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O feudalismo e a Igreja

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Não se trata aqui de fazer a apologia do feudalismo sob os dois pontos de vista — o social e o político.

Mas o passado pertence à justiça, e a justiça impõe aos homens imparciais e sinceros o dever de reconhecer uma verdade tão brilhante quanto a luz do dia, declarando que a época feudal foi, de todas as fases percorridas até agora pela sociedade temporal, a mais constantemente favorável ao desenvolvimento da Igreja.

Após um estudo mais consciencioso dos fatos, não temos receio de proclamar: de todas as potências que reinaram sobre o mundo antes ou depois da aristocracia feudal da Idade Média, nenhuma atribuiu à Igreja tão grande porção de autoridade, de riquezas, de honra, e sobretudo de liberdade, tão prodigamente espalhadas sobre a face da Terra.



Nenhuma escutou de modo tão respeitoso a sua voz, dedicada à defesa de suas liberdades e de seus direitos, com tão numerosos e tão valentes exércitos; nenhuma, enfim, povoou seus santuários com tão grande número de fiéis e de santos.

Atacar o feudalismo em nome da Igreja, esse sistema que obteve para ela tudo o que a monarquia e a democracia tomaram para si, é ao mesmo tempo o cúmulo da ignorância e da ingratidão.


(Fonte: Montalembert, "Les moines d’Occident")






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Sem a Cristandade medieval nunca teria reinado a paz na Europa

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Bárbaros antes da cristianização.
Bárbaros antes da cristianização.




A Idade Média, tal como se apresentava, corria o risco de nunca conhecer senão caos e decomposição.

Nascida de um império desmoronado e de vagas de invasões sucessivas, formada por povos desarmônicos.

Esta Europa tão dividida, tão perturbada quando do seu nascimento, atravessa uma era de harmonia e de união tal como ela nunca conhecera e não conhecerá talvez mais no decorrer dos séculos.

Vemos a Europa inteira estremecer à palavra de um Urbano II, de um Pedro, o Eremita, mais tarde de um São Bernardo ou de um Foulques de Neuilly.

Vemos monarcas, preferindo a arbitragem à guerra, submeter-se ao julgamento do papa ou de um rei estrangeiro para regularizar as suas dissensões.

Praticamente, a Cristandade pode definir-se como a “universidade” dos príncipes e dos povos cristãos obedecendo a uma mesma doutrina, animados de uma mesma fé, e reconhecendo desde logo o mesmo magistério espiritual.



Esta comunidade de fé traduziu-se numa ordem europeia assaz desconcertante para cérebros modernos, bastante complexa nas suas ramificações, grandiosa, contudo, quando a examinamos no seu conjunto.

A paz na Idade Média foi muito precisamente, segundo a bela definição de Santo Agostinho, a “tranqüilidade” desta ordem.

Nas relações entre a Igreja e os Estados; estamos habituados a ver na autoridade espiritual e na autoridade temporal dois poderes claramente distintos.

Contudo se nos integrarmos na mentalidade da época não é a Santa Sé que impõe o seu poder aos príncipes e aos povos, mas estes príncipes e estes povos, sendo crentes, recorrem naturalmente ao poder espiritual, quer eles queiram fazer fortalecer a sua autoridade ou respeitar os seus direitos, quer desejem fazer solucionar as suas questões por um árbitro imparcial.

A tentativa audaciosa de unir os dois poderes, o espiritual e o temporal, para o bem comum se salda num êxito.

Era uma garantia de paz e de justiça este poder moral (da Igreja) do qual não se podiam infringir as decisões sem correr perigos precisos, entre outros o de se ver despojado da sua própria autoridade e afastado da estima dos seus súditos.

Durante a maior parte da Idade Média, o direito de guerra privada continua considerado como inviolável pelo poder civil e pela mentalidade geral; manter a paz entre os barões e os Estados apresenta, portanto, imensas dificuldades, e, se não fosse a Cristandade, a Europa corria o risco de nunca passar de um vasto campo de batalha.

(Autor: Régine Pernoud, “Luz sobre a Idade Média”, 1996, Publicações Europa-América.)



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Monges fazem a melhor cerveja do mundo, como na Idade Média

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Westvleteren XII a melhor cerveja do mundo é feita por monges trapistas que levam vida de penitência.
Westvleteren XII a melhor cerveja do mundo
é feita por monges trapistas que levam vida de penitência.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Há perto de três anos pudemos comentar um artigo vindo da França, narrando que a cerveja Westvleteren XII, produzida pelos monges trapistas da abadia de São Sixto de Westvleteren, na Bélgica, ocupava o primeiro lugar das melhores cervejas do mundo, segundo o site americano especializado www.rateBeer.com.

Mas as modas mudam. Há pressões econômicas para transformar em puro negócio aquilo que é uma tradição religiosa de vários séculos.

Também o chamado “progressismo católico” tem uma declarada animadversão aos costumes e às tradições católicas que remontam à Idade Média, uma idade de fé em que o Evangelho penetrava todas as instituições, segundo ensinou o Papa Leão XIII.

No mês de junho do presente ano (2016), o site da revista italiana “Pane & Focolare”trouxe a notícia de que os monges trapistas de São Sixto de Westvleteren prosseguem imperturbáveis a tradição de fabrico de cerveja artesanal da mais alta qualidade.

E que, em consequência, essa cerveja monacal continua sendo votada como a melhor do mundo no referido site de apreciadores da bebida. Confira.

Os monges não querem saber de um aumento de produção ou qualquer argumento econômico que possa por em perigo o recolhimento de sua vida monástica.

A imagem representa um monge da abadia de São Sixto de Westvleteren que faz a famosa cerveja.
A imagem representa um monge da abadia
de São Sixto de Westvleteren que faz a famosa cerveja.
Continuam produzindo a melhor cerveja do mundo sem finalidade de lucro, para garantir sua sobrevivência, sem procurar notoriedade ou fama.

Os Trapistas (Ordem dos Cistercienses de Estrita Observância) possuem 171 monastérios no mundo, mas apenas oito têm o direito de usar o logo Authentic Trappist Product.

Um deles é o de São Sixto de Westvleteren, na fronteira da Bélgica com a França.

Com formato delicado e elegante, a garrafa não tem etiqueta alguma: todas as informações estão na tampinha. Ela vem sendo produzida desde 1838 somente para sustento do convento.

Tampouco produzem o ano todo, e só vendem num período limitado deste.

Quando a data se aproxima, a notícia se espalha como mancha de óleo, sem publicidade.

O Padre Joris, responsável pela produção, explicou ao jornal americano de grande tiragem USA Today por que não vão aumentar a quantia elaborada:

“Não somos produtores de cerveja. Somos monges. Produzir cerveja nos permite ser monges. Não há motivo para ganhar dinheiro.

“Se aumentássemos a produção e abríssemos franquias, esta atividade deixaria de ser parte integrante da nossa existência.

“Portanto, a produção ficará em 4.500 hectolitros por ano, com uma venda ao público limitada num período de 70 a 75 dias”.

As abadias medievais levaram ao requinte a produção de cerveja.
As abadias medievais levaram ao requinte a produção de cerveja.
Nenhuma comercialização em grande escala ou e-commerce.

No dia em que começa a venda ao público, a região é invadida, tendo sido registradas filas de carros de três quilômetros.

A polícia é mobilizada para garantir a ordem.

Os monges recomendam a seus clientes de não revenderem a cerveja com finalidades lucrativas, sobretudo evitarem a sua comercialização a preços injustos, pois a garrafinha chega a ser oferecida na Internet por 450 dólares.

Recentemente, os monges tiveram de reformar o mosteiro, danificado por obra dos anos. Para reunir os fundos necessários, criaram uma bela caixinha com os dizeres “Uma cerveja por um tijolo”, também em número limitado, solicitando ajuda para a ampliação do mosteiro e a restauração do claustro da Abadia.

Como na Idade Média, na fidelidade estrita ao “Ora et labora” do grande São Bento, fundador da família beneditina há XVI séculos!

Video: Degustação da Westvleteren XII






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A fecundidade do silêncio dos mosteiros da Idade da Luz

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Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino
Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino




Os monges não trabalhavam nem em benefício próprio, nem mesmo pelo sucesso, mas unicamente para a glória de Deus.

Seu objetivo era o de fazer reviver, na memória de seus irmãos, os acontecimentos passados de seu tempo e de sua região; de relembrar aquilo que eles haviam testemunhado ou que lhes havia sido transmitido pela tradição.



Ora, graças à organização social da Idade Média, essa tradição tornara-se tão poderosa quanto durável.

Os monges escreviam na intimidade da paz e da liberdade do claustro, com toda candura e sinceridade na alma.

Calmos no interior da segurança, da obediência claustral e das alegrias da santa pobreza, os monges analistas ofereciam aos cristãos o fruto fecundo de seus longos estudos, que a vida no mundo completava com conhecimentos históricos.







(Autor: Montalembert, "Les Moines d'Occident" - Vol. VI, p. 234)



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Convocação de Cruzada pelo beato Papa Urbano II

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A catedral de Clermont-Ferrand construída no local onde o Papa Urbano II pregou a primeira Cruzada.
A catedral de Clermont-Ferrand construída no local
onde o Papa Urbano II pregou a primeira Cruzada.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




No dia 27 de novembro de 1095, no encerramento do Concílio de Clermont-Ferrand, o bem-aventurado Papa Urbano II se dirigiu à multidão de bispos e cavaleiros, maioritariamente franceses, congregados na cidade para um fato transcendental.

Com palavras divinamente inspiradas, o Papa Urbano II hoje nos altares convocou a primeira Cruzada da História. Ele não leu um texto escrito nem ficou registrado com qualquer método moderno.

Mas, a formidável impressão causada pode se medir pela inusitada quantidade de relações de testemunhas presentes. Dentre elas se destacam as versões escritas por Roberto o monge, Guibert de Nogent, Foucher de Chartres, Guilherme de Tiro, Orderic Vital e Balderico arcebispo de Dol.

Em séculos mais próximos, historiadores de renome condensaram esses testemunhos em diversas publicações de grande autoridade.

A continuação apresentamos a condensação feita por Joseph-François Michaud (1767-1839) na sua célebre “História das Cruzadas”, que concorda grandemente com a versão da não menos célebre “História Universal da Igreja Católica” do Pe. René Rohrbacher.

Em outros posts temos reproduzidos outras versões:

Sermão do Beato Urbano II convocando a Primeira Cruzada

Bem-aventurado Papa Urbano II: a versão mais completa do Sermão da Cruzada. Conhecida como “Popolo dei franchi”.

O Patriarca de Jerusalém implora o socorro do Papa e dos Príncipes

A fama das peregrinações ao Oriente fez Pedro (o Eremita) sair de seu retiro. Ele seguiu a multidão dos cristãos à Palestina, para visitar os santos lugares. (...)

Depois de ter seguido seus irmãos ao Calvário e ao Sepulcro de Jesus Cristo, foi ter com o Patriarca de Jerusalém. Os cabelos brancos de Simeão, sua venerável figura e principalmente a perseguição que ele havia sofrido, mereceram-lhe toda a confiança de Pedro: eles choraram juntos os males dos cristãos. (...)

Pedro disse-lhe, que talvez um dia os guerreiros do Ocidente seriam os libertadores de Jerusalém.

Sim, sem dúvida, replicou o Patriarca; quando nossa aflição chegar ao auge, quando Deus se comover, ante nossas misérias, Ele moverá o coração dos Príncipes do Ocidente e os mandará em auxílio da cidade santa. (...)

O Patriarca resolveu implorar por meio de cartas o socorro do Papa e dos Príncipes da Europa. (...)

Depois dessa entrevista, Pedro ficou persuadido de que o céu mesmo o havia encarregado de vingar sua causa.

Um dia, quando estava prostrado diante do Santo Sepulcro, pareceu-lhe ouvir a voz de Jesus Cristo que lhe dizia: Pedro, levanta-te, corre a anunciar as tribulações de meu povo; é tempo de que meus servidores sejam socorridos e os lugares santos, libertados”.

Cheio do espírito dessas palavras que lhe ecoavam continuamente ao ouvido, (...) atravessa os mares, desembarca nas costas da Itália e vem lançar-se aos pés do Papa.

O Imperador de Oriente apela ao Ocidente

Urbano II rumo ao Concílio de Clermont-Ferrand e falando aos bispos.
Urbano II rumo ao Concílio de Clermont-Ferrand e falando aos bispos.
No meio dessa agitação geral, Alexis Comeno (Imperador do Oriente), ameaçado pelos turcos, mandou embaixadores ao Papa para pedir o auxílio dos latinos. (...)

Para responder aos pedidos de Alexis e aos votos dos fiéis, o soberano Pontífice convocou em Piacenza um concílio, a fim de expor os perigos da Igreja grega e da Igreja latina do Oriente. (...) mais de duzentos Bispos e Arcebispos, quatro mil eclesiásticos e trinta mil leigos obedeceram ao convite da Santa Sé. (...)

No entretanto, o Concílio de Piacenza não tomou resolução alguma sobre a guerra contra os infiéis. (...)

Outras razões explicariam o pouco efeito que produziu a pregação de Urbano no concílio de Piacenza.

Os povos da Itália, aos quais o soberano Pontífice se dirigia, estavam entregues ao espírito de comércio, e as preocupações mercantis não vão de acordo com o entusiasmo religioso; além disso, a Itália estava fortemente dominada por um espírito de liberdade, que produzia perturbações e levava a negligência aos interesses da religião. (...)

A conclamação do Beato Urbano II em Clermont-Ferrand

O prudente Urbano (...) para tomar um partido decisivo sobre a guerra santa e para interessar todos os povos ao seu feliz êxito, resolveu reunir um segundo sínodo, numa nação belicosa e, desde aqueles tempos remotos, acostumada a dar impulso à Europa.

O novo concílio, reunido em Clermont, no Auvergne, não foi nem menos numeroso nem menos respeitável que o de Piacenza; os santos e os doutores mais célebres vieram honrá-lo com sua presença e ilustrá-lo com seus conselhos. (...)

O concílio teve sua décima reunião na grande praça de Clermont que logo se encheu de uma multidão enorme.

Seguido por seus Cardeais, o Papa subiu a uma espécie de trono, que haviam erguido para ele; (...)

Urbano II falou nestes termos:


Urbano II em Clermont-Ferrand
Urbano II em Clermont-Ferrand
“Acabais de ouvir o enviado dos cristãos do Oriente.

“Ele vos disse da sorte lamentável de Jerusalém e do povo de Deus; ele vos disse de como a cidade do Rei dos Reis, que transmite aos outros os preceitos de uma Fé pura, foi obrigada a servir às superstições dos pagãos.

“De como o túmulo milagroso, onde a morte não pôde conservar sua presa, esse túmulo, fonte da vida futura, sobre o qual surgiu o sol da ressurreição, foi manchado por aqueles que não devem ressuscitar, senão para ‘servir de palha ao fogo eterno’.

“A impiedade vitoriosa espalhou suas trevas nas mais ricas regiões da ­sia; (...) as hordas bárbaras dos turcos (...) ameaçam todos os países cristãos.

“Se Deus mesmo, armando contra elas seus filhos, não as detiver em sua marcha triunfante, que nação, que reino, poderá fechar-lhes as portas do Ocidente? (...)

“O povo digno de elogios, esse povo que o Senhor, nosso Deus, abençoou, geme e sucumbe sob o peso dos ultrajes e das exações mais vergonhosas.

“A raça dos eleitos sofre indignas perseguições; a raiva ímpia dos sarracenos não respeitou nem as virgens do Senhor, nem o colégio real dos Sacerdotes.

“Eles carregaram de ferros as mãos dos enfermos e dos velhos; crianças arrancadas aos braços maternos esquecem agora entre os bárbaros o nome do verdadeiro Deus.

“Os asilos que esperavam os viajantes pobres na estrada dos santos lugares receberam sob seu teto profanado uma nação perversa; ‘o templo do Senhor foi tratado como um homem infame e os ornamentos do santuário foram arrebatados como escravos’.

“Que vos direi mais? (...)

“Ai! de nós, meus filhos e meus irmãos, que vivemos nestes dias de calamidades!

“Viemos então a este século reprovado pelo céu para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está entregue nas mãos de seus inimigos?

“Não é preferível morrer na guerra do que suportar por mais tempo esse horrível espetáculo?

“Choremos todos juntos nossas faltas que armaram a cólera divina; choremos, mas que nossas lágrimas não sejam como a semente lançada sobre a areia e a guerra santa se acenda ao fogo de nosso arrependimento; e o amor de nossos irmãos nos anime ao combate e seja ‘mais forte que a mesma morte’, contra os inimigos do povo cristão.

“Guerreiros que me escutais, vós que procurais sem cessar vãos pretextos de guerra, alegrai-vos pois eis aqui uma guerra legítima.

Urbano II no concilio de Clermont
Urbano II no concilio de Clermont
“Chegou o momento de mostrar se estais animados por uma verdadeira coragem; chegou o momento de expiar tantas violências cometidas no seio da paz, tantas vitórias manchadas pela injustiça.

“Vós que fostes tantas vezes o terror de vossos concidadãos e que vendíeis por um vil salário vossos braços ao furor de outrem, armados pela espada dos Macabeus, ide defender ‘a casa de Israel, que é a vinha do Senhor dos exércitos’.

“Não se trata mais de vingar as injúrias dos homens, mas as da Divindade; não se trata mais do ataque de uma cidade ou de um castelo, mas da conquista dos santos lugares.

“Se triunfardes, as bênçãos do céu e os reinos da ­sia serão vosso prêmio; se sucumbirdes, tereis a glória de morrer nos mesmo lugares onde Jesus Cristo morreu e Deus não se esquecerá de que vos viu em sua santa milícia.

“Que afeições fracas e covardes, sentimentos profanos não vos prendam em vossos lares; soldados do Deus vivo.

“Escutai somente os gemidos de Sião; quebrai todos os liames da terra e lembrai-vos do que o Senhor disse: ‘Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; todo aquele que deixar sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua esposa, ou seus filhos, ou sua propriedade, por Meu nome, será recompensado com o cêntuplo e terá a vida eterna’.

Estas palavras de Urbano penetravam e abrasavam todos os corações e assemelhavam-se à chama ardente descida do céu. (...)

A assembleia dos fiéis – levados por um entusiasmo que jamais a eloquência humana tinha inspirado – ergueu-se totalmente e fez ouvir estas palavras:

Deus o quer! Esse brado (...) ecoou até nas montanhas da vizinhança. (...)

“Vedes aqui, continuou o Pontífice, a realização da promessa divina: Jesus Cristo declarou, que quando seus discípulos se reunissem em seu nome, Ele estaria no meio deles.

“Sim, o Salvador do mundo está agora em nosso meio e é Ele mesmo que vos inspira os brados que acabo de ouvir.

“Que essas palavras: Deus o quer! sejam para o futuro vosso grito de guerra e anunciem por toda a parte a presença do Deus dos exércitos. (...)

“É o próprio Jesus Cristo que sai de Seu túmulo e que vos apresenta sua Cruz.

“Ela será o sinal, erguido entre as nações, que deve reunir os filhos dispersos de Israel; levai-a em vossos ombros ou sobre o vosso peito; que ela brilhe sobre as vossas armas e sobre os vossos estandartes.

“Ela será para vós o penhor da vitória ou a palma do martírio; ela vos há-de lembrar continuamente que Jesus Cristo morreu por vós e que deveis morrer por Ele”.

Efeito da conclamação papal

Depois que Urbano acabou de falar, só se ouviam estes brados: Deus o quer! Deus o quer!, que era como a voz de todo o povo cristão. (...)

Os Barões e os Cavaleiros que tinham ouvido as exortações de Urbano fizeram o juramento de vingar a causa de Jesus Cristo; esqueceram-se de suas próprias questões e juraram combater juntos os inimigos da Fé cristã.

Todos os fiéis prometeram respeitar as decisões do Concílio e ornaram suas vestes com uma cruz vermelha de pano ou de seda. (...)

Os fiéis pediram a Urbano que se pusesse à sua frente, mas o Pontífice, que ainda não tinha triunfado sobre o antipapa Guiberto, e que perseguia com seus anátemas o Rei da França e o Imperador da Alemanha, não podia deixar a Europa sem comprometer o poder e a política da Santa Sé. (...)

Nomeou o Bispo de Puy, seu legado apostólico, junto do exército dos cristãos.

Prometeu a todos os cruzados a remissão de seus pecados. Suas pessoas, suas famílias, seus bens, foram postos sob a proteção da Igreja e dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.

O concílio declarou que toda a violência feita contra os soldados de Jesus Cristo seria castigada com o anátema e entregou seus decretos, em favor dos cruzados à vigilância dos Padres e dos Bispos. (...)

O Beato Adhermar, bispo de Puy (de mitra-elmo)
foi o legado pontifício à testa da Cruzada
Urbano percorreu ele mesmo várias províncias da França, para terminar sua obra tão felizmente começada. (...)

Os Bispos e os simples pastores, não paravam de benzer cruzes para os fiéis que prometiam armar-se para a libertação da Terra Santa. A Igreja conservou em seus anais as fórmulas de orações rezadas nessa cerimônia.

O padre, depois de ter invocado o auxílio de Deus, que fez o Céu e a Terra, rogava ao Senhor que abençoasse, em sua bondade paterna, a cruz dos peregrinos, como tinha outrora abençoado a vara de Aarão; rogava à misericórdia divina que não abandonasse nos perigos os que iam combater por Jesus Cristo e que lhes enviasse o anjo Rafael que outrora tinha sido o fiel companheiro de Tobias. (...)

O padre dizia, depois de ter prendido a cruz ao peito: ‘Recebe este sinal, imagem da Paixão e da Morte do Salvador do mundo, a fim de que em tua viagem nem a infelicidade nem o pecado te possam ferir e voltes mais feliz e sobretudo, melhor, para junto dos teus’. (...)

Tal o ascendente da religião ultrajada pelos infiéis, que todas as nações cristãs logo esqueceram o que era objeto de sua ambição ou de seus temores e forneceram à cruzada os soldados de que precisavam para se defenderem.

Todo o Ocidente reboava com estas palavras: ‘Aquele que não traz sua cruz e não vem comigo, não é digno de Mim’.

Que se julgue o que se deveu operar nos espíritos, quando a Igreja tocou a trombeta guerreira e apresentou como agradável a Deus o amor das conquistas, a glória de vencer, o ardor pelos perigos. (...)

O clero mesmo deu o exemplo. A maior parte dos Bispos, que tinham o título de Conde ou de Barão (...) julgou dever armar-se para a causa de Jesus Cristo.

Os autores contemporâneos contam vários milagres que contribuíram para inflamar o espírito da multidão.

Haviam-se visto estrelas destacarem-se do firmamento e caírem sobre a terra; mil fogos desconhecidos corriam pelo ar e davam à noite a claridade do dia; nuvens cor de sangue levantavam-se de repente no horizonte, e no ocidente um cometa ameaçador apareceu ao meio-dia; sua forma era a de uma espada.

Viram-se nas altas esferas do céu cidades com suas torres e defesas, armadas, prestes a combater, seguindo o estandarte da cruz.

O monge Roberto refere que, no mesmo dia em que no concílio de Clermont, se decidiu a cruzada, aquela deliberação foi proclamada além dos mares.

“Essa notícia, diz ele, tinha reerguido a coragem dos cristãos no Oriente e levado de repente o desespero aos povos da Arábia”.

Para cúmulo de prodígios, os Santos e os Reis das idades precedentes saíam de seus túmulos e vários franceses haviam visto a sombra de Carlos Magno exortando os cristãos a combater contra os infiéis.

O concílio de Clermont, que se havia reunido no mês de novembro de 1095, tinha marcado a partida dos cruzados para a festa da Assunção, do ano seguinte.

(Autor: Joseph-François Michaud (1767-1839), “Histoire des Croisades”, Paris, Furne Jouvet et Cie Éditeurs, 1877, livro I, páginas 22 em diante).



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O pai e a família toda rodeados de imenso respeito na sociedade medieval

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Museu de Arte Popular dos Pirineus, Lourdes, França
Museu de Arte Popular dos Pirineus, Lourdes, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Nos camponeses de certa região da Espanha, o pai de família presidia a refeição numa poltrona; a esposa ao lado direito dele também numa poltrona.

Poltrona de camponês, de madeira, feita até com bonito trabalho por eles nas noites de inverno.

Depois, cadeiras com encosto para os filhos mais velhos, sem encosto para a criançada.

E sobre a mesa um pão enorme que a dona de casa tinha mandado cozinhar entre outras coisas para o almoço.

Quando o pai chegava à cabeceira da mesa ele fazia o nome do padre. Todos seguiam, e ele dizia uma oração: “Que o Menino Jesus que nasceu em Belém bendiga esse alimento e nós também”. Bom, daí todos diziam “Amém”.

Sentavam-se, ele pegava o pão, cortava o primeiro pedaço e ia distribuindo para cada um. Aí começava a refeição.

Qualquer refeição dos “famosos” de hoje não tem um centésimo dessa respeitabilidade.

Mas não é que não tem, eles não querem que tenha; odeiam! Se oferecessem a eles, eles repudiariam com furor, não gostam disso.

Não é dizer que eu esteja fazendo um elogio da aristocracia; eu elogio a aristocracia porque ela tem a sua razão de ser na ordem posta por Deus.

Mas, não é disso que eu estou tratando, esta forma de grandeza séria que existe em tudo dentro da ordem católica, e que se estendia até um trinco ou uma fechadura.

Há portas medievais com uma ferronerie, com uma tira de ferro prendendo várias ripas de madeira. É uma coisa tão comum!

É só para manter a madeira da porta toda unida, e não poder ser arrebentada. É preciso dar mais coesão às tábuas: então prendiam uma tira de ferro.

A cultura contemporânea faz isso de um modo horrendo.

Eles faziam de um modo bonito. Faziam tiras de ferro que terminava em geral numa cabeça de flor de Lys, uma coisa qualquer assim.

Eles adornavam, mas o adorno simples, do pobre, no ferro, hoje em dia se vende por uma fábula num antiquário.

Esta respeitabilidade era acompanhada de uma coerência em tudo na Idade Média.

Na organização da sociedade civil, da eclesiástica, das partes internas da sociedade, e tudo mais, tudo é coerente com tudo.

Museu de Arte Popular dos Pirineus, Lourdes, França
Cena familiar, Museu de Arte Popular dos Pirineus, Lourdes, França
E no topo da pirâmide medieval encontrava-se a obra-prima da coerência e da respeitabilidade do espírito humano: a escolástica, a teologia da Igreja Católica.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 2/6/91. Sem revisão do autor)



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Função social da caçada na Idade Média

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Très Riches Heures du Duc de Berry, mês de agosto
Très Riches Heures du Duc de Berry, mês de agosto



O castelo tem muralhas, ameias e torres.

Na torre de menagem, a mais alta delas e de onde mais longe se vê o inimigo que se acerca, está a flâmula com o brasão de armas da família.

Um valo de água circunda o castelo para maior garantia. Há portas levadiças suspensas por correntes e correias muito fortes para o inimigo não entrar.

Logo ao pé do castelo começa a agricultura. Os camponeses estão plantando trigo, a vinha, e muitas outras coisas.

De repente se ouve um ladrar de cachorro e um toque de clarim. Os camponeses se olham entre si e sabem que um verdadeiro espetáculo vai aparecer.

Era um dos espetáculos, mas também uma das necessidades, da sociedade católica daquele tempo.

Baixa lentamente a ponte, e sai de dentro do castelo uma cavalgada.

São vinte cavalos, às vezes mais, lindamente ajaezados, cobertos com panos muito bordados, ostentando o brasão da família.



Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Sobre cada um desses cavalos vai montada uma pessoa da família.

No melhor dos cavalos vai o castelão.

Ao lado dele cavalga sentada à la amazona, sua mulher, e não sentada à la homem como hoje se faz.

É a dama do castelo. Atrás deles vai a alegre cavalgada dos jovens.

Os instrumentos tocam músicas de caça bonitas e as patas dos cavalos fazem o barulho característico sobre o madeirame da torre levadiça.

É a família que está passando para caçada.

A caçada era uma diversão de um gênero especial. Porque só se caçavam animais daninhos para a agricultura ou perigosos para o homem.

Ou, os animais que alimentam o homem, e prolongam portanto a vida humana.

Tudo gira em torno do homem, seja ele o nobre ou o plebeu que trabalha o campo. Todos se beneficiam.

Livro da Caça, matilha de javalis perigosos. Gaston Phebus
Pelos toques percebe-se ao longe se foi pego ou não foi pego um javali que mete medo a todos.

O javali perigoso para a castelã quando ela vai à cidadezinha para dar esmolas, para visitar, para conversar.

Como também é perigoso para a camponesa quando ela vai à paróquia para rezar ou em alguma pequena loja fazer uma compra.

A caçada ao javali visa o bem comum.

Livro da Caça, Caçada do cervo, Gaston Phebus
Há na caçada, portanto, uma colaboração social que para um tipo frívolo parece uma mera diversão.

Há a caça muito mais dramática ao cervo.

Animal tão bonito, tão delicado, com um olhar tão doce, tão inofensivo, tão rápido, mas que não sendo perigoso para o homem, é lhe delicioso.

E assim como um homem tem o direito de colher uma flor quando ela está em sua plena expansão para levá-la à capela de sua casa ou a um vaso de sua residência, assim ele também tem o direito de matar um cervo para comê-lo.

Feita a caçada, em geral o que se matou é muito mais abundante do que as necessidades do castelo.

Então se organiza uma distribuição gratuita a todo vilarejo daquilo que foi caçado.

Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
É a hora da culinária, dos cozinheiros e das cozinheiras, e é hora dos que comem. A caçada está paga.

Os medievais não tinham televisão, mas viver com os olhos postos na feeria da vida do castelo, contarem uns para os outros as últimas novidades do castelo, da filha do castelão que está noiva do filho do castelão tal outro, e que o casamento quando será?, etc.

Tudo isto constituía o conjunto de novidades de que vivia a pequena população do castelo.



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A fecundidade do silêncio dos mosteiros da Idade da Luz

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Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino
Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino




Os monges não trabalhavam nem em benefício próprio, nem mesmo pelo sucesso, mas unicamente para a glória de Deus.

Seu objetivo era o de fazer reviver, na memória de seus irmãos, os acontecimentos passados de seu tempo e de sua região; de relembrar aquilo que eles haviam testemunhado ou que lhes havia sido transmitido pela tradição.



Ora, graças à organização social da Idade Média, essa tradição tornara-se tão poderosa quanto durável.

Os monges escreviam na intimidade da paz e da liberdade do claustro, com toda candura e sinceridade na alma.

Calmos no interior da segurança, da obediência claustral e das alegrias da santa pobreza, os monges analistas ofereciam aos cristãos o fruto fecundo de seus longos estudos, que a vida no mundo completava com conhecimentos históricos.







(Autor: Montalembert, "Les Moines d'Occident" - Vol. VI, p. 234)



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Mont Saint-Michel: píncaro de força, beleza e fé

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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Quem observe o mapa da França, notará em sua costa ocidental, banhada pelo Atlântico, duas pontas ou imensas penínsulas: a maior, toda recortada em ilhas e pequenas baías, a desafiar o imenso oceano; a menor, lembrando um chifre voltado para a Inglaterra, situada ao norte.

A primeira corresponde à Bretanha; e a segunda pertence à Normandia.

Uma baía separa as duas penínsulas, e um rio, o Couesnon, divide os dois grandes ducados históricos.

Pirâmide maravilhosa

No fundo dessa baía, circundada por imensos bancos de areia caprichosamente desvelados ou recobertos pelas águas ao sabor das marés, surge aos olhos do viajante –– “como uma coisa sublime, uma pirâmide maravilhosa”, no dizer de Victor Hugo –– a pequena ilha de rochedos encimada por gigantesca abadia, que se eleva em esplendorosa agulha a apontar para o céu.

A seus pés, uma graciosa aldeia e vigorosos bastiões de defesa militar. É o Monte São Miguel — “Le Mont Saint-Michel, merveille d’Occident”, como tão bem soa em francês.

Para o literato Émile Bauman, no monte e nos arredores todas as horas são de beleza: “O céu engrandece as areias e as areias parecem engrandecer o céu”.

Madame Sévigné escreveu à sua filha, na época de Luís XIV, lembrando como o via de sua janela (ela habitava na região): orgulhoso e altaneiro, cheio de beleza.

E o literato Guy de Maupassant olhava a abadia como um castelo fantástico, a erguer-se escarpada longe da terra, maravilhosa como um palácio de sonho, inverossimilmente estranha e bela.

Neste cenário fantástico, o monte impressiona ao emergir das brumas da manhã com sua silhueta imprecisa, ou como esplendoroso monumento em dias límpidos.

Num relance podem-se ali vislumbrar o píncaro transcendente da visão religiosa, o espírito da fortaleza militar e a doçura de viver da pacífica aldeia do “menu peuple de Dieu” — o povinho que ainda praticava os Mandamentos.


(Autor: Wilson Gabriel da Silva, CATOLICISMO, setembro 2009.



O Monte Saint-Michel, a abadia e suas dependências (slideshow)





O Mont Saint-Michel: visita aérea desde um drone






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A sociedade medieval: algo do Céu na Terra

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Altar Santo André
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A arquitetura, a arte, o ambiente, a sociedade medieval auxiliam os fiéis a terem, por assim dizer, “saudades” do Céu.

A partir de suas realizações, elas elevam as almas para algo de celestial.

“A Igreja apresentava-se habitualmente com uma aparência de Céu na Terra, de modo tal que a pessoa, ao analisá-la e contemplá-la, sentia-se convidada para ingressar numa espécie de Céu da alma nesta Terra.

“Tudo quanto é medieval, e que se orienta nessa linha — dir-se-ia a nota tônica da Idade Média —, é impregnado disso: uma sociedade que, mesmo em seus aspectos temporais, apresenta algo de celeste na Terra.

Fra Angélico“Assim, uma ogiva, o vitral, a torre de um castelo, uma batalha, a armadura de cavaleiro, etc., causam-nos essa impressão, que contém algo de celeste”.



(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, “Catolicismo”, agosto de 2006.)



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O amor às crianças é um fruto abençoado da Cristandade medieval

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Frederico de Sonneburg e seus filhos. Codex Manesse, fol. 407r.
Frederico de Sonneburg e seus filhos.
Codex Manesse, fol. 407r.
Luis Dufaur
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A primeira herança da Antiguidade não é nada boa: a vida da criança no mundo romano dependia totalmente do desejo do pai.

O poder do pater famílias era absoluto: um cidadão não tinha um filho, o tomava.

Caso recusasse a criança – e o fato era bastante comum – ela era enjeitada. E o que acontecia à maioria dos enjeitados? A morte.

A segunda herança que a Idade Média herda da Antiguidade, a cultura bárbara, foi-nos passada especialmente por Tácito. Ele nos conta que a tradição germânica em relação às crianças era um pouco melhor que a romana.

Os germanos não praticavam o infanticídio, as próprias mães amamentavam seus filhos e as crianças eram educadas sem distinção de posição social.

Dessas duas tradições culturais que se mesclaram e fizeram emergir a Idade Média, concluo que o status da criança naquelas sociedades antigas era praticamente nulo.

Até o final da Antiguidade as crianças pobres eram abandonadas ou vendidas; as ricas enjeitadas– por causa de disputas de herança – eram entregues à própria sorte.

Nesse contexto histórico-cultural é que se compreende a força e o impacto do cristianismo, que rompeu com essas duas tradições.

Cristo disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus”. (Mt 18, 1-4).

A tradição cristã abriu, portanto, uma nova perspectiva à criança. No entanto, foi um processo bastante lento, um processo civilizacional levado a cabo pela Igreja.

Em sua História dos Francos, Gregório de Tours nos conta o sentimento de tristeza e a lamentação de Fredegunda (concubina e depois esposa do rei dos francos Chilperico), quando da morte de crianças:

Conceito medieval da família: árvore genealógica.
Conceito medieval da família: árvore genealógica.
“Essa epidemia que começou no mês de agosto atacou em primeiro lugar a todos os jovens adolescentes e provocou sua morte. Nós perdemos algumas criancinhas encantadoras e que nos eram queridas, a quem nós havíamos aquecido em nosso peito, carregado em nossos braços ou nutrido por nossa própria mão, lhes administrando os alimentos com um cuidado delicado [...]

“O rei Chilperico também esteve gravemente doente. Quando entrou em convalescença, seu filho mais novo, que não era ainda renascido pela água e pelo Espírito Santo, caiu enfermo. Assim que melhorou um pouco, seu irmão mais velho, Clodoberto, foi atingido pela mesma doença, e sua mãe Fredegunda, vendo-o em perigo de morte e se arrependendo tardiamente, disse ao rei:

“A misericórdia divina nos suporta há muito tempo, nós que fazemos o mal, porque sempre ela nos tem advertido através das febres e outras doenças, mas sem que nos corrijamos. Nós perdemos agora os nossos filhos, eis que as lágrimas dos pobres, as lamentações das viúvas e os suspiros dos órfãos os matam e não nos resta esperança de deixar os bens para ninguém.

“Nós entesouramos sem ter para quem deixar. Os tesouros ficarão privados de possuidor e carregados de rapina e maldições! Nossas adegas não abundam em vinho? Nossos celeiros não estão repletos de trigo? Nossos tesouros não estão abarrotados de ouro e de prata, de pedras preciosas, de colares e outras jóias imperiais? Nós perdemos o que tínhamos de mais belo! Agora, por favor, venha!

Queimemos todos os livros de imposições iníquas e que nosso fisco se contente com o que era suficiente ao pai e rei Clotário.” (Gregório de Tours, Historiae, V, 34)

(Fonte: Ricardo da Costa, Professor efetivo (Associado IV) do Departamento de Teoria da Arte e Música da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Home-page: www.ricardocosta.com riccosta@npd.ufes.br. Texto completo em Mania de História).



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Função social da caçada na Idade Média

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Très Riches Heures du Duc de Berry, mês de agosto
Très Riches Heures du Duc de Berry, mês de agosto



O castelo tem muralhas, ameias e torres.

Na torre de menagem, a mais alta delas e de onde mais longe se vê o inimigo que se acerca, está a flâmula com o brasão de armas da família.

Um valo de água circunda o castelo para maior garantia. Há portas levadiças suspensas por correntes e correias muito fortes para o inimigo não entrar.

Logo ao pé do castelo começa a agricultura. Os camponeses estão plantando trigo, a vinha, e muitas outras coisas.

De repente se ouve um ladrar de cachorro e um toque de clarim. Os camponeses se olham entre si e sabem que um verdadeiro espetáculo vai aparecer.

Era um dos espetáculos, mas também uma das necessidades, da sociedade católica daquele tempo.

Baixa lentamente a ponte, e sai de dentro do castelo uma cavalgada.

São vinte cavalos, às vezes mais, lindamente ajaezados, cobertos com panos muito bordados, ostentando o brasão da família.



Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Sobre cada um desses cavalos vai montada uma pessoa da família.

No melhor dos cavalos vai o castelão.

Ao lado dele cavalga sentada à la amazona, sua mulher, e não sentada à la homem como hoje se faz.

É a dama do castelo. Atrás deles vai a alegre cavalgada dos jovens.

Os instrumentos tocam músicas de caça bonitas e as patas dos cavalos fazem o barulho característico sobre o madeirame da torre levadiça.

É a família que está passando para caçada.

A caçada era uma diversão de um gênero especial. Porque só se caçavam animais daninhos para a agricultura ou perigosos para o homem.

Ou, os animais que alimentam o homem, e prolongam portanto a vida humana.

Tudo gira em torno do homem, seja ele o nobre ou o plebeu que trabalha o campo. Todos se beneficiam.

Livro da Caça, matilha de javalis perigosos. Gaston Phebus
Pelos toques percebe-se ao longe se foi pego ou não foi pego um javali que mete medo a todos.

O javali perigoso para a castelã quando ela vai à cidadezinha para dar esmolas, para visitar, para conversar.

Como também é perigoso para a camponesa quando ela vai à paróquia para rezar ou em alguma pequena loja fazer uma compra.

A caçada ao javali visa o bem comum.

Livro da Caça, Caçada do cervo, Gaston Phebus
Há na caçada, portanto, uma colaboração social que para um tipo frívolo parece uma mera diversão.

Há a caça muito mais dramática ao cervo.

Animal tão bonito, tão delicado, com um olhar tão doce, tão inofensivo, tão rápido, mas que não sendo perigoso para o homem, é lhe delicioso.

E assim como um homem tem o direito de colher uma flor quando ela está em sua plena expansão para levá-la à capela de sua casa ou a um vaso de sua residência, assim ele também tem o direito de matar um cervo para comê-lo.

Feita a caçada, em geral o que se matou é muito mais abundante do que as necessidades do castelo.

Então se organiza uma distribuição gratuita a todo vilarejo daquilo que foi caçado.

Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
É a hora da culinária, dos cozinheiros e das cozinheiras, e é hora dos que comem. A caçada está paga.

Os medievais não tinham televisão, mas viver com os olhos postos na feeria da vida do castelo, contarem uns para os outros as últimas novidades do castelo, da filha do castelão que está noiva do filho do castelão tal outro, e que o casamento quando será?, etc.

Tudo isto constituía o conjunto de novidades de que vivia a pequena população do castelo.



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A fecundidade do silêncio dos mosteiros da Idade da Luz

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Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino
Monges de uma cartuxa cantando o ofício divino




Os monges não trabalhavam nem em benefício próprio, nem mesmo pelo sucesso, mas unicamente para a glória de Deus.

Seu objetivo era o de fazer reviver, na memória de seus irmãos, os acontecimentos passados de seu tempo e de sua região; de relembrar aquilo que eles haviam testemunhado ou que lhes havia sido transmitido pela tradição.



Ora, graças à organização social da Idade Média, essa tradição tornara-se tão poderosa quanto durável.

Os monges escreviam na intimidade da paz e da liberdade do claustro, com toda candura e sinceridade na alma.

Calmos no interior da segurança, da obediência claustral e das alegrias da santa pobreza, os monges analistas ofereciam aos cristãos o fruto fecundo de seus longos estudos, que a vida no mundo completava com conhecimentos históricos.







(Autor: Montalembert, "Les Moines d'Occident" - Vol. VI, p. 234)



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Seriedade e respeitabilidade até no pequeno: uma nota dominante da Idade Média

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Retábulo de São Pedro. Bernardo Martorell (1400c.-1452). Museu diocesano de Girona, Espanha.
Retábulo de São Pedro. Bernardo Martorell (1400c.-1452).
Museu diocesano de Girona, Espanha.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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A Idade Média foi um fenômeno que se deu na Europa considerada como um todo.

Na Europa havia reinos grandes como a Inglaterra e lugarejos como o reino da Córsega ou da Sardenha que era um reino pequeníssimo numa ilha de proporção reduzida.

Pequenos e grandes, monarquias e repúblicas, todos constituíam a Europa da Idade Média.

E apesar da diferença de línguas, de trajes, de tudo, havia uma nota comum entre todos eles.

Alguma coisa dominava o ambiente da Idade Média e que era a alma ou o rosto da Idade Média.

É esse rosto da Idade Média que faz até hoje com que ela tenha admiradores e tenha, sobre tudo, pessoas que a odeiam.

São Luís de Anjou, bispo de Toulouse entrega a coroa de Nápoles, à qual tinha renunciado, a seu irmão Roberto de Anjou. Simone Martini (1284-1344).
São Luís de Anjou, bispo de Toulouse entrega a coroa de Nápoles,
à qual tinha renunciado, a seu irmão Roberto de Anjou.
Simone Martini (1284-1344).
O quê esse rosto, essa alma ou centro psicológico da Idade Média?

O que havia na psicologia não só de todos os homens, nações, instituições, obras de arte, enfim, em tudo que a era medieval fez?

O que era esse centro comum, essa alma? O que pensar a respeito dele?

A mentalidade medieval é a mentalidade da Igreja Católica, que é a própria mentalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Esse centro comum a todas as coisas da Idade Média era ter muita grandeza!

Sem dúvida havia edifícios com grandeza material como a catedral de Colônia com a altura excepcional de suas torres.

Mas, o lado físico ‒ que, aliás, vem a propósito ‒, é secundário.

O principal é a impressão de majestade, respeitabilidade, venerabilidade que todo edifício eclesiástico medieval tinha.

Máxime as igrejas onde se realizava a missa, se guardava o Santíssimo, que é Nosso Senhor Jesus Cristo realmente presente, e se faziam os outros atos do culto católico.

Capelinha de Domremy, onde rezava Santa Joana d'Arc
Capelinha de Domremy, onde rezava Santa Joana d'Arc
As igrejas tinham, sem dúvida, uma nota de celestialmente grande.

Mas, também a menor igrejinha medieval tinha uma grande venerabilidade e respeitabilidade.

Por exemplo, a capelinha de Domremy onde a camponesa Joana d'Arc rezava no período em que ela ouvia vozes e recebia sua missão.

Ser grande, profundamente respeitável e sério até no pequeno é uma das notas dominantes da Idade Média.



(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 2/6/91. Sem revisão do autor)



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Função social da caçada na Idade Média

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Très Riches Heures du Duc de Berry, mês de agosto
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O castelo tem muralhas, ameias e torres.

Na torre de menagem, a mais alta delas e de onde mais longe se vê o inimigo que se acerca, está a flâmula com o brasão de armas da família.

Um valo de água circunda o castelo para maior garantia. Há portas levadiças suspensas por correntes e correias muito fortes para o inimigo não entrar.

Logo ao pé do castelo começa a agricultura. Os camponeses estão plantando trigo, a vinha, e muitas outras coisas.

De repente se ouve um ladrar de cachorro e um toque de clarim. Os camponeses se olham entre si e sabem que um verdadeiro espetáculo vai aparecer.

Era um dos espetáculos, mas também uma das necessidades, da sociedade católica daquele tempo.

Baixa lentamente a ponte, e sai de dentro do castelo uma cavalgada.

São vinte cavalos, às vezes mais, lindamente ajaezados, cobertos com panos muito bordados, ostentando o brasão da família.



Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Tschachtlan Chronik. Berna, Suíça.
Sobre cada um desses cavalos vai montada uma pessoa da família.

No melhor dos cavalos vai o castelão.

Ao lado dele cavalga sentada à la amazona, sua mulher, e não sentada à la homem como hoje se faz.

É a dama do castelo. Atrás deles vai a alegre cavalgada dos jovens.

Os instrumentos tocam músicas de caça bonitas e as patas dos cavalos fazem o barulho característico sobre o madeirame da torre levadiça.

É a família que está passando para caçada.

A caçada era uma diversão de um gênero especial. Porque só se caçavam animais daninhos para a agricultura ou perigosos para o homem.

Ou, os animais que alimentam o homem, e prolongam portanto a vida humana.

Tudo gira em torno do homem, seja ele o nobre ou o plebeu que trabalha o campo. Todos se beneficiam.

Livro da Caça, matilha de javalis perigosos. Gaston Phebus
Pelos toques percebe-se ao longe se foi pego ou não foi pego um javali que mete medo a todos.

O javali perigoso para a castelã quando ela vai à cidadezinha para dar esmolas, para visitar, para conversar.

Como também é perigoso para a camponesa quando ela vai à paróquia para rezar ou em alguma pequena loja fazer uma compra.

A caçada ao javali visa o bem comum.

Livro da Caça, Caçada do cervo, Gaston Phebus
Há na caçada, portanto, uma colaboração social que para um tipo frívolo parece uma mera diversão.

Há a caça muito mais dramática ao cervo.

Animal tão bonito, tão delicado, com um olhar tão doce, tão inofensivo, tão rápido, mas que não sendo perigoso para o homem, é lhe delicioso.

E assim como um homem tem o direito de colher uma flor quando ela está em sua plena expansão para levá-la à capela de sua casa ou a um vaso de sua residência, assim ele também tem o direito de matar um cervo para comê-lo.

Feita a caçada, em geral o que se matou é muito mais abundante do que as necessidades do castelo.

Então se organiza uma distribuição gratuita a todo vilarejo daquilo que foi caçado.

Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
Livro da Caça, a refeição geral final, Gaston Phebus
É a hora da culinária, dos cozinheiros e das cozinheiras, e é hora dos que comem. A caçada está paga.

Os medievais não tinham televisão, mas viver com os olhos postos na feeria da vida do castelo, contarem uns para os outros as últimas novidades do castelo, da filha do castelão que está noiva do filho do castelão tal outro, e que o casamento quando será?, etc.

Tudo isto constituía o conjunto de novidades de que vivia a pequena população do castelo.



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Subiaco: no ponto de partida da Cristandade medieval está a gruta de São Bento

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Subiaco, panorama desde a Santa Gruta
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Onde e quando nasceu a Cristandade medieval? Quem foi o fundador?

A resposta é paradoxal. Foi numa gruta. E o fundador foi um ermitão isolado.

Um jovem nobre romano que fugiu da imoralidade e da decadência de Roma.

Sim, da Roma que em poucos anos haveria de ser afogada no sangue e no fogo.

Foi o grande São Bento, o Patriarca de Ocidente, a grande alma que deu o ponto de partida da imensa ordem medieval, justa e sacral.

São Bento acabou fundando a Ordem Beneditina, que subsiste até hoje nos seus vários ramos e famílias espirituais. Em torno dos mosteiros beneditinos foram se aglutinando os restos do naufrágio do Império Romano e, também, bandos de bárbaros apenas aculturados.

Subiaco, interior do mosteiro medieval
Subiaco hoje.
As abadias beneditinas ensinaram a ordem àqueles cacos de grupos humanos. E sob o bafejo da graça deram à luz a fascinante Ordem Medieval.

Mas como é o local onde tudo começou? A gruta erma onde São Bento sozinho iniciou sua epopeia espiritual?

O local existe. Chama-se Subiaco. Fica não longe de Roma. A gruta está preservada.

Na gruta de Belém, o Salvador veio ao mundo. Na Gruta de Subiaco, a Cristandade deu seus primeiros vagidos na alma do grande Bento de Núrsia.

A alma de São Bento foi como um incêndio de zelo pela causa de Deus.

Carlos Magno e tantos outros heróis e santos medievais foram como que faíscas desse grande incêndio.

Vejamos como é Subiaco, e prescindindo um pouco das belíssimas construções, imaginemos o grande santo rezando sozinho, ouvindo o uivo das feras e comendo o pão que um corvo todo dia lhe trazia.


* * *

As fotos apresentam-nos uma visão atual do lugar da famosa gruta na qual viveu São Bento durante anos na solidão.

São Bento foge da corrupção de Roma
Esse local tão abençoado foi o ponto de partida da Civilização Cristã, enquanto esta floresceu na Europa Ocidental.

No século V, a Europa encontrava-se na seguinte situação mista: como os bárbaros tinham ocupado o Império Romano do Ocidente, restos de civilização coexistiam com bárbaros em grande quantidade, resultando disso um caos, o qual era preciso extinguir.

A Igreja trabalhava empenhadamente nesse sentido e agindo em função da graça.

E a graça soprando por todos os lados, produzindo flores de cá, de lá e de acolá, algo estava por acontecer de imensamente grande e belo, como desfecho dessa semeadura parcialmente bem recebida por toda parte.

E o desfecho de tal conjunto de fatores consistiu no aparecimento de um jovem de família senatorial romana, família nobre do patriciado. Bento, suscitado para realizar uma obra especial, entregou-se totalmente a essa grandiosa vocação.

Gruta de SubiacoMas, para realizar sua missão, ele não poderia permanecer naquele misto de barbárie e de cultura romana decadente em que se encontrava a Europa.

Retirou-se então à solidão.

E para quê? Para santificar-se.

Escolheu para isso um lugar completamente ermo, onde não houvesse nada que perturbasse sua entrega total a Nosso Senhor.

E ali entregou-se à devoção, à meditação, à penitência, a fim de que a graça se assenhoreasse cada vez mais de sua alma.

Podemos imaginá-lo ainda jovem, não pensando nos seus dotes, não pensando como seria comovedor considerar o isolamento desse moço com tantos antecedentes, naquela gruta ou naquele castelo de grutas, naquele silvestre palácio de grutas em que ele se embrenhou.

São Bento recebe a conversão do rei pagão Totila
São Bento recebe a conversão do rei pagão Totila
Cada gruta dava abertura para outra gruta, como num palácio um salão dá abertura para outro salão.

Nesse ambiente ele jamais pensava em si, mas somente em seu Criador.

* * *

Subiaco é o nome dessa abençoada gruta. Imaginemos São Bento sozinho naquele local.

Dizer que ele se encerrou na gruta, é muito bonito.

Entretanto, imaginemo-lo convivendo com essas ásperas pedras, ríspidas em todo o sentido da palavra, sem nenhuma beleza física.

Tudo é solidão. Mas evoca de algum modo o Céu.

Figuremo-nos São Bento sentado naquele lugar ermo, lendo um livro e pensando.

Ele não sabia, mas, através das graças que recebia, a Cristandade europeia estava nascendo.

Muito melhor que a Europa, a Cristandade europeia estava nascendo!


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 18/11/1988. Sem revisão do autor.)



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Feliz concórdia entre Sacerdócio e Império no cerne do regime medieval

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O rei Filipe I da França conversa com o Papa Pasqual II. Grandes Chroniques de France, Bibliotèque National de France.
O rei Filipe I da França conversa com o Papa Pasqual II.
Grandes Chroniques de France, Bibliothèque National de France.
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No âmago da grande paz e da luminosa ordem medieval nós encontramos a união entre o Poder Espiritual e o Poder Temporal.

Não havia indiferentismo do Estado, nem laicismo agressivo, nem oposição crônica e desgastante entre os dois.

A Igreja não só respeitava as legítimas autoridades. Foi Ela, muitas vezes, a que instituiu e organizou os sistemas de governo, a partir de realidades embrionárias preexistentes, como o reino bárbaro dos francos ou dos hunos (húngaros).

E Ela vigiava como uma mãe para que o filho perseverasse pelo bom caminho.

Hoje, na imensa maioria dos casos, o filho está em estado de indiferença ou até revolta contra a mãe.

E então vemos imensas durezas na vida diária, crises e desajustes um pouco por toda parte. Os cidadãos sofrem as consequências, como filhos de pais divorciados em perpétua briga.

São Remígio batiza Clóvis, rei dos francos. Foi a nascença da França. Grandes Chroniques de France, Bibliothèque National de France.
São Remígio batiza Clóvis, rei dos francos. Foi a nascença da França.
Grandes Chroniques de France, Bibliothèque National de France.
Há até escritores que esperneiam e esbravejam contra essa feliz concórdia entre o Estado e a Igreja, entre o Sacerdócio e o Império.

Mas essa união fundamental entre os pensamentos, os desejos profundos e o sentimentos da Ordem Temporal e o da Ordem Espiritual da Idade Média foi defendida em documentos do Magistério eclesiástico que ficaram gravados para sempre.

E também em escritos luminosos de grandes Doutores da Igreja, santos e bons teólogos.

A título de exemplo, transcrevemos a seguir tópico da Encíclica “Immortale Dei” do Papa Leão XIII. Mais abaixo, reproduzimos carta de São Bernardo a Conrado, Imperador do Sacro Império Romano Alemão.

Papa Leão XIII:

“Então [na Idade Média] a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios.”
(Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-11-1885 -- nº28, Ed. Vozes, Petrópolis,1954, Doc. Pont. nº14, p.15)
Coroa de Carlos Magno, primeiro imperador sagrado pelo Papa
Coroa dos imperadores do Sacro Império

São Bernardo:
“A realeza e o sacerdócio não podiam estar unidos por mais suaves e mais fortes vínculos do que estiveram na pessoa de Jesus Cristo, que nasceu Sacerdote e Rei, descendente das tribos de Levi e de Judá.

“Ademais, reuniu Ele uma e outro [realeza e sacerdócio] em seu Corpo Místico, que é o povo cristão, do qual Ele é a Cabeça, de modo que esta progênie de homens é chamada pelo Apóstolo: a raça eleita, o sacerdócio real (I, Pedr., II, 9); e em outra passagem, todos os predestinados são qualificados de reis e sacerdotes (Apoc., I, 6; V, 10).

“Portanto, não separe o homem o que Deus uniu! Pelo contrário, procure ele pôr em prática o que sancionou a Lei divina. Aqueles que estão unidos por sua instituição, estejam igualmente unidos pelo espírito e pelo coração; que se entreajudem, apóiem-se e se defendam mutuamente.

O Papa Pio XII com a pompa que a Igreja e a Cristandade reconheciam ao sucessor de São Pedro. O modernismo aboliu.
O Papa Pio XII com a pompa que a Igreja e a Cristandade
reconheciam ao sucessor de São Pedro. O modernismo aboliu.
“Se um irmão ajuda o irmão, diz a Escritura, ambos se consolarão”. Porém, se entram em rixa e se ferem, cairão na desolação.

“Longe de mim aprovar os que pretendem que a paz e a liberdade da Igreja sejam nocivas aos interesses do Império, ou que a prosperidade e a grandeza do Império sejam contrárias aos interesses da Igreja!

Deus, fundador de um e de outra, não os uniu para que se destruíssem, mas para que se edificassem reciprocamente”.

(São Bernardo, Epístola 244, a Conrado, Rei dos Romanos, em 1146; apud Mons. Henri Delassus, La mission posthume de Sainte Jeanne d'Arc et le règne social de Notre-Seigneur Jésus-Christ, t. II, c. LI, pp. 302-303).



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A Luz de Cristo e o charme da Idade Média

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Jesus Cristo, San Paolo fuori le mura, Roma
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Na cerimônia da madrugada da Resurreição, no jardim tirava-se fogo do atrito da pedra e acendia-se o círio pascal.

Porque assim como Nosso Senhor Jesus Cristo deu vida a seu próprio cadáver, assim da fricção de matérias inertes como as pedras nasce uma chama viva para acender o círio pascal.

Então, na noite, no crepúsculo, nas trevas, é acesa uma luz: é Nosso Senhor Jesus Cristo que ressuscita!

Acende-se o círio pascal e o padre entra com uma vela acesa na igreja e canta três vezes Lumen Christi. As velas vão se acendendo e daí a pouco a igreja está toda iluminada pelo círio pascal.

Essa expressão Lumen Christi ficou-me como imensamente bonita e nobre, querendo dizer mil coisas.

O que é que vem a ser especificamente a Luz de Cristo, ou Lumen Christi?

A expressão Lumen Christi, tomada ao pé da letra, literalmente, é adequada. É uma certa luz que há em Nosso Senhor Jesus Cristo, e que é a luz de toda Sua pessoa.

Ostensório reservado para a adoração do Santíssimo Sacramento. Catedral de Sevilha, Espanha.
Ostensório reservado para a adoração do Santíssimo Sacramento.
Catedral de Sevilha, Espanha.
Portanto, é a luz de sua natureza divina que transparece através de sua natureza humana. Sua natureza humana tem uma luz própria por causa de sua suma perfeição e retidão.

Tudo quanto Ele disse e fez, pelo fato de ter sido dito e feito por Ele brilha sempre e de modo esplendoroso.

Por causa disso não se pode deixar de ler sem emoção o Evangelho. Tudo aquilo tem Lumen Christi.

A Igreja também, a seu modo, tem um reluzimento.

A Igreja é uma instituição sobrenatural composta por uma Hierarquia e por uma plebe fiel em que todos são homens.

O reluzimento d’Ela em seu ensino, governo, modo de ser, manifestações litúrgicas, etc., como vem de Nosso Senhor Jesus Cristo, também pode ser chamado Lumen Christi.

Por exemplo, não poderia haver coisa mais bonita do que o bispo que entrava na igreja para uma cerimônia solene.

Eu me lembro que me aconteceu até de carregar o pálio para o bispo nessas ocasiões.

Na igreja de Santa Cecília o bispo chegava de automóvel, em particular, atrás da sacristia. Ele entrava, paramentava-se na sacristia.

O pálio, carregado pelas pessoas mais notáveis da paróquia, esperava na saída da sacristia, na porta do fundo.

E o bispo ia a pé pela rua então com todos os sinos tocando, o órgão em todos os registros, o coro cantando, etc. De fora da igreja se ouvia a festa dentro da igreja.

O bispo entrava e o coro cantava alguma música, por exemplo Ex Sacerdos Magnus, e o bispo com mitra alta, com luvas bordadas de ouro, báculo e dando a bênção ao povo, solenemente.

E o povo se ajoelhando enquanto o bispo passava.

Isto, em certos momentos, irradiava para nossa alma uma impressão que eu chamaria Lumen Christi.

Ato de obediencia dos cardeais ao novo Papa
Os Cardeais prestam reconhecimento e reverência ao Papa que acaba de ser eleito.
Muito maior ainda era o Papa entrando na Basílica de São Pedro. Pio XII, por exemplo, eu vi isto, entrando na Basílica de São Pedro, ainda na Sedia Gestatória, com todo o cortejo.

Os prelados orientais com aquelas mitras. Eu me lembro de um prelado negro, com um véu cor de rosa, leve, bordado com umas pedrinhas, de cada lado uma cruz com pedrinhas verdes; quando o Papa passou perto dele e abençoou, ele tomou uma cruzinha e agradeceu a bênção do Papa fazendo o sinal da cruz.

Depois vinham os gerais das ordens religiosas e povo apontava: “lá vai o Geral dos jesuítas”. O coro cantando.

Já antes de entrar o Papa, quando ele saia dos apartamentos dele, começavam a tocar as 200 ou 300 cornetas de prata de Michelangelo.

O Papa entrava na Sedia Gestatória e a Basílica inteira se levantava de entusiasmo. Era uma coisa do outro mundo de entusiasmo!

E a gente olhava assim para a Basílica, e lá de dentro, escrito em mosaico: “Tu est Petrus, et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam, et portae inferi non praevaletunt”. (“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela”)

Papa Pio XII na Sedia gestatoria, Praça de São Pedro
O Papa Pio XII na Sedia Gestatória
Era uma espécie de confirmação histórica e verdadeira de que a promessa se cumpriu. Muita gente pensava em São Pedro crucificado sarcasticamente de cabeça para baixo e nos ossos dele ingloriamente sepultados ali embaixo.

Os que enterraram São Pedro acharam que as portas de inferno tinham prevalecido.

Em cima, na nave da imensa basílica, ao cabo de 20 séculos, quando a vida terrena de Nosso Senhor já está longe, tudo quanto é da vida terrena d’Ele envelheceu e virou poeira, aquela vitória estupenda!

E em todas as línguas todo mundo cantando: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.

Aquilo dava uma impressão de força sacral, nobre, que descia do Céu, que não era uma força da natureza, mas uma força da ordem, uma força esplendorosa da virtude, do bem, uma coisa sacrossanta.

Isto era, num alto grau de intensidade, o Lumen Christi.

A Luz de Cristo brilha até nas mais longínquas obras da Igreja. Capela de Nossa Senhora da Conceição, engenho Bento Velho, Vitória de Santo Antão, Pernambuco
A Luz de Cristo brilha até nas mais longínquas obras da Igreja.
Capela de Nossa Senhora da Conceição, engenho Bento Velho,
Vitória de Santo Antão, Pernambuco
Quando era menino, o interior do Brasil era menos habitado, a gente viajava de trem e passava por longas vastidões, com vilarejos pequenininhos, de vez em quando alguma cidade, etc.

Naquela natureza quase inculta, de repente no alto da montanha, uma igrejinha com uma cruz.

A presença daquela igrejinha conferia à harmonia daquela natureza abandonada, uma nota e uma presença suave, sobrenatural, digna, delicada, amena, convidando ao recolhimento no meio daquelas vastidões quase não habitadas.

Era quase um ósculo e uma bênção de Deus àquela natureza virginal, que ainda não tinha sido maculada pela presença do pecado dos homens.

Uma verdadeira maravilha!

Era uma coisa pequena, mas no meu modo de sentir, era uma outra afirmação do Lumen Christi, da luz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim como há um Lumen Christi que se manifesta na Igreja, a Cristandade também tem o seu lumen próprio.

Nas origens da Europa católica a Luz de Cristo atingiu uma plenitude
Nas origens da Europa católica a Luz de Cristo atingiu uma plenitude
Este lumen da Igreja e do espírito religioso e ortodoxo dos católicos, enquanto refletindo na ordem temporal constitui a Cristandade.

Este lumen também pode ser chamado, com a devida analogia, de Lumen Christi.

Europa é a parte mais culturalizada e mais carregada de tradições do mundo.

Nela, essa Luz de Cristo brilhou como em nenhum outro lugar do mundo.

E ela atingiu uma como que plenitude, durante a Era Medieval.

A Civilização Cristã traz consigo a plenitude histórica do Lumen Christi.

Por assim dizer, o solo europeu ficou ensopado das bênçãos do precioso sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, seleção de anotações em datas diversas, sem revisão do autor).



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Nos mosteiros: escolas gratuitas para crianças de todas as condições

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São Bento ressuscita uma criança do convento morta em acidente.
Lorenzo Monaco (1370 – 1425). Galleria degli Uffizi, Florença.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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Fora do mundo secular, um espaço social lentamente impôs uma nova perspectiva à educação infantil: o monacato .

Os monges criaram verdadeiros “jardins de infância” nos mosteiros, recebendo indistintamente todas as crianças entregues, vestindo-as, alimentando-as e educando-as, num sistema integral de formação educacional.

As comunidades monásticas célticas foram as que mais avançaram nesse novo modelo de educação, pois se opunham radicalmente às práticas pedagógicas vigentes das populações bárbaras, que defendiam o endurecimento do coração já na infância.

Pelo contrário, ao invés de brutalizar o coração das crianças para a guerra e a violência, os monges o abriam para o amor e a serenidade .

As crianças eram educadas por todos do mosteiro até a idade de quinze anos. A Regra de São Bento prescreve diligência na disciplina: que as crianças não apanhem sem motivo, pois “não faças a outrem o que não queres que te façam.”

O sistema medieval e monástico previa a aplicação de castigos.

Na Bíblia há passagens sobre os castigos com vara que devem ser aplicados aos filhos; na Regra de São Bento há várias passagens (punição com jejuns e varas , pancadas em crianças que não recitarem corretamente um salmo), e esse ponto foi muito destacado e criticado pela pedagogia moderna, que, no entanto, não levou em consideração as circunstâncias históricas da época.

Naturalmente isso se deve a um anacronismo e preconceito que não condizem com a postura de um historiador sério.

Basta buscar os textos de época que vemos a felicidade dos egressos dos mosteiros pelo fato de terem sido amparados, criados e educados.

Ao se recordar do mosteiro onde passou sua infância, São Cesário de Arles (c. 470-542) diz:

“Essa ilha santa acolheu minha pequenez nos braços de seu afeto. Como uma mãe ilustre e sem igual e como uma ama-de-leite que dispensa a todos os bens, ela se esforçou para me educar e me alimentar”.

Por sua vez, Walafried Strabo (806-849), então jovem monge, nos conta em seu Diário de um Estudante:

Eu era totalmente ignorante e fiquei muito maravilhado quando vi os grandes edifícios do convento (…) fiquei muito contente pelo grande número de companheiros de vida e de jogo, que me acolheram amigavelmente.

“Depois de alguns dias, senti-me mais à vontade (…) quando o escolástico Grimaldo me confiou a um mestre, com o qual devia aprender a ler. Eu não estava sozinho com ele, mas havia muitos outros meninos da minha idade, de origem ilustre ou modesta, que, porém, estavam mais adiantados que eu.

“A bondosa ajuda do mestre e o orgulho, juntos, levaram-me a enfrentar com zelo as minhas tarefas, tanto que após algumas semanas conseguia ler bastante corretamente
(…)

“Depois recebi um livrinho em alemão, que me custou muito sacrifício para ler mas, em troca, deu-me uma grande alegria…”

Esses são apenas dois de muitos exemplos que contam a felicidade e a alegria que os medievais sentiram com o fato de terem tido a sorte de serem acolhidos em um mosteiro.


(Fonte: Ricardo da Costa, Prof. Adjunto de História Medieval da Universidade Federal do Espírito Santo. Home-page: www.ricardocosta.com riccosta@npd.ufes.br. Texto completo em Mania de História).



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São Gregório VII face aos atentados contra os fiéis ministros da Igreja

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Busto de São Gregório VII  em ouro e prata, na catedral de Salerno
Busto de São Gregório VII  em ouro e prata, na catedral de Salerno
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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São Gregório VII foi, sem dúvida, o Papa por excelência da História da Igreja.

Lutador indomável contra o cisma do Oriente, as heresias, o Império revoltado e um antipapa usurpador, foi também o idealizador das Cruzadas que libertaram o Santo Sepulcro de Nosso Senhor.

Entretanto, um tal gigante na defesa da Igreja não descuidava dos humildes.

Ele sabia descobrir, no combate humilde e corajoso, o ferido que sofria pela causa da Igreja, e o cercava de uma admiração e de uma ternura que não podia dar aos chefes, cuja fidelidade era devida ao preço da glória.

Leia-se esta carta a um pobre padre milanês chamado Liprand, que os simoníacos haviam mutilado de maneira bárbara:

“Se nós veneramos a memória dos santos que foram mortos depois que seus membros foram cortados pelo ferro, se celebramos os sofrimentos daqueles que nem o gladio nem os sofrimentos puderam separar da fé em Cristo, tu és mais digno de louvores ainda, por ter merecido uma graça que, se a ela se juntar a perseverança, te dá uma inteira semelhança com os santos.

“A integridade de teu corpo não existe mais; mas o homem interior, que se renova dia a dia, desenvolveu-se em ti com grandeza.

“Exteriormente as mutilações desonram teu rosto, mas a imagem de Deus, que é o brilho da Justiça, fez-se em ti mais graciosa por tua ferida, mais atraente pela deformação que se imprimiu a teus braços.

“A Igreja diz de si mesma no Cântico: ‘Eu sou negra, ó filhas de Jerusalém’.

“Assim, portanto, tua beleza interior não diminuiu com essas cruéis mutilações.

“Teu caráter sacerdotal, que é santo, e que é preciso reconhecer muito mais na integridade das virtudes do que na dos membros, não sofreu nenhuma desvantagem.

São Gregório VII excomunga o imperador Enrique IV que perseguia a Igreja.
São Gregório VII excomunga o imperador Enrique IV que perseguia a Igreja.
“Antigamente o Imperador Constantino foi visto beijar respeitosamente, no rosto de um bispo, a cicatriz de um olho que lhe fora arrancado pela sua fidelidade ao nome de Cristo.

“O exemplo dos Padres e as antigas escrituras nos recomendam manter os mártires no exercício do ministério sagrado, mesmo depois das mutilações que eles sofreram em seus membros.

“Tu, portanto, mártir de Cristo, sê pleno de segurança no Senhor. Olha a ti mesmo como tendo dado um passo a mais em teu sacerdócio. Ele te foi conferido com os óleos santos, e hoje, ei-lo selado com teu próprio sangue.

“Se muito te reduziu, muito te é necessário pregar o que é o bem, e semear esta palavra que produziu cem por um.

“Nós sabemos que os inimigos da Santa Igreja são teus inimigos e teus perseguidores.

“Não os temas, e nem tremas diante deles, porque nós guardamos com amor, sobre nossa tutela e da Sé Apostólica, tua pessoa e tudo o que se refere a ti.

“E se for necessário recorreres a nós, aceitamos desde já teu apelo, dispostos a te receber com alegria e grande honra, logo que venhas até nós e até esta Santa Sé”.


(Autor: D. Guéranger, “L’Année Liturgique”- Paris, 1897, vol. 3, p. 503)




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