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Combate medieval:saudade de valores genuínos num novo esporte

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A "Battle of the Nations" realizada todos os anos, requer pequenos estádios para o crescente público
A "Battle of the Nations" realizada todos os anos, requer estádios para o crescente público



Uma nova disciplina esportiva reconhecida em muitos países do mundo, deitou suas raízes na Argentina e está fazendo o mesmo no Brasil: o “Combate Medieval”.

Cavaleiros revestidos com armaduras que obedecem aos padrões históricos do século XIII em diante realizaram, em agosto de 2015, o primeiro torneio sulamericano, etapa da série mundial Historical Medieval Battles ou Batalhas Medievais HistóricasHMB.

O novo esporte surgiu há poucas décadas na Europa do Leste e já está bastante desenvolvido nos EUA, na Europa e em países asiáticos como o Japão e até na Austrália.



O Brasil já está dando seus passos e treinando sua seleção com a intenção de participar na “Battle of the Nations” em 2016, espécie de Copa do Mundo desse esporte.

Em Buenos Aires, lutadores do leste europeu deram uma aula magistral sobre o estrito regulamento e exemplos concretos de combate medieval para 150 lutadores do Brasil, do Chile, da Áustria, da Ucrânia, da Polônia, da Rússia e da anfitriã Argentina.

Há diversas categorias de combates. Acima combate individual na "Battle of the Nations"
Há diversas categorias de combates. Acima combate individual na "Battle of the Nations"
A organização correu por conta da Federación Argentina de Combate Medieval, da Asociación Internacional de Combate Medieval e do Grupo Scout “Santa Teresa del Niño Jesús”, com patrocínio da prefeitura de San Isidro, Grande Buenos Aires.

Adriana Di Francesco, capitã da seleção feminina argentina, contou seu primeiro mundial em 2013: “Treinamos e a equipe deu tudo. Nós nos propusemos ser os primeiros da América Latina. E hoje somos o país mais desenvolvido nesse esporte da região”.

Na Argentina há 15 clubes de HMB consolidados, que competem com o regulamento da HMB internacional, explicou Nicolás García, treinador do clube Companhia Lobo Negro.

A armadura deve ser completa, dos pés à cabeça. Deve ser autêntica, quer dizer, obedecer aos padrões históricos do século XIII.

Cada indivíduo escolhe a sua armadura. Na maioria dos casos, cada lutador fabrica a sua. Os fios de todas as armas devem ser arredondados, e não ter menos de 2 milímetros de grossura além de não ter ponta.

Os combates são individuais ou por equipes de até 21 combatentes, mas podem ser 5 contra 5, de 8, 16 ou de “todos contra todos”.

O combate de cinco contra cinco é uma categoria muito disputada.
O combate de cinco contra cinco é uma categoria muito disputada.
Há numerosos árbitros ou “Marshalls” vestidos de amarelo, que podem interromper o jogo e que têm uma hierarquia. O Knight Marshallé o árbitro-chefe, enquanto os Field Marshalls e os Line Marshalls são assistentes.

Os golpes podem ser dirigidos a qualquer parte do corpo, mas são proibidos na nuca, atrás do joelho ou nas articulações.

Eles visam derrubar o adversário, e não feri-lo. Quem cai por terra está derrotado. Ganha quem derruba todos ou quase todos – a juízo do Marshall – e o combate pode ter três lances ou rounds.

O combate singular é conhecido como Triatlon. Ele tem três fases, diferenciadas pelo tipo do armamento, cada uma com um minuto de duração.

A primeira se disputa com espadão (espada manejada com ambas as mãos); a segunda, com uma espada de uma mão e um escudo fixado no braço. A terceira se combate com una espada de uma mão e um escudo heráldico. O vencedor é definido por pontos em função dos impactos.

Combate Medieval no Brasil não é o passado: é o presente rumo ao futuro
Combate Medieval no Brasil não é passado:
é o presente rumo ao futuro
No combate grupal, ou Bohurt, não há limite de tempo, mas ganha quem derruba a equipe adversária. Também se computam pontos individuais por combatente.

“É um esporte full contact, mas há muita segurança”, explica Adriana Di Francesco.

“No combate, tu sentes o impacto, mas não dor; a maior luta é contra si próprio, por causa do peso da armadura. A motivação vem da vontade de combater e a ufania de vencer”.

Além dos combates, em torno da área de disputa monta-se uma aldeia medieval com artesões, comidas típicas, jogos e espetáculos alegóricos.

Todos os anos, em alguma cidade europeia onde o contexto histórico e os monumentos contribuem possantemente para o evento, realizam-se uma série de competições da nova disciplina, promovidas por diversas ligas, e fartamente documentadas em Youtube.

Mas há também torneios locais, nacionais ou internacionais de diversas dimensões. A nota dominante é a admiração pelo passado medieval, as Cruzadas e a Cavalaria.







Copa da International Medieval Combat Federation 2015, categoria 16 X 16, Polônia vs EUA, no castelo da Ordem Teutônica, em Malbork (Marienburg), Polônia. Mais sobre o castelo de Malbork (Marienburg)











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Abades santos governam Cluny quase 200 anos

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São Mayeul, abade de Cluny.
São Mayeul, abade de Cluny.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



continuação do post anterior: Santo Odon e as origens do mosteiro de Cluny



A fim de evitar confusões, é conveniente explicar desde já que a palavra cluny tem, em geral, dois significados. Um deles diz respeito à Abadia de Cluny, fundada em 910 pelo Bem aventurado Bernon, e que desapareceu na Revolução Francesa, quando seus últimos monges pereceram nas mãos dos revolucionários.

Sua igreja, a célebre Igreja de São Pedro de Cluny, foi a maior do mundo até a construção da Basílica de São Pedro do Vaticano, edificada propositadamente com alguns metros a mais do que a abacial de Cluny.

Adornado de riquezas artísticas sem número, esse monumento de arte e resumo de um glorioso passado de vários séculos foi dinamitado pela prefeitura da pequena cidade de Cluny, no tempo de Napoleão.

Esse crime tão patente forçou a Revolução a inventar uma lenda que pelo menos excluísse Bonaparte desse vergonhoso episódio.

Reza essa lenda que certo dia, em que dava audiência às prefeituras de várias cidades, ao ser anunciada a delegação de Cluny, o Imperador voltou lhe as costas, dizendo que não recebia bárbaros.

O outro significado de Cluny corresponde ao que poderíamos chamar de Congregação de Cluny, embora esse nome não seja completamente adaptável à realidade histórica.

Ele designa o conjunto de mosteiros governados pelo abade de Cluny, e que seguiam o mesmo “Ordo”, ou seja, tinham os mesmos usos e costumes.

Esse conjunto constituía como que uma única abadia beneditina, e tinha por cabeça o mosteiro fundado pelo Beato Bernon. Será neste último sentido que usaremos a palavra Cluny. Quando tivermos que nos referir à abadia propriamente dita, declará-lo-emos explicitamente.

São Hugo falando com seus monges, manuscrito século XIII, Bibliothèque National de France Mss.ms.latin 17716, fol 25,
São Hugo falando com seus monges, manuscrito século XIII,
Bibliothèque National de France Mss.ms.latin 17716, fol 25,
Há uma diferença enorme entre a Cluny dos dois primeiros séculos e a dos tempos posteriores. Foi nos primeiros duzentos anos que Cluny chegou à perfeição que tanto entusiasma os que estudam a sua história.

Neles é que a grande Abadia foi a luz do mundo, a segunda Roma, procurada pelos peregrinos de toda a Cristandade quando as guerras e epidemias não lhes permitiam ir à Cidade Eterna.

Atingindo um alto grau de sabedoria e santidade, Cluny foi então não só o modelo do monacato e de toda a Cristandade, como também o modelador da alma da Idade Média. Nesse período, os seus monges e abades eram venerados pelo povo fiel, que neles via o exemplo que deveria imitar.

Estavam eles por toda parte. Nos mosteiros, cantavam os louvores de Deus em horas determinadas, na medida do possível as mesmas para todos, para que todos juntos, até os que estivessem viajando, pudessem participar das mesmas orações, de modo que todo o imenso império de Cluny se prosternava ao mesmo tempo, para adorar o Criador de todas as coisas.

E todo o mundo sabia que naquelas horas podia contar com as preces dos cluniacenses e tomar parte nestas, a elas se associando na adoração e nas súplicas a Deus.

Era também nos mosteiros que esses filhos de São Bento se preparavam para formar a sociedade medieval, sacralizando todas as instituições e atividades humanas, procurando a perfeição em tudo, para que tudo fosse perfeito e belo, pois não compreendiam nada do que faziam sem a beleza, porque Deus é belo em tudo o que fez.

(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”) 




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Esplendor do gótico e glória da Idade Média

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Catedral de Burgos, Espanha
Catedral de Burgos, Espanha




Gótico! Quanta glória encerra esta expressão!

Quando a Renascença exumou a cultura clássica e rejeitou a civilização medieval, “gótico significava “bárbaro”, grotesco, próprio aos Godos.

Hoje, com o correr dos séculos, a pátina do tempo transformou “gótico” em sinônimo de “glória”.

Glória pelo esplendor da arte que elaborou o arco ogival e rasgou os céus com as torres de catedrais como as de Paris, Chartres e Colônia.

Glória pela civilização que extinguiu a escravidão, converteu os bárbaros, inventou as universidades e construiu os primeiros hospitais.



Catedral de Estrasburgo, França
Catedral de Estrasburgo, França
Glória pela “doce primavera da Fé”, época em que o teólogo e o arquiteto uniram seus talentos para louvar a Deus.

* * *

Se alguém, no entanto, quiser intuir num simples golpe de vista o fulgor dessa glória, basta observar as fotos de nosso post.

O jogo de luzes e sombras realça o imponderável da cena.

Do belo edifício gótico aparecem apenas algumas partes, iluminadas por intensa luz dourada.

As muralhas e as ogivas imergem no mistério.

Capela de Saint Hubert, no castelo de Amboise, Loire, França
Capela de Santo Huberto, no castelo de Amboise, Loire, França

* * *

Construída sobre rocha escarpada às margens do Loire, no jardim da França.

A capela de Santo Huberto lembra o apogeu da Idade Média, embora o castelo a que pertença, Amboise, tenha sido edificado em estilo renascentista.

Apogeu que infelizmente teve breve duração, mas que iluminou o firmamento da História assim como um corisco ilumina a abóbada celeste.

Fixa nesse instante de glória, a capela de Santo Huberto irradia ao longo dos séculos o esplendor da arte gótica!




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A decadência de Cluny

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Croquis da nave central de Cluny antes da demolição revolucionária. Jean-Baptiste Lallemand, 1771-1780.
Croquis da nave central de Cluny antes da demolição revolucionária.
Jean-Baptiste Lallemand, 1771-1780.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs



continuação do post anterior: Abades santos governam Cluny quase 200 anos




Quando se fala de Cluny, entende se esse período de tal forma grandioso, que ofusca todo o resto da história cluniacense.

Não é que Cluny tenha deixado de ser grande. Pelo contrário, por muito mais tempo ainda, não só na Idade Média, mas mesmo no início da Idade Moderna, a Abadia conservou o seu prestígio.

Foi pouco a pouco que ela decaiu. O brilho que manteve ainda depois desses dois séculos deixa se ver nitidamente pela condição social de muitos de seus abades: vários príncipes da casa de Lorena e muitos grandes nobres da França e da Inglaterra.

No fim do século XVI, porém, a Abadia já não era senão uma sombra do que fora. O abaciato caíra sob o fatal regime da comenda.

Mas era tão glorioso o passado de Cluny, que ainda nessas tristes condições Richelieu e Mazarino quiseram ser seus abades, porque o título de Abade de Cluny acrescentava alguma coisa ao prestígio desses homens postos no pináculo de todas as grandezas humanas.

De 910 a 1109, Cluny teve seis abades: o Bem aventurado Bernon (910 926), Santo Odon (926 944), Aymard (944 954), São Maïeul (954 994), Santo Odilon (994 1049) e São Hugo (1049 1109).

Os próprios cluniacenses consideravam Santo Odon como o verdadeiro fundador da Abadia, e realmente foi ele que deu a Cluny a sua fisionomia definitiva. Além disso, logo depois da fundação Santo Odon foi auxiliar direto do Bem aventurado Bernon, e pôde já desde o início trabalhar nessa grande obra.

O terceiro abade, Aymard, governou pouco tempo, porque ficou logo cego e passou a direção efetiva a São Maïeul, seu coadjutor.

Na realidade, nesses duzentos anos Cluny foi governada pelos quatro abades santos: Santo Odon, São Maïeul, Santo Odilon e São Hugo.

Esses prelados eram varões extraordinários. Todos refletiam no exterior a luz peculiar da formação cluniacense.

O homem medieval sabia reconhecer o maravilhoso e ver a Deus em seus eleitos, de modo que a mera presença dos abades de Cluny provocava entusiasmo, conversões súbitas e desejo de colaborar com eles.

São Austremoine, detalhe da urna de Santa Calmina
São Austremoine, detalhe da urna de Santa Calmina
É o caso, por exemplo, de um bandido italiano que, à simples vista de Santo Odon, pediu para entrar em Cluny, indo lá morrer pouco depois em odor de santidade. Ou o de Hugo de Arles, Rei da Itália, que nada recusava aos monges porque conhecera Santo Odon.

Não era só a presença de algum dos abades cluniacenses que provocava movimentos de piedade popular. Muitas vezes o povo queria ao menos ver algo que os tivesse tocado.

Durante uma visita de Santo Odilon a Pavia, onde fora encontrar se com o Imperador, as cidades vizinhas o obrigaram a mandar o seu cavalo percorrê las, para que vissem pelo menos a montaria que ele usava.

Os quatro abades tinham esse fundo comum cluniacense, reconhecido até pelo povo, embora fossem muito diferentes entre si. É esse fundo comum que é o cerne da personalidade de cada um deles.

Foi o que viu muito bem D. Jacques Hourlier em seu estudo sobre Santo Odilon:

“O que há de mais notável na história de Cluny é que sempre revelaram em suas atitudes a permanência de “alguma coisa” própria de Cluny — uma unidade de pensamento, de orientação, de estilo, apesar da evidente diversidade de caracteres e temperamentos, apesar das mais profundas transformações da sociedade” (D. Jacques Hourlier, “Saint Odilon, Abbé de Cluny”, Bibliothèque de l’Université, Louvain, p. 50).

Essa “alguma coisa” pode se encontrar no pensamento, nos princípios que orientaram os quatro santos abades na formação de Cluny. É o que fazem os historiadores, ao pesquisar os poucos documentos que chegaram até nós, sobretudo as obras de Santo Odon e Santo Odilon.

Resumindo as conclusões a que chegaram, acreditamos poder dar aos nossos leitores uma idéia clara de quais foram os princípios que nortearam os quatro abades que construíram Cluny.

(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”) 




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Conhecimentos industriais e científicos da Antiguidade cuidadosamente aproveitados

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Certos tratados do mundo antigo eram conhecidos na Idade Média. Conservamos 7 manuscritos do século X do Tratado da Arte Militar de Vegécio, escritor latino do século IV; chegaram-nos ainda 19 manuscritos do século XIII e, no mínimo, uma centena dos séculos XIV e XV.

Enfim, a obra de Vitrúvio, que constitui um manancial de informações sobre a técnica romana e a arquitetura clássica era facilmente encontrada nos mosteiros e cidades da 'Europa Ocidental.

Foi copiada e recopiada inúmeras vezes, entre outras, no século VIII, pelos clérigos de Jarrow, na Inglaterra.

Sabemos que no século IX, Eginhard, que era responsável pelas construções do imperador Carlos Magno, possuía um exemplar. Os ricos mosteiros de Fulda e de Reichenau conservavam uma copia de Vitrúvio cada um.



No século XI, um outro manuscrito foi caligrafado pelos beneditinos da Abadia de Saint-Pierre de Gand. Um século mais tarde, esse famoso texto foi recopiado 12 vezes.

No século XX, restam 55 exemplares que se escalonam entre os séculos X e XV.

Em 1414, o humanista italiano Poggio “redescobriu” um manuscrito de Vitrúvio entre os tesouros da biblioteca do Mosteiro de Saint-Gall.

Nessa época, acreditava-se geralmente que a Idade Média não conhecera a existência do arquiteto romano. Os intelectuais da Renascença nada fizeram para dissipar esse erro.

Os medievalistas tiveram dificuldade (ainda hoje têm) em corrigir o erro dos humanistas dos séculos XV e XVI. O Carnet de Notes de Villard, assim como outros documentos posteriores ou contemporâneos, provam, pelo contrário, a que ponto a civilização romana era apreciada pelos homens da Idade Média.

Os desenhos de Villard que se inspiraram em estátuas e monumentos antigos são em grande número.

Por exemplo, duas cabeças barbudas e coroadas de folhas, personagens vestidos de clâmide [manto dos antigos gregos], ostentando o barrete frígio, e um nu enigmático que brande um vaso de flores. Este último desenho é sombreado em tom castanho escuro. Todos são claramente de inspiração clássica.

Um croqui representando um monumento antigo ocupa toda uma folha e tem a seguinte legenda: “Vi outrora o túmulo de um muçulmano. Eis como era”.

Copia do tratado de Vitrúvio, por volta de 1390.
Wolbert H.M. Vroom Collection, Amsterdam
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio teve uma influência inegável sobre os temas estudados por Villard.

Tal como os outros arquitetos do mundo antigo, Vitrúvio era um homem das artes mecânicas, isto é, não tinha recebido qualquer formação acadêmica, a qual somente era acessível aos ricos.

Vivamente magoado com a inferioridade da condição social dos arquitetos, procurou obter para ele e seus colegas a consideração e o respeito de que deveriam gozar suas atividades de arquiteto.

Vitrúvio queria que a cultura do arquiteto fosse enciclopédica. O próprio Vitrúvio nunca atingiu esse ideal. Seu latim não era dos melhores. Entretanto, graças à extensão de seus conhecimentos e também às suas ambições intelectuais, conhecemos numerosos aspectos da tecnologia helênica e romana.

Villard foi a sobrepor figuras geométricas aos seus croquis de homens e animais. Esses desenhos são frequentemente reproduzidos pelos editores modernos e certos historiadores de Arte quiseram ver em Villard de Honnecourt o precursor dos cubistas, o que ele não foi.


(Autor: Jean Gimpel, “A revolução Industrial da Idade Média”, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1977, 222 páginas).


Continuação no próximo post: a Geometria a serviço do arquiteto medieval



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Zelo pela tradição na arquitetura de Cluny

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Capitel da antiga Ecclesia Maior de Cluny
Capitel da antiga Ecclesia Maior de Cluny
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



continuação do post anterior: Abades santos governam Cluny quase 200 anos



Procurando sistematizar um pouco a imensa riqueza de aspectos pelos quais podemos abordar o estudo dos princípios que guiaram os cluniacenses em sua obra gigantesca, escolhemos para nos servir de referência o zelo pela tradição, que esses monges deixaram impresso indelevelmente em tudo que realizaram.

Na escolha dos meios para atingirem os fins que desejavam, era a tradição o farol que os guiava. Estudavam o passado com os olhos voltados para o futuro, para construírem o presente, a fim de que este fosse o mais forte elo entre aquelas duas épocas e imprimisse à humanidade de seu tempo o maior progresso possível.

Este zelo pela tradição é incontestável. Ninguém o põe em dúvida. Poderíamos escolher qualquer atividade humana para mostrar como a tradição presidiu às obras que realizaram esses discípulos de São Bento. Escolhemos a arquitetura.

Já no século passado, Eugène Emmanuel Viollet le Duc, estudando a arquitetura dos mosteiros de Cluny, mostrou a existência de uma arquitetura própria cluniacense, que levou à perfeição o estilo românico.

Sua tese foi duramente criticada e até mesmo ridicularizada por alguns. Neste século, a “Medieval Academy of America” enviou a Cluny uma missão arqueológica para estudar as construções da célebre Abadia.

Seus trabalhos continuam ainda hoje, e, graças sobretudo a Kenneth John Conant, que os lidera, conseguiu levantar dos escombros que restam a reconstituição arqueológica de todos os edifícios lá construídos pelos cluniacenses.

Viollet le Duc foi reabilitado pela missão norte-americana. Dele diz Conant que

“foi o primeiro nos tempos modernos a ter a intuição do que tinha sido Cluny. Distinguindo se entre os mais qualificados arquitetos que conheceram o fundo e a técnica da arquitetura da Idade Média na França, estava bem preparado para compreender os cluniacenses, cujo espírito falava nos seus monumentos com uma eloqüência particular” (K. J. Conant, “Cluny – Les Églises et la Maison du Chef d’Ordre”, Mâcon, 1968).

Mais adiante, depois de mostrar a tradição sempre presente nas construções cluniacenses, volta a tratar do assunto:

“Vê-se, além disso, o que havia de arbitrário nos contraditores de Viollet-le-Duc, que não compreenderam em que sentido houve, realmente, uma escola cluniacense. Como a igreja abacial de Cluny foi a obra-prima do estilo cluniacense, a mais bela, a mais rica e, na época, a maior do mundo (com poucos metros a menos, como dissemos, do que a atual Basílica de São Pedro do Vaticano), vamos ainda citar uma breve descrição desse templo, que deixa bem patente como os cluniacenses marcavam de tradição suas construções:

“O próprio edifício, por seu estilo, por seus elementos, relembrava perfeitamente a extensão imperial da Congregação de Cluny. Um monge vindo de qualquer lugar encontrava ali alguma coisa que lhe recordava a arte da região de onde viera. Cluny agregava mosteiros de toda parte e colhia também em toda parte elementos para a sua arte.

Rosácea da igreja principal de Cluny, segundo reconstituição digital
Rosácea da igreja principal de Cluny, segundo reconstituição digital
“Algumas notas farão compreender a natureza dessa síntese sutil. O plano em cruz arquiepiscopal exprimia um edifício que era uma combinação muito hábil do plano central da basílica romana de duplo transepto com o plano basilical ordinário.

“A ele se acrescentava um deambulatório com capelas formando raios. O aspecto interior, se bem que fosse uma das mais altas naves abobadadas até então construídas, fazia prevalecer a longa linha horizontal amada pelos meridionais, enquanto que as torres levantadas sobre os transeptos forneciam as massas para a interpretação e as linhas montantes tão caras aos bizantinos e aos setentrionais.

“A decoração era feita com pinturas de inspiração bizantina e esculturas – centenas de capitéis esculturados, um pórtico notável – que são os marcos da reconquista da arte de fazer esculturas em pedra.

“ Numerosos capitéis relembram muito o coríntio antigo, mas muitos deles tinham o estilo novo que a arquitetura soubera dar a todo o edifício.

“A arte que produziu esse edifício era visivelmente uma arte especial e de elite. Só uma tal congregação e um tal abade [São Hugo] poderiam executar um tal projeto. Temos o direito, creio, de qualificar de escola cluniacense a obra dessa plêiade de Cluny.

“Esse maravilhoso florão não é, na verdade, arquitetura românica da Borgonha. De um lado ultrapassa as fronteiras da Borgonha; de outro, tirando se Cluny da Borgonha, fica uma arquitetura regional, borguinhona.

“A arquitetura de Cluny é uma soma da arquitetura românica e de suas fontes de inspiração, obra especial feita em Cluny, pelo instituto beneditino de Cluny, sob a presidência de um abade de Cluny e por monges de Cluny.

“Concebida em 1088 e terminada em 1109, Cluny tem o direito de ocupar o primeiro lugar como a maior obra desse grande período, com um edifício ricamente dotado pelo passado, em progresso sobre o seu tempo e antecipando ousadamente o futuro (“Dictionnaire d’Histoire et de Géographie Ecclésiastique”, verbete Bénédictin – Ordre, por Ph. Schmitz, cols. 1161 a 1162 do vol. VII).
Ábside da igreja principal de Cluny, segundo reconstituição digital
Ábside da igreja principal de Cluny, segundo reconstituição digital
Essa descrição põe em relevo como Cluny procurava a beleza no passado para que suas realizações fossem cada vez mais belas. E é a beleza outro aspecto característico de Cluny, o que bem exprimia Santo Odon dizendo que “a arte é a antecâmara do Céu”.

O historiador Guy de Valous vai mais além:

“Em Cluny a vida espiritual tem necessidade da beleza para desabrochar; é um dos traços dominantes da tradição cluniacense, tanto na arte espiritual como nas artes plásticas, na formação das almas como na do mosteiro.

“Os monges não eram estetas, eram artistas peritos em ir ao encontro de Deus por caminhos de suma beleza, e precisamos nos lembrar de que eles não separavam o bom do belo” (Guy de Valous, “Le Monachisme Clunisien des Origines au Xve. Siècle”, vol. 1, Introduction, p. IV).

Ao encerrarmos este artigo, não podemos deixar de transcrever as palavras finais do citado livro de K. J. Conant. Ele foi publicado em 1968 pela “Medieval Academy of America”, em francês e inglês. Contém tudo o que se conhece até hoje sobre a Igreja e a Abadia de Cluny.

Como se sabe, o vandalismo da Revolução Francesa iniciou a destruição sistemática da Abadia. No tempo de Napoleão, a Igreja de São Pedro, a maravilha da arquitetura de Cluny, foi dinamitada. A Restauração não impediu que a destruição prosseguisse.

Até 1823 o arrasamento continuou, deixando intactas apenas algumas pedras. Foi a partir delas que a reconstrução arqueológica pôde ser feita. Depois de expor os resultados obtidos, Conant termina com as seguintes palavras:

“Mas se a beleza pode perecer, sua lembrança sobrevive.

“Na medida em que nos foi possível, trouxemos a uma nova vida a Cluny de outrora. Não teríamos estado à altura da tarefa se, no decurso de nosso trabalho, a beleza material e espiritual que deu forma a essas pedras não tivesse voltado algumas vezes de seu exílio, para nos unir intimamente ao espírito cluniacense” (Op. cit., p. 134).

(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”) 




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Em Cluny, história como alimento para as almas

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Luis Dufaur
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Nas pesquisas arqueológicas que estão sendo feitas em Cluny, um dos critérios básicos que orientam os estudiosos da grande Abadia é o respeito à tradição que os cluniacenses sempre observaram em suas obras.

O empenho que tinham esses monges em serem os continuadores de seus maiores simplifica muitas vezes o trabalho dos pesquisadores.

Quando as ruínas em que trabalham não lhes fornecem elementos suficientes para uma reconstituição, recorrem eles ao passado, procurando uma abadia ou igreja de anteriores épocas que tenha sido conservada até hoje, para conseguirem, por comparação, completar os dados que puderam coligir nos restos do monumento que estão reconstituindo.

Em tudo, os cluniacenses tinham como guia a tradição. Eles eram eminentemente conservadores no verdadeiro sentido da palavra — isto é, estudavam, conservavam e desenvolviam o que o passado realizara de bom, belo e verdadeiro, sem prejuízo de inovações prudentes e fecundas — para que a humanidade não se desviasse do reto caminho em seu progresso para a eternidade.

Esse cuidado com a tradição exigia deles um bom conhecimento da História, estudada à luz da doutrina católica, para poderem discernir nos acontecimentos passados a mão de Deus, que conduz a humanidade, da obra dos homens que tentam opor se à Providência Divina.

Esse estudo, assim feito, não só lhes permitia construir o presente com segurança, como alimentava a própria vida espiritual dos monges.

E, de fato, vê se em listas de volumes retirados da biblioteca de Cluny, para a hora destinada pela Regra à leitura espiritual, vários livros históricos, tanto consideravam os cluniacenses a História como um alimento da vida de suas almas.

Por outro lado, eles deviam também deixar registrados os acontecimentos que se passavam sob seus olhos. Daí o cuidado que tiveram os abades, desde Santo Odon, com os arquivos da Abadia.

Mais eloquente ainda é a deliberação de Santo Odilon, mandando Raoul Glabre escrever a crônica de seu tempo, para que a posteridade conhecesse a “gesta Dei” no mundo durante a época em que viviam.

Devemos ter sempre presente esse respeito pela tradição, se quisermos conhecer bem o pensamento que presidia à formação dos monges de Cluny.

Tanto mais que ele é sempre o mesmo, sem solução de continuidade, por parte dos abades e de todos os religiosos durante os chamados tempos heroicos da Abadia, que podemos limitar aos anos do governo de Santo Odon, São Maïeul, Santo Odilon e São Hugo.

Não quer isso dizer que esse pensamento tenha ficado imóvel durante todo esse período.

Pelo contrário, ele foi sendo explicitado sempre mais, pelas sucessivas gerações de monges que não só o desenvolveram, como o aplicaram na vida que levavam no mosteiro e fora dele.

E como esses quatro abades são os arquétipos da vida monástica que instituíram, é analisando seu pensamento que poderemos melhor conhecer o pensamento de Cluny.

Homens extraordinários, com qualidades humanas excepcionais e sobrenaturalizados pela “metanóia” exigida pelo voto de reforma dos costumes, que a Regra de São Bento lhes pedia ao entrarem no mosteiro, souberam eles pô las ao serviço do ideal cluniacense que conceberam.

Cada um deles deu a sua contribuição para a formação desse pensamento comum destinado a construir, ao longo de duzentos anos, essa Cluny primitiva, a verdadeira Cluny, tão admirada por quem quer que conheça a sua história.

Infelizmente, os escritos que se conhecem desses quatro santos abades são raros, o que dificulta muito o trabalho dos historiadores. Aliás, a pobreza de documentos de que se ressente a História medieval é notória, e muito explicável.

Além de serem deficientes os meios materiais de que dispunham os medievais para deixarem obras escritas para a posteridade, a Revolução encarregou se de destruir boa parte do que poderia ter chegado até nós.

A difusão de seus erros só seria possível com a sistemática destruição de tudo que revelasse a grandeza dessa era gloriosa que foi a Idade Média. Cluny, particularmente, sofreu muito com as pilhagens, devastações, incêndios de igrejas e mosteiros, com que o ódio revolucionário perseguiu sua memória.

Existem, entretanto, algumas obras de Santo Odon, e outras, em menor número, de Santo Odilon e São Hugo. Curiosamente, não chegou até nós nada escrito por São Maïeul. Entretanto, os historiadores souberam aproveitar esse material existente e dar dele uma boa visão de conjunto, o que nos permitirá tentar um estudo do pensamento cluniacense.

O verdadeiro fundador de Cluny, o abade que deu o espírito à Abadia, foi Santo Odon. Antes de se empenhar nessa obra, ele meditou profundamente sobre a formação a dar a seus monges, sobre a História do mundo e sobre o estado em que este se encontrava na sua época.

Era uma época de trevas, da mais completa decadência. Desmoronara o Império católico de Carlos Magno, ruíam as instituições, e a corrupção de costumes invadira todas as camadas da sociedade, atingindo até a vida religiosa e a própria Santa Sé.

São Pedro, a quem estava consagrada a grande igreja abacial de Cluny, a maior da Idade Média
São Pedro, a quem estava consagrada a grande igreja abacial de Cluny,
a maior da Idade Média
Ora, Santo Odon queria que os seus monges fossem o sal da terra, que regeneraria os homens, as instituições e toda a sociedade, tirando a do caos em que se encontrava. Meditou com todo o cuidado as causas dessa decadência e escolheu os remédios necessários e suficientes para renovar o mundo.

As conclusões a que chegou, ele as expôs numa obra, a “Occupatio”, escrita em versos, que é fundamental para compreendermos o pensamento de Cluny. Infelizmente, não conhecemos seu texto (do qual A. Svoboda publicou uma edição crítica em 1900), mas tantos são os trabalhos publicados sobre ela, que as suas linhas fundamentais estão bem definidas para nós.

Santo Odon identificava sua época como o limiar dos últimos tempos.

E a “Occupatio”é estudo teológico da História desde a criação e a queda dos anjos até esse limiar dos últimos tempos, o que lhe permitiu conceber como deveria ser o monge cluniacense para combater eficazmente os males da humanidade nos tempos em que vivia, e para construir esses últimos tempos que viriam.

A importância desse estudo é enorme. Suas conclusões não valem só para os monges que o autor desejava formar.

Pelo menos em suas linhas gerais, são válidas para qualquer homem. Dom Kassius Hallinger observa com muita razão que Santo Odon ensina o leitor a “evitar os caminhos extraordinários de sua própria fantasia e, ainda mais, a encontrar a segurança no identificar-se com os acontecimentos históricos concretos” (K. Hallinger, “The Spiritual Life of Cluny”, editado por Noreen Hunt em seu“Cluniac Monasticism in the Central Middle Age”, p. 33).

É essa obra fundamental que nos servirá de ponto de partida para o estudo que pretendemos fazer.


(Autor: Prof. Fernando Furquim de Almeida, “Catolicismo”) 

FIM




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O Sacro Império Romano-Alemão modelo autêntico de união de nações Opção certa à desarmonia da União Europeia

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Carlos Magno, segundo uma gravura de Durer.

O famoso artista alemão soube representar com admirável precisão
o que a História narra sobre a personalidade do grande Imperador.
Toda a sua fisionomia exprime força, poder, hábito de dominar.
Porém uma força que não nasce do transbordamento brutal
de um temperamento efervescente,
mas de uma alta noção do direito do bem.
Seu poder é menos o das armas, que o do espírito.
Majestoso, é entretanto cheio de bondade.
Há em toda a sua pessoa qualquer coisa de sagrado:
é o homem providencial, que instaurou o Reino de Cristo na ordem temporal,
e fundou os alicerces da civilização cristã;
é o Imperador investido pelo Papa da missão apostólica
de ser por excelência o paladino da Fé.
Foi Carlos Magno o primeiro realizador da unidade temporal da Europa cristã.

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




O “Brexit” constituiu um formidável abalo para os promotores de uma República Universal. Ainda se discute o que é que advirá na Europa.

Mas, alguns arguem que a União Europeia não é necessária ou intrinsecamente ruim, mas é algo conveniente imposto por uma história de séculos de guerras.

Podem acrescentar até que a crescente agressividade demonstrada pela Rússia obriga ainda mais os países europeus a estreitarem forças contra o perigo comum.

Então, perguntam, a paz não exigiria formar uma imensa união de Portugal até os confins da Rússia, ainda que sacrificando as nacionalidades históricas?

O dilema União Europeia SIM vs União Europeia NÃO, tem uma terceira opção, que essa sim reúne as vantagens da União e afasta suas desvantagens.

Trata-se da Cristandade que teve sua organização internacional acabada no Sacro Império Romano Germânico instituído pela Igreja Católica na pessoa de Carlos Magno.

Vejamos como desenvolve o caso o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, que em vida foi professor de História Moderna e Contemporânea na PUC-SP:
Coroa dos Imperadores do Sacro Império
Coroa dos Imperadores do Sacro Império
Se se pergunta se é uma novidade a Federação, a resposta deve ser negativa.

A Europa já constituiu, em outros tempos, um grande todo de natureza federal, pelo menos no sentido muito amplo e muito genérico da palavra.

Em 476, o Império Romano do Ocidente deixou de existir.

O território, europeu, coberto de hordas bárbaras, não possuía Estados definidos e de fronteiras duráveis.

Era toda uma efervescência de selvajaria, que só foi amainando à medida que a ação dos grandes missionários assegurou, um pouco por toda parte, um início de pujante germinação para a semente evangélica.

A esta altura, tornando os costumes menos rudes, a vida menos incerta e turbilhonante, a ignorância menos espessa, estava constituída na Europa um grande conglomerado de povos cristãos que, por sobre todas as suas diversidades naturais, estavam unidos por dois vínculos comuns profundos, nascidos de um grande amor, e de um grande perigo:

a) - sinceramente, profundamente cristão, adorando pois em espírito e verdade (e não apenas em palavras e rotina) a Nosso Senhor Jesus Cristo, amavam e desejavam verdadeiramente praticar a Sua Lei, e estavam convictos de sua missão de estender o domínio desta Lei até os últimos confins da terra,

São Leão III coroa Carlos Magno e restaura o Império Romano de Ocidente, que passou a ser o Sacro Império Romano Alemão
São Leão III coroa Carlos Magno e restaura o Império Romano de Ocidente,
que passou a ser o Sacro Império Romano Alemão
b) - como fruto desta fé coerente e robusta reinava em todos os espíritos um mesmo modo de conceber o homem, a família, as relações sociais, a dor, a alegria, a glória, a humildade, a inocência, o pecado, a emenda, o perdão, a riqueza, o poder, a nobreza, a coragem, em uma palavra, a vida,

c) - daí, também, uma forte e substancial unidade de cultura e civilização, a despeito de variantes locais prodigiosamente ricas em cada nação, em cada região, e em cada feudo ou cidade;

d) - diante da dupla pressão dos sarracenos vindos da África, e dos pagãos vindos do Oriente da Europa, a ideia de um imenso risco comum, em que todos deviam auxiliar a todos, para uma vitória que seria de todos.

Todo este conjunto de fatores de unidade encontrou seu grande catalisador em Carlos Magno (742-814), que encarnou aos olhos de seus contemporâneos o tipo ideal do soberano cristão, forte, bravo, sábio, justiceiro e paternal, profundamente amante da paz, mas, invencível na guerra, considerando sua mais alta missão por a força do Estado ao serviço da Igreja para manter a Lei de Cristo em seus reinos, e defender a Cristandade contra seus agressores.

Este homem símbolo realizou seus ideais.

E quando Leão III, no ano de 800, na Igreja de Latrão, o coroou Imperador Romano do Ocidente, deu o mais alto remate à obra que Carlos Magno estava levando a efeito: ficava constituído, abrangendo toda a Europa cristã, um grande Império, destinado antes de tudo a manter, a defender, a propagar a Fé.

Este Império durou de 809 a 911.

Coroação de um imperador do Sacro Império,
pelos bispos de Mainz, Colônia eTrier
Em 962, o Imperador Otão, o Grande o ressuscitou, dando origem ao Sacro Império Romano Alemão.

Assim, com vicissitudes diversas, das quais a mais terrível foi a cisão trágica do protestantismo e a eclosão das tendências nacionalistas, no século XVI, manteve-se pelo menos teoricamente esta grande instituição até 1806.

Naquele ano Napoleão Bonaparte obrigou Francisco II, o último Imperador Romano Alemão, a aceitar a extinção do Sacro Império, e a assumir o simples título de Imperador da Áustria com o nome de Francisco I.

Não obstante certos períodos de crise, o Sacro Império teve grandes eras de glória, e sua estrutura serviu de fato para exprimir o ideal cristão de uma grande família de povos, unida à sombra maternal da Igreja, para manter a paz, a Fé, a moral, para defender a Cristandade, e apoiar no mundo inteiro a livre pregação do Evangelho.

Assim, em princípio, vê-se que a Igreja não se limita a permitir, mas favorece de todo coração as superestruturas internacionais, desde que se proponham um fim lícito.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “Catolicismo”, nº 14, Fevereiro de 1952).

E acrescentamos em continuidade com o pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira: a União Europeia hoje em crise não visa esse fim lícito. Mas, sim uma unidade sem religião, laica, sem moral, altamente dirigista e burocrática.

Em suma, uma unidade massificante, socializante, e isso gerou uma justa recusa. De ali o drama derivado do ‘Brexit’.

Assim, no III milênio encontramos que a solução a um dos problemas que devora os países de Europa, tem uma fonte inspiradora de soluções no auge da Idade Média!




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A herança: transmissão da posse ditada só pela natureza

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Parada histórica na Bélgica. A continuidade familiar razão de ser da transmissão natural dos bens sem intervenção da lei ou outro fator.
Parada histórica na Bélgica. A continuidade familiar
razão de ser da transmissão natural dos bens
sem intervenção da lei ou outro fator.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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O que é notável no sistema medieval de transmissão de bens é que passam para um único herdeiro, sendo este designado pelo sangue.

“Não existe herdeiro por testamento”, diz-se em direito consuetudinário.  

Na transmissão do patrimônio de família, a vontade do testamenteiro não intervém.

Pela morte de um pai de família, o seu sucessor natural entra de pleno direito em posse do patrimônio.

“O morto agarra o vivo”, dizia-se ainda nessa linguagem medieval, que tinha o segredo das expressões surpreendentes.

É a morte do ascendente que confere ao sucessor o título de posse, e o coloca de fato na posse da terra.

O homem de lei não tem de intervir nisso, como nos nossos dias.

Embora os costumes variem de acordo com as províncias e conforme o lugar, fazendo do mais velho ou do mais novo o herdeiro natural, e embora varie a maneira como sobrinhos e sobrinhas possam pretender à sucessão na falta de herdeiros diretos, pelo menos uma regra é constante: só se recebe uma herança em virtude dos laços naturais que unem uma pessoa a um defunto.

O aniversário do avô. Ferdinand Georg Waldmüller (1793 - 1865). Coleção particular.
O aniversário do avô. Ferdinand Georg Waldmüller (1793 - 1865). Coleção particular.
Isto quando se trata de bens imóveis, porquanto os testamentos só dizem respeito aos bens móveis ou a terras adquiridas durante a vida, e que não fazem parte dos bens de família.

Quando o herdeiro natural é notoriamente indigno do seu cargo, ou se é pobre de espírito, por exemplo, são admitidas alterações, mas em geral a vontade humana não intervém contra a ordem natural das coisas.

“Instituição de herdeiro não tem lugar”, tal é o adágio dos juristas de direito consuetudinário. É neste sentido que ainda hoje se diz, falando das sucessões reais: “O rei morreu, viva o rei”.

Não há interrupção nem vazio possível, uma vez que só a hereditariedade designa o sucessor. Por isso a gestão dos bens de família se acha continuamente assegurada.

A família von Kurneberg.
Codex Manesse, Große Heidelberger Liederhandschrift, Zürich,
Não deixar o patrimônio enfraquecer, tal é realmente o fim a que visam todos os costumes.

Por isso havia sempre um único herdeiro, pelo menos para os feudos nobres.

Temia-se a fragmentação que empobrece a terra, dividindo-a ao infinito.

O parcelamento foi sempre fonte de discussões e de processos, além de prejudicar o cultivador e dificultar o progresso material, pois é necessário um empreendimento de certa importância para poder aproveitar os melhoramentos que a ciência ou o trabalho põem ao alcance do camponês, ou para poder suportar eventuais fracassos parciais, e em qualquer caso fornecer recursos variados.

O grande domínio, tal como existe no regime feudal, permite uma sábia exploração da terra.

Pode-se deixar periodicamente uma parte em repouso, dando-lhe tempo para se renovar, e também variar as culturas, mantendo de cada uma delas uma harmoniosa proporção.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)





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Na Idade Média, a Europa encheu-se de escritores, artistas, monumentos e invenções

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Luis Dufaur
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Quanto ao ensino primário, também estava largamente difundido na Idade Média.

Em muitas regiões da Europa, havia escolas primárias gratuitas, funcionando ao lado de cada igreja paroquial, de forma a ministrar a instrução elementar a todos os indivíduos de todas as classes sociais.

As escolas primárias, como as superiores, estavam, na Idade Média, sob a alta orientação do Clero e da Igreja, que mantinha a unidade de pensamento do mundo cristão e portanto sua unidade política e a unidade de sua cultura, por meio da autoridade espiritual que cabe à Igreja Católica.

Os últimos séculos da Idade Média se caracterizaram por um extraordinário florescimento das letras e das artes. Apareceram, então, artistas e intelectuais que podem ombrear com os maiores que a humanidade tenha conhecido em qualquer tempo.

Sem me referir novamente a São Tomás de Aquino, o maior filósofo de todos os tempos, nem a São Boaventura, Santo Anselmo, Alberto Magno Duns Scott e muitos outros, cujos nomes convém que retenham desde já, vamos ao terreno literário.

Neste terreno, os três principais nomes são italianos. Dante (1265-1321) autor da "Divina Comédia" que faz dele um dos maiores poetas de todos os tempos, Petrarca (1304-1374) cujas canções e sonetos lhe valeram merecidamente a imortalidade, e Boccácio, (1313-1375), autor do "Decameron", célebre coleção de histórias, são três escritores em nada inferiores aos maiores que o mundo tenha produzido. Froissart, Joinville, Villehardouin, Pérez del Pulgar e outros, também foram escritores medievais de valor.

Os nomes de muito dos artistas medievais não nos são conhecidos. As maravilhosas catedrais da Idade Média, entre as quais se destacam especialmente a de Reims, Chartres, Paris, Colônia, Westminster, etc., estão cheias de obras de arte do maior valor, principalmente de estátuas dignas de figurar entre as mais famosas do mundo.

Infelizmente, porém, eles não deixaram seu nome à posteridade, porque trabalhavam sem a preocupação de granjear a celebridade.

As obras de arquitetura da Idade Média são dignas de figurar entre as mais famosas do mundo, e suas proporções excederam de muito às dos grandes monumentos gregos ou romanos.

Assim, a famosa Catedral de Notre Dame de Paris, obra de Maurice de Sully, tem dimensões incomparavelmente maiores do que as do Parthenon de Atenas.

Entre os nomes mais famosos nas artes da Idade Média, pode ser mencionado Claus Sluter, de origem alemã ou holandesa, que trabalhou na corte dos duques de Borgonha (1389-1405) onde, entre outras coisas famosas, esculpiu o célebre "Poço de Moisés".

A Idade Média conheceu invenções verdadeiramente notáveis. Três dentre elas merecem especial menção: a bússola, a pólvora e a imprensa.

Não há muita certeza a respeito do modo pelo qual a Europa medieval chegou ao conhecimento desses importantes fatores de civilização. É certo que os chineses os conheceram desde muito cedo.

Em todo o caso, se não se afirmar que os europeus os descobriram sem se servirem para isto do conhecimento do que se fazia na China ‒ o que se poderia ter dado por meio dos árabes ‒ é certo ao menos que os Europeus aperfeiçoaram notavelmente tanto a bússola, quanto a pólvora e a imprensa, de sorte a lhes darem uma utilidade extraordinária, desconhecida aos chineses.

Foram os medievais, os primeiros a tirar todo o proveito, para a navegação, das agulhas imantadas que se dirigem sempre para o Norte. Com pleno aproveitamento dessa propriedade, nasceu a bússola.

Foram os medievais, que conseguiram ‒ e infelizmente não trouxeram com isto grande vantagem à civilização ‒ utilizar a pólvora, não apenas como fogo de artifício à moda dos chineses, mas como eficientíssimo meio de combate.

Foram ainda os medievais, que conseguiram inventar a imprensa. A imprensa em madeira ‒ xilografia ‒ já era conhecida na Europa desde o XII século, mas seu desenvolvimento maior datou do século XV, quando Gutenberg, natural da Mogúncia, inventou os caracteres móveis de metal.

Também foi na Idade Média, no X século, que começou a ser utilizado o papel na Europa, em lugar do pergaminho.

Quanto à pólvora, discute-se se é a Alberto Magno, a Rogerius Bacon ou a Bertholdo Schwartz, que cabe a glória de ter inventado ou introduzido na Europa a pólvora de canhão, não se sabendo também, ao certo, se foi somente durante a guerra dos cem anos, ou já antes disto, que a pólvora começou a ser utilizada durante os combates.

É conveniente que os senhores notem uma característica importante destas invenções: elas, por si só, pouco significam. O que elas têm de interessante é que tornaram possíveis imensos progressos dos quais elas eram instrumentos quase indispensáveis.

Veja-se, por exemplo, a bússola. As grandes navegações de que resultaram o descobrimento da América e o contato com a ­sia, não teriam sido possíveis se não existisse a bússola.

O mesmo se deu com o papel e a imprensa: a geral divulgação das letras não seria tão fácil se não tivessem sido inventadas de antemão a imprensa e o papel.

O mesmo, ainda, se deu com a pólvora. Toda a formidável evolução da estratégia militar, veio substituir os antiquados e imensos castelos da Idade Média pelas que achou-se ser moderníssimas e subterrâneas “linhas Maginot”, não seria possível sem a invenção da pólvora que, na realidade, preparou todas as transformações que as artes bélicas têm sofrido. Isto, sem falar nos grandes proveitos industriais que a utilização da pólvora permite.

Essas invenções são bem características da Idade Média que, no terreno do progresso, foi sobretudo um período de elaboração e preparação fecundas.

Sem essa elaboração e as invenções preliminares a que ela deu lugar durante a própria Idade Média, o progresso material do mundo não teria sido, nem tão magnífico nem tão rápido, e certamente não teria atingido o esplendor a que chegou.

(Autor: Curso “História da Civilização”, preleção do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira (Resumo ditado para exame). Colégio Universitário anexo à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, por volta de 1940.)



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O rei da França e a "Maravilha" do monte de São Miguel do Perigo

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Luis Dufaur
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Em 966, a pedido do duque da Normandia, os monges beneditinos instalaram-se no Monte São Miguel, e construíram outra igreja.

No século XI, nova e magnífica igreja abacial ergueu-se no cume do rochedo, sobre um conjunto de criptas: os medievais a viam como figura da Jerusalém celeste.

No século seguinte fizeram-se novas ampliações na abadia.

Em 1204, uma parte da abadia foi destruída por um incêndio. No mesmo ano o rei Filipe Augusto, avô de São Luís, venceu definitivamente os normandos, anexando o ducado à Coroa de França.

Para manifestar sua gratidão por essa conquista, fez uma doação à Abadia de São Miguel, o que permitiu a construção do conjunto gótico hoje conhecido como “a Maravilha”, em lugar do que fora destruído no incêndio.

Ao longo da Guerra dos Cem Anos (séculos XIV e XV), várias construções militares deram à ilha um caráter de fortaleza indomável, tendo resistido a um cerco de mais de 30 anos feito pelos ingleses.


Transformada em prisão durante a Revolução Francesa e o império napoleônico, a abadia chegou ao final do século XIX em estado lamentável.

Em 1874, passou à tutela dos Monumentos Históricos, ou seja, do Estado francês.

Felizmente a influência artisticamente benéfica da escola de Viollet-le-Duc se fez sentir.

O campanário da abadia pôde ser coroado com a audaciosa agulha encimada pela estátua dourada do Arcanjo São Miguel vencendo o dragão infernal, obra de Emmanuel Frémiet, concluída em 1897.

Passados mais cem anos, a estátua do Arcanjo foi redourada, e é assim que a vemos hoje.

Considerado o Monte Saint-Michel como um monumento, sem dúvida algo se faz para conservar essa maravilha.

Atualmente estão em execução obras gigantescas, que têm por objetivo devolver à baía o antigo movimento das águas e areias, e assim impedir o assoreamento ocorrido nos últimos tempos.

Uma coisa, porém, falta aos homens de hoje: o espírito sobrenatural, que moveu os antepassados a erguer essa obra sobre-humana de força, beleza e fé.

Wilson Gabriel da Silva






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Esplendor do gótico e glória da Idade Média

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Catedral de Burgos, Espanha
Catedral de Burgos, Espanha




Gótico! Quanta glória encerra esta expressão!

Quando a Renascença exumou a cultura clássica e rejeitou a civilização medieval, “gótico significava “bárbaro”, grotesco, próprio aos Godos.

Hoje, com o correr dos séculos, a pátina do tempo transformou “gótico” em sinônimo de “glória”.

Glória pelo esplendor da arte que elaborou o arco ogival e rasgou os céus com as torres de catedrais como as de Paris, Chartres e Colônia.

Glória pela civilização que extinguiu a escravidão, converteu os bárbaros, inventou as universidades e construiu os primeiros hospitais.



Catedral de Estrasburgo, França
Catedral de Estrasburgo, França
Glória pela “doce primavera da Fé”, época em que o teólogo e o arquiteto uniram seus talentos para louvar a Deus.

* * *

Se alguém, no entanto, quiser intuir num simples golpe de vista o fulgor dessa glória, basta observar as fotos de nosso post.

O jogo de luzes e sombras realça o imponderável da cena.

Do belo edifício gótico aparecem apenas algumas partes, iluminadas por intensa luz dourada.

As muralhas e as ogivas imergem no mistério.

Capela de Saint Hubert, no castelo de Amboise, Loire, França
Capela de Santo Huberto, no castelo de Amboise, Loire, França

* * *

Construída sobre rocha escarpada às margens do Loire, no jardim da França.

A capela de Santo Huberto lembra o apogeu da Idade Média, embora o castelo a que pertença, Amboise, tenha sido edificado em estilo renascentista.

Apogeu que infelizmente teve breve duração, mas que iluminou o firmamento da História assim como um corisco ilumina a abóbada celeste.

Fixa nesse instante de glória, a capela de Santo Huberto irradia ao longo dos séculos o esplendor da arte gótica!




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As Cruzadas no cerne das raízes cristãs Apologia da Cruzada I

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O Professor Roberto de Mattei, professor catedrático de História Moderna na Universidade de Cassino, publicou uma luzidia “Apologia das Cruzadas” cujas partes essenciais reproduziremos nos próximos posts.

O Prof. de Mattei também leciona História do Cristianismo e da Igreja na Universidade Europeia de Roma, e é responsável da área das ciências jurídicas, socioeconômicas, humanísticas e dos bens culturais do Consiglio Nazionale della Ricerca, da Itália.

“As obras de arte que nasceram na Europa
nos séculos passados são incompreensíveis
sem levar em conta a alma religiosa que as inspirou”.
Foto: catedral de Winchester, Inglaterra.
“Adeus ao espírito de Cruzada na Igreja” é um refrão que se repete pelo menos há quarenta anos e que condensa a visão de um cristianismo que fez do diálogo ecumênico seu evangelho.

Esta visão é baseada em distorções históricas e numa deformação muito grave da doutrina da Igreja.

Quais são essas raízes cristãs que, de acordo com Bento XVI e seu predecessor João Paulo II, não só os católicos, mas até mesmo os laicos têm o direito e o dever de defender?

Os frutos dessas raízes estão sob nossos olhos: são as catedrais, monumentos, palácios, praças e ruas, mas também música, literatura, poesia, ciência, arte.

São Tomás de Aquino, mosaico no priorato de São Domingose em Londres
As Cruzadas fazem parte da paisagem espiritual católica europeia do mesmo modo que as catedrais. 

Elas expressam a mesma visão do mundo.

O historiador de arte Erwin Panofsky estudou a relação entre as janelas góticas e a filosofia escolástica, e enfatizou quanto o brilho dos vitrais das catedrais medievais corresponde à transparência de trabalhos como a “Summa Theologica” de S. Tomás de Aquino (Erwin Panofsky, “A arquitetura gótica e a filosofia escolástica”).

Da epopeia das Cruzadas emana‒ poderíamos acrescentar ‒ o mesmo brilho, a mesma beleza diáfana, o impulso para cima, a mesma força criativa da obra de Santo Tomás de Aquino e de Dante.

As próprias Cruzadas são parte do patrimônio de valores derivados do Evangelho e desenvolvidos em sintonia com ele.
“As obras de arte que nasceram na Europa nos séculos passados são incompreensíveis sem levar em conta a alma religiosa que as inspirou”, disse ainda Bento XVI, na audiência geral de 18 de novembro de 2009.

O mesmo poderia ser dito das Cruzadas, que tiveram os campos de batalha da Palestina, mas foram inspiradas pela mesma escala de valores que durante esses anos guiou os arquitetos das catedrais de pedra.

Nem as Cruzadas nem as catedrais podem ser compreendidas por aqueles que ignoram o pensamento e, acima de tudo, a fé viva que inspirou seus criadores.

Catedral de Salisbury
Catedral de Salisbury
Na Catedral, os cristãos se reuniam em torno do padre que celebrava a missa em um altar olhando para o Oriente e renovava, sem derramamento de sangue, o máximo mistério do cristianismo: a Encarnação, Paixão e morte de Jesus Cristo.

Nas Cruzadas, as mesmas pessoas pegavam em armas para libertar a Cidade Santa de Jerusalém que caíra nas mãos dos maometanos.

O túmulo vazio do Santo Sepulcro, junto com o Santo Sudário, são testemunhos vivos da Ressurreição e as mais preciosas relíquias da Cristandade.



continua no próximo post


(Fonte: Prof. Roberto de Mattei, “Il Foglio”, 08/06/2010, apud Corrispondenza Romana, 08/06/ 2010).



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As Cruzadas, decorrência necessária dos EvangelhosApologia da Cruzada II

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Roberto de Mattei
(1948 - )
professor de História,
especializado nas ideias
religiosas e políticas no
pós-Concilio Vaticano II.




continuação do post anterior: As Cruzadas no cerne das raízes cristãs


A primeira Cruzada foi pregada em decorrência da meditação das palavras de Cristo: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16, 21-27).

Aquela mesma Cruz, em torno da qual se reuniam as pessoas nas catedrais, foi estampada nas vestes dos cruzados e exprimia o ato pelo qual o cristão se mostrava disposto a oferecer sua vida pelo bem sobrenatural do próximo brandindo suas armas.

O espírito das Cruzadas era, e continua a ser, o espírito do cristianismo: o amor ao mistério incompreensível da Cruz.



O professor Jonathan Riley-Smith, decano da renovação dos estudos sobre as Cruzadas, referiu-se àqueles que responderam ao apelo da primeira Cruzada, dizendo que estavam “inflamados pelo ardor da caridade” e pelo amor de Deus. Ele assim traça a motivação profunda daquela iniciativa.

Oferecer a própria vida é certamente a melhor forma de amor, e o ato mais perfeito de caridade, porque nos torna perfeitos imitadores de Jesus segundo aquelas palavras do Evangelho: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus irmãos” (Jo 15, 13).

Só o amor, resumido no sacrifício de Cristo na Cruz é capaz de derrotar a morte, que é o maior sofrimento físico, e o pecado, que é o supremo mal moral.

Esse espírito e esse estado de espírito, abundantemente documentado pelas fontes históricas, não brota como um rio lamacento do inconsciente coletivo do Ocidente, mas do livre arbítrio de indivíduos que nos luminosos séculos medievais responderam a um apelo dirigido à sua consciência.

A resposta a esse apelo pode ser considerada uma “categoria do espírito” que nunca perde validade.

A ideia de Cruzada não é apenas um evento histórico limitado à Idade Média, mas é uma constante do espírito cristão que na história conhece momentos de eclipse, mas que sob diversas formas está destinada a reflorescer.

Expurgar a ideia de Cruzada da “plataforma programática” pessoal significa banir a própria ideia do combate cristão.

O ensinamento de que a vida espiritual é uma luta está especialmente desenvolvido nas cartas de São Paulo. Em muitos lugares delas encontram-se metáforas e imagens tiradas da vida do guerreiro.

O Apóstolo explica como a vida cristã é um bonum certamen (bom combate) que deve ser batalhado “pelo bom soldado de Jesus Cristo” (II Tm. 2, 3).

“Revesti-vos da armadura de Deus ‒ diz ele ‒, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever” (Ef 6, 11ss).

E ainda: “Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.” (Efésios 6, 14-17).

O espírito da Cruzada e do martírio têm uma origem comum na dimensão profunda da guerra espiritual. O martírio, como o sofrimento, pressupõe o combate.

A própria vida de Jesus Cristo pode ser considerada como uma batalha constante contra o conjunto das forças hostis ao reino de Deus: o pecado, o mundo e o diabo.

Que a vida do cristão seja uma luta é um dos conceitos que com maior freqüência ressoa no Novo Testamento, onde lemos:

“Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus Cristo. Nenhum soldado pode implicar-se em negócios da vida civil, se quer agradar ao que o alistou. Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras.” (II Tm. 2, 5).

O Evangelho, aliás, em seu genuíno sentido original, é a proclamação de uma vitória militar, neste caso a vitória de Cristo sobre o mal e os poderes das trevas.

continua no próximo post: A Igreja não pode abandonar as Cruzadas sem se trair

(Autor: Prof. Roberto de Mattei, “Il Foglio”, 08/06/2010, apud Corrispondenza Romana, 08/06/ 2010).



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Esplendor do gótico e glória da Idade Média

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Catedral de Burgos, Espanha
Catedral de Burgos, Espanha




Gótico! Quanta glória encerra esta expressão!

Quando a Renascença exumou a cultura clássica e rejeitou a civilização medieval, “gótico significava “bárbaro”, grotesco, próprio aos Godos.

Hoje, com o correr dos séculos, a pátina do tempo transformou “gótico” em sinônimo de “glória”.

Glória pelo esplendor da arte que elaborou o arco ogival e rasgou os céus com as torres de catedrais como as de Paris, Chartres e Colônia.

Glória pela civilização que extinguiu a escravidão, converteu os bárbaros, inventou as universidades e construiu os primeiros hospitais.



Catedral de Estrasburgo, França
Catedral de Estrasburgo, França
Glória pela “doce primavera da Fé”, época em que o teólogo e o arquiteto uniram seus talentos para louvar a Deus.

* * *

Se alguém, no entanto, quiser intuir num simples golpe de vista o fulgor dessa glória, basta observar as fotos de nosso post.

O jogo de luzes e sombras realça o imponderável da cena.

Do belo edifício gótico aparecem apenas algumas partes, iluminadas por intensa luz dourada.

As muralhas e as ogivas imergem no mistério.

Capela de Saint Hubert, no castelo de Amboise, Loire, França
Capela de Santo Huberto, no castelo de Amboise, Loire, França

* * *

Construída sobre rocha escarpada às margens do Loire, no jardim da França.

A capela de Santo Huberto lembra o apogeu da Idade Média, embora o castelo a que pertença, Amboise, tenha sido edificado em estilo renascentista.

Apogeu que infelizmente teve breve duração, mas que iluminou o firmamento da História assim como um corisco ilumina a abóbada celeste.

Fixa nesse instante de glória, a capela de Santo Huberto irradia ao longo dos séculos o esplendor da arte gótica!




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Conhecimentos industriais e científicos da Antiguidade cuidadosamente aproveitados

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Certos tratados do mundo antigo eram conhecidos na Idade Média. Conservamos 7 manuscritos do século X do Tratado da Arte Militar de Vegécio, escritor latino do século IV; chegaram-nos ainda 19 manuscritos do século XIII e, no mínimo, uma centena dos séculos XIV e XV.

Enfim, a obra de Vitrúvio, que constitui um manancial de informações sobre a técnica romana e a arquitetura clássica era facilmente encontrada nos mosteiros e cidades da 'Europa Ocidental.

Foi copiada e recopiada inúmeras vezes, entre outras, no século VIII, pelos clérigos de Jarrow, na Inglaterra.

Sabemos que no século IX, Eginhard, que era responsável pelas construções do imperador Carlos Magno, possuía um exemplar. Os ricos mosteiros de Fulda e de Reichenau conservavam uma copia de Vitrúvio cada um.



No século XI, um outro manuscrito foi caligrafado pelos beneditinos da Abadia de Saint-Pierre de Gand. Um século mais tarde, esse famoso texto foi recopiado 12 vezes.

No século XX, restam 55 exemplares que se escalonam entre os séculos X e XV.

Em 1414, o humanista italiano Poggio “redescobriu” um manuscrito de Vitrúvio entre os tesouros da biblioteca do Mosteiro de Saint-Gall.

Nessa época, acreditava-se geralmente que a Idade Média não conhecera a existência do arquiteto romano. Os intelectuais da Renascença nada fizeram para dissipar esse erro.

Os medievalistas tiveram dificuldade (ainda hoje têm) em corrigir o erro dos humanistas dos séculos XV e XVI. O Carnet de Notes de Villard, assim como outros documentos posteriores ou contemporâneos, provam, pelo contrário, a que ponto a civilização romana era apreciada pelos homens da Idade Média.

Os desenhos de Villard que se inspiraram em estátuas e monumentos antigos são em grande número.

Por exemplo, duas cabeças barbudas e coroadas de folhas, personagens vestidos de clâmide [manto dos antigos gregos], ostentando o barrete frígio, e um nu enigmático que brande um vaso de flores. Este último desenho é sombreado em tom castanho escuro. Todos são claramente de inspiração clássica.

Um croqui representando um monumento antigo ocupa toda uma folha e tem a seguinte legenda: “Vi outrora o túmulo de um muçulmano. Eis como era”.

Copia do tratado de Vitrúvio, por volta de 1390.
Wolbert H.M. Vroom Collection, Amsterdam
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio teve uma influência inegável sobre os temas estudados por Villard.

Tal como os outros arquitetos do mundo antigo, Vitrúvio era um homem das artes mecânicas, isto é, não tinha recebido qualquer formação acadêmica, a qual somente era acessível aos ricos.

Vivamente magoado com a inferioridade da condição social dos arquitetos, procurou obter para ele e seus colegas a consideração e o respeito de que deveriam gozar suas atividades de arquiteto.

Vitrúvio queria que a cultura do arquiteto fosse enciclopédica. O próprio Vitrúvio nunca atingiu esse ideal. Seu latim não era dos melhores. Entretanto, graças à extensão de seus conhecimentos e também às suas ambições intelectuais, conhecemos numerosos aspectos da tecnologia helênica e romana.

Villard foi a sobrepor figuras geométricas aos seus croquis de homens e animais. Esses desenhos são frequentemente reproduzidos pelos editores modernos e certos historiadores de Arte quiseram ver em Villard de Honnecourt o precursor dos cubistas, o que ele não foi.


(Autor: Jean Gimpel, “A revolução Industrial da Idade Média”, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1977, 222 páginas).


Continuação no próximo post: a Geometria a serviço do arquiteto medieval



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A Igreja não pode abandonar as Cruzadas sem se trair Apologia da Cruzada III

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Roberto de Mattei
(1948 - )
professor de História,
especializado nas ideias
religiosas e políticas no
pós-Concilio Vaticano II.







Por que a Igreja não pode abandonar o espírito de Cruzada? Simplesmente porque não pode negar sua história e sua doutrina.

A história das Cruzadas não é um apêndice insignificante na história da Igreja.

Pelo contrário, está intimamente unida à história do Papado.

As Cruzadas não estão ligadas a um único Papa, mas a uma sucessão ininterrupta de pontífices, muitos deles santos, principalmente o Beato Urbano II que promulgou a Primeira Cruzada, São Pio V e o Beato Inocêncio XI, que promoveram “Santas Alianças” contra os turcos em Lepanto, Budapeste e Viena nos séculos XVI e XVII.


Não é desconhecido dos historiadores que, mesmo no século XX, Pio XII estudou a possibilidade de lançar uma “Cruzada” depois da revolta anti-comunista na Hungria em 1956.

Ao testemunho dos Papas, acrescenta-se o testemunho dos santos, começando com Luís IX, o Rei Cruzado por excelência, com Joana D'Arc, também a sua maneira “cruzada” e padroeira da França, “filha primogênita da Igreja”.

Opor a estas figuras o nosso São Francisco mostra, senão má fé, pelo menos um notável desconhecimento da história.

A fonte mais confiável da viagem de Francisco é o testemunho de seu companheiro, o irmão Iluminado, que nos diz que o santo defendeu o trabalho dos cruzados e propôs a conversão ao Sultão.

E quem pode esquecer as legiões de franciscanos que se uniram ao longo dos séculos aos cruzados, liderados por São João de Capistrano (1386-1456), pregador da grande Cruzada do século XV que culminou com a libertação de Belgrado?

Ao lado do nome de São Francisco devemos colocar o de Santa Catarina de Siena, padroeira da Itália e Doutor da Igreja.

Um recente ensaio de Massimo Viglione mostrou que seu espírito era profundamente “cruzado” (“L'idea di crociata in Santa Caterina da Siena” ‒ “A idéia de Cruzada em Santa Catarina Siena”).

A ela poderíamos acrescentar outro Doutor da Igreja de sexo feminino, desta vez uma contemporânea: Santa Teresinha de Lisieux.

Numa página tocante ela se volta para Jesus, e diz querer “percorrer a terra, pregar o teu nome, e cravar em solo infiel Tua gloriosa Cruz”, reunindo numa única vocação as de apóstolo, cruzado e mártir.

“Sinto em mim ‒ escreve ‒ a vocação de guerreiro, de sacerdote, de apóstolo, de Doutor, de mártir, em suma, eu sinto a necessidade, o desejo de realizar por Vós, Jesus, todas as obras as mais heroicas.

“Eu sinto em minha alma a coragem de um cruzado, de um zuavo pontifício: eu quereria morrer num campo de batalha para defender a Igreja ....”

Em 4 de agosto de 1897, no leito de morte, voltando-se para a Superiora, ela murmurou:

“Oh, não, eu não teria medo de ir à guerra.

“Por exemplo, na época das Cruzadas, com quanta alegria eu teria partido para combater os hereges” (“História de uma Alma”, em “Obras Completas”).


continua no próximo post: Pacifismo hedonista e materialista X espírito de Cruzada

(Fonte: Prof. Roberto de Mattei, “Il Foglio”, 08/06/2010, apud Corrispondenza Romana, 08/06/ 2010).



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Sem a Cristandade medieval nunca teria reinado a paz na Europa

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Bárbaros antes da cristianização.
Bárbaros antes da cristianização.




A Idade Média, tal como se apresentava, corria o risco de nunca conhecer senão caos e decomposição.

Nascida de um império desmoronado e de vagas de invasões sucessivas, formada por povos desarmônicos.

Esta Europa tão dividida, tão perturbada quando do seu nascimento, atravessa uma era de harmonia e de união tal como ela nunca conhecera e não conhecerá talvez mais no decorrer dos séculos.

Vemos a Europa inteira estremecer à palavra de um Urbano II, de um Pedro, o Eremita, mais tarde de um São Bernardo ou de um Foulques de Neuilly.

Vemos monarcas, preferindo a arbitragem à guerra, submeter-se ao julgamento do papa ou de um rei estrangeiro para regularizar as suas dissensões.

Praticamente, a Cristandade pode definir-se como a “universidade” dos príncipes e dos povos cristãos obedecendo a uma mesma doutrina, animados de uma mesma fé, e reconhecendo desde logo o mesmo magistério espiritual.



Esta comunidade de fé traduziu-se numa ordem europeia assaz desconcertante para cérebros modernos, bastante complexa nas suas ramificações, grandiosa, contudo, quando a examinamos no seu conjunto.

A paz na Idade Média foi muito precisamente, segundo a bela definição de Santo Agostinho, a “tranqüilidade” desta ordem.

Nas relações entre a Igreja e os Estados; estamos habituados a ver na autoridade espiritual e na autoridade temporal dois poderes claramente distintos.

Contudo se nos integrarmos na mentalidade da época não é a Santa Sé que impõe o seu poder aos príncipes e aos povos, mas estes príncipes e estes povos, sendo crentes, recorrem naturalmente ao poder espiritual, quer eles queiram fazer fortalecer a sua autoridade ou respeitar os seus direitos, quer desejem fazer solucionar as suas questões por um árbitro imparcial.

A tentativa audaciosa de unir os dois poderes, o espiritual e o temporal, para o bem comum se salda num êxito.

Era uma garantia de paz e de justiça este poder moral (da Igreja) do qual não se podiam infringir as decisões sem correr perigos precisos, entre outros o de se ver despojado da sua própria autoridade e afastado da estima dos seus súditos.

Durante a maior parte da Idade Média, o direito de guerra privada continua considerado como inviolável pelo poder civil e pela mentalidade geral; manter a paz entre os barões e os Estados apresenta, portanto, imensas dificuldades, e, se não fosse a Cristandade, a Europa corria o risco de nunca passar de um vasto campo de batalha.

(Autor: Régine Pernoud, “Luz sobre a Idade Média”, 1996, Publicações Europa-América.)



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Pacifismo hedonista e materialista contra espírito de Cruzada Apologia da Cruzada IV

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A Igreja nunca professou o pacifismo
Roberto de Mattei
(1948 - )
professor de História,
especializado nas ideias
religiosas e políticas no
pós-Concilio Vaticano II.




continuação do post anterior: A Igreja não pode abandonar as Cruzadas sem se trair



A Igreja nunca professou o pacifismo.

O combate cristão, que é acima de tudo, uma atitude espiritual, mas que inclui a possibilidade da legítima defesa, a guerra justa e até mesmo “a guerra santa”, pertence a mais pura tradição católica.


Quem professa o pacifismo e o ecumenismo até o último ponto esquece que há males mais profundos que os físicos e materiais, e confunde as consequências desastrosas da guerra no plano físico, com suas causas, que são morais e provêm da violação da ordem. Numa palavra, esquecem que o pecado que só pode ser derrotado pela Cruz.

Santa Joana d'Arco
O mundo moderno que está imerso no hedonismo e perdeu a fé julga só ser um mal, e um mal absoluto, os danos físicos, esquecendo que o mal e a dor que acompanham inevitavelmente a vida humana com frequência a elevam.

O espírito das Cruzadas e de Lepanto nos envia uma mensagem de fortaleza cristã que consiste na disposição de sacrificar os bens da terra, em aras de bens maiores, como a justiça, a verdade e o futuro de nossa civilização.

Hoje, o inimigo que ameaça a Igreja e o Ocidente é a atitude mental de quem acredita que acabou o tempo de Lepanto e das Cruzadas.

Esse inimigo contrapõe ao espírito de combate uma visão do mundo segundo a qual nada há de verdadeiro e de absoluto, e que tudo é relativo às épocas, aos lugares e às circunstâncias.

É este o relativismo que foi denunciado por João Paulo II na Encíclica “Veritatis Splendor” e “Evangelium Vitae” quando fala da “confusão entre o bem e o mal, que torna impossível construir e manter a ordem moral dos indivíduos e das comunidades” (SV 93).

A batalha contra o relativismo em defesa das raízes cristãs da sociedade para a qual hoje nos convidam João Paulo II e Bento XVI, é uma batalha em defesa de nossa memória histórica.

Sem memória histórica não há identidade no presente, porque é sobre a memória que se baseia a identidade dos indivíduos e dos povos.

Santo Estevão, rei da Hungria
Mas, as raízes cristãs não pertencem só à memória ou à história: elas estão vivas, porque o Crucifixo que as resume não é somente um símbolo histórico e cultural, mas é uma fonte atual e perene da verdade e da vida, do sofrimento e da luta.

A Igreja tem inimigos ainda que nós tendamos a esquecê-lo porque perdemos a concepção militante da vida cristã, fundada na Cruz, que sempre caracterizou o cristianismo.

A perda desse espírito militante é o resultado do hedonismo e do relativismo em que estão imersos, infelizmente, muitos homens de igreja.

Bento XVI fala freqüentemente de “minorias criativas”, poderíamos acrescentar “militantes”, porque a guerra hoje em curso é moral e cultural.

Nela se enfrentam a nível de princípios duas concepções do mundo.

A história, aliás, é feita pelas minorias, sobre tudo as militantes.

Pode-se militar pelo bem ou pelo mal, em um campo ou outro, mas apenas os militantes deixam sua marca nos eventos históricos.

São Luís rei embarca para a Cruzada
Na homilia de 5 de junho de 2010, em Nicósia, Bento XVI sublinhou também que “um mundo sem a Cruz seria um mundo sem esperança.”

O mesmo pode ser dito de um mundo sem espírito de Cruzada: seria um mundo sem esperança.

Isso significaria a renúncia à luta pela salvação, a renúncia da Cruz e reduzir o mundo a meras ruínas.


FIM

(Autor: Prof. Roberto de Mattei, “Il Foglio”, 08/06/2010, apud Corrispondenza Romana, 08/06/ 2010).




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Como falava um Papa medieval: Beato Urbano II aos bispos

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O Beato Papa Urbano II falando no concílio de Clermont-Ferrand
O Beato Papa Urbano II falando no concílio de Clermont-Ferrand
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Urbano II aos bispos reunidos no concílio de Clermont-Ferrand, França, 1095:

“Meus mais amados irmãos:

“Impulsionado pela necessidade, eu, Urbano, com a permissão de Deus, chefe, bispo e prelado de todo o mundo, vim para estas partes como um embaixador, com uma advertência divina para vocês, servos de Deus.

“Eu esperava encontrá-los tão fiéis e tão zelosos no serviço de Deus quanto eu tinha suposto que fossem.

“Mas, se há em vós quaisquer deformidades ou tortuosidades contrárias as lei de Deus, com a ajuda divina, eu farei o meu melhor para removê-las.

“Porque Deus tem lhes posto como mordomos sobre suas famílias para servi-Lo.

“Feliz de fato você será se Ele o considerar fiel em sua serventia.

“Vocês são chamados pastores, cuidem para não agir como mercenários.

“Sejam verdadeiros pastores, com seus cajados sempre às mãos.

“Não durmam, mas guardem de todos os lados o rebanho confiado a vós.

“Pois se através de seu descuido ou negligência um lobo levar uma de suas ovelhas, você certamente perderá vossa recompensa que está com Deus.

Beato Urbano II
Beato Urbano II
“E depois de ter sido duramente açoitado com remorso por seus erros, você será ferozmente destruído no inferno, a abadia da morte.

“Pois, de acordo com o evangelho, “você é o sal da terra” [Mateus 5:13].

“Mas se você ficar aquém de seu dever, pode-se perguntar como poderá ser salgado.

“Quão grande é a necessidade de salgar! É de fato necessário que você corrija com o sal da sabedoria este povo insensato, que é tão dedicado aos prazeres deste mundo, para que o Senhor, quando desejar falar com eles, não os encontre putrificados por seus pecados, sem sal nem fedorentos.

“Pois se Ele encontrar neles vermes, isto é, pecados, é porque você tem sido negligente em seus deveres.

“Ele irá ordená-los inúteis para seres jogados no abismo das coisas impuras.

“E porque você não pode restaurar a sua grande perda, Ele certamente irá condená-lo e privá-lo de sua amorosa presença.

“Mas o homem que aplicar este sal deve ser prudente, providente, modesto, erudito, pacífico, vigilante, piedoso, justo, equilibrado e puro.

“Pois como pode o ignorante ensinar aos outros? Como pode o desregrado tornar os outros modestos? E como pode o impuro tornar os outros puros?

“Se alguém odeia a paz, como ele pode tornar outros pacíficos? Ou se alguém sujou as mãos com infâmia, como ele pode limpar as impurezas do outro? Lemos também que se o cego guiar o cego, ambos cairão na vala [Mateus: 15:14].

“Assim, primeiro, corrija-se a si mesmo, livrando-se da culpa. Você pode ser capaz de corrigir àqueles que estão sujeitos a você.

“Se você deseja ser amigo de Deus, faça de bom grado as coisas que você sabe que O agradarão.

“Especialmente, você deve deixar todos os assuntos que dizem respeito à Igreja serem controlados pela lei da igreja.

“E tome cuidado para que a simonia não crie raízes entre vós, com receio de que tanto quem compra como quem vende [funções da igreja] seja açoitado com os flagelos do Senhor através de ruas estreitas e levados para o lugar da destruição e confusão.

“Mantenha a igreja e o clero em todo o seu valor, totalmente livre do poder secular.

O beato Papa Urbano II entrando em Toulouse.
O beato Papa Urbano II entrando em Toulouse.
“Verifique se os dízimos que pertencem a Deus são fielmente pagos a partir de todos os produtos da terra.

“Não deixe que sejam vendidos ou retidos.

“Se alguém capturar um bispo, que ele seja tratado como um fora da lei.

“Se alguém sequestrar ou roubar monges ou clérigos, ou freiras, ou seus agentes, ou peregrinos, ou comerciantes, que sejam anátemas [ou seja, malditos].

“Deixe que ladrões e incendiários e todos os seus cúmplices sejam expulsos da igreja e anatematizados.

“Se um homem que não dá uma parte de seus bens como esmola é punido com a condenação do inferno, como deve ser punido quem rouba bens de outro?

“Porque assim ocorreu com o homem rico no evangelho [Lucas 16:19], ele não foi punido porque ele havia roubado os bens de outro, mas porque ele não tinha usado bem as coisas que eram dele”.

(Fonte: Texto de Fulquério de Chartres, ou Fulcher de Chartres (1059 –1127), cronista da Primeira Cruzada que teria presenciado o sermão no Concílio de Clermont. Apud BONGARS. Gesta Dei per Francos, 1, 382 f. In: THATCHER, Oliver J.; MCNEAL, Edgar Holmes. A Source Book for Medieval History. New York: Scribners, 1905. p. 513-17. Disponível em: Medieval Sourcebook. Tradução de Caroline L. M. Pereira)




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