas tocavam a vida econômica em função da agricultura, o artesanato, o comércio e o intercâmbio básico, e não raciocinavam sobre isso.

Para eles, a economia era o que a palavra significa ao pé da letra : as "regras da casa" ou "administração doméstica" ( de 'eco' = casa e 'nomos' = regras ou costumes).

Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, em sua History of Economic Analysis (1954), disse dos escolásticos (a escola teológica que unificiou a linguagem e a formulação dos conceitos na Idade Média):
“Foram eles os que chegaram, mais perto do que qualquer outro grupo, a serem os ‘fundadores’ da economia científica”.
Jean Buridan (1300-1358), reitor da Universidade de Paris, deu importantes contribuições à moderna teoria da moeda.

Nicolas Oresme (1325-1382), aluno de Buridan e padre fundador da economia monetária, estudou com prioridade os efeitos destrutivos da inflação.

Martín de Azpilcueta (1493-1586), escolástico tardio, escreveu sobre a carestia provocada pelo aumento de meio circulante (moeda).

Em bispados e abadias se começou a raciocinar
sobre a boa ordenação das atividades humanas.
Foto: abadia de Fontenay, França
O Cardeal Caietano (1468-1534) justificou moralmente o comércio internacional.

Ele também demonstrou como a expectativa sobre o valor futuro da moeda afeta o presente do mercado. Algo relacionado com os modernos mercados futuros.

Para Murray Rothbard, economista americano da Escola Austríaca do século XX, “o Cardeal Caietano, um príncipe da Igreja do século XVI, pode ser considerado o fundador da teoria da expectativa em economia".

O franciscano Jean Olivi (1248-1298) foi o primeiro a propor uma teoria do valor subjetivo, e mostrou que o "justo preço" emerge da interação entre compradores e vendedores no mercado.

Um século e meio depois, São Bernardino de Siena, o maior pensador econômico da Idade Média, consagrou esta teoria.




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Superioridade da família na Idade Média em relação ao paganismo antigo (e moderno!)

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Não poderíamos apreender melhor a importância desta base familiar do que, por exemplo, comparando a sociedade medieval, composta de famílias, com a sociedade antiga, composta de indivíduos.

Na Antiguidade

Nesta, o varão detém a primazia em tudo: na vida pública ele é o civis, o cidadão que vota, que faz as leis e toma parte nos negócios de Estado; na vida privada, é o pater familias, o proprietário de um bem que lhe pertence pessoalmente, do qual é o único responsável, e sobre o qual as suas atribuições são quase ilimitadas.

Em parte alguma se vê a sua família ou a sua linhagem participando na sua atividade.

A mulher e os filhos estão inteiramente submetidos a ele, em relação a quem permanecem em estado de menoridade perpétua.

Sobre eles, como sobre os escravos ou sobre as propriedades, tem o jus utendi et abutendi, o poder de usar e consumir.

A família parece existir apenas em estado latente, não vive senão pela personalidade do pai, que é simultaneamente chefe militar e grande sacerdote, com todas as conseqüências morais que daí decorrem, entre as quais é preciso colocar o infanticídio legal.

A criança, na Antiguidade, era a grande sacrificada, um objeto cuja vida dependia do juízo ou do capricho paterno.



Estava submetida a todas as eventualidades da troca ou da adoção, e quando o direito de vida lhe era concedido, permanecia sob a autoridade do pater familias até à morte deste.

Mesmo então não adquiria de pleno direito a herança paterna, já que o pai podia dispor à vontade dos seus bens por testamento.

Quando o Estado se ocupava dessa criança, não era de todo para intervir a favor de um ser frágil, mas para realizar a educação do futuro soldado e do futuro cidadão.

Poderíamos estudar a Antiguidade — e estudamo-la de fato — sob a forma de biografias individuais: a história de Roma é a de Sila, Pompeu, Augusto; a conquista dos gauleses é a história de Júlio César.

Na Idade Média

Nada subsiste desta concepção na nossa Idade Média. O que importa então já não é o homem, mas a linhagem.

Ao se abordar a Idade Média, uma mudança de método impõe-se: a história da unidade francesa é a da linhagem capetiana; a conquista da Sicília é a história dos descendentes de uma família normanda, demasiado numerosa para o seu patrimônio.

Para compreender bem a Idade Média, é preciso vê-la na sua continuidade, no seu conjunto.

Talvez por isso ela é muito menos conhecida e muito mais difícil de estudar do que o período antigo, porque é necessário apreendê-la na sua complexidade, segui-la na continuidade do tempo, através dessas cortes que são a sua trama.

E é preciso fazê-lo não apenas em relação às que deixaram um nome pelo brilho dos seus feitos ou pela importância do seu domínio, mas também nas gentes mais humildes das cidades e dos campos, que é preciso conhecer na sua vida familiar se quisermos dar conta do que foi a sociedade medieval.

Isto se explica, pois durante esse período de perturbações e de decomposição total, que foi a Alta Idade Média, a única fonte de unidade, a única força que permaneceu viva foi precisamente o núcleo familiar, a partir do qual se constituiu pouco a pouco a unidade francesa.

A família e a sua base fundiária foram assim, devido às circunstâncias, o ponto de partida da nossa nação.

(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)





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Armaduras ainda surpreendem

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Armadura de cerimônia de Luis XIV
Luis Dufaur
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O uso de armadura em combate na Idade Média requeria raras condições de força e destreza – concluíram pesquisadores europeus e neozelandeses que analisaram com critérios modernos o uso delas.

A armadura medieval podia pesar 30 e até 50 kg.

Exames de esforço feitos em esteira mostraram que seu uso exigia mais que o dobro de energia empregado para a locomoção com roupas normais.

A conclusão, bastante obvia, tem agora uma medição científica.

Alberto Minetti, da Universidade de Milão, explicou que a respiração do combatente era exigida pela necessidade de mais energia e pelas restrições à expansão do tórax para respirar, impostas pelas placas de metal.

Nos testes, câmeras de alta velocidade ajudaram os cientistas a entender como os homens distribuíam a carga do peso da armadura entre seus membros durante a corrida.

Entretanto, era com esta sobrecarga que os heróis medievais desciam ao campo de batalha para defender a Igreja, a Cristandade, seus feudos e seus vassalos.

Graham Askem, da Universidade de Leeds, lembra que nem todos os guerreiros usavam armaduras completas.

Realmente muito custosas, as armaduras eram levadas por reis e grandes senhores, que dessa maneira patenteavam serem os chefes, atraindo sobre si flechas, dardos e ataques inimigos.



Armaduras no Musée des Armées, Paris
“O arqueiro inglês era levemente protegido e soldados menos nobres também deviam ter armaduras incompletas”, disse Askem ao iG.

O porte de armaduras explica a juventude dos exércitos medievais, disse Minetti.

“Certamente esses soldados estavam em forma. Caminhar pelos campos de batalha era pesado. Os músculos eram importantes, mas a capacidade aeróbica deles tinha que ser muito alta” – acrescentou.

Outra conclusão óbvia foi que o peso das armaduras influenciou no rumo das batalhas e da guerra, segundo a pesquisa divulgada na revista científica Proceedings of the Royal Society, citado pela BBC Brasil.

Elmo completo
No início da Idade Média, os cavaleiros cristãos não dominavam a técnica do aço e usavam cotas de malha e armas de ferro mais moles, pesadas, e que enferrujavam logo.

Por sua vez, os cavaleiros árabes, com couraças, escudos e cimitarras de aço, podiam usar cavalos mais leves e velozes, assumindo a iniciativa dos movimentos no campo de batalha.

Os católicos assimilaram a técnica do aço, notadamente em Toledo, Espanha. E a desenvolveram muito mais.

Porém, com o progresso geral da Cristandade, o próprio aço serviu para criar armas mais poderosas que vulneraram a resistência das armaduras.

Na batalha de Agincourt, citada pelo estudo e uma das principais vitórias da Inglaterra sobre a França, em 1415, durante a Guerra dos Cem Anos, a cavalaria francesa foi posta por terra pelos famosos arqueiros e besteiros ingleses.

No século XV, as armaduras eram construídas a partir de placas de aço interligadas, que cobriam o soldado da cabeça aos pés.

Armadura usada nos testes
Mas foram perdendo sua importância militar com o aparecimento de armas de fogo.

Se elas perderam utilidade, ganharam muito em beleza e simbolismo.

Até Luís XIV, no século XVII, mandou fazer sua armadura completa que pode ser vista no Museu dos Inválidos, em Paris.

Hoje o desenvolvimento de novas armas puxou a de novas formas de proteção, como os coletes à prova de bala ou as blindagens cerâmicas dos tanques modernos.

A modernidade foi capaz de dar surpreendentes passos práticos, mas não soube dar os correspondentes passos na linha da beleza para poder se comparar com as armas e armaduras medievais.

De fato, a nobreza e a beleza moral das almas que usavam as armaduras se refletiam nestas.

Na modernidade, o pragmatismo e a feiura que tomaram conta dos espíritos se refletem em muitos equipamentos de combate.





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São Bernardo à Cúria Romana: “vi a abominação na Casa de Deus”

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São Bernardo abade de Claraval. (Philippe de Champaigne, 1602 - 1674).
Na igreja de Saint-Etienne du Mont, Paris
Luis Dufaur
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No século XII escreveu São Bernardo à Cúria Romana a seguinte carta:

A meus reverendos padres, os senhores bispos e cardeais da Cúria Romana, / o irmão Bernardo, abade de Claraval, / saudações e orações.

Todos temos o direito de escrever sobre os negócios que a todos dizem respeito; de modo que não receio incorrer em censura por presunção ou excessiva ousadia ao fazê-lo agora como o faço; pois, embora seja o mais miserável de todos os fiéis, não deixo de ter muito no coração a honra da Cúria Romana.

De tal maneira me consumo de pena e me aflige a tristeza, que até a vida me pesa. E é porque vi a abominação na Casa de Deus.

Como me sinto sem poder bastante para remediar a tantos e tantos males, não me resta outro recurso senão apontá-los aos que têm poder para tal, a fim de que os emendem.



Se o fizerdes, tanto melhor; se não, eu terei exonerado minha consciência, e vós não podereis ter nenhuma escusa justa.

Não ignorais que o Papa Inocêncio [II], de gloriosa e feliz memória, havia proferido sentença, de comum acordo convosco e com toda a Cúria Romana, dispondo que se tivesse por ilícita a eleição de Guilherme [para, Arcebispo de York], e que esta fosse considerada como verdadeira e sacrílega intrusão, no caso de o outro Guilherme, Deão da Igreja [de York], não declarar sob juramento que seu homônimo era inocente de tudo quanto lhe imputavam.

Também sabeis que esta disposição tinha muito mais de indulgência que de rigor. Guilherme mesmo, o acusado, havia rogado que lhe fosse concedida essa graça.

São Bernardo de Claraval, igreja de Zwettl, ©Wolfgang Sauber
São Bernardo de Claraval, igreja de Zwettl, ©Wolfgang Sauber.
Prouvera a Deus que se tivesse cumprido o que por mútuo acordo se havia disposto! Oxalá tudo quanto se fez contra isto fosse declarado nulo!

Que aconteceu? O Deão não jurou, de modo algum, e apesar disto o outro sentou-se na cátedra da pestilência. Quem nos dera ver levantar-se um outro Finéias [Núm. 25, 7], que investisse de espada na mão contra esse fornicador!

Quem nos concedera poder ver o mesmo São Pedro, vivo em sua cátedra, para exterminar os ímpios com uma palavra de sua boca!

Muitos são os que clamam a vós do fundo da alma, e vos pedem de todo o coração o castigo exemplar de tamanho sacrilégio.

Se não acudirdes de pronto, quanto mais tardar o remédio eu vos asseguro que há de ser mais grave o escândalo de todos os fiéis.

Receio que a mesma Sé Apostólica perca grande parte de seu prestígio e se desautorize, se não fizer pesar sua mão sobre esse rebelde que calcou aos pés seus decretos, de modo tal que infunda medo aos demais e os aparte de seguir tão nefando exemplo.

* * *

São Bernardo de Claraval. (Juan Correa de Vivar, 1510-1566)
São Bernardo de Claraval. (Juan Correa de Vivar, 1510-1566)
Mas que direi das cartas secretas e verdadeiramente tenebrosas que Guilherme se jacta de haver recebido, não do príncipe das trevas, oxalá assim fosse, mas dos Príncipes mesmos, Sucessores dos Apóstolos?

Por isso, tão logo esta nova chegou aos ouvidos dos ímpios, estes se puseram a fazer chacota das disposições da Sé Apostólica e a rir da Cúria Romana, a qual, depois de haver dado uma sentença pública, contradizia-se a si mesma enviando às ocultas umas cartas que mandavam o contrário.

Que mais acrescentarei? Se depois de tudo isso não vos perturba a visão do escândalo gravíssimo que é dado tanto a fortes e perfeitos, confio a débeis e simples; se não sentis compaixão alguma pelos pobres Abades que foram chamados a Roma dos lugares mais longínquos da terra; se não vos comove a ruína de tantas casas religiosas que inevitavelmente perecerão sob a jurisdição desse opressor.

Finalmente, e para terminar por onde deveria ter começado, se não vos sentis animados sequer pelo zelo da glória de Deus, — sereis indiferentes à vossa própria desonra, derivada direta¬mente da vergonha que cairá sobre toda a Igreja?

Poderá tanto a malícia deste homem, que logre impor-se a vós?

Dir-me-eis talvez: que faremos, se ele já recebeu a sagração, ainda que de modo sacrílego?

Respondo a isto que tenho por mais glorioso derrubar Simão Mago do alto do espaço do que impedir-lhe o voo.

Por outro lado, em que situação deixareis todos os Religiosos que creem não dever receber, em consciência, nenhum Sacramento de mãos tão manchadas de lepra?

São Bernardo de Claraval, vitral do Reno superior, aprox. 1450
São Bernardo de Claraval, vitral do Reno superior, aprox. 1450
Inclino-me a crer que todos eles preferirão o desterro, antes que entregar-se à morte; antes escolherão vida errante fora da pátria, que permanecer nesta tendo que comer os alimentos oferecidos aos ídolos.

Sendo assim, se a Cúria Romana os forçasse a ir contra a consciência e a dobrar os joelhos diante de Baal, que o Deus justo peça contas disso; quanto a mim, cito-vos para seu juízo perante aquela outra Cúria Celestial que não se pode corromper com nenhum suborno.

Para terminar, este vosso servo vos suplica, pelas entranhas misericordiosíssimas do Senhor, que, se algum zelo da glória divina arde ainda em vossas almas, tomeis em consideração os males que afligem a Santa Igreja, ao menos vós que sois seus amigos, e ponhais todo o vosso empenho em impedir que se confirme uma coisa tão detestável e digna de execração.


[“Obras Completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad de Claraval”, trad. do Pe. Jaime Pons, S. J. — Ed. Rafael Casulleras, Barcelona, 1929 — vol. V, “Epistolário”, pp. 488-490, carta 236, em Catolicismo 241 de Janeiro de 1971].




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Direito de propriedade: grande e sagrado fundamento da família

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A noção da família medieval bem compreendida repousa sobre uma base material — a herança de família, bem fundiário em geral — porque desde os começos da Idade Média a terra constitui a única fonte de riqueza, e permanece consequentemente o bem estável por excelência.

Dizia-se então:
Héritage ne peut mauvoir
Mais meubles est chose volage.

Uma herança não pode movimentar-se
Mas os móveis são coisa instável.

Esta herança familiar, quer se trate de um arrendamento servil ou de um domínio senhorial, permanece sempre propriedade da linhagem.

É impenhorável e inalienável, os reveses acidentais da família não podem atingi-la.

Ninguém pode tomá-la, e a família também não tem o direito de a vender ou negociar.



Quando o pai morre, a herança de família passa para os herdeiros diretos.

Tratando-se de um feudo nobre, o filho mais velho recebe quase a sua totalidade, porque a manutenção e defesa de um domínio requer um homem, e que seja amadurecido pela experiência.

Esta a razão do morgadio, que a maior parte dos costumes consagra.

Para os arrendamentos, o uso varia com as províncias, sendo por vezes a herança partilhada, mas em geral é o filho mais velho quem sucede.

Notemos que se trata aqui da herança principal, do patrimônio de família.

Em tal circunstância as outras são partilhadas pelos filhos mais novos, mas é ao mais velho que cabe o “solar principal”, com uma extensão de terra suficiente para ele viver com a sua família.

É justo, pois afinal o filho mais velho quase sempre secundou o pai, e depois dele é quem mais cooperou na manutenção e na defesa do patrimônio.

Em algumas províncias, tais como Hainaut, Artois, Picardie e em algumas partes da Bretanha, não é o mais velho, e sim o mais novo o sucessor da herança principal.

Uma vez mais, isso ocorre por uma razão de direito natural, porque numa família os mais velhos são os primeiros a casar, estabelecendo-se então por conta própria, enquanto o mais novo fica mais tempo com os pais e cuida deles na velhice.

Este direito do mais jovem [sem correspondência em Portugal, normalmente esta sucessão de patrimônio passava para os filhos segundos] testemunha a elasticidade e a diversidade dos costumes, que se adaptam aos hábitos familiares de acordo com as condições de existência.



(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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A família: “chave” para compreender a sociedade medieval

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Para compreender bem a sociedade medieval, é necessário estudar a sua organização familiar.

Aí se encontra a “chave” da Idade Média, e também a sua originalidade.

Todas as relações nessa época — tanto as de senhor-vassalo como as de mestre-aprendiz — se estabelecem sobre a estrutura familiar.

A vida rural, a história do nosso solo, só se explicam pelo regime das famílias que aí viveram.

Quando se queria avaliar a importância de uma aldeia, contava-se o número de “fogos”, e não o número de indivíduos que a compunham.



Na legislação, nos costumes, todas as disposições tomadas dizem respeito aos bens de família, ao interesse da linhagem, ou então estendendo esta noção familiar a um círculo mais importante — ao interesse do grupo, do corpo de ofício, que não é senão uma vasta família fundada sobre o mesmo modelo que a célula familiar propriamente dita.

Os altos barões são antes de tudo pais de família, agrupando à sua volta todos os seres que, pelo seu nascimento, fazem parte do domínio patrimonial.

As suas lutas são querelas de família, nas quais toma parte toda essa corte, a qual têm o cargo de defender e de administrar.


(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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Solidariedade familiar medieval: garantia da segurança pessoal e da propriedade

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Reconstituição da grande sala de uma casa de camponeses. Museu de Lourdes
Reconstituição da grande sala de uma casa de camponeses. Museu de Lourdes
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A solidariedade familiar, exprimindo-se se necessário pelo recurso às armas, resolvia então o difícil problema da segurança pessoal e a do domínio.

Em certas províncias, particularmente no norte da França, a habitação traduz esse sentimento da solidariedade.

O principal compartimento da casa é a sala, que congrega diante da sua vasta lareira a família. Nela se juntam para comer, para festejar os casamentos e os aniversários e para velar os mortos.

Corresponde ao hall dos costumes anglo-saxões, pois a Inglaterra teve na Idade Média costumes semelhantes aos nossos, aos quais permaneceu fiel em muitos pontos.

A esta comunidade de bens e de afeição é necessário um administrador, e naturalmente o pai de família desempenha este papel.

Mas a autoridade que ele desfruta é antes a de um gerente, em lugar de ser a de um chefe, absoluta e pessoal como no direito romano.



Numa casa de burgueses, todos bem alimentados, vestidos e aquecidos
Numa casa de burgueses, todos bem alimentados, vestidos e aquecidos
Trata-se de um gerente responsável, diretamente interessado na prosperidade da casa, mas que cumpre um dever mais do que exerce um direito.

Proteger os seres fracos — mulheres, crianças, servos — que vivem debaixo do seu teto, assegurar a gestão do patrimônio, tal é o seu encargo, mas não é considerado o chefe definitivo da casa familiar nem o proprietário do domínio.

Embora desfrute os seus bens patrimoniais, tem apenas o seu usufruto. Tal como os recebeu dos antepassados, deve transmiti-los àqueles cujo nascimento designará para lhe sucederem.

O verdadeiro proprietário é a família, não o indivíduo.

Do mesmo modo, embora possua toda a autoridade necessária para as suas funções, o pai de família está longe de ter, sobre a mulher e os filhos, esse poder sem limites que lhe concedia o direito romano.

A mulher colabora na mainbournie, quer dizer, na administração da comunidade e na educação dos filhos.

Ele gere os bens próprios, porque o consideram mais apto do que ela para os fazer prosperar, coisa que não se consegue sem esforço e sem trabalho.

Mas quando ele tem de se ausentar, por uma razão qualquer, a mulher retoma essa gestão sem o mínimo obstáculo e sem autorização prévia.

Na casa dos nobres se privilegiava a cultura e os blasões
Na casa dos nobres se privilegiava a cultura e os blasões
Guarda-se tão viva a recordação da origem da sua fortuna, que no caso de a mulher morrer sem filhos os seus bens próprios voltam integralmente para a sua família.

Nenhum contrato pode opor-se a isto, as coisas passam-se naturalmente assim.

Em relação aos filhos, o pai é o guardião, o protetor e o mestre. A sua autoridade paterna cessa na maioridade, que adquirem muito jovens, quase sempre aos quatorze anos entre os plebeus.

Entre os nobres, a idade varia de quatorze a vinte anos, porque têm de fornecer para a defesa do feudo um serviço mais ativo, que exige forças e experiência.

Os reis da França eram considerados maiores com quatorze ou quinze anos, e sabe-se que foi com esta idade que Filipe Augusto atacou à frente de suas tropas.

Uma vez maior, o jovem continua a gozar da proteção dos seus e da solidariedade familiar. Porém, diferentemente do que se passava em Roma, e consequentemente nos países de direito escrito, adquire plena liberdade de iniciativa e pode afastar-se, fundar uma família, administrar os seus próprios bens como entender.

Logo que é capaz de agir por si mesmo, nada entrava a sua atividade e ele torna-se senhor de si próprio, mantendo no entanto o apoio da família de que saiu.

É uma cena clássica dos romances de cavalaria ver os filhos da casa, logo que estão em idade de usar armas e de receber a investidura, deixar a residência paterna para correr o mundo ou ir servir o seu suserano.


(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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Linhagens familiares: verdadeira estrutura da sociedade medieval

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A história da feudalidade não é outra senão a das principais linhagens.

E que será, no fim de contas, a história do poder real do século X ao século XIV?

A de uma linhagem, que se estabelece graças à sua fama de coragem, ao valor de que os seus antepassados tinham feito prova.

Muito mais que um homem, é uma família que os barões colocaram na sua liderança.

Na pessoa de Hugo Capeto viam o descendente de Roberto, o Forte, que tinha defendido a região contra os invasores normandos; ou de Hugo, o Grande, que tinha já usado a coroa.

De fato, é o que transparece no famoso discurso de Adalbéron de Reims:

“Tomai por chefe o duque dos francos, glorioso pelas suas ações, pela sua família e pelos seus homens, o duque em quem encontrareis um tutor não só dos negócios públicos, mas dos vossos negócios privados”.



Esta linhagem manteve-se no trono por hereditariedade, de pai para filho, e viu os seus domínios crescerem por heranças e por casamentos, muito mais que por conquistas.

É uma história que se repete milhares de vezes na nossa terra, em diversos níveis, e que decidiu uma vez por todas os destinos da França, fixando na sua terra linhagens de camponeses e de artesãos, cuja persistência através dos reveses dos tempos criou realmente a nossa nação.

Na base da “energia francesa” há a família, tal como a Idade Média a compreendeu e conheceu.




(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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O sobrenatural e o maravilhoso na vida do medieval

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Junto ao mar, numa península com forma de cruz, um santo eremita construiu um mosteiro nos tempos que a Gália, ainda não era a França.

Mas o mosteiro foi derrubado. Algum tempo depois, um outro veio e construiu outro mosteiro.

E esse mosteiro foi derrubado, se minha memória não me trai, por ocasião da Revolução Francesa.

Se no Reino de Maria se mandar construir um mosteiro em louvor a Nossa Senhora nessa península, com sentido reparador, etc., vai ser muito bonito.

Há um certo lugar na França onde se tornou lendária a presença de um homem que teria vivido lá pela alta Idade Média, conhecido como “o louco da floresta”.

Esse homem era doido, e ele apenas sabia dizer "Ave Maria!". Com todas as pessoas que ele encontrava ele só dizia "Ave Maria!"

A pessoa perguntava alguma coisa, e ele respondia: "Ave Maria, Ave Maria!".

Depois saía e continuava a vaguear pela floresta.

Quando ele morreu, enterraram-no.

Depois, por uma necessidade prática qualquer, foi preciso desenterrá-lo para pôr no lugar uma construção.

Então abriram o caixão dele, e encontraram que de sua boca saía um lírio lindíssimo.

E, em cada pétala do lírio, estava escrito com letras de ouro, “Ave Maria”.

O que há de sabedoria na história desse louco que só diz “Ave Maria” é tão quintessenciada que eu nem encontro palavras adequadas para louvar.

Esse símbolo nos toca muito porque ele enuncia um princípio contido num fato que toca a sensibilidade do homem.

E esse principio encarnado no fato tem uma força de impacto que qualquer outro símbolo mais estudado – talvez mais culturalizado – tem, mas muito menos.

Toda a mitologia grega e romana, ou então a mitologia romântica neo-pagã do século XIX que se pode perceber, por exemplo, nas músicas de Wagner, não é nada em comparação com isto.





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Crescente interesse pelo estudo da Idade Média em ambientes acadêmicos

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1. Nas últimas décadas, a Idade Média vem suscitado um interesse crescente.

Desde os anos 50, aproximadamente, os estudos medievais conquistaram um posto de honra na historiografia, razão pela qual têm sido amplamente divulgados no Brasil; mas essa curiosidade já extrapolou os restritos círculos acadêmicos.

Nos dias de hoje, a Idade Média exerce também uma fascinação irrecusável sobre a imaginação do grande público, conforme testemunham a crescente quantidade de publicações de textos literários medievais e o fato de que recriações das narrativas sobre o rei Artur, o Santo Graal ou o mago Merlin sejam atualmente responsáveis por alguns best-sellers nas livrarias e por gordas bilheterias nos cinemas: é o sucesso da Idade Média na sociedade de consumo.

Esse interesse é bem compreensível, pois falar da Idade Média é, de certa forma, falar de nós mesmos.



Ela representa o longo período de gestação no qual foi criado o mundo moderno: as atuais nações europeias, das quais derivamos, juntamente com suas respectivas línguas e literaturas, são parte do legado medieval.

Nosso quotidiano está repleto de inovações surgidas naquela época, como as universidades, os bancos, e ainda a imprensa, o relógio mecânico e os óculos.

De acordo com Hilário Franco Júnior, devemos à Idade Média inclusive a origem dos modernos sistemas de representação política e os fundamentos da mentalidade científica que caracterizam a civilização ocidental(1).

Pode-se afirmar, portanto, que os estudos medievais também auxiliam a compreender a história e a cultura dos países americanos: a própria expansão marítima, que ocasionou a descoberta do Novo Mundo, tem suas raízes solidamente vincadas na Idade Média.

Temas da literatura medieval, como a gesta de Carlos Magno, permanecem vivos ainda hoje na poesia de cordel nordestina; além disso, é sabido que diversos escritores brasileiros de nosso século, entre os quais Manuel Bandeira, Guimarães Rosa e Adélia Prado, beberam fartamente de fontes medievais.





(Autor: Raúl Cesar Gouveia Fernandes, M. Sc. Letras FFLCHUSP - Prof. Filosofia FEI, “Reflexões sobre o Estudo da Idade Média”).





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A Idade Média: era histórica mal conhecida por causa de preconceitos

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2. Apesar do significativo renovamento dos estudos sobre a Idade Média, ela ainda é muito pouco conhecida, ou — o que é pior — mal conhecida por quem não é especialista.

As noções fragmentadas e contraditórias transmitidas na escola permitem que se use (e abuse) de conceitos relativos à Idade Média segundo a conveniência de cada um: desde o militante político que apelida a perversa concentração fundiária brasileira de “feudal”, até os novos “magos” de hoje que procuram se revestir de uma aura “medieval” para vender livros de auto-ajuda.

O fato mais grave, no entanto, é que a Idade Média segue sendo vítima de um grande preconceito.

Para muitos, ela ainda representa um período no qual a humanidade, subjugada pela ignorância e flagelada pela peste, viveu oprimida sob o terror das fogueiras da Inquisição.

Afinal de contas, continua a ser aceito o rótulo de “idade das trevas”, como se no milênio que permeia a queda do Império Romano e a chegada de Colombo à América não houvesse sido criado nada que fosse digno de nota.



Que dizer então do canto gregoriano, da Divina Comédia ou dos avanços arquitetônicos que permitiram erguer catedrais ainda hoje admiradas?

Muitas vezes estes são detalhes convenientemente esquecidos a fim de justificar um quadro histórico esquemático, segundo o qual deve haver uma época de barbárie que anteceda e justifique o Renascimento do século XVI — e assim equívocos históricos injustificáveis são perpetuados(2).

Foi contra essa “lenda negra” que a medievalista francesa Régine Pernoud se insurgiu em seu livro O Mito da Idade Média(3).

3. O maior obstáculo ao conhecimento da Idade Média é justamente o arraigado preconceito que nutrimos acerca deste período.

Estimulado por uma idéia preconcebida, o estudioso pode incorrer no erro de reduzir a pesquisa histórica à mera seleção de dados que corroborem sua impressão inicial.

Acreditamos, por exemplo, ser este o defeito de O Nome da Rosa, famoso romance de Umberto Eco ambientado num mosteiro beneditino do século XIV.

Embora o autor demonstre possuir conhecimento detalhado de algumas particularidades da cultura medieval, o resultado é no mínimo parcial: foram escolhidos apenas os elementos mais estereotipados do já gasto bordão sobre a Idade Média crédula e obscurantista.

O fato de se tratar de um texto de ficção não muda os dados do problema.

Veja-se a cena do incêndio da biblioteca ao final do romance: é destacada a destruição de livros, mas esqueceu-se de dizer que, se não fosse pela obra anônima dos monges que preservaram e estudaram com a proverbial paciência beneditina a obra dos escritores antigos ao longo de mil anos, ela não teria chegado até nós(4).

O conhecimento autêntico pressupõe aquela “vontade de nos enriquecermos, de sairmos de nós mesmos” que Henri-Irenée Marrou associava à virtude da docilitas, a humilde demanda da verdade(5).

“Sair de nós mesmos”, neste caso, significa estar disponíveis a ouvir com atenção o que os documentos históricos têm a nos revelar, que é o contrário de projetar sobre eles idéias ou teorias preestabelecidas.

Com efeito, a verdade pode nos enriquecer apenas se a procurarmos livres de qualquer tipo de censura prévia.



(Autor: Raúl Cesar Gouveia Fernandes, M. Sc. Letras FFLCHUSP - Prof. Filosofia FEI, “Reflexões sobre o Estudo da Idade Média”). 


Continua no próximo post: Preconceitos e anacronismos obscurecem a verdade sobre a Idade Média



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Preconceitos e anacronismos obscurecem a verdade sobre a Idade Média

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Catedral de Bristol
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Continuação do post anterior: A Idade Média: era histórica mal conhecida por causa de preconceitos


5. Até aqui insistimos sobre a necessidade de se adotar uma atitude de abertura e submissão aos documentos, alertando para o fato de que preconceitos e anacronismos podem distorcer os resultados da pesquisa.

De fato, a realidade histórica sempre se revela mais densa, complexa e rica do que certos conceitos dos quais facilmente nos tornamos prisioneiros.

Frisar a exigência de fidelidade às fontes, no entanto, não quer dizer que o ofício do historiador seja meramente passivo ou receptivo.


Ao estudioso cabe a tarefa de fazer os documentos falarem. Muitas vezes, o material analisado parece bem pouco eloquente; a quantidade e a qualidade das informações que serão extraídas dele dependem da habilidade do historiador ao questioná-lo.


A pesquisa não se resume à compilação de informações que os documentos já fornecem “prontas”: compete ao estudioso abordá-los adequadamente e formular hipóteses explicativas para os dados observados.

Sendo assim, a documentação histórica pode ser considerada uma fonte inesgotável de conhecimentos, pois sempre poderá revelar aspectos até então ignorados se submetida a novas interrogações.

É preciso observar, contudo, que o questionamento das fontes é uma habilidade que deve ser desenvolvida, pois atualmente se cultiva mais a dúvida sistemática (que termina por imobilizar a inteligência) do que a atenção genuína aos porquês últimos da realidade.

É justamente por ter formulado interrogações que ainda não haviam sido feitas, alargando os horizontes da pesquisa histórica, que a obra de certos medievalistas têm conquistado relevância crescente.

Um dos precursores desta renovação foi Johan Huizinga, que — há 70 anos, quando a pesquisa histórica se limitava a temas políticos e econômicos — procurou descrever os ideais, os sentimentos e as formas de pensamento do homem medieval, numa obra que continua estimulante ainda hoje(10).

Prof. Georges Duby
Estava aberto o caminho para a “nova história”, escola à qual se filiam historiadores do porte de Jacques le Goff e Georges Duby.

6. Se o resultado da análise é condicionado pelo questionamento proposto pelo estudioso, conclui-se que a investigação histórica será sempre inevitavelmente plasmada pela personalidade do pesquisador.

Os documentos históricos são “testemunhos da experiência de homens do passado”; como tais, solicitam que também a experiência humana de quem os lê entre em jogo para serem compreendidos(11).

Quanto mais atento e curioso for o pesquisador, mais fecunda será portanto sua investigação: “o valor do conhecimento histórico é diretamente função da riqueza interior, da abertura de espírito, da magnanimidade de quem o elaborou. (...) O historiador deve ser também, primeiro que tudo, um homem plenamente homem, aberto a tudo o que é humano”(12).

E não poderia ser de outra forma: o historiador, em particular o medievalista, lida com elementos que, embora cronologicamente distantes, dizem algo a respeito de sua própria pessoa e da sociedade na qual ele vive.

A pesquisa histórica pode ser descrita, portanto, como um encontro. Neste encontro com o outro reconheceremos, para além das diferenças, uma série de afinidades, graças às quais é possível estabelecer um diálogo com o passado.

Com efeito, “é nesta tensão entre o mesmo e o outro que o conhecimento da humanidade mais antiga pode continuar a enriquecer nossa existência, num século em que a ansiedade do homem nasce do questionamento de todas as suas referências fundamentais”.

Por isso, a história se escreve “apoiando-se ao mesmo tempo na presença da memória do passado e na compreensão da distância que existe entre esse passado e o presente”(13).

Exemplar, neste sentido, é a reflexão de Régine Pernoud acerca das origens medievais dos conceitos de casamento e direitos da mulher, temas que estão no centro de debates cruciais dos dias de hoje(14).



Continua no próximo post: Retomada dos estudos sobre a Idade Média: vitória da verdade histórica


(Autor: Raúl Cesar Gouveia Fernandes, M. Sc. Letras FFLCHUSP - Prof. Filosofia FEI, “Reflexões sobre o Estudo da Idade Média”). 





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