A vinda de Cristo em majestade ocupava lugar central na cosmovisão de Cluny. Berzé-la-Ville, capela dos monges, inspirada na grande igreja de Cluny III |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No século XX os estudos sobre Cluny se multiplicaram.
Deles o mosteiro saiu engrandecido, e sua gloriosa história, mais bem conhecida, provoca o interesse sempre crescente dos pesquisadores, suscitando mesmo em alguns um verdadeiro entusiasmo.
O pequeno mosteiro fundado em 910 pelo Bem-aventurado Bernon em terras doadas pelo Duque da Aquitânia, Guilherme o Piedoso, teve quatro grandes Abades — Santo Odon, São Maïeul, Santo Odilon e São Hugo.
Seus longos abaciatos se estenderam por dois séculos, constatando-se com surpresa que nesse período Cluny reformou completamente a vida monástica na Europa, contribuiu de modo eficaz para a reforma da Igreja, formou a Cristandade nos seus mais variados aspectos e a conduziu aos grandes feitos da Idade Média.
Cluny conquistou rapidamente a liderança da vida religiosa do Ocidente e nela se manteve, pelo menos durante o governo dos seus quatro grandes abades, com glória e majestade.
“Com Cluny – diz um historiador –, ao longo desses dois séculos ter-se-á essa impressão de solidez e permanência na tradição que, no passado, se esperava da Santa Sé; Cluny é verdadeiramente uma nova Roma” (Delaruelle, Latreille, Palanque, “Histoire du Catholicisme en France”, vol. I, p. 251).
“Não sei — diz outro autor — que entusiasmo, que voga, que moda salutar atrai todo mundo, Papas, príncipes e monges, a Cluny, como ao porto mais seguro.”
O estrangeiro se contagia: a Espanha e a Inglaterra. Cluny torna-se o guardião oficial da regularidade monástica.
“Um mosteiro decai na observância, o Papa o entrega ao zelo cluniacense. Hugo parece ser verdadeiramente o Abade dos abades, e, com exceção do Papa, ninguém é comparável a ele na Cristandade” (D. Charles Poulet, “Histoire de l’Église de France”, t. I, p. 124).
Torre de Cluny, a única remanescente da depredação revolucionária. |
Lá encontramos os cluniacenses dirigindo a Imperatriz Adelaide e ajudando com seus conselhos espirituais e políticos os três primeiros Otons, Conrado e Santo Henrique II a trabalharem pela restauração do Império de Carlos Magno.
É a reconquista espanhola que nos interessa?
De novo os cluniacenses aparecem colaborando na luta contra os muçulmanos.
É a história do Papado que nos chama a atenção?
Os cluniacenses lá estão para retirá-lo do opróbrio em que caíra nos séculos IX e X, e, cerrando fileiras em torno de um de seus monges, São Gregório VII, colaboram com ele na luta gigantesca que esse grande Papa trava com o Imperador Henrique IV para afirmar a primazia do espiritual sobre o temporal.
São as canções de gesta que despertam o nosso interesse?
Surge Cluny, com todo o seu prestígio, compondo, incentivando, propagando essas epopeias da Cristandade.
É o feudalismo que nos atrai?
Não terá sido Cluny o criador do feudalismo católico?
Enfim, é a Cristandade, em todo o seu esplendor, que nos seduz?
Como negar que foi esse incomparável mosteiro que a modelou com a perfeição com que hoje a conhecemos pela História?
(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”)